Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 14
We’re having conversations about break up and separations – Parte 2


Notas iniciais do capítulo

OLÁ VINHADOSSSSSSS
GENTE DO CÉU MISERICÓRDIA OLHA VOU CONTAR PRA VCS NÃO TÁ NADA FÁCIL.
Eu tô cansada de prometer as coisas para vocês e a escola não me deixar cumprir. Olha, eu prometi o capítulo para final de semana retrasado, mas as provas não me deixaram terminar. Aí prometi para esse fim de semana, mas eu tive que terminar um trabalho gigante (GIGANTE) que era para outubro mas o desgramado do professor adiantou para 25 de setembro (no caso hoje). Para vocês terem uma ideia, a coisa foi tão feia que eu gastei 25 (VINTE E CINCO) reais só imprimindo imagem. Vocês não perguntaram e provavelmente não estão nem aí, mas eu gosto de explicar as coisas porque não é a primeira vez que eu furo com vocês e eu sempre me sinto muito mal quando isso acontece. Quero que vocês saibam que não foi por preguiça, foi por problemas na escola mesmo. Essa foi uma semana que eu quis estar morta o tempo todo.
Enfim, o tormento acabou e eu tô há dois dias terminando esse capítulo. Pelo título, vocês já devem ter percebido que a coisa vai feder AOUFSOIFUIF. Estava tudo bem demais, né? Apesar dos títulos serem diferentes, tenham em mente que esse capítulo é uma continuação do anterior, então as coisas que aconteceram no capítulo 13 são importantes para vocês entenderem melhor o que está acontecendo aqui agora. Fiz um capítulo maiorzinho para compensar o atraso e (tentar) deixar vocês mais felizes, apesar de saber que vocês devem estar putos (e com razão.).
A música do título é Mine, da Beyoncé. E a do capítulo é Quem Não Quer Sou Eu, do Seu Jorge. Espero que gostem. Mas eu sinceramente acho que vocês não vão gostar kkkk.
Vejo vocês nas finais.



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"Eu fiz de tudo, mas era tarde

Foi o que eu podia dar, você não entendeu

Eu quis ir fundo

E você com medo"

– Chega. – Finnick disse, fechando o livro de histologia vegetal e atirando-o para longe descuidadamente, por um momento esquecendo o quão caro ele havia sido e de quantos meses de estágio ele havia custado.

Marvel e Cashmere acompanharam a trajetória do livro, que acabou atingindo o sofá carcomido do apartamento e se equilibrando precariamente na borda do assento do estofado. Os três estavam reunidos na sala da casinha de Finnick e Peeta, estudando enlouquecidamente para a prova que teriam no dia seguinte.

Cashmere havia se aproximado de Finnick nas suas primeiras semanas de novata, de modo que acabou entrando em seu círculo social. Ela, então, acabou transformando a dupla em trio e vivia com os dois para cima e para baixo desde que entrara na UFRJ.

– Parece que tudo que eu estudei vai vazando aos poucos pelo meu nariz, pelas minhas orelhas e pela minha boca e até a hora da prova eu não vou me lembrar de mais nada. – Cashmere comentou.

– E minha cabeça não vai absorver mais nada agora. Então eu estou oficialmente declarando que chegou minha hora de parar. – Finnick respondeu, pegando o celular que repousava na estante da TV e checando-o novamente. Nada de novo. Será que Annie ainda não havia chegado de Búzios? Ela dissera que chegaria por volta do fim da tarde de domingo, mas já eram quase nove da noite e nenhuma notícia dela.

– Eu não sei vocês, meninos, mas eu vou indo porque ainda tenho muito chão até o Méier. – Cashmere declarou, referindo-se ao bairro onde mora. Ela levantou-se do sofá e espreguiçou-se, passando os dedos pelas pontas coloridas dos cabelos loiros.

– Eu vou com você, Cash. Te deixo no ponto de ônibus. – Marvel apressou-se em dizer.

– Beleza, Marvelindo. – Ela respondeu, sorrindo para o amigo. Era engraçado porque Cashmere não era uma menina particularmente bonita, mas algo de extremamente magnético emanava de seu rosto, especialmente quando ela sorria. Seus lábios se esticavam sobre seus dentes miúdos e ela abria um sorriso quase infantil, mas tão sinceramente aberto que chegava a enrugar os cantos de seus olhos mornamente azulados. – Só preciso passar no banheiro antes. – A menina disse, encaminhando-se para o toalete no fim do pequeno corredor do apartamento.

