Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 6
Cap 5: Sequer disse Adeus




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Airon a olhava com um olhar sonolento e triste. O garoto não estava dormindo, não conseguira.

Aquele olhar que o menino dera fez com que Zara parasse de chorar. Dentro dos olhos dele podia ver muita dor, e saber que não era só ela quem sofria a fazia se sentir...

Não sozinha.

Mas vê-lo com tanto sofrimento no olhar também a fazia sentir-se impotente.

Os dois se sentaram em silencio, e o menino enxugou as lágrimas de Zara. Depois de alguns segundos em silencio, a menina o abraçou com força. Não havia malicia nenhuma naquele abraço. Apenas queria consolá-lo, ajuda-lo. Sabia que ele escondia algo muito sério, uma dor muito forte.

Mas aquele abraço foi mal interpretado por Airon. Retribuiu com prazer, mas com o rosto corado, e a expressão de dor ainda maior.

Não queria deixar Zara, e tinha medo da razão. Era uma menina forte, sem frescuras, graciosa e muito bonita. Mas ambos eram jovens demais, e ela tinha responsabilidades demais. Tenho falhas demais. Pensava o menino.

Zara não pode deixar de pensar em Airon de outra maneira. Aquilo nunca aconteceria.

Apalpou as costas da menina tentando acalmá-la. Ambos tentavam fazer a mesma coisa: Reprimir suas preocupações e ajudar alguém. Mas Airon já tinha aquele compromisso com outra pessoa, e tinha medo de um dia ser obrigado a substituir “Ela” por Zara.

E foi por isso que na manhã seguinte, Airon havia simplesmente desaparecido.

Zara dormira nos braços dele, e acordara com os gritos desesperados de Gumo.

– Zara! Zara! – Gritou o menino balançando-a para que acordasse. – Vamos, levante! Airon sumiu! – Gritou, só assim acordando a menina.

– Sumiu?! Não, ele estava logo aqui! – Disse a jovem Avatar apalpando sem sucesso os lençóis onde Airon dormira. – Não, não, não... – Sussurrou de olhos arregalados, desesperada.

Tomou um banho, ainda aturdida com a noticia. Olhava a sua imagem no espelho, mas a sensação da noite anterior a atingia. Não se sentia o Avatar, se sentia apenas Zara. Mas naquele dia, ser Zara ou Avatar não importava.

– Hian, onde fica a academia de dobra de terra mais próxima? – Perguntou Gumo enquanto esperava Zara tomar banho. O Tenente o ensinou a chegar, ainda magoado por ter que se despedir de sua filha recém-encontrada.

Despedir-se de Hian foi mais complicado do que esperava, mas precisava encontrar Airon e entender os motivos do menino para agir daquela maneira.

Saíram da casa ainda hesitantes. Ba Sing Se era uma cidade muito grande bem maior do que a Tribo da Água do Norte. Nenhum dos dois sabia como se deslocar lá dentro. As ruas eram estranhas, as pessoas mal encaradas, as construções eram diferente que qualquer uma que já haviam visto. Airon era o único que sabia andar ali dentro.

Com um suspiro cansado, chegou junto com Gumo à Academia Fundamental doo Reino da Terra. Entrou no pátio como se fosse a coisa mais comum do mundo. Haviam muitas crianças lá. Maiores e menores do que Zara, crianças altas e baixas, gordas e magras. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Gumo colocou a mão em seu ombro.

– Zara. – Falou o menino com tamanha seriedade, que a menina achou que ele lia a sua mente.

– Preciso voltar ao Polo Norte. – Revelou a menina antes que seu amigo dissesse qualquer coisa. – Airon se foi, não sei como me mover neste tabuleiro gigante. – Explicou-se sussurrando. – Quero fazer isso à moda antiga, mas antes preciso descobrir qual é a moda antiga. – Falou mais para si mesma do que para o amigo.

Gumo assentiu com a cabeça e abriu um sorriso um tanto perverso, que a menina nunca vira no rosto do amigo.

– Precisamos sair dessa prisão de terra. – Declarou o menino.

