– Ora! Kuro, você cresceu bastante! - Eu disse enquanto segurava o gato em meus braços. - Faz meses desde o dia em que eu e a Olivia te achamos... Olhe-só! Você esta maior que meu ante-braço!

O (não tão mais) pequeno gatinho miou em resposta, e se acomodou em meu colo. Eu estava sentada numa almofada no chão do meu quarto, meus pais foram viajar, então estava sozinha em casa. Geralmente me sinto desprotegida quando vou dormir, sabendo que não há ninguém em casa, mas desde que Kuro esteja comigo eu me sinto mais tranquila! Nada melhor que dormir com um pequeno anjinho negro e peludinho !

– Bom, bom, acho melhor irmos dormir, certo Kuro? Já esta ficando tarde... - Eu olhei para o pequeno relógio rosa em cima da minha cabeceira, marcava 00:12 .

Me arrumei na cama, já estava com meu pijama ( ele era claro e tinha uns tipos de morangos desenhados nele), chamei Kuro, convidando-o a subir. Ao pular, o marulho do sininho em sua coleira ecoou, ele deitou ao meu lado e fomos dormir.

– *COF* *COF* - Eu acordei tossindo por causa de uma estranha fumaça que cobria meu quarto, irritando meu nariz. - Mas o que é isso? *COF* *COF*

Tentei espantar a fumaça cintilante com a mão, como não melhorava muito a situação, abria a janela e em pouco tempo toda a fumaça se dissipou.

– Kuro, você esta .................. Bem? - Ao olhar na minha cama, vi que o que estava do meu lado não era meu gato, mas sim um HOMEN.

Na minha cama, dormindo, havia um garoto vestido de preto. Suas pernas eram grandes e quase não cabia em minha cama.

– Hum.. Hum? - Ele abriu os olhos lentamente e quando acordou completamente arregalou os olhos. Ele olhou para si mesmo várias vezes e depois me encarou assustado, eu ainda estava congelada no lugar. - Ahm... Isso é....

–Aah..Aaah... AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!-Eu corri desesperada para fora do quarto, onde fui até a cozinha e me escondi atras dos balcões. Peguei meu celular e disquei rápidamente.

– Alô? Wendy?

– LUCY! ME AJUDA POR FAVOR! - Eu gritei para a garota do outro lado da linha.

– Hum? Qual o problema?

– VEM NA MINHA CASA AGORA POR FAVOR!

– Não vai dar, prometi para o David que ia fazer uma cópia daquele jogo para ele.

– TEM UM GAROTO DEITADO NA MINHA CAMA!! - Eu disse, mas não recebi resposta. - .... Alô?

Ouvi a campainha da minha casa tocar e fui na porta, ainda com o celular na mão. Abri a porta.

– Me mostre o indivíduo. - Lucy disse com uma cara séria. COMO ELA CHEGOU AQUI TÃO RÁPIDO??

– Ah, nossa, que medo ... - Eu disse um pouco assustada com sua pervertividade. - Ah! Eu o tranquei no meu quarto!

– Ok, vamos lá ! - Lucy entrou em minha casa e nós juntas fomos andando em direção ao meu quarto.

Abrimos a porta do quarto, mas não havia ninguém lá. O garoto tinha sumido.

– Uah! Ele sumiu! - Eu disse surpresa.

– Po Wendy! Realmente achei que iria ver um garoto bonito na sua cama..... sua danadinha. - Ela riu maliciosamente.

– N-NÃO É NADA DISSO! Eu só dormi e quando acordei ele estava aqui! .... Mas agora ele sumiu...

– Hum? O que é isso? - Um estranho movimento veio de debaixo da cama.

Era um rabo preto.

– Ah! É o Kuro! - Eu abaixei e peguei o rabo, puxando-o gentilmente para fora da cama.

Quando puxei, o que saiu não foi o meu gato , mas sim a cintura de uma pessoa.

–AAH! - Eu gritei e soltei o rabo e ele voltou para debaixo da cama. - ..... É O GAROTO! ELE ESTA AQUI EMBAIXO DA CAMA!

Lucy colocou a mão debaixo da cama , vasculhando seu interior, até que ela pega algo e puxa para fora da cama. De fato, era o garoto.

– Meu deus! Tem mesmo um garoto aqui! - Lucy disse tão surpresa quanto eu.

– Ah... Não me machuquem por favor... - O garoto dizia meio encolhido, impedindo-nos de ver seu rosto.

– Ham... não vamos te machucar... - Eu disse

– A menos que você seja um tarado, ai iremos te machucar. - Lucy disse curta e grossa.

– Não sou um tarado! - Ele disse para ela, virando seu rosto. Os cabelos eram tão negros quanto sua roupa, completamente despenteados e bagunçados, seu olhos eram amarelos, e seus dentes era finos e afiados. Mas ele era muito bonito.

