Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 7
Cap 6: Um Beijo




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Na Tribo da Água do Norte, Gumo acabava de falar com Yue, para pedir que possa acompanhar o crescimento de Lyn, sua pequena irmã. Com um sorriso de canto a canto no rosto, o menino foi liberado para busca-la no orfanato, mas não poderia cria-la. Teria que estar sempre a visitando. Ao ter a permissão, o menino só faltava beijar os pés da princesa. Agradeceu com lágrimas nos olhos e correu para contar as boas novas a Zara, que já estava na varanda observando o mar.

– Zara! – Gritou o menino chegando abruptamente e abraçando-a com força, o que a fez corar. – Adivinha só, adivinha! – Pediu com lágrimas nos olhos, feliz.

Zara abriu um sorriso contente pelo amigo.

– Tem a ver com comida? – Perguntou fingindo-se de besta, mesmo já sabendo o que era. Gumo balançou a cabeça negativamente. Ainda segurava os ombros dela, com um sorriso fenomenal no rosto. – Tem a ver com a menina que você gosta? – Perguntou mais uma vez, fazendo-o corar e negar. – Desisto. – Declarou, fingindo dar-se por vencida.

– Eu vou poder visitar Lyn! Sempre que puder eu estarei lá!- Exclamou abraçando-a de novo. A menina retribuiu o abraço com toda a felicidade que pôde.

– Isso é incrível! – Disse Zara no abraço do amigo.

Ele a soltou um tanto desanimado.

– Mas Zara... Não vou poder mais ficar com você. – Falou com tamanha tristeza que infectou a menina. Aquela simples frase teve tanta ambiguidade que Zara não pode deixar de pensar no menino como algo mais. Ela sorriu melancólica, com o rosto corado. Conhecia o menino há tão pouco tempo, mas ele parecia ter estado ali desde sempre.

– Algum dia isso aconteceria. – Sussurrou a menina. O olhar que Gumo depositava nela era intenso demais. Ele tinha dor no olhar.

Dentro dos olhos dele podia ver muita dor, e saber que não era só ela quem sofria a fazia se sentir... Não sozinha. Mas vê-lo com tanto sofrimento no olhar também a fazia sentir-se impotente.” Lembrou-se.

Pensar em Airon num momento como aqueles parecia cada vez pior.

– Eu não queria que acontecesse. – Sussurrou de volta o menino, um sussurro triste, quase choroso. A dor no peito de Zara crescia. Gumo passou as costas dos dedos na bochecha da menina, unindo as sobrancelhas numa expressão confusa.

– Gumo... – Sussurrou a menina, em seguida sendo surpreendida por um beijo. O menino havia encaixado seus lábios aos dela num movimento rápido, mas então apenas... Intenso. Não era um beijo de cinema, eram só os lábios dos dois se tocando por um período de tempo.

Nenhum dos dois se moveu, e passaram alguns segundos ali, até Gumo recompor-se e se afastar bruscamente da menina, dando alguns passos para trás.

– D-desculpe. E-eu, não... – Começou a sussurrar o menino, olhando estupefato para Zara. A menina o olhava de volta com os olhos arregalados, e a boca ainda entreaberta. – Desculpe. – Disse por fim correndo para dentro do palácio, mais vermelho do que nunca.

Zara não sabia o que fazer, dizer ou sentir. Nunca havia sido beijada.

Encostada ao corrimão, ela escorregou até sentar-se no chão, com a mão na frente da boca, tocando onde, segundos atrás, estavam os lábios de Gumo.

O menino correra para o seu quarto, fechando a porta com força. Ainda de olhos arregalados, socou uma parede.

– Mas que idiota! – Sussurrava resmungando consigo. – Pra quê eu fui fazer isso... – Disse por fim, antes de se deitar na cama, olhando ara o teto.

Os dois tiveram uma noite de isolamento e pensamentos que jamais tinham tido. Mas fora a última vez que se viram.

No outro dia, logo cedo, Gumo partiu para o orfanato, onde moraria trabalhando para poder estar perto de sua pequena Lyn, de apenas um aninho.

Zara ainda estava aturdida quando foi conversar com Yue sobre a decisão que havia tomado. Foi ao quarto dela, onde sentou-se no chão, ajoelhada, na frente de Yue que permanecia sentada numa cadeira.

– Como assim?! – Gritou Yue. Era a primeira vez que alguém a via gritar. – Você faz ideia de quantas pessoas virão atrás de você se contarmos ao mundo que o Avatar está aqui?! – Gritou mais uma vez.

– Se me deixar explicar... – Sussurrou Zara.

– Não tem o que explicar! A Nação do Fogo estaria na porta de novo! O Reino da Terra também! Além dessas lendas estranhas! – Dizia Yue com o rosto vermelho de tanto estresse.

– Yue... – Sussurrou.

– Zara, não! É muito arriscado! – Começou a falar de novo a princesa.

– Yue! – Gritou Zara finalmente chamando a atenção da moça. A menina suspirou profundamente. – Em primeiro lugar, eu preciso aprender tudo sobre os quatro elementos o mais rápido possível. Não vou conseguir se estiver navegando pelos oceanos e procurando de porta em porta um dobrador decente. – Falou mais calma. – E segundo, eu preciso de um guia espiritual. Preciso urgentemente. Quero entrar em contato com os Avatares anteriores, mas não consigo. – Dizia confusa.

