Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 146
Capítulo 145


Notas iniciais do capítulo

Alguém aqui observa nuvens?



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Depois de passar dias ausente – ausente até de mim – nem sei porque fiquei receosa de sair. Quer dizer, de ver pessoas. A última vez que tinha colocado a cara na rua foi quando fui no hospital. Os dias foram tão longos e desconfortáveis que parecia que tinham se passado semanas. Mas havia real semanas que eu não dava as caras na casa do vô-sogro. Apesar de já estar bem melhor, as pessoas ainda tinham expectativas.

O Murilo percebeu minha hesitação.

— Vai ser bom, acredite em mim.

— Não sei, Mu, devo tá com cara de doent...

— Nada, tá nada. Vai levar a vitamina?

— Já na bolsa. O remédio da garganta também.

Eu não tava contagiosa, mas precisava tomar uns cuidados. Embora não tivesse mais febre, nem coriza, a garganta ainda dava um pouco de trabalho. Isso significava também ficar um pouco longe de seu Júlio, por segurança.

A primeira coisa que ele diz ao me ver é:

— Minha netinha sumida!

E eu emendo:

— Se prepara pro ano que vem, que a Iara vai entrar no time dos desesperados de fim de período e dar umas boas sumidas.

— Ah, vai ser ótimo!

Quando me sento ao sofá para conversar com ele, que a Iara aparece, e logo depois Filipe, agradeço o Murilo, com um afago na sua mão, por ter insistido. De fato, as amenidades de um domingo de família estavam me fazendo bem.

— Ah, gente, eu mal posso esperar pra me descabelar. Juro pra vocês.

— Será que vou perder as minhas duas melhores funcionárias?

Filipe fala isso porque sabe que meu próximo ano é de monografia. Iara repreende ele de pronto, com um tapinha no ombro.

— Pai! Não fala assim.

— Tá, estarei torcendo pelas minhas duas melhores funcionárias. E falo sério. Sei que voltarão mais fortes.

Estava começando a ficar desconfortável, daí o Murilo age.

— Ah, Filipe! Quando desci do carro, vi seu pneu um pouco baixo.

— Foi? E olha que eu troquei um esses dias. Valeu por avisar.

Dou um leve sorriso por ele desviar o assunto. Sei que fui eu que puxei o tópico da faculdade, mas não queria entrar no quesito trabalho.

— Cheguei, família!

O namorado entra se anunciando. Antes que atravesse a sala para me cumprimentar, pergunto:

— E Djane?

— Nada de “oi, amor”, né?

Ele sabe que eu faço de propósito, não sei porque ainda se surpreende. Por isso provoco de novo, com a cara mais deslavada e inocente possível.

— Oi, Vini. Cadê Djane?

Ao que parece, meu charme prevalece e ainda recebo um beijo estalado na bochecha. Logo ele se joga ao meu lado no sofá, de modo que fico entre os dois homens da minha vida.

— Hoje ela tem uma daquelas reuniões chatas de departamento. Disse que chega pra sobremesa. Precisa de algo com urgência?

— Não, nadinha. Só senti saudades dela pegando no meu pé.

— Dela tu sente, né?

Parece a própria falando.

— Vocês dois são muito farinha do mesmo saco, viu.

Mais uma vez o Murilo intervém. Só que de sacanagem.

— Ihhhh, vão ficar de papinho assim na nossa cara, é? Ô, Iara, ajuda aqui.

— Eu? E tu acha que dá pra fazer algum coisa? Se bem que se Djane não vem, a gente já pode ir pra mesa.

— Valeu, Iara.

Meu irmão sabe ser muito bobo numa hora oportuna.

 

~;~

Uma galinha subindo num carro conversível. Ou um tiranossauro com um estilingue de sutiã. Não sei, são muitas possibilidades nas nuvens. Deitada numa rede próxima à piscina, tudo parece calmo e simples. Preferi vir pra cá pelo frescor do vento – foi o que disse depois do almoço. Belisquei só um pouco do pudim e das uvas e quis me distanciar das conversas. Sentia certo cansaço.

Deitar no quarto seria mais uma vez ficar entre paredes. Preferi novos ares, novos ambientes. Poderia ficar aqui e depois voltar ao meio das pessoas, sem problema. Só mesmo respirar outras coisas.

