Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 170
Capítulo 169


Notas iniciais do capítulo

ÚLTIMO DO COMBO DE HOJE!
Sei nem dizer, só sentir.

LEIAM, LEIAM, LEIAM!



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Eu não queria soltar ninguém, essa era a verdade.

Mas precisávamos de uma nova pausa entre risos, caras inchadas e narizes entupidos. Queria poder me deter a apenas isso, mas só chegamos a uma reconciliação ao colocar a verdade em cada coração. E ainda havia muito a se falar. Enquanto eles se dividiram entre os banheiros para se darem um novo fôlego, preparo um pouco de sorvete aos meus amigos. Muitas vezes foi com sorvete que compartilhei boas novas e que desabafei histórias complicadas com o Murilo. Faz parte da tradição dessa casa e faço questão de receber cada um com esse grande coração meu – e nosso – para partilhar mais força entre nós.

Também os recebo de volta à mesa com um beijinho no rosto para esquentar com carinho esse momento. Ainda teremos algum encontro desses sem tragédia, tenho fé. Mas por enquanto, temos que seguir em frente.

É isso que declaro a eles:

— Queria poder ficar só nesses abraços e com o sorvete de flocos, mas... ainda temos bastante coisa para falar. Onde foi mesmo que a gente parou?

Todo mundo parece meio perdido e não é pra menos depois do cenão que tivemos. Dani, que antes se mantinha calada e quieta, se mostra mais presente e aberta, acompanhando de fato a conversa.

— Acho que foi no professor Max. Que o Sávio falou como descobriu quem ele é de verdade. E você descobriu porque tiveram um mal-entendido. E que não se sabe se é sobre drogas. Mas se não for isso, o que seria?

— Eu não tenho ideia.

Amassando o sorvete em sua tigela, Sávio chama atenção:

— Acho que eu sei. Mas também não sei muito como explicar. As drogas me parecem ser só uma distração, porque enquanto trabalhei pro Hermani, não teve nada disso. Bebidas sim, drogas não. Era mais sobre cumprir serviços.

Bruno intervém:

— Pera, vocês não falaram sobre os depoimentos.

Sávio toma a frente nessa:

— Bom, depois que a máscara do Max caiu lá no evento, ele me chamou para conversar e, como a Lena disse, tentou tapar o sol com a peneira. Tipo, ele quis salvar o disfarce, mas acho que eu tava tão desesperado com o lance do André que eu perguntei se tinha a ver com o Hermani, porque se tivesse, eu taria disposto a falar as coisas. E então marcamos uma hora para eu dar meu depoimento e definir as regras. Não falar pra ninguém e reportar a ele qualquer informação a mais.

— Quase o mesmo comigo, só que... como disse antes, tive uns embates com ele.

Bruno fala com a colher na boca e depois tira:

Por-ue-eli-taua... Por que ele tava provocando o Gui?

— Também. Acho que só começamos do jeito errado mesmo.

— Mas o que ele tinha – ou tem – contra o Gui?

— Eu demorei a sacar essa também. Não se trata do Aguinaldo, na verdade, mas sim do pai dele. Liguei os pontos quando o Gui descobriu que o pai tava namorando a irmã do André.

— O QUÊ?

— Bem isso que você ouviu.

Bruno até deixa a colher cair. Eu ia pegar, mas ele é mais rápido e levanta pra colocar na pia e puxar outra da gaveta, ainda sobressaltado. Eu continuo puxando as informações do jeito que consigo lembrar.

— Algumas vezes, Max também deu a entender que se tratava de coisas de família. Com o tempo, acho que ele foi confiando em mim e, né, eu nele. Até porque ele tava ali para nos ajudar. Até falei sobre aquele caso “Gossip Girl” na turma da Dani, por exemplo.

Iara se perde nessa e torno a explicar:

— Na série não tinha um momento em que todo mundo recebia uma notificação no celular, com bips e tudo mais? Teve uma situação assim na sala da Dani.

