Demorei para soltar Peeta, mesmo quando ele foi levado para uma sala para ser examinado, eu fui abraçada a ele. E só soltei porque fui obrigada. Eu sentia que com a pequena distância que nos separava, eu poderia perde-lo
Fiquei aliviada em saber que ele estava bem, só precisava de descanso. Ele estava com grandes olheiras embaixo dos olhos, marcas de cordas nos pulsos e um grande roxo na bochecha, bem melhor do que eu imaginava que seria.
Depois de comer ele parecia quase totalmente recuperado, mais forte. Fomos para o quarto e deitamos juntos na nossa cama e após um minuto ele já tinha caído em um sono profundo.
Observei enquanto ele dormia, seu rosto relaxado e tranquilo, a respiração regular. Parecia um anjo. Deslizei as pontas do meu dedo sobre seu rosto, assimilando cada parte com o meu toque.
Fui interrompida de meus devaneios com o barulho de Gale entrando no quarto, depois de um tempo de hesitação ele caminhou até mim. Ficou parado me encarando, como se quisesse dizer algo, até que finalmente falou:
– Eu... entendi.
– Entendeu o que? - Perguntei confusa.
– Eu entendi, porque você escolheu ele. Eu vi. Você o ama demais, eu te conheço Katniss. Eu nunca poderia te dar o que ele dá, a confiança, a tranquilidade, a força, a esperança. Sou o oposto disso. Você precisa dele, e ele precisa de você.
Fui pega de surpresa por suas palavras, até eu mesma me surpreendi pelo modo como ele falou dos meus sentimentos. Percebi que era verdade.
– Que bom Gale, eu já tava sentindo falta do meu amigo. - Respondi com um sorriso surgindo em meu rosto.
– Eu também, Catnip. - Fiquei feliz em ouvir ele me chamando por meu apelido de novo, a familiaridade com que aquilo soou era reconfortante.

Ficamos conversando como sempre fazíamos antes. Depois de um tempo Tracy chegou e Peeta acordou. Continuamos conversando, o clima estava leve, não tinha discussões ou incômodos. Era bom.

Jantamos e fomos dormir tranquilamente. Acordei no meio da noite com uma gritaria, antes que eu pudesse entender alguma coisa Peeta já estava me puxando da cama. Chegamos ao corredor, minha mente ainda acordando, havia pessoas correndo para todos os lados, barulho de tiros vindo de todo o canto.

Saímos correndo em disparada, mas paramos ao ouvir um grito de dor agoniante: Claire. Corri para seu quarto, ao chegar encontro ela no chão com uma poça de sangue ai seu lado.

– Est-a tudo bem-m, Kat. Doí, m-mas es-stou bem. - Ela me disse em um pequeno sussurro.

Fiquei paralisada na porta, Peeta passou por mim e a pegou no colo.

– Katniss, temos que achar um lugar seguro. - Ele me disse com urgência na voz, o que me despertou.

Fui andando na frente pelo corredor, guiando-os. Andamos por vários minutos, mas nenhum lugar parecia seguro, em qualquer canto que íamos tinha pessoas gritando e tiros. Até que vimos uma porta fechada escrita "Armazém", não era o melhor lugar, mas era o que tínhamos.

Assim que entramos, Tracy e Gale começaram a empilhar coisas na porta, proibindo alguém de abri-la. Peeta colocou Claire no chão e eu fui do seu lado, examinar o ferimento.

Ela tinha levado um tiro no ombro, o buraco não era profundo, mas a bala continuava lá dentro e eu tinha que tira-la. Eu não era minha mãe ou Prim, não servia para essas coisas, mas Claire precisava de minha ajuda e eu esperava que meus anos observando minha mãe ajudasse em alguma coisa.

– Isso vai doer um pouco, você vai precisar ser forte. - Disse tentando manter minha voz firme.

Ela apenas assentiu com a cabeça. Comecei a trabalhar, enrolei a ponta da minha camisa em meus dedos e mexi no ferimento. Claire agarrou o braço de Peeta, apertando forte, e ela gemia de dor, percebi que ela estava tentando segurar para não gritar. Trabalhei mais rapidamente e então eu consegui tirar a pequena bala. Procurei por um pano e Gale me entregou sua camisa, rasguei ela um uma tira e amarrei no braço de Claire. Não era suficiente, mas era o máximo que poderia fazer agora.

Decidimos que aquele lugar não era seguro, nenhum parecia seguro no momento. Então Tracy e Gale foram procurar por ajuda ou outro lugar e Peeta e eu cuidaríamos de Claire. Ela estava dormindo e a cada segundo eu verificava sua respiração. Me doía ver ela assim, mais uma pessoa importante para mim que se machucava por minha causa.

Fiquei sentada com a cabeça dela em meu colo, afagando seus cabelos, e Peeta ficou consolando a mim que também estava bem abalada. Os barulhos do lado de fora não diminuíam e eu comecei a ficar preocupada com Tracy e Gale.

Depois de alguns minutos eles finalmente chegaram.

– As pessoas estão se reunindo. Parece que um aerodeslizador vai levar os símbolos da revolução para ficar em segurança, os rebeldes querem sequestrar-nos de novo. Nós encontramos um caminho seguro para chegarmos lá. Vamos!- Gale chegou anunciando com pressa.

Peeta pegou Claire delicadamente e começamos a seguir Gale por um corredor mal iluminado. A cena era horrível, havia várias pessoas feridas pelo caminho, eu queria ajudar todas mas não podia.

Chegamos no jardim, o barulho de tiros era ainda mais ensurdecedor. Dois soldados começaram a nos levar para um aerodeslizador, enquanto alguns enfermeiros pegavam Claire. Queriam levar ela para outro aerodeslizador, mas depois que eu discuti com eles, mudaram de ideia.

Subimos no aerodeslizador e começamos logo a sair dali. As pessoas no chão já eram alguns pontinhos pretos. O aerodeslizador estava levando inúmeros tiros dos rebeldes tentando nos derrubar, o medo me invadia, mas quando subimos tão alto que os tiros não alcançavam mais, eu relaxei e encostei em Peeta. Acabei adormecendo ali mesmo.