– Nossa, você é bonito! - Lucy disse facinada

– Quem...? - Sem querer, meu olhar pousou em um movimento preto atrás de suas costas, era uma cauda. - VOCÊ TEM UM RABO????

Lucy olhou para a mesma direção que eu e ela gritou.

– VOCÊ TEM ORELHAS DE GATO TAMBÉM!! - Lucy correu para perto dele e acariciou suas orelhas recém-descobertas, enquanto eu analisava sua cauda preta e peluda.

– AH! P-PAREM COM ISSO!... I-Isso é assédio! - Ele disse tentando fugir da gente.

– Fala o cara que apareceu na cama de uma garota solteira... - Disse Lucy.

– E-Eu não lembro como cheguei aqui!

– Sério? - Eu virei e perguntei - Qual seu nome?

– Meu nome.... Meu nome é Kuro, eu acho. - Ele disse meio pensativo.

Lucy e eu nos encaramos , um pensamento impossivel que ligou nós duas, um pensamento impossivel, mas também, bem provável.

– Não pode ser... Pode? - Eu perguntei a ela em dúvida.

– Não sei... mas é muita concidencia para ser verdade...

Nós olhamos para o garoto ao mesmo tempo, o que o assustou.

– O que foi?

– Você... Kuro, você é meu gato de estimação, mas eu acho que por alguma razão, você virou humano. - Eu disse rápida e direta.

–................ Sério?

– Parece dificil de acreditar, mas isso não importa agora. Temos que fazer você voltar ao normal, isso vai fazer você recuperar suas memórias.

– O que devemos fazer? - Eu perguntei preocupada.

– Hum.... - Lucy olhou para o teto pensativa.

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– Lucy, não acho que tomar um sorvete no parque faça ele voltar ao normal... - Eu disse enquanto pegava outra colher do meu sorvete de morango.

Estavamos num parque não muito longe de casa, o dia estava claro e o céu aberto, um ótimo dia para se passear por aí.

– Quem sabe? Vai ver o sorvete tem alguma propriedade mágica que faça ele voltar ao normal... - Ela disse dando de ombros.

Numa certa hora, o sorvete de Kuro caiu no chão, o que fez Lucy gargalhar, mas não o garoto, ele simplesmente abaixou e lambeu do chão mesmo.

Lucy e eu começamos a perceber o olhar das pessoas e tentamos fazer ele parar, mas ele nem se mexia.

– Hum? - Ele parou de repente e encarou alguma coisa, ele saiu correndo em tal direção, e nós o seguimos.

– A-Aonde eles esta indo?? - Eu peguntei correndo. - KURO!

– Ai não... - Lucy xingou, sem entender, olhei para frente e vi o problema.

Imaginem a seguinte cena : Um parque comum, pessoas comum, e um menino-gato não comum se encontra com um cachorro comum... Os dois se encaram rostando e xiando,... a treta não foi comum.

– Grrrr– Kuro disse rosnando para o cachorro que fazia o mesmo. Porem o cachorro atacou primeiro o que obrigou Kuro a recuar. Pronto, o menino-gato não comum, estava sendo perseguido em circulos pelo cachorro comum.

– Isso não vai acabar bem... - Lucy disse enquanto corria atrás do cachorro.

De repente , outros cachorros do parque começaram a se juntar a perseguição.

– Boa ideia Lucy, trazer um gato num parque , o lugar onde mais tem cachorro!!

– ... não tenho nenhum argumento.... - Lucy diz, e nós vamos a mais uma perseguição de cães e gato... De repente senti um Deja vu...

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Lucy, Kuro e Eu estavamos ofegantes e escondidas numa esquina qualquer. Kuro, que agora era humano (em parte) estava tremendo em meu colo.

– Acho que ele está voltando a despertar sua... personalidade felina. - Lucy disse enquanto olhava o garoto que tremia de medo.

– Sim, ele nem esta falando mais direito... - Eu fazia carinho em sua cabeça, era estranho vc acariciar um garoto que é bem maior que você, mesmo sabendo que é seu animal de estimaçao... isso deixa ainda mais estranho...

– Nhm.. Nhm.. - Ele resmungava, em seu joelho havia um corte (provavelmente feito pelos cachorros) e um pouco de sangue saía.

– Vai ficar tudo bem, tudo bem! - Eu acariciei ainda mais sua cabeça e suas orelhas. Tirei do meu bolço um pequeno saquinho de curativos e tirei um Band-Aid. Coloquei sobre seu machucado e fiz um carinho em sua cabeça. - Viu, vai melhorar.

– Hum... Obrigado. - Ele disse, encarando o joelho ferido.

– Se bem que não é tão mal deixa-lo assim, sabe, humano...

– LUCY!

– Tá tá, eu sei... Mas e se ele na verdade fosse um garoto que virou gato, e não um gato que virou garoto? - Ela disse, e isso fez minha mente girar.

