Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 171
Capítulo 170


Notas iniciais do capítulo

TÔ VIVA E TEM CAPÍTULO NOVO - que era pra ter sido postado desde DEZEMBRO, mas a vida, a vida não queria me deixar nem vir aqui.

Pra encurtar a história, fiquei sem computador por um tempo, QUASE PERDI ARQUIVOS, tive que passar uns dias no hospital, fiquei de molho na recuperação, o trabalho apertou, tive COVID, fiquei tempos tirando leite de pedra por estar sem cérebro, depois eu MACHUQUEI O PÉ e por pouco não tive que ir no hospital DE NOVO, mas precisei cuidar do msm jeito e lembrar da Milena hahaha, e trabalho seguiu exigindo atenção, e então uma virose de Deus nos acuda, e... MoE me salvou todas as vezes ♥ Amo reler os capítulos (espero que vocês também pra aguentar toda essa falta de atualizações).
Enquanto a vida me atropelava com os furacões, também escrevia mais um pouco, só não dava pra vir aqui.

ENTÃO BORA DE CAPÍTULO, BORA?


AGORA SIM!



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Acordo na última sexta-feira do ano com um sorriso ameno logo que capturo o celular na mesinha ao lado da cama. Havia mensagens diversas, de várias pessoas, mas começo com a do Vinícius:

7h53

Vinícius Garra:

Desculpa, não vi sua ligação, dormi um pouco cedo

E desculpa pela loucura de ontem

Ligo pra você mais tarde, já tô aqui no escritório

Quero poder encerrar tudo hoje para ficar logo livre

Ele não falou do vídeo do casamento. Se conheço bem o namorado, se ele não comentou, por não ter visto ou por não estar no clima, significa que não tá exatamente legal depois de ontem, porém, está levando. Como eu no momento, acho. Histórias diferentes, mas sentimentos parecidos. Não vou pegar no pé dele com isso. Pelo contrário, quero preencher ele com amor enquanto repensa suas dúvidas.

É o melhor que posso fazer ao momento.

Depois que a galera foi embora, liguei pra ele umas duas vezes e caiu na caixa postal. Pra todo caso, enviei mensagem:

19h48

MLins:

Oi! Tudo bem por aí?

Só pra saber como você está

Bem, ele sabe que noto essas coisas. Dou ao menos um desconto por ter se esforçado de enviar alguma coisa. E se está ocupado assim, melhor deixá-lo um pouco quieto. Por agora, claro.

8h17

MLins:

Bom dia e bom último dia de trabalho

Mamãe bate na porta do meu quarto antes de entrar e já coloca as mãos na cintura ao me ver encarando a tela do aparelho. Nem dá tempo de escrever qualquer coisa mais, porque ela me toma o celular pela milésima quinta vez nessa temporada de estada sua.

— Já tão cedo com essa luz na cara? Bora tomar café que não vou tomar sozinha não.

— O Murilo já saiu?

Ela abre uma frestinha da minha janela só pra clarear mais o quarto e logo vem para o meu lado me dar um beijinho de bom dia.

— Tá saindo agora. Você quer alguma coisa? Porque ele já está indo tirar o carro.

— Era só pra dizer pra ele passar no supermercado na volta antes que raspem as prateleiras.

Como a gente não era de passar as festas de fim de ano em casa, não era preciso se preocupar com compras ou a despensa, porém, neste ano sim. Significa também ir ao mercado comprar mantimentos para o feriado antes de a fila se tornar quilométrica e estressante demais.

Mamãe faz carinho nos meus cabelos enquanto afasto o lençol e me sento à cama para lhe retribuir o beijo matinal.

— Pensei até que você já tivesse passado a lista. Porque ele falou sobre isso ontem depois de chegarmos.

— Eu tava um pouco cansada. Vou fazer a lista e passo daqui a pouco.