Marvel acompanhou os passos de Cashmere com o olhar e foi só a garota bater a porta do banheiro que Finnick soltou uma gargalhada.

– O que foi? – Marvel perguntou, mesmo que já soubesse a resposta.

– Você lambendo o chão que a Cashmere pisa. – Finnick gargalhou novamente. – Isso já está ridículo, Marvel. Todo mundo percebe que você está totalmente na dela e você não faz nada.

– O que você quer que eu faça? – Marvel perguntou, a voz ficando levemente mais estridente. – Se está tão na cara assim, ela não retribui porque não quer. E eu não vou chegar na garota sabendo que ela não quer nada comigo.

– Quem disse? Você não tem como saber. Além do mais, se ela não está afim de você, nada te impede de tentar conquistá-la. Nem sempre as pessoas se olham e se atraem instantaneamente, Marvel. Na maioria das vezes você tem que trabalhar um pouco para deixar a garota na sua. – Finnick disse, abaixando o tom de voz no fim da ultima sentença porque o som da tranca do banheiro se abrindo se fez ouvir lá da sala e não demorou muito para que Cashmere aparecesse.

– Vamos? – Ela perguntou, abrindo seu típico sorriso “enruga canto dos olhos”. – E você ainda vai me esperar comprar um açaí porque eu estou morta de fome. – Cashmere anunciou, caminhando na direção da porta. - Tchau, Finn! – Ela berrou, já quase na saída do apartamento e jogando um beijo no ar. - Anda, Marvel, meu Deus, eu preciso comer se não eu vou desmaiar de fome dentro do ônibus. – Finnick ouviu a voz de Cashmere já no corredor enquanto a menina arrastava Marvel para fora de casa.

– Tchau, Finnick. – Marvel balbuciou, incapaz de se despedir adequadamente do amigo devido à menina grudada em seu braço o puxando na direção do corredor do prédio.

Finnick se despediu dos amigos e fechou a porta rindo. Marvel era seu parceiro desde o primeiro dia de faculdade de ambos, quando o trote passado pelos veteranos obrigou os calouros daquele ano a pedir dinheiro aos pedestres na rua vestidos de mulher e completamente cobertos de tinta guache colorida. Cashemere havia entrado em sua vida há pouco mais de um mês, mas havia conquistado seu espaço.

Se tivesse que ser descrita em apenas uma palavra, Cashmere poderia ser facilmente resumida como avoada. Ela vivia tropeçando nas quinas dos móveis, largando livros e papéis pelos caminhos onde passava e perdendo a hora para compromissos importantes. Ela meio que vivia em um mundo à parte, onde comer dentro de sala de aula era normal – e ela havia levado um baita sermão do professor quando fez isso. – e os livros voltam sozinhos para dentro de sua mochila, de modo que ela não precisa se preocupar em coloca-los de volta em sua mochila. Cashemere sempre parecia estar em outro lugar, flanando pela vida, cantando alguma música ou derrubando amostras de tecidos vivos de plantas – mais uma de suas pérolas na UFRJ em apenas um mês de faculdade.

Finnick voltou para a sala pensando em como ela e Marvel formariam um casal improvável quando seu celular apitou. Ele praticamente voou até a estante e examinou o aparelho, finalmente vendo na tela o nome que ele esperava desde o fim da tarde daquele domingo de sol.

Era Annie avisando em uma curta mensagem que já estava em casa, mas que estava exausta e falava com ele no dia seguinte. Ela se despediu com um beijo e um “amo você”, mas Finnick ficou decepcionado. Ele esperava um reencontro mais caloroso, pelo menos uma ligação. Atirou o celular no sofá e ficou remoendo sua saudade, tentando ser sensato e entender que não poderia ser egoísta e pensar que Annie estaria disponível sempre que ele quisesse encontrá-la – o que, se formos ser sinceros, seria o tempo todo.