— Sim, o Yuri recebeu uma dessas. Na época ele me embromou qualquer coisa. Até agora não sei bem como juntar as coisas que fui descobrindo com ele.

— É por isso que tô contando tudo agora, pra a gente entender ou tentar entender mais, porque, ao que parece, todos temos pontas importantes de uma mesma grande história, sem saber que tudo tá interligado. E nesse ponto, Dani, acho que seria sua vez de falar o que me falou no outro dia.

Ela se acanha um pouco, afundando na cadeira.

— Tudo bem, eu acho. Só não sei bem como começar.

— Fala o que você lembrar, na ordem que lembrar.

Com uma colherada de sorvete, Daniela se concentra um pouco antes de falar.

— Bom, teve aquela discussão no pátio com o Yuri, né. Quando tu tava procurando o Pompeu pra devolver alguma coisa.

Esclareço essa questão:

— Foi uma camisa que ele me emprestou naquele último evento de Administração.

— Isso. Daí o Yuri ficou todo estranho e grosseiro, dizendo que o Juliano não era companhia boa para a gente, que não era pra ter qualquer relação com ele e só jogou isso na mesa, assim, sem mais nem menos. Eu também não entendi naquele dia. Ainda assim, depois procurei a Lena pra ela... enfim, relevar esse comportamento dele.

— Você me disse que o Pompeu começou a te rondar, não foi?

Ele o quê?

Bruno se exalta um pouco e não teria como não agitar seu espírito, penso. Dani vai com calma e até mesmo tenta amainar o namorado, sobrepondo as mãos dele na mesa com as suas.

— É, ele começou como o Max fez com a Lena, acho. Uns papos aqui e ali, nada muito na cara. Daí teve uma vez que o Yuri me ligou e ele tava... Tava um pouco bêbado, sabe? E fez umas perguntas sem sentido pra mim.

Iara é quem questiona dessa vez:

— Que tipo de perguntas?

— Coisas como “ele te fez alguma coisa?” e eu tipo “quem???”, bem perdidaça. Depois dizia que precisava saber se alguém tinha me feito alguma coisa durante a semana. E dizia assim, sem especificar, nem nada.

Nessa hora, Sávio me encara de um jeito e sei que ele entende. E o Bruno entende que ali caiu uma ficha.

— O q..? O que isso significa? Sáv...? Lena?

Dou um leve suspiro.

— O Sávio também me fazia essas perguntas quando o André estava na nossa turma.

Ainda agitado, Bruno tenta juntar os pontos e a Dani vai soltando mais informações.

— Então... o Juliano era um dos cabeças?! O Yuri tinha alguma dívida com ele?

— Existia uma dívida que eu sei, mas me parece que as coisas funcionavam diferente. E tenho a impressão de que o André também obedecia ao Juliano. Mas não tenho certeza.

Mexendo o final de seu sorvete, Bruno bufa ao saber dessa.

— Não me admira o André ser peixe pequeno, o QI do cara era -200. Não sei nem como ele passava nas matérias a cada semestre. Não é possível que todos os caras faziam os trabalhos por ele.

Sávio resmunga e Dani concorda.

— Eu não duvido.

— Eu também não. Não sei dizer como o Yuri tava ligado ao Pompeu, só sei que estavam e eles tinham uma rixa pesada. Ele começou a falar isso nos últimos tempos. Nesse dia que o Yuri me ligou bêbado, eu cheguei a ir no bar pra encontrá-lo, que era perto de onde moro e do apartamento dele, e o acompanhei até em casa. E o tempo todo ele ficava repetindo essas coisas, que iria derrubar o outro, que o jogo ia virar, que ia fazer um esquema diferente, que... Espera, teve algo que ele disse também em relação ao Hermani.

Nesse instante, todos ficamos calados em expectativa.

