Hakanai (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 23
A sombra do olhar




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– Vou me arrepender? – questiona Aoi, achando o comentário de Fubuki um tanto quanto cômico. – Você foi quem menos fez algo contra mim nesta batalha.

Orfeo, Yume e Fubuki olham para o adversário. Porém, somente Fubuki o encara de maneira firme e segura. Por isso, o Takahashi prossegue com suas palavras:

– Não vejo razão para ter medo de você.

– É verdade que, até agora, eu não havia conseguido manifestar a minha Hakanai. – admite o dono do ausente cão Star. – E também é verdade que meus amigos tiveram que me proteger até então. Porém, eu descobri que em mim há o poder para defendê-los ao invés de ser somente o protegido.

Yume e Orfeo prestam bastante atenção no que diz Fubuki, sendo que ele continua:

– Agora posso sentir o Destiny Break em meu coração. – e coloca sua mão esquerda sobre seu peito esquerdo ferido. – Não será o poder dele que moverá a minha vontade a partir de hoje, mas sim a certeza de quem se sacrificou pela minha sobrevivência.

– Do que está falando?! – Aoi tenta entender, arqueando sua sobrancelha esquerda.

– Uma pessoa caída nas trevas jamais poderia me entender. – garante Fubuki. – E tenho certeza que aquela voz era a da minha mãe... – pensa, com aquela mesma sensação quente de antes ardendo em seu coração: algo agradável, sem sombra de dúvida.

– Que seja! – declama o Takahashi. – Vamos logo acabar com isso!

Um corre contra o outro. E, de imediato, começam a trocar socos e chutes. Ora Fubuki é golpeado, ora Aoi é golpeado.

– Como ele pode lutar dessa forma nesse estado?! – pensa Orfeo, impressionado. – Por mais que a habilidade dele tenha despertado, creio que ele precisará de um reforço.

Orfeo fecha seus olhos e respira fundo. Desse modo, vai andando em direção à Yume até se colocar ao lado direito dela. Na sequência, determina ao reabrir suas pálpebras:

– Domínio Ascendente!!

A energia do Tsurugi envolve Fubuki. E, de imediato, ele se torna mais ágil e mais forte. Dessa forma, com um soco do seu punho direito no rosto de Aoi, Fubuki o lança para alguns metros de distância.

– O que você fez?! – pergunta Yume, surpresa, voltando seu olhar para Orfeo por alguns instantes.

– Usei uma técnica de suporte nele. – responde. – Eu acelerei todos os processos da mente e do corpo dele. Com isso, ele se tornou mais forte, mais rápido e seus reflexos ficaram mais eficazes.

– Correntes de Ar!! – declama Aoi, ao retomar o controle do seu corpo, pairando no chão e direcionando ambas as mãos contra Fubuki.

Ele cria uma arma de vento que, de imediato, atira incontáveis correntes de ar contra o seu adversário. Porém, mais que depressa, o dono de Star determina:

– Nebulosa de Neve!!

Da palma esquerda dele, vários são os feixes de neve, dançantes, que se chocam contra as correntes de Aoi. Na sequência, o Takahashi se afasta do ponto onde está com um salto para trás. Com suas mãos, cria um canhão de vento, exclamando:

– Canhão-Vendaval!!

Com um só tiro, ele cria uma aterradora tempestade de ventos que avança contra Fubuki. Notando o nível de periculosidade, Orfeo pega Yume em seus braços, dá meia volta e executa alguns saltos para se afastar da ameaça junto dela.

– Fubuki-chan! – pensa ela, preocupada, olhando para o oponente de Aoi.

– Asas de Neve! – exclama Fubuki, criando em suas costas um par de asas feitas da mais pura neve.

Voando como quem, de alguma forma, tem experiência nisso, ele vai executando vários movimentos no ar. Com isso, vai se aproximando de modo louvável do seu alvo. Aoi continua atirando com violência e criando novas e novas tempestades de vento para deter o avanço de Fubuki. Entretanto, com precisão, ele escapa de todas.

– Como ele pode se movimentar desse jeito?! – e direciona, rapidamente, seu olhar para os distantes Orfeo e Yume. – Será que algum deles utilizou uma técnica para reforçar as habilidades dele sem que eu percebesse?

– Apesar de ter reforçado as capacidades do Fubuki-kun, é mesmo impressionante vê-lo fazer tudo isso praticamente sozinho. – admite Orfeo, ao longe, chamando para si o rápido olhar de Yume. – Nem parece aquele de minutos atrás.

Aoi continua atirando seus vendavais e Fubuki continua desviando e se aproximando. E quando está perto o suficiente, ele paira no ar e direciona suas palmas contra o Takahashi.