Me viro pra começar meus exercícios aos pés, coisa que já faço ao automático durante vários momentos do dia. Quase posso sentir o gostinho de me livrar da bota ortopédica, que bem cumpriu seu papel nos últimos dez dias. A recomendação da médica, vez que a entorse foi leve, foi de usar por esse exato prazo, que acaba hoje.

Fiz tudo direitinho, desde compressa de gelo, os exercícios, o uso da bota, da muleta, do gel, algumas caminhadas e sempre deixar o pé pra cima, para assim poder cumprir bem essa temporada de recuperação.

Se bem que ainda tenho que usar a tornozeleira, lembro.

Não falo da joia que ganhei de Filipe e Seu Júlio, mas sim de um material de meia elástica com uma faixa para envolver o pé e o tornozelo. É para dar um gás nessa última fase e estabilizar mais as pisadas sem depender da bota. Por mais que queira me livrar desse negócio, sei que quando for a hora de pisar sem nada, vou ter medo de confiar no meu próprio pé. A tornozeleira vem pra isso também, para me dar mais segurança.

Já a tornozeleira dourada que ganhei de Natal provavelmente usarei no dia da virada de ano. Agora só preciso ver que vestido meu dá certo com chinelas. Minto, sandália rasteirinha outra vez. Um look não exatamente adequado para festa, porém, o necessário.

Uma coisa que posso comemorar é que meu pulso já tá recuperado. E livre pra namorar com boa vontade.

Volto pro mundo real quando mamãe me chama a atenção:

— Tá tudo bem, querida?

Estico as pernas enquanto elevo os pés ao ar na beira da cama. Ela está dobrando meu lençol como se eu não fosse fazer isso. Tá, eu iria postergar um pouco, mas iria fazer sim.

— Tá sim, mãe.

Com o lençol pendurado em seus braços, dona Helena para ao lado das minhas pernas, me observando. Está assim desde que chegou do seu badalado passeio de ontem, que acabei não ficando de papo pra saber todas as histórias, já que ela e Murilo chegaram bem tarde em casa. Esperava que eles chegassem por volta de umas 20h30 e só vieram a aparecer lá pra depois das 22h. Acompanhei ainda um pouco do agito dela e do meu mano, e me retirei toda sonolenta umas 23h30. Mas demorei a dormir por conta de uma cólica chata (das verdadeiras!) que me deixou bem incomodada. Era daquelas que não doem tanto e por isso não precisa de remédio, porém, fica um desconforto generalizado.

— Tem certeza? Tá com uma carinha. Nem parece que esteve com seus amigos.

— Tive um pouco de cólica, só isso. E foi muito bom ter eles aqui, pode apostar. Só acho que vou ficar um pouco quieta hoje. Não tô mal, só não muito disposta, ainda mais pra fila de supermercado.

Levanto para ir ao banheiro e ela continua no meu quarto, arrumando a cama e de papo comigo.

— Talvez fosse bom sair um pouco de casa.

— E vou... Amanhã, eu juro. Hoje só quero aproveitar sua companhia e perturbar seu juízo. Então, vamos tomar café?

— Te espero na mesa.

Enquanto escovo os dentes para me apresentar à cozinha decentemente, ela enfim deixa meu quarto, só que levando meu aparelho em mãos. Não sei por que me admiro, mas tiro a escova da boca pra, como eu disse, perturbar o seu juízo enquanto ela perturba o meu.

— E meu celular?

— Só depois da nossa refeição.

Aceito as condições sem hesitar, porque, né, é mamãe. E se já está na hora de eu fazer a transição ortopédica, também significa que ela não ficará por muito tempo. É claro que queria checar minhas mensagens, porém, aproveitar ao máximo esse momento com mamãe vale mais. O mundo hoje pode esperar um pouquinho.

Até porque muitas coisas foram ditas, tanto no dia anterior, quanto nos outros dias. Não quero falar sobre isso, nem mesmo pensar sobre elas. Quero respirar. Me ligar no aqui e agora e na minha vida. Seguir em frente e saber que estou fazendo o melhor por mim. E mamãe é o melhor pra mim agora.