A Viajem para o Polo Norte foi rápida. Os dois dobradores dispensaram a canoa, cada um com seus próprios pés, em sua própria dobra. Gumo com uma base de gelo sob os pés, e usando a dobra d’água para se locomover muito rápido. Zara parecia apenas dar longos passos dentro das ondas, conseguindo ir na mesma velocidade que o amigo.

Ao anoitecer, ambos chegaram à Tribo da Água do Norte, cansados, com fome, e com medo por Airon.

Foram recebidos pela preocupação de Yue, que por pouco não abraçou Zara. Não podendo dizer-se o mesmo de Tera e Gaibo, que ficaram esperando pela sua menina no palácio.

Depois de muita tensão ao conversar com seus pais, Zara finalmente teve tempo de tomar um bom banho e tirar as roupas da tribo da terra. Precisava conversar com Tuí e La.

Tudo estava surpreendentemente igual no Oásis Espiritual, apenas a jovem Avatar que mudara seu interior, sua sabedoria, e até mesmo um pouco de sua aparência.

– Avatar Zara. – Cumprimentaram os dois espíritos, ao mesmo tempo. A menina sentou-se diante do lago, com um olhar preocupado.

– O que te atormenta, menina? – Perguntou La, com a voz doce e lenta.

– Muitas coisas. – Sussurrou Zara.

– Tenho certeza que sim. Mas o quê? – Perguntou mais uma vez, incentivando-a a continuar falando.

– Eu não confio plenamente na minha dobra d’água, - começou a menina, falando mais rápido. - tenho medo do estado Avatar, acho que estou fazendo as coisas do jeito errado, Airon sumiu, Gumo quer voltar para casa, me sinto sozinha, encontrei meu pai de sangue, não sei como vou aprender a dobra de terra e tem alguma coisa me atormentando aqui dentro, e eu não sei o quê é! Sinto que não sei mais quem eu sou! – Concluiu, agitada.

– Zara. – Falou Tuí, com a voz intensa reverberando para todos os lados. – Você é Zara, o Avatar. – Repetiu. – Você é Zara, o Avatar, mas não deixa de ser Zara. Você é Zara, Aang, Roku, Kyoshi, Kuruk, Yangchen e todos os outros que já se passaram.

A menina franziu o cenho.

– Nunca serei dobradora de ar tão espetacular quanto Aang ou Yangchen. Nunca vou chegar ao ponto de dobra de terra que a Avatar Kyoshi chegou. Nem vou conseguir dobrar fogo tão bem quanto Roku, nem água como Kuruk. – Declarou a menina.

– Claro que não! – Gritou Tuí, assustando a menina que logo parou de tagarelar. – Você já faz tudo isso. Todos eles e você são a mesma pessoa, menina! – Explicou ainda agitado.

– Menina Zara, você é muito jovem, precisa treinar. Depois que passar por todos os elementos precisará que um guia espiritual para leva-la na jornada ao seu passado. – Explicou La com a voz macia.

– Mas como vou aprender tudo isso, se não posso contar para ninguém que sou o Avatar? – Perguntou a menina.

– Você fez a pergunta certa. – Disse La com orgulho.

– Zara, já se perguntou ‘por que não pode contar para ninguém’? – Perguntou Tuí, incentivando a menina a pensar melhor.

– Não. – Sussurrou.

– Então vá, e pense. – Foram as palavras finais do espirito do mar.

Ao abrir os olhos no mundo físico, decidiu que precisava apenas pensar. Meditar.

Longe dali, ainda em Ba Sing Se, Airon se dirigia ao presídio abandonado do muro externo. Olhava para baixo, com uma mata sobre a cabeça, o olhar trêmulo. Entrou pela porta arrombada e tossiu um pouco por causa da poeira.

Não passava de um longo corredor de pedra, com portas de metal e no fundo uma saleta onde deveria ficar o delegado.

– Vivi. – Sussurrou. – Vivi! – Chamou de novo. Logo um grunhido foi ouvido, e do meio da poeira num cantinho da saleta, surgiu uma pequena ave negra, quase sem penas, e menor que a palma de uma mão.

O menino sorriu sinceramente e pegou a ave dentro de suas mãos.


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