Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 172
Capítulo 171


Notas iniciais do capítulo

Alguém pediu capítulo recheadinho e gostosinho de ler?
ELES AINDA NEM VIRARAM O ANO E A NOVA ERA JÁ COMEÇOU!

Leiam e descubram ❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/172

No auge do episódio final da primeira temporada de Dawson’s Creek, eu e mamãe aos prantos pelo encontro da personagem Joey com o pai preso e muitas confissões de rasgar qualquer um ao meio, ouvimos Murilo abrir a porta da rua e logo entrar em casa.

— CHEGUEI, FAMÍLIA! O que tem pro almoço?

— Miojo com ketchup.

Essa sou eu, fungando e pausando o episódio.

— O que te faz presumir... que fizemos o almoço?

ESSA é mamãe, enquanto passa papel higiênico rente aos olhos. E se vira para a criatura de pé atrás do sofá:

— Só porque estamos em casa?!

Para minha diversão, Murilo entra em fuso, pego de surpresa com essa.

— Não, é que... Pensei que... E também porque... Tá, e agora ficamos sem almoço, é? Porque nenhuma das bonitas quis fazer hoje.

O que mamãe responde, toda inocente, acrescenta mais graça à situação.

Eu tô bonita?

— Sempre, mãe. Mas preciso saber do almoço, porque TÔ com fome.

— Dá pra comprar no tal self-service da avenida, não?

— Dá sim. Só queria que tivessem me dito.

— Vou com você. Só preciso achar minhas chinelas.

Mamãe se levanta num pulo para ir atrás do seu calçado, que ficou perdido no caminho depois de ela ter derramado um pouco de suco de limão, a última coisa que ela quis fazer na cozinha, comigo de olho, ela insistindo em preparar algo com vitamina C, mas não havia mais laranjas. Ela some pela cozinha e então pela porta que dá pra garagem, que deixou as chinelas ao sol pra secar mais rápido. Enquanto isso, um Murilo agitado encosta ao fundo do sofá e bate a mão com a chave do carro na perna.

— Tá com fome assim?

— Um tanto, sim.

— E as compras?

— Vou fazer depois do almoço. É a hora que tá mais vazio.

— E tua hora do serviço?

— Sem problema, vou entrar no meio da tarde.

Cutuco o braço dele com meu cotovelo no alto do sofá pra ele aquietar.

— Respiraí, coisa, ela não vai demorar.

— Ela demorando.

— Não tem um minuto que ela levantou.

Ele coça a cabeça, agoniado. Tento ser sua calmaria, mas também me dá vontade de pentelhar seu juízo. Nesse meio tempo, Murilo cruza os braços, olha por onde mamãe sumiu e diz:

— Ela tá diferente, né?

— Diferente como?

— Não sei dizer, ela tá tip... Ah, tá explicado.

Sem mudar a pose, só mexer a cabeça de um ponto para o outro – no caso, o meu lado – Murilo me acusa de olhos levemente cerrados:

— Tá passando muito tempo contigo.

— O que isso quer dizer?

— Tua cara jogar pergunta de volta, como mamãe fez ainda pouco. E questionar coisas simples, como o almoço, que devia estar feito.

Quero dar uma porrada no Murilo, apenas isso. Mas faço? Não. Jogo a mesma pergunta de mamãe.

— O que te faz presumir que o almoço devia estar feito?

— É mais de meio-dia e vocês aí assistindo série. E chorando pelo jeito.

Afofo a almofada atrás de mim e me jogo sobre ela. Aproveito a pausa e puxo o celular na pequena cômoda ao lado para me atualizar.

— Estamos de férias, Murilo. Te acostuma.

— E eu preciso ficar com fome?

— Para aprender que a gente não é obrigada a fazer almoço, talvez tenha que ficar mesmo com fome. E traz um pouco mais de comida, porque hoje é provável que não façamos nem o jantar.

— Eita que só sobra tudo pra mim nessa casa.

— E graças a Deus, finalmente.

Falo brincando para enfezá-lo. Ele deve tá com tanta fome que nem questiona mais, só grita por mamãe:

— MÃE, BORA!

— EU JÁ TÔ AQUI NA PORTA. TU QUE TÁ DEMORANDO!