Quero que seja o mesmo para ela também.

 

~;~

 

É só depois do café da manhã, de checar a dispensa, preparar a listinha de compras e enviar pro Murilo – sim, pelo celular dela – que dona Helena devolve o meu aparelho. Enquanto isso, me contava sobre as peripécias com Muline, de como ela está super amiga da Aline, que rodaram inúmeros pontos turísticos da cidade antes de irem parar na praia, que Renato também deu as caras, onde lancharam, o que lancharam, o que jantaram, onde foi que tiraram fotos, onde ela quer voltar de novo, e como foi a saga do carro-roubado-não-roubado da peste do Murilo.

Na hora de ir embora, a criatura simplesmente esqueceu onde estacionou o carro e por um momento até pensaram que havia sido roubado. Eles foram no carro de Djane checar a avenida da praia, conforme as lembranças da genialidade a que chamo de irmão, e pra completar a zona, estava tendo uma passeata pela segurança no volante durante o período festivo, e por isso demoraram tanto a achar o veículo.

Murilo ainda foi deixar Aline em casa, chegando só o pó na nossa. Quando sentaram para contar a muvuca toda, já era 23h e não demorou muito para eu ir pro meu quarto, então eu só tinha pegado uns pedaços do passeio e da confusão.

Checo o celular rapidamente pra ver as respostas do dia que queria e responder de modo breve. Havia um do Silveira, que vai chegar nesse domingo e ficará hospedado na casa de Seu Júlio. Ele ficou exultante de saber do show de virada da Daniela, assim como Filipe, que deu sua confirmação para as reservas na pizzaria ainda ontem durante o encontro com a galera. O sogrinho mesmo que contatou o amigo das antigas e fez o convite de hospedá-lo, que topou na hora. Com exceção do tio do Sávio, acho que recebi mensagem de todo mundo confirmando.

Fiz a reserva no começo da noite. Optei por duas mesas para ficar mais dinâmico, sendo uma de seis cadeiras e uma de sete cadeiras. Será um novo encontrão de famílias, dessa vez com novas pessoas para integrar. Além da grande turma já conhecida – sendo eu, Murilo, Aline, mamãe, Djane, Vini, Renato, Filipe, Seu Júlio, Iara e Sávio – contaremos com o tio do meu amigo, Márvio, e o Silveira. Mais precisamente Marcos Silveira. Precisei do nome e sobrenome de cada um pra registrar lá na pizzaria.

O Murilo e a Aline vão aparecer só depois da meia-noite, porque vão passar na casa da Lisbela. Ela e o marido preferiram não sair por conta dos fogos, que podem assustar a Lia. Com as cadeiras vagas, penso, fica mais fácil de falar com todo mundo e mudar de lugar a hora que quiser.

Como minhas duas criaturinhas demoraram bastante ontem pela questão do carro, eu acabei tomando um belo banho sozinha. Demorei horrores por ter que preparar o banheiro (e depois organizá-lo), por ter cuidado a cada movimento pra não cair e por não querer sair do chuveiro tão cedo. A água estava geladinha no ponto certo para o dia quente.

Fora que eu precisava de um bom banho assim, livre, com cada gota realinhando corpo, mente e espírito. Depois de toda uma tarde de papos doidos (dos bons e dos ruins), e a demora de mamãe, escolhi arriscar a atividade sem o suporte dela. Até porque tenho que fazer essa transição também, de dispensar os cuidados das pessoas e fazer as coisas por mim mesma para não ficar dependente de ninguém.

Saí revigorada. Um pouco cansada, mas relaxada.

Enquanto enxugava o cabelo no sofá, fiquei assistindo uns clipes antigos no Youtube da televisão, daquela playlist dos anos 90 e 2000 que havia achado. Foi algo que me transportou para tempos mais simples e bobos, desejando isso para o próximo ano, tão perto. Combinou bem com o que Daniela falou antes de ir embora, que quer um ano bom para variar. Quando tocou “Feel” do Robbie Willians, aí mesmo que lembrei dela. Na verdade, de um papo com ela no nosso encontro de vômitos da semana passada, eu falando sobre Filipe e ela toda interessada junto.