— Humf. Acho que não vou lembrar mesmo o que era... Só sei que ele tava mesmo perturbado com isso de alguém fazer algo comigo. Depois dessa, ficou várias vezes falando sobre o Pompeu ser alguém perigoso, que ia me proteger e... Ele falava tudo embaralhado, gente. Eu que ainda tentei entrar na dele, sabe, como se eu tivesse noção do que falava, só... só dando corda, mesmo. Tipo, o cara tava bêbado e falante e eu só queria entender.

Me bate uma sensação estranha ao ouvir isso vez que se assemelha ao que a Flávia fez. Eu “bêbada” de sono, falante e... respostas. Respostas embaralhadas. Inspiro e expiro. São situações diferentes e com intenções diferentes, certo? Certo?

— Eu morrendo de ciúmes do cara e ele lá... fazendo de tudo pra te defender.

— Ainn, Bru. Isso não é pra ser uma competição. Tipo, é como a Lena falou, é pra a gente se compreender... e se unir.

Ouvir meu nome me traz de volta à realidade na mesa e pisco um pouco pra me orientar na conversa, que calha de ser um mais amena. Me tranquilizo, pois doses de amor devem sempre prevalecer.

— Eu sei, eu só... Aff. Preciso agradecer ao cara.

— Não vai doer, sabe?

Iara concorda, levantando e pegando as tigelinhas e colheres de todos.

— É, o cara merece isso.

Bruno assente ao entender que ela também se refere ao que o Sávio fez. E então confessa algo que eu nunca soube exatamente os detalhes.

— Eu só descobri sobre o Sávio por conta de conversa de banheiro também. Na verdade, uma insinuação do Acácio. E aí joguei um verde pra cima desse daí. Colhi maduro.

Sávio, que segue Iara assim que ela liga a torneira, dá um meio sorriso envergonhado.

— Me pegou em cheio mesmo.

E Dani outra vez nos surpreende:

— Eu também ouvi uma conversa sobre isso... do Gui e da Flá. Não no banheiro, claro. Mas não compreendi até o Yuri me soltar mais informações. Nos últimos tempos ele vinha me ligando quando tava bêbado e eu dava corda de novo.

Apesar de ela levantar novamente a questão de obter informações, me ligo na tal conversa do Gui e da Flávia. Muito provável ter sido após as respostas que roubaram de mim. Não sei se queria saber desse detalhe, mas fico me perguntando se isso pode ser relevante para colocar a todos também. Bato os dedos das mãos nos nós da outra, um pouco inquieta, e por fim aperto as mãos e pergunto.

— Essa conversa... do Gui e da Flá. Eles disseram o quê?

— Essa eu posso dizer com todas as letras, porque também me marcou. Eu tava de passagem pelo jardim, ali perto da xérox, pra cortar caminho e vi os dois num canto isolado do muro. Ouvi quando a Flávia disse pro Gui: “Ela disse, dessa vez ela disse. O Sávio fez muito, enquanto que a gente só julgou”.

Deito o queixo sobre a união de minhas mãos e os resquícios do doce de flocos quase se torna amargo na boca. Não é nenhum espanto, nem surpresa, apenas um rebuliço interno, uma dorzinha lá no fundo do estômago. Por isso, tomo um novo fôlego. Só que posso ver pelas expressões de meus amigos de que eles notam como isso mexe comigo.

— Sinto muito, Mi.

— Tudo bem. Algumas partes são duras... Mas vocês estão aqui. E me sinto segura com vocês. Não posso, claro, dizer o mesmo sobre...

Expiro e expiro longamente. Iara puxa um pouco de sua cadeira para se juntar mais a minha. Recebo seu consolo e agradeço por isso. Termino por desabafar outra coisa:

— Depois de tudo isso, só vou me preservar, sabe? O primeiro passo foi me livrar daquele girassol que ele me deu no amigo da onça – que agora é um título de grande ironia – e...

O Bruno se manifesta:

— Mas o girassol tá lá fora.