– Chuva de Esferas de Neve!

Centenas de pequenas bolas de neve surgem ao redor de Fubuki. E, com seu controle, elas avançam violentamente contra Aoi. Ele, por sua vez, ergue seu canhão e atira novamente. Seu novo vendaval dissipa boa parte das esferas, mas são tantas que restam algumas. E estas avançam contra o Takahashi, atacando-o diretamente com exímia velocidade. O jovem tenta se proteger com seus braços, mas quando se dá conta, Fubuki já está atrás de si.

– Fim de jogo... – afirma o guerreiro da neve, surpreendendo-o. – Sopro de Neve!

Fubuki assopra e seu sopro se manifesta como uma rajada de frio intenso, lançando Aoi para longe e revestindo suas mãos, suas coxas, sua barriga e seus ombros – e parte do braço direito e costas – com neve. O sopro é forte o suficiente para lançá-lo a metros de distância contra a parede – com o dorso para ela – no qual está anexada a porta de passagem para o grupo de Fubuki. Quando isso acontece, o garoto libera um urro de dor e, logo depois, cai de bruços ao chão.

– Foram os ideais dele... Que lhe deram força? – pensa Aoi, perplexo e trêmulo pelo frio, de rosto ao chão.

As asas de neve de Fubuki se dispersam. Com isso, ele volta para o chão. Encarando Aoi, respira e fala:

– Defenderei aqueles que me são importantes até o fim dos meus dias. – alega ele. – Essa é a força que me move.

– Como poder confiar tanto nas pessoas? O coração humano é traiçoeiro. – afirma Aoi, se esforçando para olhar diretamente para Fubuki. – A qualquer momento, aqueles que protege podem se voltar contra você.

– Mesmo quem um dia os meus amigos se voltem contra mim, lutarei por eles. Lutarei para que eu possa trazê-los de volta à luz. Mesmo que eu tenha que colocar a mim próprio em risco, jamais abandonarei aqueles que me cercam. – deixa claro. – Sei que não existe dor maior do que a solidão e é por isso que, não importando o que aconteça, jamais deixo quem me é valioso só.

Aoi fica ainda mais surpreso. E sorri antes de desmaiar, imaginando:

– Você tem um longo caminho pela frente caso continue a pensar assim. Porém, têm apenas duas escolhas: cair durante o percurso por ele exigir de você mais forças do que possui ou chegar até o fim como o Hakanai mais poderoso que este mundo já viu.

O Takahashi desmaia. Yume, já com Ketsui desacordada em seus braços, se coloca ao lado esquerdo de Fubuki. Orfeo se coloca ao lado direito. E, juntos, eles se viram, caminhando em direção ao portão que devem atravessar. Enquanto se afastam, na mente do inconsciente Aoi reina o mesmo pensamento:

– E você, Fubuki, me provou que tem o que é preciso para concretizar a segunda opção...

/--/--/

– Lâmina Aérea! – declama Sisshin, ao saltar contra Henry.

A batalha acabara de começar. O Takayama, ao lado de Rouge, enfrenta o Takahashi aliado do seu suposto pai. Porém, apesar da lâmina de ar criada pela investida do irmão de Stinger e Sesshou, a Barreira Argilosa de Ferro de Henry surge diante dele, bloqueando a mesma.

– Entendo. – pensa Rouge, mais distante, com uma espada em cada mão, correndo para sua direita. – A defesa dele protege apenas uma direção. Se atacarmos em direções ou sentidos opostos, um dos nossos ataques irá surtir efeito.

A mulher, ágil, para de correr. Direcionando sua face e voz para seu aliado, bem mais próximo do inimigo, ela clama:

– Sisshin!!

– Sim, já saquei! – afirma ele, retornando ao chão após seu ataque fracassado. – Múltiplas Lâminas Aéreas!

Não somente surge uma lâmina, mas várias. E todas elas avançam fervorosamente contra a barreira de argila de Henry. E quando se encontram com a mesma, fazem um grande estrago na defesa do Takahashi.

– Que ataque! – imagina ele, surpreso. – Preciso reforçar minha barreira ou ela será quebrada!

O adversário da dupla direciona suas mãos para a densa massa de argila que está diante de si. Desse modo, concentrando energia na mesma, aumenta a resistência dela enquanto as lâminas de ar de Sisshin, ferozes, vão tentando destruí-la.

– Uma falha. – fala Rouge, ao surgir bem atrás dele, manuseando suas duas espadas.

– Argila Explosiva. – declara ele, fazendo surgir entre os dois uma nova camada de argila.

Rouge se espanta, mas já é tarde demais. A camada de argila que surgira explode, lançando-a, gritante pela dor e pela surpresa, para alguns metros de distância.