Robbie Willians – Feel

 

— Essa do Robbie Williams só me lembra o Filipe.

— Ah, é? Então coloca pra repetir.

Atendi de pronto seu pedido e Daniela se encostou outra vez ao meu ombro. Eu pesquisava a letra no Google.

— Pode me contar mais sobre o tio Filipe?

— O que você quer saber?

Ela se ajustou na minha cama, mais calma.

— Como é ter ele como sogro e chefão? Acho que você já me falou algo sobre isso, mas na época eu não o conhecia para ter exatamente uma referência.

— A gente tenta separar – ou pelo menos eu tento. Às vezes é engraçado. Ele me respeita nessa, mas nem sempre dá pra separar mesmo. Acho engraçado também como ele é tão sério na empresa, de modo que as pessoas ficam meio receosas. Mas comigo ele fica mais solto. Eu que fico pedindo pra ele ser sério.

Isso plantou uma expressão mais suave na minha amiga.

— E nem sempre foi assim, como tu sabe.

— Sei? Sei não.

Ela tava de zoeira com a minha cara, porém, de boa e isso era algo a se considerar diante do que foi o desabafo dela sobre nosso distanciamento e toda a situação com o Yuri.

— Saaaaabe que quando o conheci como pai do Vinícius de fato, a gente não se bicou bem. Por toda aquela confusão de paternidade que o Vini descobriu tardiamente. A gente se provocava muito.

Foi inevitável não deixar um riso sacana escapar com a lembrança de como éramos meio infernais um para o outro. “Desaforados” talvez seja uma palavra melhor.

— Sério?

— Nossa, demais. E eu encrencava de propósito. Mas ver o verdadeiro amor dele pelo Vinícius me tocou o coração, então parei com essas coisas todas. Logo depois consegui estágio lá na empresa e também tive mais contato com a Iara. Mas foram os almoços de família na casa do vô-sogro que foram reajustando essas relações.

— Que bonito.

— Nem sempre foi bonito também, mas foram passos importantes. Foi por esse período que o Filipe fez uma investigação para resgatar informações sobre a mãe biológica do Vinicius. Foi a forma dele de se redimir com o filho. Mas o Vini só foi saber meses depois. Tem pouco tempo. Foi no dia seguinte ao teu show do niver da Iara.

— Tenho a impressão de você ter me dito algo assim também. Que você sabia há muito tempo.

— Não só sabia, como tinha tooooodo um esquema de preparar o Vinícius para receber essas informações. O Murilo ajudou e se envolveu bastante. Eu ficava muito incerta, porque quem devia estar descobrindo a história era o próprio, não a gente. Não gostava de esconder isso do Vini.

— Vocês têm uma relação bonita. Uma sintonia diferente. Sincera.

— Depois de muitos desastres, a gente precisou acertar o passo, né? Conversar se tornou uma base poderosa. Não quer dizer que não discutimos. Nem sempre é bonito, como digo. Mas as reconciliações são ótimas.

— Uuuuuui. Lembro do vampirinho do Vinicius.

Nessa hora me teletransportei para a vez que ela conseguiu ver um souvenir que o bonito do namorado me deixou no pescoço, o sacana.

— É, algo assim.

Ela riu e se teletransportou também, mas para outros lados, outras pessoas.

— Ai, quero algo assim. Não necessariamente marcas, mas uma relação de confiança assim. Apenas cansada de amores perdidos.

— Acha que não tem mais volta com o Bruno? Acha que ele foi perdido?

— Às vezes acho sim.

— Você ainda gosta de gostar dele?

— Sim. E é algo estranho. Porque não parece que ele é o mesmo.

— Nem você parece a mesma. Mas talvez seja uma impressão pelo fato de vocês estarem separados.

— Espero que sim. Espero também que ele ainda pense em mim.

— Ele pensa.