Levanto a cabeça do ombro de Iara no mesmo segundo.

— O q...?

Dani também assente.

— É, eu também vi. Do lado de fora da janela.

Suspiro.

— Deve ter sido mamãe. Ela ficou com dó da plantinha quando a viu no lixo.

Bruno acrescenta:

— Se você quiser, dou um sumiço nela.

— Não, deixa pra lá. Não é um local que fica no meu caminho, nem no meu campo de visão. Além do mais, teria muito a explicar pra mamãe. Vamos só... errr... nos concentrar. A Dani tava falando sobre os vazamentos do Yuri.

— Bom, teve uma coisa que ele me disse a respeito do Sávio, que junto a isso... da Flá, também mexeu muito comigo. Me acordou na verdade, ainda mais vindo do Yuri e do estado que se encontrava. Ele falou que... “f-foi muito louvável o que o Sávio fez”.

Dani segura o rosto com uma mão, tentando não se quebrar ao falar. Bruno a envolve para dar uma força, que ela aceita bem e continua:

— Que ele “fez história dentro do círculo”. Que “todo mundo tinha um ponto fraco e ele segurou todos os dele”. E que o Sávio “não tinha ideia do que é o círculo”.

Mesmo colada em mim, Iara estende o braço ao namorado, que também faz o mesmo e suas mãos se unem. É inevitável meus olhos se encherem novamente e eu tento mandar mensagem pro meu coração de que tá tudo bem, agora tá tudo bem e estamos caminhando para ficar mais bem ainda.

Com cautela e carinho à namorada, Bruno questiona:

— Ele chegou a dizer o que era esse círculo?

— Não.

Daí que lembro de uma coisa. Uma coisa que entreguei pro Max sem saber o que queria dizer. A Dani mesmo no outro dia me revelou sobre alguns códigos, como o “princesa”. Será que saberia outros mais?

— O Yuri alguma vez te falou sobre codinomes? Ou apelidos, sei lá.

— Tinha uns códigos, como aqueles que te falei – princesa e donzela, sendo “princesa” quando tinha algum serviço sujo pra fazer, e “donzela” quando tinha uma vítima específ... Espera, tinha uns nomes diferentes sim! Como era mesmo?!

Minha amiga estala os dedos como se isso pudesse ativar a memória. Aproveito para ativar ou arriscar eu mesma:

— Zelda? Snake?

— Isso! Zelda! Zelda é o Juliano! O Snake, o André. E o Yuri, o Pacman!

Quase posso pular da cadeira como se tivesse ganhado algum jogo. O que, também por ironia do destino, eram nomes de personagens de games. Que, claro, também choca nossos amigos. Dani, por outro lado, ri da própria loucura que isso significa.

— E eu pensando que ele tava de zoeira comigo!

Mas nem o Sávio nem o Bruno demonstram essa animação. Pelo contrário, parecem mais preocupados e confusos:

— Nomes de videogames?!

— Que raio é esse de nomes?

Fico tão atordoada por matar essa charada que fico procurando as palavras. Já Daniela, embora perplexa, é mais rápida:

— Snake até que é um bom nome pra “cobra” que é o André, né? Mas Zelda... O que é isso?

Sávio explica com certa reserva e seriedade:

— É de um jogo chamado The Legend Of Zelda, sendo Zelda uma princesa que deve ser protegida.

O Murilo me falou algo nesse sentido, de ser de um jogo, quando contei a conversa do banheiro para Max. Nunca cheguei a me aprofundar na história, que agora vai cada vez encontrando um sentido. Insano e intricado, mas ao menos um sentido enfim.

A expressão que Daniela faz, de abrir a boca e a mexer tentando articular algo sem conseguir, além de piscar os olhos e vagar um pouco enquanto o raciocínio interliga as informações, resume bem a sensação. Por fim, ela murmura:

— Princesa. E donzela.