Murilo sai com tudo e só me permito rir disso quando ouço as portas do carro baterem e o motor acelerar. Rio ainda mais ao lembrar de mamãe me dizendo no episódio anterior que achava os personagens Joey e Dawson parecidos comigo. Na cena, eles discutiam sobre instinto animal e atração sexual por conta de uma atividade de biologia.

— Parecem em que sentido?

— Sempre com uma teoria na ponta da língua para falar. E questionadores.

Isso foi literalmente nos primeiros dois minutos do episódio, antes da entrada musical. Queria eu pular direto pra terceira temporada, porém, faltavam esses dois capítulos pra eu terminar e não teria força em mim de aguentar o Dawson bobão do início da série para apresentar pra mamãe. E tá sendo maravilhoso compartilhar esses episódios finais com ela, explicando um pouco da dinâmica do grupo protagonista com um pouco de tudo – de reconquistas, zoeira e autoestima a mágoas e descoberta de sentimentos.

Pra mim, uma comparação com Dawson Leery é quase uma ofensa pessoal, pela qual perdoei mamãe – que não sabia o que dizia ou com quem lidava ainda. Eu diria que sou um tanto conspiratória, mas ser denominada “questionadora” duas vezes, mesmo sendo uma delas considerada pela peste do Murilo como ameaça, me faz ganhar o dia. Não sei o que seria de mim se não questionasse o mundo – as pessoas e as coisas atreladas a elas.

E pra não dizer que só atentei os dois, felicitei minha mãe quando escolheu o time certo sem intervenção minha. Em apenas quinze minutos de série, ela se encantou pelo Pacey; em pouco mais de uma hora, ela já o adotou. Nas suas palavras:

— Gosto da ousadia dele. É uma autodefesa e ainda assim, admirável.

E pelo bem da nação, ela quis matar o Dawson por ser tão tapado por não ver a Joey como pessoa completa e mulher desejável que era. No episódio anterior, a personagem chegou a cantar num palco durante um concurso local e só assim o cego do Dawson bateu os olhos de fato nela. É claro que isso chamou atenção de mamãe que comentou sobre a minha cantoria, que eu também “escondia esse ouro”, por assim dizer.

Essa me pegou, porque de primeira eu não encararia como se tivesse escondendo, porque só me achava comum – como a Joey se achava – daí lembrei que tive vergonha de mostrar meu vídeo cantando com a Daniela. No final das contas, eu e a Joey Potter precisávamos desabrochar um pouco mais e sermos vistas para além de nossas tragédias pessoais.

Pensava sobre isso enquanto esperava a ligação para o Vinícius completar. Estava doida para contar sobre mamãe ser team Pacey, que ela ousou me comparar com o Dawson e que chorava comigo no final da temporada. Quero agradecer mais uma vez seu presente. E sendo seu horário de almoço, não atrapalharia o trabalho.

Ao cair a ligação, lembro que ele disse estar bem atarefado para o dia. Uma pena, pois queria muito ouvir sua voz e fazer com que a minha fosse sua calma e não só sua loucura. Me resta apenas enviar mensagem.

Ia escrever sobre todos os comentários de mamãe, fresquinhos na minha cabeça – como ela descrente que toda a turma ali não estava na faculdade, que tinham seus 15 anos, e sim, eram quase crianças, jovens demais, mas tendo de serem adultos em decisões e altas responsabilidades – porém, penso melhor, de comentar ao vivo, e não por mensagem ou telefone, todos esses surtos de mamãe.

Acabo por enviar algo mais simplista:

12h19

Lins

Como estão as coisas por aí?

Preciso te ver

Temos MUITO para conversar

Ia acrescentar uma carinha feliz, só que uma SMS do plano telefônico interrompeu e na hora de voltar para a conversa privada, acabo passando para outras mensagens que me chamavam atenção. Como do Bruno no nosso mais novo grupo. O nome?

Os Oliveiras

10h11

DaniEla

Adivinha quem tá aprendendo ITALIANO pra cantar na virada?

 

10h13

B.

ITALIANO????????

 

10h13

Iara

Pq? O.O

 

10h25

DaniEla

Alguém colocou uma música em italiano na caixa de sugestões

É uma música de novela e é bem bonita. Só por isso aceitei

Tiziano Ferro - Imbranato

 

10h25

Iara

EU AMO ESSA MÚSICA ♥

 

10h25

DaniEla

Ei, já colocaram a de vocês no formulário?