O dia está um pouco quente, com o céu aberto e muitas nuvens de passagem. No nosso ritmo de vida, as nuvens parecem tão lentas; mas quando somos nós que desaceleram, elas parecem até muito rápidas. Mudam fácil de forma. Será possível mudar assim aqui embaixo?

Uma cabeça se mete na frente desse céu de pensamentos. Iara me espia do alto.

— Tá dormindo?

— Não.

— Ah. Tem espaço aí pra mim? Ou incomodo?

Abro espaço pra ela entrar na rede. Pendemos pra baixo e Iara ri, se grudando em mim. Vamos nos ajeitando até achar uma posição confortável para as duas.

— Tem certeza que quer pegar gripe?

Brinco, porque hoje ela resolveu grudar em mim como nunca. Até guardou uns enfeites da árvore de Natal, para que eu também participasse do cenário. Como o Vini falou no dia anterior, a casa parecia um shopping no Natal. Iara caprichou mesmo.

— E tirar uma semana de férias? Quero!

— Sua doida. Não é nada agradável, digo logo.

— É, tem as dores, os mal-estares... Sei que tem razão. Só não queria estar na empresa enquanto rola a investigação do Sérgio. Ou quando sair o resultado.

— É aí mesmo que deve estar. Pra ver aquele cara se dando mal.

Com um suspiro, ela deita a cabeça no meu ombro e eu fico sem como me mexer muito. Mas não era nada desagradável.

— Foi o que Thiago disse.

— Já estão se falando?

— Mais ou menos.

— Nem te disse. Foram os sobrinhos dele que deram as ideias de sabotagem. Coisas de filme mesmo.

— Por um lado é bom, que agora ele é mais próximo da família, por outro, usou as crianças para coisas erradas. E me enganar e me atrapalhar no processo. Ele foi longe demais com tudo isso.

O comentário dela me lembra de certa pessoa e sou eu quem suspira, mais uma vez concentrada no mover das nuvens. O assunto parece morrer e ficamos quietas por um momentinho. Então Iara fala:

— O Vini me disse.

— Disse o quê?

— O que o Gui fez.

— Hmmm.

Deve ter sido após meu momento natalino de colaborar na decoração, que vi Iara chamar o irmão no quarto para pedir uma segunda opinião em alguma coisa. Não demorou muito e me refugiei aqui.

— Só quero que você saiba que estou do seu lado. E que amanhã vou dar uns bons tabefes nele.

Sem desviar das nuvens, que agora desfazia um violão e formava uma árvore de livro infantil, respondo sem muita vontade.

— Não vale a pena, I.

— Não importa. O que ele fez... O que eles fizeram...

— Eles têm consciência. Eles sabiam o que estavam fazendo e continuaram. E esconderam.

— Posso fazer algo por você?

— Pode não falar sobre isso.

— Mi...

Sem deixar de olhar para o céu, insisto.

— Eu tenho que cuidar de mim no momento. Fazer o melhor que posso. Um pouco de paz de espírito é sempre bom.

— Tudo bem.

Iara me aperta contra ela e não quero mais me estender nesse tópico. Só descansar. Só continuar a vida. Só viver outras histórias.

Num timing perfeito, minha criaturinha aparece com ciúmes do chamego.

— Pra isso ninguém me chama.

A Iara ainda cai no papo dele.

— Isso o quê, Murilo?

— Sombra e água fresca.

Mas eu não:

— A piscina tá aí.

— Mas quero é espaço na rede.

— Se tu entrar, cai nós três. Tem outra rede ali pra montar.

Aponto para o outro canto e meu mano nem olha, só quer se jogar em cima. Tem hora que ele esquece que é uma montanha de gente, só pode. Rio um pouco porque fazia um tempo que não atazanava ele assim.

— Mas quero ficar aqui.

— Aqui já tá cheio, Mu.

— Já sei.

Meu mano sai e em poucos segundos volta com uma das toalhas de mesa da área da churrasqueira e coloca na grama, bem ao lado do meu corpo na rede. Só que parte dali batia o sol, por isso ele tira a camisa, deita na toalha e coloca a camisa cobrindo os olhos.