– Então... quer dizer... que eu morei com um garoto todo esse tempo??? - Eu me senti enrubecer - I-Isso não é certo!

– Hahaha não tem nada ver só acho.... - Antes de Lucy terminar, Kuro levantou de repente e ficou agitado.

– Eu... acho... me .. lembro? - Ele fez uma cara confusa - Lembro.. Wendy... Olivia ... Gato? ... eu... - Depois disso ele começou a miar e fazer barulhos, mas ele me olhou feliz e comecou a se arrastar em mim.

– O-Oque??

– WENDY! WENDY! WENDY! - Ele me abraçava feliz.

– Wendy! Acho que ele lembrou de você! - Lucy disse enquanto afagava a mim e ao garoto-gato.

– S-sério? - Eu olhei para ele, que retribuiu. Acariciei sua cabeça - Que bom!

**************************************

– No fim, voltamos ao ponto de partida! - Lucy disse enquanto sentava na minha cama. Tinhamos voltado para a casa, não tinhamos muitas opções.

Desde a saida do parque , Kuro tem ficado muito junto de mim, provavelmene havia lembrado de mim. Mesmo sabendo que era ele, ainda me deixava envergonhada.

Nesse momento, ele estava arrastando sua cabeça e seu rabo em mim de forma carinhosa.

– É Wendy, parece que você arranjou um namorado bem... GATO HAHAHAHA

– N-não tem graça Lucy....

– Ai ai, eu sei, essa piada foi terrivel.

– Mas sabe, eu fico feliz de ter o Kuro comigo.

– Bom, eu sei, você adora gatos!

– Sim , mas ele esta sempre comigo, e me protege de noite quando dorme comigo... - Eu disse enquanto acariciava seus cabelos negros. Ele olhou para mim, prestando atenção no que eu dizia. - Eu gosto muito dele!

– .... Você me ama? - Ele perguntou com uma cara curiosa. Eu me senti corar.

– A-ah... Claro que eu te amo! Você é meu gatinho não é? - Eu disse, sem saber como consegui encarar ele enquanto dizia isso. Acho que por dentro, eu via ele como meu gatinho e fiel companheiro.... Mas ainda era vergonhoso.

Ele sorriu com todos seus dentinhos afiados, enquanto olhava para mim.

– Eu também te amo! - Ele pulou em mim e me abraçou forte. Fiquei parada por causa da surpresa. - Obrigado por sempre cuidar de mim! Eu te amo Wendy!

Aos poucos, minha surpresa se dissipou e eu o abracei de volta.

– Sempre vou cuidar de você! - eu disse, e olhei para Lucy que estava com os olhos cheios de água.

– E-eu não estou chorando, nunca choraria com uma cena tão linda como essa... nem pensar - Ela disse limpando os olhos com a blusa, o que me fez rir.

De repente, uma fumaça se espalhou pelo quarto e fez todos tossirem.

Com a janela já aberta, a fumaça logo sumiu por completo, nos revelando um gato preto em meu colo.

– WENDY! ELE VOLTOU AO NORMAL! - Lucy disse , apontando para Kuro já de volta ao normal.

– Ué, mas como? E porque? - Eu perguntei meio confusa.

– Isso não importa. O que importa é que ele voltou ao normal! - Nesse momento, Kuro pulou em Lucy e a lambeu. - Haha Queria que tivesse feito isso quando ainda era humano!

– Lucy! Deixa de ser pervertida! - Eu disse tirando o gato do colo dela.

– Hahaha Jamais! - Ela disse , e nós rimos.

Alguns dias depois , eu sentei no chão do meu quarto e encostei em minha cama. Kuro subiu em mim e deitou em meu colo.

Lucy e eu conversamos pelo celular, falando de coisas aleatórias.

– Hey, Wendy, como vai o gato?

– Vai bem, ele parece mais proximo de mim desde aquele dia.

– Sabe, eu acho que isso aconteceu por um desejo dele.

– Como assim?

– Sabe, as vezes, quando desejamos muito uma coisa, ela pode acontecer. Digo, pode nos dar uma chance de fazer acontecer. E acho que Kuro queria lhe agradecer, dizer o quanto está feliz com você e com a vida que você o proporcionou. Acho que a vida deu a ele uma chance de dizer o que sempre sentiu, mas nunca pode dizer por ser um gato.

Era engraçado o como Lucy fala umas coisas loucas... Coisas loucas que sempre parecem ter razão. Olhei para o Kuro que me encarou de volta, em seus olhos, eu vi aquele garoto.

'' Eu te amo Wendy! '' A imagem dele sorrindo e sua voz dizendo essas palavras.

Eu sorri e o acariciei.

– É... Quem sabe... - Eu o levantei, e ele lambeu meu nariz.