— É provável que venham daí. Principalmente se o Juliano for mesmo o cabeça de tudo... Porque os outros jogos não trazem um enredo, não assim. O jogo da cobrinha no celular, Snake, era só um desafio, assim como o outro, Pacman.

Bruno complementa:

— Um de não bater na parede e o outro de fugir de fantasmas. Se não tivesse toda essa coisa de esquema ou círculo, diria até que é algo criativo. Mas o que me deixa indignado com essa porra toda é: como que o Juliano passou por nós esse tempo todo sem a gente perceber?

Daniela emenda outra pergunta que também deixa o que pensar:

— Ou será que não se aproveitava do QI -200 do André de se aparecer?

— Caramba, verdade.

Enquanto processo isso, me vem um clique e interrompo os dois:

— Espera um pouco... O Pompeu e o evento de Administração.

— O que tem?

— O assalto do Gui. Não foi um assalto, foi um recado pro pai dele.

Parecia a quinquagésima nona – ou sei lá quantas – descoberta assombrosa para o Bruno e os outros, mas antes que ele me responda diretamente, interrompo-o outra vez para não perder a linha de pensamento. Até me levanto, porque quero ter mais clareza sobre o que lembro e por incrível que pareça, me mover um pouco me dá esse impulso. Circundo a mesa, passando por trás da I e do Sávio primeiro, localizando a todos sobre o ocorrido.

— Espera. Ele me disse que tava no auditório. O Pompeu. Quando fui devolver a camisa, já na nossa faculdade, ele até me perguntou do Gui e... Cara, ele se fez passar de preocupado.  Porque falou como se tivesse com pena do Gui, indefeso naquela situação. Disse que... Meu Deus, será que foi ele quem mandou surrar o Aguinaldo?

Lanço essa, assustada. Tanto os meninos quanto as meninas ficam atônitos. E um ódio me sobe por Juliano ter me usado ali para saber notícias do Gui.

— O filho da puta disse que queria ter ajudado. Que antes até tinha passado pelo banheiro perto do estacionamento.

Iara balança a cabeça como quem tá embaralhada.

— Gente, agora... eu não tô entendendo.

Daniela responde por mim de um modo tão mais esclarecedor:

— Se foi um atentado contra o Gui, pra ser um recado pro pai dele, que tava namorando a irmã do André, significa que o Gui era a “donzela”, ou seja, a vítima. Já o recado era a “princesa”, o serviço sujo.

Nessa parte, não tem como não anuir com o palavrão silábico que Bruno solta:

— CA-RA-LHO! Ele é mesmo um filho da puta engenhoso!

Acabo sentando numa cadeira vazia entre os meninos, só mesmo para não cair. Enquanto fico um pouco fora do ar, Daniela novamente responde à Iara e suas dúvidas.

— Esse foi preso? Na semana passada?

— Foi uma prisão preventiva, mas é capaz de, pelo dinheiro da família dele, já estar solto. O Yuri tá solto também, respondendo em liberdade. Só que o problema mesmo é que eles não foram presos por isso tudo que a gente tá juntando aqui. Encontraram drogas tanto no carro do Juliano quanto no do Yuri. E só foram ver isso porque teve uma confusão entre os dois e o diretor lá na faculdade, no último dia de aula. Mas até agora não sei o que houve de verdade. O Yuri não ficou, por assim dizer, “falante” dessa vez.

Nem me atenho mais ao fato falatório ou não do Yuri, vez que uma dorzinha de cabeça começa a bater depois de tanta peça doida nesse quebra-cabeça. Ainda assim, preciso ter um pouco de foco para terminar essa loucura de vez. Que tá acabando, finalmente. Aperto as têmporas e penso em molhar a mão para passar ao rosto, só pra aliviar um pouco da tensão mesmo.

Só que outro grande pedaço surpresa da história é posto sobre a mesa, dessa vez pela Iara, que sucede à interrogação do Bruno:

— Alguém sabe como o Gui foi parar naquele estacionamento sozinho?