Finnick sempre odiou aquele tipo de casal que parece um par de irmãos siameses, tamanho o grude. Ele sempre defendeu que um casal é formado por duas pessoas e um namoro não deve unir suas partes a ponto de elas se tornarem um indivíduo só. Ele e Annie namoravam, mas dentro dessa estrutura ainda existia a Annie com suas necessidades e vontades e o Finnick com suas necessidades e vontades, totalmente independentes um do outro. Só que estava cada vez mais difícil para ele separar as coisas, porque gostar de uma pessoa significa torna-la uma parte de você e é aí que, lenta e progressivamente, a sua individualidade parece apontar cada vez mais para o outro.

Annie, no entanto, não parecia ter dificuldade nenhuma para separar suas vontades de seu relacionamento com Finnick. E, bom, não tem como não ficar inseguro quando você percebe que é o mais envolvido da relação.

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– Você não vai acreditar na notícia que eu tenho para te dar. – Mags disse para Annie em mais um dia normal de trabalho em sua loja.

Annie levantou os olhos na direção da tia, aguardando a bomba.

– Plutarch nos convidou para irmos de novo à casa dele. – Mags anunciou, com um ar triunfante. - Outro final de semana, dessa vez só nós duas, mas ele disse que você pode chamar algumas amigas se quiser. Mesmo que o Cato esteja lá para te fazer companhia. – Mags acrescentou, a voz se revestindo de um aveludado tom malicioso.

– Cato vai estar lá? – Annie perguntou, levemente intrigada. – Ele não faz nada da vida, não?

– Não sei, mas mesmo que faça deve ser só diversão. Ele não precisa mais trabalhar. Esse garoto ganhou na loteria quando descobriu que era filho do Plutarch.

Annie levantou as sobrancelhas, sem esboçar nenhuma reação específica.

– Só vou se puder levar a Katniss. E a Johanna, se ele não se importar. Eu não vou para ficar sozinha com o Cato durante um final de semana inteiro.

– Por que não? – Mags perguntou, parecendo extremamente chocada, como se Annie tivesse dito um sandice muito absurda.

– Porque eu tenho namorado, tia. – Annie respondeu, impaciente.

– Com quem você não fala faz quase uma semana. Achei até que vocês tivessem terminado. – Mags comentou, fazendo Annie revirar os olhos. – Além do mais, você é muito nova para assumir um relacionamento sério assim, querida. Eu na sua idade nem pensava em namoro.

– O Finn está em semana de provas na faculdade, tia, por isso nós não temos nos visto tanto. E não é porque você não me vê falando com ele que a gente não se fala de fato. A gente só tem conversado menos recentemente, só isso.

– Esse é o problema dos relacionamentos nessa idade. Vocês, jovens, ainda não experimentaram tudo que tinham para experimentar na vida, por isso nunca se contentam com nada. Não relacionamento que dure com vocês dois doidos para tentar coisas novas com outras pessoas.

– Meu Deus, tia! – Annie exclamou. Às vezes Mags conseguia pegar tudo que Annie dizia, distorcer e jogar tudo completamente embolado em sua cara. E o pior era que na maioria das vezes ela deixava Annie tão confusa com essa estratégia que acabava convencendo a sobrinha a fazer o que ela queria. – Nós não estamos prestes a terminar nem nada nem remotamente parecido. O Finn só anda ocupado, só isso.

– Sim. – Mags concordou com aquele tom de voz irritantemente condescendente, típico de quem está concordando com as manhas de uma criança birrenta apenas para não prolongar a discussão. – Mas afinal de contas, você quer ir para Búzios de novo ou não? Pode levar a Katniss e a Johanna.

Annie pensou por um momento.

– Quando? – Ela perguntou.

– Esse final de semana.

Annie ficou muda por alguns instantes. Esse final de semana provavelmente seria sua primeira oportunidade de ver Finnick desde que ela voltara de viagem no início da semana. Entretanto, eles ainda não tinham nenhum plano concretamente combinado nem para o sábado nem para o domingo.

Ela estava com saudades de Finnick, mas não sabia quando teria a oportunidade de voltar à mansão de Plutarch. Ela se lembrou de como a construção antiga parecia magnífica lotada de gente e iluminada pela luz da lua e das lâmpadas ofuscantemente douradas da festa da semana anterior, pensando que ela deveria ser ainda mais convidativa quando estivesse vazia e serena. Com menos gente, talvez ela até pudesse dar uma volta pela cidade com as meninas ou até usufruir de alguns luxos proporcionados pelo status de Plutarch na cidade, como, por exemplo, uma sala VIP no clube ou no restaurante italiano mais famoso das redondezas.