— Mas será se ele pensa só na Dani tempestuosa? Na Dani que agride? Na Dani que... Na Dani que ele deixou pra trás?

Dani fazia referência à letra da música de “Everything” da Alanis Morissete, canção essa que a gente ficou esmiuçando os sentidos, como batiam com a gente e que foi um porto seguro durante sua visita.

— Eu acho que não. Mas confirmação mesmo é só com a fonte.

Não é que uma semana depois, estiveram aqui os dois para contar os detalhes de uma reconciliação? De uma relação bonita e de uma sintonia renovada. A música “Feel” agora tinha uma memória adicional para guardar.

E foi assim que mamãe me encontrou quando chegou, ela preocupada de eu ter ficado muito tempo sozinha, eu apenas apreciando a calmaria depois do tornado. E que tornado!

Agora ela me explora. Mentira, eu que estou tentando fazê-la parar de fazer coisas de casa. Praticamente mandei ela “pastar” (não com esse termo e com a maior delicadeza que pude) pra sair de perto da máquina de lavar onde eu removia as roupas da vez. Assim ela sumiu pela casa e agora reaparece com um montante de suas roupas nos braços. Penso que era pra lavar, mas estranho ela ficar distante.

— Filha, pode avisar pro Murilo trazer uma lâmpada de luz branca? A do quarto de hóspedes tá pra dar tchau.

— Tá, eu mando mensagem jájá. É pra lavar essas também?

— Essas? Não, já lavei. Tô voltando pro quarto de hóspedes.

Me viro para ela, que verifica umas peças do montante.

— Oxi, por quê?

— Porque ali é o quarto do seu irmão e ele deve tá sentindo falta. Além de que seu pai já foi embora e não gosto de ficar tomando o espaço do Murilo.

— Pode deixar ele dormir no terraço se quiser, mãe. Não tem problema.

Ela nem chega a colocar as mãos na cintura, até porque não dá, mas sua expressão entrega logo. Assim eu me “conserto” em tempo.

— Tá, ele não precisa dormir no chão pra isso. E a senhora não precisa mudar de quarto. Não é nem para ficar perambulando pela casa fazendo... coisas.

— Estou apenas me mantendo ocupada.

Ela me dá as costas e segue para o quarto de hóspedes, apesar de ainda falante. Com máquina em produção, ando com mais firmeza da área de serviço para a cozinha e em seguida para o corredor.

— A senhora pode se ocupar de outras maneiras.

— Tem sempre muito a se fazer dentro de casa.

— E não quer dizer que é pra se fazer tudo.

Ao passo que chego à porta do quarto, ela então coloca as mãos na cintura de frente para mim, agitada:

— Tá dizendo que tô atrapalhando?

— Pelo contrário, mãe. Tô dizendo que a senhora merece descanso. Tudo bem que a senhora veio para me ajudar depois da queda e tudo bem querer fazer uma coisa e outra, mas não quero que a senhora se sobrecarregue com algo que... Entende? Não é sua obrigação.

— E eu vou fazer o quê?

— Sei lá, sair, visitar pessoas, passear um pouco, dormir até mais tarde, assistir um filme na televisão.

Mamãe se vira de volta para a cama, onde espalhou as roupas e agora passa a dobrá-las.

— Eu só sento pra ver televisão depois de tudo feito.

— Acontece que depois de tudo feito é quase nunca. É por isso também que pagamos a dona Bia. E também dividimos as tarefas, eu e o Murilo. Agora dividimos para ninguém ficar sobrecarregado.

— Eu sou assim, Milena, apenas isso.

Sento ao lado da pilha de roupas arrumadas com uma cara bem descarada.

— Mas não precisa ser mais assim, é isso que tô dizendo. Precisando eu ou não de ajuda para me locomover, é pra senhora vir pra cá para se divertir e descansar, não isso de fazer “horas extras”.

Mamãe não responde, só fica um pouco quieta, o que significa que está enfezada. Sigo com outra abordagem:

— Tá, o que a senhora fez na última vez que tirou férias?