— Pelo que entendi, alguém disse no evento que o pneu do carro dele tava baixo e ele foi conferir. Até achou que tivesse chamado atenção dos assaltantes por ter atendido uma ligação qualquer no meio do caminho. Foi isso que ele me disse quando esteve acamado.

Sávio, que estava um pouco quieto nesses últimos minutos, se manifesta:

— Nunca cheguei a falar isso, mas quando entendi que tava tendo uma agressão ali no estacionamento e que gritei “ladrão, ladrão” pra eles dispersarem, achei ter reconhecido um dos caras de relance. Só que aí me deparei com o Gui e não fez sentido. Ainda mais com ele dizendo depois como foi abordado e a história da foto. Que tiraram uma foto dele de joelhos depois de uns golp...

Pela visão periférica, percebo que o Bruno tá fazendo algum movimento estranho e que o Sávio capta isso e para de falar. Ainda consigo pegar meu amigo fazendo gestos para não contar os detalhes do ataque. Pelo segundo que vislumbro as meninas apreensivas e por como me sentia impotente revivendo isso outra vez, não deixo de chamar atenção do Bruno por essa sua tentativa de nos preservar:

— Deixa ele falar. Não é como se a gente não soubesse como foi.

— É, mas... 

Sávio intervém:

— Tudo bem, cara. É difícil olhar pra isso e não reagir, mas é ainda mais complicado não saber. Como tudo que a gente tá discutindo aqui. É pesado, porém, de alguma forma, nos deixa aliviados. Tipo, ali não era paranoia minha, não de todo. Mas o cara tá bem e a gente... A gente tá unido aqui.

Bruno ainda fica incerto mesmo com o restante de nós assentindo. Então tento de outro modo, retomando o cerne de todas essas conversas:

— Lembra o que falei no começo? Sobre todos estarmos na mesma página?

— Só acho que não precisamos colocar tantos detalhes se isso vai... Se vai nos deixar muito mal.

— Os detalhes são importantes. Cada um tem um detalhe válido para acrescentar, mesmo que não saiba.

Sávio acrescenta:

— Acho que uma coisa importante aqui é lembrar que isso não se trata de nós, não diretamente. São sobre pessoas que conhecemos e calhou de sermos envolvidos de uma maneira ou de outra, e isso nos testar em inúmeros limites, testar nossas relações, mas-não-se-trata-de-nós, nem de sermos aqueles que vão resolver. Não temos esse poder. Tem gente capacitada pra isso. O que tá no nosso alcance agora é a gente se apoiar, contribuir e torcer pelo melhor.

É isso mesmo. Não é como se a gente pudesse pegar todas essas descobertas e fosse solucionar ou fechar o caso. Bruno enfim concorda.

— Acho que foi só minha maneira de tentar amenizar.

Iara também agrega:

— E a gente agradece por isso, não é gente? Mas é bem o que o Sávio e a Milena falaram. Para chegarmos na verdade, temos que passar pela parte ruim. Só assim vamos poder fazer algo bom e de útil, sem mais enganos e sem mais brigas.

Com essa, Bruno lança:

— Então... acabou? Chegamos finalmente na mesma página?

Dani acena com a cabeça, apesar de vacilante sobre isso.

— Acho que sim? Porque sobre o último dia de aula já temos uma boa noção de como as coisas estão interligadas, pelo menos das informações que temos até então. E, não sei vocês, mas tô até mais leve de ter alguma resposta e encontrar sentido. De saber que não estamos sozinhos como achávamos e que na verdade temos como nos ajudar. Contribuir mesmo.

Pego esse gancho, puxo mais um tópico:

— Falando em contribuir, alguém vai ter que condensar isso pro Max. Acha que poderia fazer isso, Sávio?

— Pode contar comigo.


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Notas finais do capítulo

Vou preservar vocês dos meus SURTOS.
ATÉ BREVE!



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