Levanto a cabeça só o suficiente para provocá-lo.

— Alguém vai te matar, Mu.

— Pelo quê?

— Por colocar a toalha de mesa na grama.

— Eu sei usar meu charme.

Iara, que até então só observava e ria das tramoias de meu mano, se manifesta:

— Sem camisa, então.

— IARA!

— O quê? Eu tenho olhos, ué. Meu coração não bate por ele assim, masssss... Sei reconhecer charmes.

— Quê que tem meu charme?

Agora é o namorado entrando na conversa. Iara? Ela resolve atazaná-lo.

— Teu charme precisa de análise, irmãozinho.

— Precisa nada, já ganhei a garota.

Murilo retruca e eu me aquieto na rede, só ouvindo a discussão.

— Lá vamos nós de novo.

— Viu, até o Murilo concorda. Mas, e aí, tem espaço pra mim ou não?

— Nem vem, se elas não deram pra mim, pra ti também não tem. Tive que me virar aqui no chão.

Mas a Iara, ela tem outra ideia.

— Eu tenho que ir na cozinha mesmo. Fica aqui no meu lugar.

Ela se prepara pra levantar e meu irmão pra resmungar:

— Pra mim tu não diz isso, né? Agora vou ficar de vela.

Iara se põe de pé e eu acabo fechando os olhos. A conversa estava boa, mas eu ainda sentia um cansaço.

Vini abre um pouco a rede e declara:

— Gente... Acho que a Lena dormiu.

— Então deixa ela quieta. Te arranja aí do outro lado. Tem outra toalha ali. Se eu vou morrer, tu vai junto.

Ouço um riso bobo vindo do namorado, perdido na história:

— O quê, Murilo?

Ouvimos então um carro entrar.

— Agora que dona Djane aparece.

Um tempinho depois ouço ela andando por ali.

— Meninos, o que estão fazendo aqui?

Vinícius só abre a rede para me mostrar.

— Ah, agora faz sentido. Murilo, você vai ficar com uma marca no rosto com essa camisa assim.

— Poxa, mãe, chega atrasada e ainda entrega essa. A senhora almoçou pelo menos?

— Almocei sim. Resolvi tudo também. E não, não entreguei nada. Dos meus meninos também cuido.

Acho que Djane provoca o Vini com algo, porque depois ouço ele reclamar com um “ai, mãe” e logo mais os passos deles se distanciando. A paz reina novamente ali e me permito mais esse momento de quietude.

Com um ou dois minutos só de canto dos pássaros e o mover de folhagens de árvores da casa vizinha, Murilo fala.

— Está acordada?

— Estou.

— Se quiser ir embora, é só dizer.

— Não, tudo bem. Quero ficar. Só preciso recarregar um pouco a bateria social. Ainda tem alguns enfeites nos esperando. Quero viver isso, como você disse.

— Eu disse?

— Sobre ter em mente todo mundo junto, brincando, em família.

— Ah. Bem, estou pronto quando você estiver.

Era todo o suporte necessário para o momento.


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Notas finais do capítulo

BATERIAS RECARREGAS COM SUCESSO, HEIN?
Doses de amor e murilices devem vir sempre *------*

NÃO VOU DEIXAR VOCÊS SEM TRECHOS DO PRÓXIMO, CLARO
PRESENTAÇO DE NATAL

"- E como você avalia?
— O copo?
— A vida agora.
Meio doido, meio estranho, meio sei lá. Mas o que digo é:
— Meio cheio?
— Ainda bem. Se fosse meio vazio, ia arranjar mais um atestado."

e

"- Se for Velozes e Furiosos de novo, eu quebro esse prato aí na sua cabeça."

e

"- O Murilo disse que eu já não tava com cara de doente.
— Ah, nós mães percebemos as coisas de longe. O meu filho, por exemplo, saindo tristonho de casa e voltando feliz da vida. Já sei que vocês estão de bem de novo.
Isso também deixa minha sogrinha bem animada.
— Sempre observando a gente, né?
— Sempre observando as pessoas e as coisas, querida. O que me leva às notícias."

FELIZ NATAL, MEU POVO!



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