– Rouge!! – Sisshin clama por ela.

Da explosão, Henry salta para o alto sem nenhum arranhão. Utilizara a sua Barreira Argilosa de Ferro para se proteger da própria explosão. E, agora, no ar, chama para si a atenção do Takayama, exclamando:

– Canhão Destruidor de Argila!

Semelhante ao canhão que Aoi Sora Takahashi é capaz de criar, Henry cria um de argila. E, com isso, ainda no ar, o manipula atirando várias esferas maciças do mesmo material. E cada uma que avança contra Sisshin explode, destruindo parte do solo no local. O alvo, por outro lado, escapa de todas, com movimentos evasivos ágeis para trás.

– Ele é forte. – pensa Rouge, se colocando de pé novamente, enquanto vê o trabalho que o inimigo está dando para Sisshin. Ela está com suas roupas bem danificadas, com algumas rachaduras em sua máscara e ferimentos em todo o corpo. Inclusive, segura agora o seu braço esquerdo com a mão direita: está sangrando. – Difícil de acreditar que ele está se saindo tão bem contra nós dois.

Ao voltar para o chão, Henry direciona seu canhão para Rouge. E, desse modo, vai alternando: lança um tiro contra ela e outro contra Sisshin. Ambos vão se esquivando com movimentos precisos, mas não conseguem encontrar nenhuma abertura para atacar.

– Rouge, você terá que usar aquilo. – fala Sisshin, direcionando sua face para sua aliada, bem distante de si agora.

– Não posso! Prometi jamais usar aquilo de novo! – declama ela, enquanto desvia dos tiros de argila explosiva. – Eu não posso!

– É preciso! – afirma, fazendo o mesmo que sua aliada. – Há coisas mais importantes em jogo por aqui.

Sisshin consegue erguer sua mão direita e criar uma nova Lâmina Aérea. A mesma, veloz, avança contra Henry, mas este salta para sua esquerda, escapando, prosseguindo com os tiros alternados.

– Não sei do que estão falando, mas eu já me cansei de você, Sisshin. – o adversário deixa claro, cessando os tiros e lançando seu canhão de argila contra o citado.

O Takayama percebe que o único meio de escapar do material, possivelmente explosivo também, é saltar para o alto. Ciente disso, o faz. Em seguida, o canhão explode, destruindo o chão de modo impressionante e lançando destroços do mesmo contra Sisshin, que se defende deles com seus braços.

– Golem de Argila! – exclama Henry, após criar um gigante de cinco metros do material que manipula.

– Os olhos que trazem a morte... – ecoa o pensamento na cabeça de Rouge, aterrorizada, vendo o que está ocorrendo com Sisshin ao longe.

Ela tenta correr até ele, mas já é tarde demais. O gigante de argila acerta um soco com o punho esquerdo em Sisshin, que ainda está no ar, e o joga para metros e metros de distância, fazendo seu corpo ser arrastado pelo chão e deixar a marca no mesmo do percurso que faz.

– Os olhos que superam tudo o que me afronta... – um novo pensamento de Rouge, no instante em que ela para, atordoada, vendo ao longe seu companheiro extremamente ferido e sem consciência.

Sangue envolve, agora, o corpo de Sisshin. Henry usara boa parte de sua energia apenas para derrotá-lo de uma só vez. Ao notar que já o vencera, ele se vira para Rouge, que está mais distante. Seu gigante de argila faz o mesmo.

– Os olhos que levaram a vida de todas as pessoas que amei um dia. – mentaliza ela, tremendo um pouco.

– Está com medo e por isso está tremendo? – pergunta ele. – Não se preocupe, não serei tão violento com você. Além disso, seu corpo não é tão resistente quanto o de um Takayama ou o de um Tsurugi. Se meu Golem de Argila te atacar diretamente, acabará morrendo.

Após falar tal coisa, o vilão vai se aproximando de Rouge. Ela continua tremendo até que ele se posiciona bem diante dela.

– O medo da morte te faz tremer, não é? – pergunta ele.

– A morte... – pensa ela, ainda trêmula.

Ele ergue seu braço direito, colocando-o sobre a máscara da mulher, Uma camada de argila surge na mesma e, com isso, o integrante do clã Takahashi comenta:

– Quero ver o que esconde com essa máscara. Provavelmente, é um rosto feio ou deformado. Sendo assim, vamos ver o que fará caso eu o danifique ainda mais.

A argila explode, fazendo Rouge cair, lentamente, para trás. Com isso, ela para de tremer enquanto os fragmentos de sua máscara voam pelo ar. Por fim, o dorso da jovem se choca com o chão.