Annie novamente se via dividida pelo dilema que vinha cortando-a ao meio desde o início de seu relacionamento com Finnick: estar com ele ou estar com os benefícios trazidos pelo dinheiro? Ela sabia que uma coisa excluía a outra, porque estar com Finnick significaria abrir mão de todos os luxos simplesmente porque ele jamais teria condições de oferecer-lhe tudo aquilo com o que ela sempre sonhou. Até agora, ela conseguiu conciliar os dois desejos, mas em breve Annie teria que escolher entre suas duas maiores fontes de felicidade.

– Vamos, sim. – Annie disse, decidindo-se após pensar em todas essas coisas. “Já que eu tenho um namorado pobre” , ela pensou, “vou ao menos aproveitar quando alguém rico quiser me bancar uns cinco minutinhos de luxo.”.

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– Que cara de cu de cachorro é essa? – Peeta perguntou ao dar de cara com o amigo jogado no sofá com o controle remoto na mão zapeando pelos canais da TV.

Finnick levantou o rosto para olhar Peeta e deu de ombros. Peeta revirou os olhos. O amigo estava a cara da tristeza ali, atirado no sofá, olhando melancolicamente para a TV sem prestar exatamente atenção no que ela exibia. Ele sinceramente não aguentava mais ver Finnick assim. Ele era a favor do relacionamento de Finnick com Annie porque ele sabia que o amigo estava apaixonado, mas ultimamente parecia que ter Annie em sua vida só o deixava triste e cabisbaixo.

– É por isso que eu não namoro. – Peeta comentou, sentando no chão aos pés do sofá onde Finnick se encontrava semimorto.

– Falou o cara que está se arrastando atrás da melhor amiga da minha namorada.

– Eu não estou me arrastando atrás da Katniss. – Peeta negou. – Eu estou me divertindo. Eu gosto dela. Ela é bonita e divertida. Mas eu nunca vou agir em relação à Katniss como você age em relação à Annie.

– Quem disse que não?

– Por que isso não aconteceu com nenhuma das que vieram antes dela, e não foram poucas.

Finnick suspirou. Ele não estava com a menor paciência para discutir as estratégias que Peeta usava para não se apaixonar pelas garotas, mas talvez essa fosse até uma discussão útil no momento. De repente ele até aprendia algumas coisas.

Ele estava desolado, porque há dois dias Annie havia lhe dito que iria passar o final de semana em Búzios novamente justo quando ele mais precisava vê-la. Sua semana tinha sido horrível: uma avalanche de avaliações e notas capengas na faculdade o esmagara e seu pai o havia ligado dizendo que precisava vê-lo e conversar com ele pessoalmente, o que nunca era sinônimo de boas notícias. Tudo que Finnick precisava era de alguns momentos com Annie e só com Annie, olhando em seus olhos e sentindo o cheiro de seus cabelos. Mas não. Ela havia inventado de se enfiar em Búzios pelo segundo final de semana seguinte sem nem perguntar se ele tinha pensado em algum programa para eles dois.

Ele sentia falta dos dois celebrando a companhia um do outro e era meio desesperador ver que Annie não sentia o mesmo. Não importa o quão bonito ou seguro você é: não ter a atenção da única pessoa que te importa é sempre destruidor. Finnick se sentia vazio e – o que era ainda pior – começara a questionar os sentimentos de Annie por ele. Ele não via sentido em se doar tanto para uma relação que não caminhava, ou então ter que se esforçar em dobro para compensar a falta que Annie lhe fazia. Falta essa que ela não parecia se importar de fazer.

Imerso em seus pensamentos, o corpo de Finnick saltou do sofá tamanho o susto que ele levou ao ouvir o estridente barulho de sua campainha. Peeta, no entanto, foi mais rápido e levantou-se do chão para atender a porta.

– Oi, Annie. Entra. – Finnick quase teve uma síncope quando ouviu o que Peeta falou para o visitante. Seu corpo parece ter ser levantado por vontade própria e seus pés imediatamente caminharam em direção ao corredor de entrada do apartamento.