Yua a fitou preocupada.

– Zara, você sabe o perigo? – Perguntou.

– Sei. Mas se eu não aprender a me defender, o perigo sempre vai estar na minha porta. – Argumentou a jovem Avatar. Yue suspirou profundamente.

– Eu vou pensar. – Falou tentando acabar com o assunto.

– Não. – Disse Zara assustando a princesa. – Eu sou o Avatar, e eu decido se me exponho ou não. – Falou autoritariamente. Yue a olhou intrigada.

– Está certo. – Disse ficando de frente para Zara e encostando um punho no outro, na frente de seu próprio corpo. – Mandarei uma mensagem ao Templo do Ar do Sul, pedirei que mandem urgentemente o melhor guia espiritual que puderem. Fico feliz em servi-la, Avatar. – Falou friamente e inclinou o corpo para frente, como uma reverência deve ser prestada ao Avatar.

Yue se retirou de seu próprio quarto, deixando Zara sozinha apenas com seus pensamentos. Suspirou profundamente e saiu do quarto depois de alguns minutos que Yue se fora.

Sentia-se sozinha, mas sabia como fazer a sensação passar. Visitou o quarto de seus pais, onde encontrou Leuh, dormindo angelicalmente num berço, enquanto Tera dormia na cama bem ao lado.

Zara parou diante do berço, olhando seu pequeno irmãozinho. Tinha um ano, assim como a irmã de Gumo.

– Tão perfeito. – Sussurrou a menina. Foi neste instante calmo que Leuh abriu os olhinhos. Olhou para a irmã de criação com os olhos azulados e sorriu-lhe um sorriso sem dentes, fazendo a menina sorrir um pouco. – Olá, banguelinha. – Disse ainda sussurrando. – Você nunca vai me tratar diferente por eu ser Avatar, não é? – Sussurrou para seu irmãozinho. O bebê esticou os bracinhos para ela, abrindo e fechando os dedinhos.

Com um sorriso amável no rosto, Zara o tirou do berço, segurando-o no colo.

Tera já havia acordado, e olhava a cena com um sorriso orgulhoso.

Leuh estava sentado nos braços da irmã, alisando o rosto da mesma, como se estivesse explorando a coisa mais maravilhosa que já encontrou. Zara sorria ao irmão com as lágrimas nos olhos.

Saiu caminhando devagar pelo palácio, com o irmãozinho o colo.

– Ali é o meu quarto. – Dizia a menina. Leuh parecia estar entendendo tudo, e as vezes respondia com alguns sons indefinidos. –Ali é o jardim... – Ia dizendo, fazendo um tour pelo palácio. Quando chegaram na varanda, Zara ficou apontando para os lugares da cidade, identificando tudo. Quando viu Gumo, ao longe, caminhando pela rua e descendo cada vez mais, para algum lugar mais próximo ao muro.

Seu coração disparou.

– Aquele é Gumo. – Disse apontando para o menino. Foi no exato momento que Gumo olhou para trás, para o palácio que estava deixando. Viu Zara apontar para ele falando com um bebê. Sorriu para a cena imaginando o que ela dizia para seu irmãozinho.

– Gu... mo? – Falou Leuh. Eram sílabas fáceis para um bebê. Os olhos de Zara brilharam.

– Sim! Gumo! – Falou sorrindo.

– Gumo. – Falou o bebê sorrindo orgulhoso de si mesmo.

Pelo resto do dia, Zara tentava ensinar seu pequeno irmão a falar o seu nome. Parecia que ‘Zara’ era difícil demais para o bebê, que só queria chama-la de “Sala”. Mas não desistiu, até o anoitecer, quando Leuh precisou dormir.

Quando a Lua apareceu no céu, Zara tentou meditar mais uma vez. Não conseguia falar com os Avatares anteriores, por mais que tentasse.

Suspirou cansada, ainda de olhos fechados.

– Ah, porque vocês não falam comigo... – Sussurrou.

– Talvez você não precise de nós agora. – Ouviu uma voz masculina e dócil falar. A menina abriu os olhos estupefata, procurando ao redor, mas não havia mais ninguém em seu quarto.

Com um sorriso, conseguiu dormir. Havia contatado alguém, tinha certeza. Sonhou com um beijo.

Estava de olhos fechados, e uma boca estava encostada na sua, tão bem encaixada que a surpreendia. Ao abrir os olhos, pôde ver aquele par de olhos claros.

Naquela noite, Gumo pôde finalmente conhecer sua pequena irmã, e dormiu com um sorriso no rosto. Zara não tinha ficado com raiva...

Beijar Zara e conhecer sua irmã de sangue em menos de vinte e quatro horas era algo fenomenal para o menino.

Muito longe dali, numa canoa à uma velocidade mínima, Airon voltava para a Nação do Fogo. O pequeno pássaro, Vivi, estava em seu colo adormecido. A noite quase os engolia, se não fosse pela Lua e por um cadeeiro no próprio barco.

– Não olhe para trás, deixe o cadáver virar pó. Se tiver misericórdia vai ter que ficar só. Não olhe para trás, deixe a culpa se esvair. Se você se arrepender vai voltar até cair. Seja livre! Como o Fogo! Não se deixe apagar. Seja selvagem! Como o Fogo! Não se deixe abafar!

Cantarolava sussurrando.


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Notas finais do capítulo

Finalmente mais um desenho. :)