NÃO QUERO NINGUÉM RECLAMANDO DEPOIS

 

10h26

B.

Não tenho ideia de quem seja, ou que música é

 

10h29

DaniEla

Tu sabe sem saber que sabe

Quando começar, posso apostar que tu vai lembrar o ritmo

MAS NINGUÉM ME RESPONDEU SOBRE O FORMULÁRIO

 

10h48

Sávio

Selecionei umas cinco ou seis

 

10h53

DaniEla

Backstreet Boys de novo?

 

11h00

Sávio

Vou deixar no mistério

 

11h04

Iara

Peraí que tô abrindo

 

11h04

DaniEla

Me adianta uma aí

Tem uma do One Republic aqui – JÁ SEI QUEM FOI

TEM AVRIL LAVIGNE TAMBÉM AAAA

É de novela, I’m With You, mas válido

 

11h24

DaniEla

TEM AAAAALL THE SMALL THINGS

Alguém de respeito, né

Evidências nem digo nada

JOAN OSBORNE FOI TU, NÉ, SÁVIO

 

11h38

Sávio

Não confirmo nada

 

11h41

Iara

E também não nega hahaha

 

12h10

Iara

Uma do Coldplay é minha

 

12h10

DaniEla

Coldplay é sussa

AGORA BRUNO MARS

 

12h11

B.

Que tem eu?

 

12h11

DaniEla

Ainda não me adiantou as tuas

 

12h11

Tô com o Sav

Vou deixar no mistério

Na hora certa tu vai saber

 

12h15

DaniEla

Não me surpreenderia com Green Day, amor

HOOBASTANK EU SEI QUE FOI TU

 

12h18

Ué, eu ainda nem abri o link

 

12h20

Lins

Eu tbm ainda nem abri o link *eita*

Logo, o One Republic não fui eu, porém grata estou

 

12h20

DaniEla

PRECISO MESMO LEMBRAR QUE FECHA HOJE?

QUE VOU TER POUCO TEMPO PRA ENSAIAR?

 

Abro o link do formulário que inaugurou o nosso mais novo grupo de bagaças e vou para a pasta que contém as músicas e artistas que eles já tocaram ou que se propõem a fazer o cover. A lista era enorme e uma boa coisa para movimentar a mente para o lado bom da vida. Assim como todas as mensagens e dinâmica de grupo que estou vendo entre meus amigos, agora todos juntos e palhaços e sendo eles mesmos sem receios. Apenas tudo o que mais queria HÁ MESES. Escolher umas músicas era como brindar a uma nova era. Me conforto e me distraio ainda mais quando vejo a notificação de Dani escrevendo “Sav” também.

 

12h23

DaniEla

AEROSMITH???? É sério isso, Sav?

 

12h23

Sávio

Não fui eu, mas vou curtir ctzz

 

12h23

Iara

Acho que foi meu pai :O

Ele tava ouvindo hoje de manhã

Fly Away alguma coisa

Eu passei o link pra ele ainda ontem

 

12h23

DaniEla

Pro tio Filipe posso reconsiderar XD

 

12h24

B.

Olha só como as coisas mudam de figura ^.^

 

12h24

DaniEla

Ah, mas o tio Filipe é o tio Filipe. Outro nível de fã

Até se emociona!

 

Com essa conversa, acho que já posso dizer que vamos ter um bom novo ano e que estou AMANDO esse esquenta de virada. Foram tantos dias tenebrosos e agora estamos aqui, respirando, livres, com umas preocupações aqui e acolá, mas juntos e sacanas e isso me preenche. Tão quanto o nosso encontro de ontem. Sinto até que posso dançar, mesmo de bota, mesmo incerta de minhas pisadas, mesmo com certa preguicinha que se apossou de mim nessa manhã e mesmo sabendo que já devia estar preparando a mesa e talheres para o almoço.

Então outra notificação chega e eu não sei nem reagir ao olhar minha tela. É um e-mail da Flávia. Está intitulado de “Por favor, leia” e a notificação traz um trecho do início do texto que diz:

“Milena,
Pensei muito em como...”


~;~

Estava eu checando algumas coisas no banheiro – para que mamãe não ficasse mais responsável pela zona – e lembro de perguntar sobre onde foi parar meu shampoo, que eu sei que tava bem cheio, mas faz dias que eu não o via e no meio da logística toda de tomar banho, eu vinha usando o de mamãe. Vivia esquecendo de perguntar sobre isso e de eu mesma procurar pela embalagem na dispensa.

