Encostado com a cabeça no vidro Luke olhava para fora da janela do pequeno quarto no reformatório, que usualmente podia ser chamado de casa. A chuva batia violentamente contra o vidro fazendo-o não enxergar muito o estado em que estaria o campo, mas na sua opinião e experiência não daria para passar para os outros prédios sem sujar a barra da calça e tênis. Seu único amigo, Daniel, com quem cresceu, viveu sua infância e adolescência estava nesse exato momento ajudando na cozinha por não ter cumprido uma das leis do bom convívio entre jovens delinquentes e insanos:
“Para se manter o bom relacionamento entre todos é devidamente proibido brigas, grupos conspiradores, uso de drogas ilegalmente, armas, celulares, computadores, ou qualquer tipo de electrónico que possa manter comunicação com o mundo exterior. Caso pego com os itens citados anteriormente serão lhe empregados uma punição que caberá ao conselho administrativo decidir” era basicamente o que dizia. Voltou sua atenção para o violão pousado no pequeno sofá, pensou em tocar para passar seu tempo, mas isso lhe trazia cartas lembranças, essas que eram indesejáveis, soltando um longo suspiro resolveu caminhar, o garoto do quarto à sua frente provavelmente estava escondido atrás de um dos livros de astronomia ou bioquímica, pelo menos parecia um tipo de cara normal, ele estava aqui pelo fato de ser pego com um grande estoque de drogas enquanto os traficava. Luke desceu a grande escada e foi para a sala que era denominada de “refeitório” viu alguns dos 72 alunos dispersos por mesas com comida de uma cor amarelada estranha, Connor, um dos seus poucos amigos, estava apoiado no batente da porta rindo provavelmente com Daniel, balançou a cabeça negativamente e andou até onde ele estava imitando seu gesto
– A menininha resolveu sair da toca, Dan? – Connor perguntou ao melhor amigo que usava um avental amarelado, que um dia já foi branco e luvas de látex.
– Sentiu minha falta amor? – Daniel olhou para cima piscando.
– Você é um babaca e você uma bicha. – Luke respondeu respectivamente ambos revirando os olhos – Vai demorar ai bonitão?
– Não, tenho mais dez pratos para lavar e pronto, porquê?
– To querendo sair, talvez ir no Pilot. – Luke disse calmamente olhando par a cara de dúvida dos amigos.
– Cara você viu que está caindo o mundo lá fora? – Daniel perguntou jogando alguns pratos na pia.
– E não tem como pegar algum carro, estão todos no Spero e as chaves na sala da Stevens – Connor avisou – E a Jaque estava perguntando por você mais cedo, se quiser o sótão é seu essa noite – Olhou para o amigo que tinha um sorriso malicioso fazendo Luke e Daniel bufarem.
Jaqueline O’Briel era sem sombra de dúvidas, uma das únicas garotas mais “normais” daquele lugar. Tinha ido parar ali porque seus pais nunca a deram atenção. O longo cabelo preto moldava o belo rosto branco e pálido da garota, a boca rosada desenhada perfeitamente e os olhos duas pérolas negras brilhantes, bonita na opinião de Luke e perfeita para Daniel, uma coisa que Connor não fazia ideia, Jaque era sua melhor amiga um fato que nunca mudaria.
– Não, pode aproveitar é sua noite. – Luke respondeu Connor dando de ombros
– Então estou indo, vejo vocês amanhã amores.

Connor saiu andando com seu sorriso de escárnio, algumas garotas se levantaram e o seguiram puxando conversa, Connor era conhecido por ter transado com cada garota daquele manicômio, não importava se elas o odiavam ou não ele sempre conseguia, balançando a cabeça negativamente Luke entrou na cozinha e sentou na bancada ao lado de uma pilha de panelas, não demorou muito e ouviu a voz sexy e angelical de Jaqueline entrando no cômodo.

– Daniel o que você fez dessa vez? – Perguntou sem notar que Luke estava lá.