– Não precisa. – Ela disse, antes de Finnick entrar em seu campo de você. – O Fin... – Ela começou, mas seus olhos focalizaram nele e ela se interrompeu. – Oi, amor. – Ela disse, sorrindo fracamente. – Você pode vir aqui embaixo comigo rapidinho?

Finnick franziu o cenho e não teve um bom pressentimento. Se Annie quisesse lhe dar alguma notícia boa, ela o faria em seu apartamento. Ir à rua significa escolher um terreno neutro, o que geralmente também significa que más notícias estão para chegar.

Finnick assentiu e Peeta recuou para abrir-lhe passagem, não antes de lhe lançar um olhar enviesado que significava algo entre um “boa sorte” e um “não seja otário”.

Annie abriu a porta do elevador para que Finnick entrasse e entrou logo em seguida.

– Como foi em Búzios? – Ele perguntou, tenso. Meu Deus, ele conseguia sentir no ar. Dava para respirar as intenções de Annie. Ele só não queria acreditar.

Os olhos dela se iluminaram de leve.

– Foi ótimo. Me diverti muito com as meninas e ainda arranjamos um pretendente para a Johanna. – Annie sorriu, mas seus olhos pareciam meio perdidos.

Finnick olhou para baixo e mordeu o lábio.

– O que houve? – Ele perguntou e Annie suspirou profundamente.

– Eu amo você. – Ela disse, mesmo que fosse exatamente o contrário do que ela queria dizer e que falar aquilo só fosse trazer mais angústia e sofrimento.

– Eu também te amo. – Ele respondeu. E, bom, talvez ele tenha se sentido um pouco aliviado com isso.

– Finn, não dá mais. – Annie disse e ele sentiu como se todo o peso do mundo tivesse subitamente migrado para dentro de seu peito.

Ela esperou que ele reagisse, mas ele simplesmente curvou os ombros para baixo e ficou calado.

– Eu não quero que seja assim. – Ela começou a explicar, mesmo que soubesse que aquilo era inútil, primeiro porque ela sabia que ia se atrapalhar com as palavras e segundo porque o sofrimento não se explica nem se justifica – e muito menos se ameniza – com palavras. – Mas eu... – Ela continuou, sem saber exatamente onde queria chegar com suas palavras. – Eu não sou assim. Nós não somos certos um para o outro.

– Por quê? – Ele perguntou, a voz fraca.

– Nós somos muito diferentes. E mais cedo ou mais tarde isso ia acabar acontecendo. – Ela disse, não parecendo convencida de sua própria justificativa

– Como assim, Annie? Essas diferenças não pareciam te incomodar até antes de você ir para Búzios.

– Você acha que eu conheci alguém lá. – Não foi uma pergunta, porque em parte era verdade, mas a entrada de Cato e sua vida jamais seria motivo suficiente para ela abrir mão de Finnick.

A verdade é que ir para Búzios dois finais de semana seguidos fez Annie tomar um choque de realidade. Estar em contato direto com tanto luxo a fez perceber que aquilo era uma parte importante demais de sua essência para ela simplesmente desistir de tudo e ficar com Finnick. Ela jamais seria completa se não pudesse beber seu champagne ou tomar seu banho de sol em sua própria piscina da varanda de seu próprio apartamento. Era parte dela. Ela queria mais que tudo não se sentir dividida e estar segura de sua decisão, mas se separar de Finnick doía muito, mesmo que ela soubesse que ao deixa-lo teria bastante luxo esperando-a em sua casa para reconforta-la. O luxo não era suficiente e ela sabia que iria sofrer, mas ela também sabia que era capaz de se recuperar do baque.

Annie acreditava estar abrindo mão de algo precioso em troca de algo ainda mais precioso. Ela precisava estar livre para poder flanar por aí e caçar seu próprio futuro de socialite, porque só assim ela conseguiria alcançar as metas que impusera a si própria desde pequena. Mags tinha dinheiro desde que se entendia por gente, mas Annie viveu os seis primeiros anos de sua vida pulando de casa em uma vila do subúrbio. Mags via a pobreza como algo distante, mas Annie sabia que ela não era algo tão irreal assim e podia engoli-la - como a engoliu em sua infância - a qualquer momento. Ela tinha pavor disso, então mesmo que a tia tivesse dinheiro, ela sentia a necessidade de sair por aí e construir seu próprio futuro como milionária.