Antes que esqueça de novo, decido avisar o Murilo pra colocar esse shampoo na lista e que eu iria enviar a imagem dele pelo chat. Sigo para o quarto do meu mano para passar o recado e ouço ele de conversa com mamãe. Não resisto em espiar um pouco, chego devagarinho pela fresta da porta. Avisto Murilo, que está sentado na lateral de sua cama, de costas pra mim, calçando as meias. Em poucos minutos iria sair para o supermercado. Já mamãe parecia perambular pelo quarto, falando algo que eu não consigo ouvir.

Acho que nem o Murilo ouve bem, pois ele pede pra ela falar mais alto.

— É que vi na televisão que esses próximos dias vão chover bastante e chover forte e que...

O Murilo completa por ela:

— Os trovões, né? Ainda vou ter essa conversa com a Milena. Ela tem lidado melhor com isso nos últimos tempos, mas vai pegar nossa virada e tem o show da amiga dela e... Pode ser um pouco dificultoso. Tô me programando de falar com ela hoje de noite, pra ver como podemos fazer.

Estanco no meu lugar só de pensar que teremos uma conversa dessas. Que haverá trovões bem no período da virada de ano. Que minha fobia vai interromper meus planos. Que vai interromper minha vida de novo.

O que me traz de volta à conversa é a pergunta preocupada e vacilante de mamãe:

— Ela... Ela já procurou algum profissional?

Me sobressalto um pouquinho, vez que isso acabou sendo um ponto não discutido por anos. Melhor, ignorado por anos por mim. Não aceitava um mínimo comentário, então meus familiares foram obrigados a não falar mais sobre o assunto – pelo menos, não comigo. O que será que pensam sobre minha fobia por agora?

Será que torro suas cabeças por conta disso?

A resposta de Murilo, por outro lado, me surpreende. Ele, que está ajustando o cadarço de um de seus tênis, mantém contato visual com mamãe e soa mais confiante.

— Ainda não. Mas é algo que estamos trabalhando na cabeça dela.

— “Estamos” quem?

— Eu, o Vini... Acho que Djane também.

De preocupada, mamãe se mostra levemente chateada de repente. Ou não tão de repente.

— Isso vocês não me contam, né?

Murilo se abaixa para devolver o tênis ao chão e se senta ereto de novo para encarar dona Helena inquisitória, ainda que hesitante.

— Desculpa, mãe. É que ela... A Milena fica bem reservada com essas coisas. Desculpa mesmo. Mas, pra senhora ver, já estamos preparados para os do fim de semana.

Vai ter trovões neste fim de semana???? MAS QUE M...

— Preparados como?

Tento não me alarmar e sim me concentrar nessa conversa. Me aproximo mais da fresta da porta para observá-los e ter algo pra minha mente não surtar.

Enquanto isso, meu mano enfim calça o tênis. Não parece cansado ou agitado como chegou em casa e pouco tempo teve para um cochilo de tanto que ficamos eu e mamãe falando da série que estamos maratonando, e lá estava ele se preparando para mais uma jornada – tanto de trabalho quanto de compras para a dispensa, quem sabe pegar fila e nem reclamar tanto assim. Acho que era seu modo de cuidar de nós. Sei que ele iria resmungar alguma hora, como foi antes do almoço, mas por enquanto... só agradeço. E agradeço por essa sua postura mais aberta com nossa mãe, assim como seu plano de abrir o caso pra mim.

O universo, como sempre, quer que eu descubra as coisas antes.

— Ela já não fica tão reclusa. A gente faz... uns joguinhos.

Mamãe quase explode com essa, incrédula.

— Vocês jogam cartas até nessas horas?

Murilo ri baixo e eu também, para meu alívio pessoal.

— Não, mãe, não é esse tipo de jogo. São umas dinâmicas para dispersar a tensão. A senhora vai ver, vai estar aqui.

Nesse momento que cai minha ficha de que de fato mamãe estaria aqui para presenciar uma dessas crises. Coisa que eu não deixava sei lá há quanto tempo. Nem me toquei disso quando o Murilo me falou das chuvas numa outra conversa, porque eu só pensei... Bem, eu pensei no presente dele: o pen-drive e o mp3. O que considero um avanço, pois antes eu só me fechava em mim mesma e queria sumir. Agora estou aprendendo a atravessar. Ao menos a querer isso.