— Eu não tiro férias.

— Mãe!

— Eu fico de férias da escola no período de férias da escola e fico trabalhando na loja. É isso.

É isso que também reclamei com o papai. Mas digo isso pra ela?

Não, porque tenho amor à vida. Ou pensava ter, pois me escapa outra coisa:

— É por isso que só aparece aqui quando alguém precisa de ajuda de saúde, né?

— Eu tenho muitas responsabilidades para lidar, Milena.

— Tenho certeza que sim, muitas, mas a questão aqui é que não quero que a senhora venha só pra ajudar num banho, dobrar roupas, arrumar camas ou lavar louças. É para ficar livre dessas muitas responsabilidades e só aproveitar. Quero que aqui seja seu espaço de descanso e diversão. De férias da vida. Que se permita isso... Pra poder vir mais.

Não me imaginava falando tudo isso ou que me incomodava tanto assim, porém, nos últimos dias tenho sentido isso. Me despedir de papai, dos meus avós e lidar com a distância deles de novo, sabendo que logo logo terei de fazer isso com mamãe, estava mexendo comigo mesmo. Fiquei muito feliz que ela pôde sair com o Murilo e Djane ontem e terem uma conexão diferente. Uma mais calma, livre e sem preocupações diretas.

A distância prejudica essa relação. E se quero que nossa relação mude, preciso que a distância não seja mais algo permanente. É inevitável, claro, pelo fato de morarmos em cidades diferentes; no entanto, um pouco mais de flexibilidade vai ser proveitoso para ambos os lados. Agora vejo isso.

E preciso lutar por isso. Ou pelo menos dar um passo em direção a isso.

— Mas, querida, não tem problem...

— Pode parecer que não tem problema, mas tem sim. Eu nem lembro direito a última vez que você e o papai vieram juntos. Eu sei que é complicado porque cada um tem seu trabalho e compromissos, mas dá pra vir um e outro, sendo férias ou feriado. Antes havia a limitação por conta do tratamento da vovó, mas isso já acabou, não acabou?

Dona Helena parece enfim me ouvir quando lanço essa questão. Meio sem jeito, ela deixa as pilhas de roupas dobradas e retoma à postura ereta, pensativa. Jogo mais lenha para fazer mais fogueira nesses pensamentos:

— Eu não quero mais viver distanciada de vocês desse jeito de sempre... Ou para sempre. Eu tô dizendo que eu quero algo mais, mãe.

Poderia dizer que foi um golpe de misericórdia e um pedido de atenção, mas sou só eu assumindo que quero isso e quero que ela saiba disso. Se antes estava agitada e armada, agora seus ombros caem e ela me envolve com seus braços, para colar minha cabeça ao seu dorso.

— Awn, meu bebê. Também sinto sua falta.

— Sua bebê tá aqui pedindo pra fazermos algo a respeito dessa falta e não só nos limitarmos a ela. Não mais.

— Minha bebê cresceu mesmo.

— Sua bebê sabe falar coisas inteligentes e sentimentais também. E quer que a senhora esteja por aqui para ver e ouvir mais disso.

Com um carinho aos meus cabelos, ela parece repensar de verdade sobre o que eu digo. Suspira até.

— Acho justo o pedido. Acho que apenas me acostumei com esse ritmo que tava levando... e deixei de questionar faz muito tempo.

— Não precisa levar mais. Pode até ficar aqui no quarto de hóspedes, mas nada mais disso de ficar “ocupada” com tarefas domésticas. Tá bom?

— Tá bom, querida. Só não sei o que dá pra fazer, se nem sair você quer.

— Pode deixar, mãe. Sei exatamente o que podemos fazer.

— Não vai ser jogatina, vai?

Levanto a cabeça apenas o suficiente para sorrir lindamente para ela.

— Pode deixar que não.


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Notas finais do capítulo

Eu também tenho amor à vida e por isso msm vem logo aí mais um capítulo XD



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