– Eu não sei. Não sei o que aconteceu. – Finnick falou. – Eu achei que estava tudo bem. Eu te dei o melhor, Annie. Daí você viaja, a gente não se fala por uma semana e você volta dizendo que quer terminar tudo. O que você quer que eu pense?

– Isso não tem nada a ver com mais ninguém. – Annie afirmou e essa foi uma das únicas coisas que ela pode dizer com certeza durante aquela conversa. – Tem a ver comigo e com você. E como eu não quero te prender se eu nunca vou estar completa de verdade estando com você.

Finnick sentiu como se uma bala atravessasse sua cabeça naquele momento e tudo dentro dele desmoronou. Ele só queria escorregar pela parede do elevador, sentar no chão e morrer. Ele acabara de ouvir da mulher que ele amava que ele não a fazia feliz o suficiente.

– Você é maravilhoso. Incrível. Meu Deus do céu, como eu queria que você bastasse. Se eu pudesse escolher não me sentir assim, eu não me sentiria. Eu queria ser como qualquer outra menina que fosse te tratar como você merece e ficar perfeitamente feliz estando com você. Mas eu não sou, Finn. – Annie discursou, sentindo-se a pior pessoa do mundo. Ela se sentia baixa e suja vendo Finnick sofrer daquele jeito e sua dor a fazia sentir-se pequena. Frágil.

– Eu não sou bom o bastante para você, é isso? Por que, Annie? O que eu estou fazendo de errado? Porque eu posso tentar melhorar. Eu posso tentar mudar. Eu só não quero te perder. – Ele se engasgou com o bolo de tristeza entalado em sua garganta, numa tentativa desesperada de fazê-la ver que tudo aquilo era um absurdo e que as razões para ela o deixar não eram nem um pouco plausíveis.

Annie suspirou profundamente. Seu coração parecia ter se encolhido até ficar do tamanho de uma cabeça de alfinete, uma pressão enlouquecedora esmagando seu peito. Ela se sentia miserável, mas, diferentemente de Finnick que estava prestes a perder o controle, ela não sentia vontade de chorar, nem de gritar. Annie tinha uma tendência natural a trancar todos os seus sentimentos no peito e lidar com suas questões internas sozinha. Sabe quando o iPhone buga e desliga sozinho? Você não pode abri-lo para ver qual é o problema de seus circuitos internos, mas, logo depois de um tempo desligado, ele acende novamente e volta a vida. Sozinho. Annie era exatamente assim.

– Você não precisa mudar por mim. Eu não quero isso. Eu só acho que agora está na hora de nós seguirmos caminhos diferentes, porque nós queremos coisas diferentes.

– E o que você quer?

Annie soltou uma risada tristonha. Ela passou alguns instantes em silêncio, pensando se deveria cometer um ato de sincericídio ou não, e foi só quando Finnick já desistira de ouvir alguma resposta que ela abriu a boca para dizer algo, optando por colocar tudo para fora de uma vez. Ela havia tentando ser delicada até aquele momento, mas talvez ser contundente fosse encurtar essa dolorosa conversa.

– Eu quero acordar em uma cama king size sentindo o cheiro do café fresquinho que a empregada está fazendo na cozinha. Eu quero levantar, abrir a janela e dar de cara com a vista da praia do Leblon. Eu quero descer as escadas da minha casa e dar de cara com uma mesa de café da manhã posta para mim. Eu quero um conversível e uma bota Louboutin. Eu quero viajar pelo mundo, Finnick. Eu quero muita coisa. E eu quero agora. E, eu sei que isso vai soar horrível, você não pode me dar isso. Mas eu conheço pessoas que podem me dar essa vida, só que eu não posso me aproximar delas se estiver com você. Eu te amo, mesmo que agora você não acredite nisso, mas estar com você me faz ter de escolher entre duas coisas, e eu estou escolhendo correr atrás da vida que eu sempre sonhei para mim desde que eu sou pirralha.