– A diferença entre o meu poder e o de vocês é inegável. – afirma ele, após constatar a beleza do rosto dela, dando as costas para a mulher. – Porém, deprimente pra você foi ser derrotada com medo da morte.

Henry começa a andar. Contudo, quando executa o sétimo passo, para. Está sendo dominado por uma estranha sensação.

– Eu tenho mesmo medo da morte. – avisa ela, se levantando curvada do chão. – Tenho medo da sua morte.

Rouge direciona seu olhar para ele. Henry, então, se volta para ela novamente. E fica espantado: os olhos dela são de um azul celeste que jamais viu igual em toda a sua vida. Porém, o mais impressionante não é a coloração deles e sim a sensação de vulnerabilidade.

– O que está acontecendo com a minha energia? – pensa ele, sentindo-se cada vez mais vazio.

– Olhe para mim. – exige ela. – Não deixe de olhar para mim.

Henry não consegue evitar. A ordem dela parece ser soberana e seus olhos um imenso oceano no qual vai se afogando pouco a pouco. Rouge já não treme mais, mas com sua face bem ferida, se mantem com o olhar firme para ele.

– Queen Eye. – pensa uma garota, assistindo tudo de longe. – Os olhos da morte.

É uma jovem alta, de pele clara, longas e lisas madeixas brancas até a cintura com algumas mechas verdes entre elas, olhos acinzentados, seios medianos e corpo delgado: Yasuko Takayama. Escondida atrás de um pilar, ela observa de bem longe o que Rouge faz com Henry.

Sua intenção era ir diretamente à Torre do Sol por contra própria para que pudesse entender qual o objetivo do líder da família com a guerrilha que declarou na vila. Entretanto, ciente das lendas da Hakanai Queen Eye, decidira ficar por aqui até a estranha se afastar. Meter-se com ela poderia ser uma escolha perigosa.

– De agora em diante, não se envolverá mais nesta guerra. – ordena Rouge, encarando Henry, sem perceber que está sendo observada por Yasuko.

– Não me envolverei mais nesta guerra, minha rainha. – fala ele, completamente domado, dobrando seu joelho esquerdo e abaixando sua face em reverência à ela.

Na sequência, a mulher vai andando em direção a Sisshin. Logo depois, a energia de Henry é zerada – pois o contato visual com o Queen Eye causa isso – e cai de bruços ao chão.

– Muitos podem pensar que esses olhos são uma benção. – pensa ela, se aproximando de Sisshin. – Mas são uma maldição.

Queen Eye é uma habilidade contínua que não pode ser controlada por seu possuidor. Sempre que alguém entra em contato visual com Rouge, sua energia vai sendo drenada – foi assim que, no passado, seus pais e seu irmão morreram tragicamente. Por ser algo espontâneo, Rouge precisa impedir o contato visual das pessoas e sempre usa uma máscara para tal. Além disso, caso ela queira, pode gastar sua própria energia para dominar a vítima e fazê-la realizar todas as suas ordens.

– Sisshin... – fala, ao se aproximar o suficiente dele e agachar para acordá-lo.

Bastante ferido, ele abre seus olhos com dificuldade. Quando o faz, Rouge desvia seu rosto para à direita, mas mantem sua voz:

– Levante-se. Não temos muito tempo.

– Eu não tenho mais forças, Rouge... – fala ele, notando os ferimentos no rosto dela.

É a primeira vez que a vê sem máscara. E percebe o quanto a face dela é atraente, delicada e angelical, contrariando por completo a soberana agressividade que o Queen Eye representa.

– Acho que eu também não estou na minha melhor forma. – afirma ela, sentindo suas pernas fraquejarem, apesar de estar agachada.

Se esforçando para não entrar em contato visual com Sisshin, Rouge respira fundo e se assenta ao lado esquerdo dele. Dobrando seus joelhos e enlaçando-os com seus braços, decide ficar por aqui com o Takayama.

– De repente, me deu um sono... – fala ela.

Com isso, Rouge desmaia, caindo de costas para o chão. Sisshin, preocupado, tenta fazer algo, mas acaba caindo no sono também.

– Soberania do Sono: Indução. – pensa Yasuko, saindo de trás do pilar onde estava escondida.

A garota começa a correr. Séria, olha na direção daqueles dois por alguns instantes, articulando:

– Espero que vocês, seja lá quem forem, fiquem bem. Me culparia por toda a minha vida caso causasse a morte de quem nem conheço. Porém, não posso correr o risco de ser sentenciada pelo Queen Eye. Além disso...

Ela aumenta sua velocidade. Firme, vai tomando seu caminho rumo à Torre do Sol. E encerra suas palavras:

– Tenho assuntos importantes a resolver!


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