– Luke! – Assim que viu o amigo abraçou-o e sentou-se ao seu lado – Passei pelo quarto de vocês e fiquei quase 30 minutos na frente da porta achando que vocês estavam dormindo até o Connor me dizer que o Dan tinha descumprido uma daquelas regras idiotas, mas voltando a minha pergunta Dan – A garota olhou para ele sem notar o leve sorriso no canto dos lábios.
– Apenas dei uns socos no Robben e vim parar aqui por uma semana - Daniel disse naturalmente dando de ombros.
– Porque fez isso? Daniel você poderia ter se machucado – Jaqueline o repreendeu indo até ele ajudando-o com o avental – Me promete que não ira fazer mais isso? – Continuou a garota segurando ambos os lados do rosto de Daniel
– Porque eu fiz isso? Ele disse certas coisas que me deixaram com raiva e tudo bem eu posso até prometer, mas não sei se vou cumprir, se alguém falar o mesmo que ele Jaque – Daniel disse passando o braço pelo ombro de Jaqueline trazendo-a para mais perto.
Era tão óbvio para qualquer pessoa que os dois se amavam, apenas ela não enxergava. Toda vez que Luke perguntava sobre eles a ela, a mesma sempre dizia que o via como o irmão mais velho que estava em missão no Iraque, mas quando fazia esse pergunta a ele a resposta era sempre a mesma “Eu amo aquela garota mas o único problema é que ela não vê isso” e Luke sempre acabava rindo as custas da agonia do amigo que não resistia e acabava rindo da sua própria desgraça ao seu lado.
– Já souberam da garota nova? – Jaque disse se afastando para poder olhar ambos
– Você não consegue ficar longe de uma fofoca não é? Mas não que eu me lembre – Daniel respondeu esquivando do tapa da garota indo guardar o avental e luvas.
– Não a vi, Jaque. Como ela é? – Perguntou Luke descendo da bancada
– É morena, tem cabelos avermelhados com cachos invejáveis e olhos como os do Connor, eu acho – Disse a garota enganchando seu braço ao dela e fez o mesmo com Daniel. Após passarem espremendo-se pela porta da cozinha juntos Luke viu que todos já haviam ido se deitar, diferente de quando chegou, viu apenas a tal garota sentada em uma das mesas afastadas ao lado da janela, ela encarava sem mexer sequer um músculo a caixa do suco de laranja como de costume passaram em silêncio sem pronunciar uma palavra Jaque deu um pequeno sorriso ao notar a garota olhando para os três Luke e Daniel repetiram seu ato, mas a garota limitou-se apenas a virar a cabeça para o lado oposto. Luke viu Jaqueline sussurrar um ”Mas o quê!” indignada para ele bufando em seguida.
Era bonita e a típica cara de poucos amigos e se continuasse assim ficaria sozinha até o seu último dia aqui. Estavam no último degrau quando Thomas passou todo engomado por eles dando um pequeno aceno. Como todas as noites deixaram Jaque na porta do quarto se despedindo da garota com um abraço apertado e um beijo na bochecha fazendo-a sorrir.
Luke olhou para o pequeno relógio ao lado da cama e constatou que já havia passado da meia-noite, ele e Daniel encontravam-se rindo de alguma piada sem sentido que ele fizera, sentiu seu par de tênis aterrissar sobre seu peito e ouviu batidas em uma das paredes, Luke tinha a impressão que Kevin odiava ser acordado no meio da noite pelas risadas dos garotos ao lado, mas pouco se importavam, o único problema era se Schlüter acordasse. Naquela noite Luke não dormiu nada graças aos constantes pesadelos do amigo que acordava a cada hora suado e parecendo sem vida totalmente branco, quase todas as semanas era assim, finalmente quando o sol começou a aparecer é que conseguiu dormir e para sua grande sorte era um sábado, mas mal havia dormido direito quando o estrondo de algo o acordou…