Finnick ficou parado, em choque por alguns instantes. Então era isso? Ele franziu o cenho, tentando juntar os pedaços de informação em sua cabeça. E de repente ele se lembrou do dia em que foi buscar Annie para o primeiro encontro dos dois, quando ele deu de cara com aquele prédio enorme e luxuoso em Ipanema. E de como ele pensou que, de repente, Annie não fosse a garota certa para ele, exatamente por todos os motivos que ela acabara de citar.

Ele só nunca imaginara que Annie pudesse ser tão fria ao dispensá-lo para seguir em busca de seus objetivos.

– Quem é você? – Ele perguntou, o olhar perdido na linda menina a sua frente. Essa menina não era Annie. Ou será que ele nunca soube de verdade quem era sua namorada?

Annie sacudiu a cabeça e sorriu tristemente, sentindo uma pontada no peito e uma ardência atrás dos olhos pela primeira vez desde que vira Finnick aquele dia.

– Você não me conhece de verdade, Finnick. – Ela observou, a voz trêmula. – Você se apaixonou pela parte da Annie que fica feliz quando está com você.

– Eu não tenho culpa se essa foi o único lado que você me mostrou.

Ela refletiu rapidamente sobre aquelas palavras.

– Acho que você tem razão. – Ela concordou, simplesmente. Não precisava mencionar que estava se sentindo horrivelmente culpada.

Ele passou a mão pelos cabelos dourados e depois pelo rosto.

– Então acho que a gente fica por aqui. – Ele disse.

Annie abaixou o olhar, sentindo o peso daquelas palavras rasgá-la ao meio com toda a mágoa e o ressentimento que elas carregavam. Ela queria muito abraça-lo, dizer que sentia muito e que queria que não tivesse sido assim, mas a essa altura isso não importava mais. E ela o conhecia bem o bastante para saber que tudo que ele queria era ficar sozinho para pensar sobre o que aconteceu.

– Eu... – Amo você, ela queria completar. Mas se conteve, porque aquilo não ia fazer bem nenhum. – Boa sorte. – Ela disse, sinceramente.

Finnick não respondeu nada, porque sabia que se abrisse a boca naquele momento as lágrimas rolariam e ele ia passar as próximas três horas gritando initerruptamente. Diante de seu silêncio, Annie abriu a porta do elevador e marchou para fora, ganhando a rua.

Finnick viu, pela fresta da porta do elevador, sua agora ex namorada andar, seus longos cabelos castanhos flutuando por sobre suas costas. Calmamente, com movimentos extremamente controlados para evitar socar os botões dos andares, Finnick apertou o botão com um número 6 pintado e esperou o elevador leva-lo de volta para seu andar.

– E aí? – Peeta perguntou cauteloso assim que abriu a porta após o amigo tocar a campainha. Finnick parecia mais destruído do que quando desceu.

Ele entrou em casa sem pronunciar uma palavra e se jogou no sofá novamente. Peeta o seguiu e sentou aos seus pés, exatamente na mesma posição que estavam antes de Annie chegar. Foi só depois de muito, muito tempo de silêncio que Finnick respondeu, com a voz rouca e instável.

– Ela terminou comigo.


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Notas finais do capítulo

EITA FERRO IOFUSFDIOUSFIOU VOU DIZER A VOCÊS QUE EU QUERIA ESTAR MORTA DEPOIS DE TERMINAR ESSE CAPÍTULO, MISERICÓRDIA DOIFUSEIORUJDFLKJDLF
Gente, a Annie foi muito escrota. Eu tive uma dificuldade tremenda de escrever isso porque a Annie foi escrota de uma maneira que eu jamais conseguiria ser com ninguém na minha vida. Foi muito difícil escrever o sofrimento do Finnick e até mesmo o sofrimento dela por estar terminando com ele, mesmo que ela tenha certeza que está fazendo a coisa certa. Tive que escutar muita música de fossa para esse capítulo sair, vou te contar kkkkk.
Me contem o que acharam!!!! Tô muito ansiosa para os comentários de vocês.
Ah, e se vocês quiserem me seguir no twitter, fiquem à vontade, eu sou a @ifimoonshine. Podem seguir, mas avisem que são do nyah pra eu poder seguir de volta. Sintam-se livres para me aperrear, cobrar capítulos, conversar, pedir conselhos, até me xingar. Eu vou adorar ver vocês por lá.
Um beijo molhado e um chupão no pescoço. Vocês são sensacionais