Significa dizer também que dessa vez as chuvas serão diferentes.

Experiências diferentes.

— Não gosto de ver minha bebê chorar. Nem quando era bebê de verdade.

Murilo para de mexer no tênis e olha para cima, para alinhar com mamãe de pé.

— Talvez ela chore e talvez se sinta bem envergonhada. Mas agora ela também ri e responde a gente. Faz até piadinhas.

Isso parece amainar nossa mãe que, apesar de manter os braços cruzados, vejo que solta os ombros com um suspiro.

— Você cuida bem dela.

— E ela de mim. Milena não desiste de Murilo e Murilo não desiste de Milena.

Mamãe enfim solta os braços agoniados e sorri lindamente para a criatura, que dá de ombros, muito do humilde.

— Que bonito isso, filho!

— Aprendi com ela. Agora tenho que ir, senão não dá tempo de trazer as compras.

Antes que meu mano levante, mamãe segura o rosto dele com ambas as mãos e lhe dá um beijo à testa. Ele realmente merecia depois dessas suas declarações.

— Vai e volta com cuidado. E presta atenção onde estaciona.

Eles riem e Murilo se levanta, pegando o celular na mesinha do lado. Me afasto uns poucos passos para parecer que estava indo atrás dele, como ainda pouco. Assim que ele abre a porta do quarto e chega ao corredor, com mamãe em seu encalço, me faço presente como se não tivesse espiado os dois.

— Ei, esqueci um shampoo. Vou mandar a marca e imagem dele por mensagem.

Dona Helena então me interrompe, passando pela frente do meu mano:

— Já acabou o shampoo?

— Não sei, não vi mais o meu.

— Aquele com cheiro de chiclete? Dei fim.

MÃE! Ele tava cheio!

— Tinha cheiro de chiclete, Milena. Tive que dar fim naquilo. Era esquisito.

— Mas ele deixa meu cabelo mais macio e... Aff, não acredito que a senhora jogou fora meu shampoo.

Não acredito é no fato de que há um minuto ela estava tão preocupada e agora detona comigo. E com meu shampoo.

— Por isso que deixei o meu com você.

— O seu tem cheiro de leite condensado. De picolé de leite condensado. Alguém já lhe disse isso?

Ela coça a lateral do rosto, pensativa.

— Acho que seu pai. Mas é melhor cheiro de picolé do que de chiclete. Não é, Murilo?

Meu irmão só fica olhando de mim pra senhora sua mãe sem saber o que dizer. Cadê o “Murilo não desiste de Milena e Milena não desiste de Murilo” de agora? Nem pra me defender das maluquices dela.

— Decidam logo porque quem vai pra fila sou eu.

Dona Helena sai na frente como quem dá o comando e eu vou atrás.

— Tá decidido: sem shampoo de chiclete.

— Na-na-ni-na-não.

Mamãe se vira pra mim ao final do corredor e início da sala para apelar:

— É só por esses dias, tá, depois você compra de novo. Pode ser assim?

Respondo com as mãos na cintura, incisiva:

— Se a senhora não der mais fim em nada das minhas coisas, posso pensar no caso.

Só que aí ela faz uma cara de quem aprontou mais sem eu saber.

— Ai, meu Deus, em que mais a senhora mexeu? O que foi que a senhora jogou fora?

— Bom, eu não joguei fora, só mudei seus shorts de lugar.

— C-como assim?

— Ai, filha. Não se anda com um short daqueles quando seu namorado vem.

Um Murilo triunfante passa por nós para poder sair, dizendo:

— AÍ EU CONCORDO!

Eu, que ia dar um beijo na peste, deixo pra outra oportunidade, só olhando o sacana pegar as chaves do carro, dar uma voltinha e dizer tchau. Sobra apenas eu de pé, estarrecida com essa cena toda, porque mamãe já está no sofá acomodada.

— E aí, vamos ou não vamos ver o final de... Como é mesmo o nome?

— Dawson’s Creek. Só por isso te perdoo.

— Pelo shampoo ou pelo short?

— Nem ouse perguntar, dona-Helena-Lins-Albuquerque-Camargo. Nem ouse!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tô flutuando de amor - e gargalhadas - como vocês, apenas isso, POR ESTAR DE VOLTA!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.