Faz tanto tempo que tenho esses sonhos que acabei me acostumando, então, diferente das primeiras noites, eu acordava sem gritar ou qualquer outra coisa. Mas esse último sonho fez parecer que não estaria nada acostumada a ser perturbada pela coisa me perseguindo. Eu acordei gritando descontroladamente.

A porta foi escancarada e o meu quarto foi invadido por papai e Madame Blue.

–Minha nossa! - Madame Blue tapou a boca com as mãos. Seu rosto estava tomado pela surpresa e pelo horror.

–Filha! - Papai correu até a mim.

–Não! - Gritei.

Levantei uma mão para que papai parasse. E por causa desse gesto, deparei-me com minha mão suja de sangue.

Levantei da cama e sai correndo em direção ao banheiro.

Minha blusa estava colada ao meu corpo por causa do sangue. A tirei com a ajuda de Madame Blue e fui até o espelho com medo do que irei ver.

Já em frente ao espelho, peguei a toalha que Blue encharcou com água e me estendeu. Comecei a limpar o sangue. Berrei ao sentir uma ardência na barriga.

Eu iria desabar no chão se Blue não tivesse impedido e me firmado em pé. Então ela me ajudou a voltar para o quarto e me sentar na ponta da cama. Louise pôs um sutiã em mim e papai me pegou no colo e, com cuidado, correu o máximo que pode.

Minha visão estava ficando cada vez mais fora de foco. A última coisa que vi antes de desmaiar foi papai e Blue me acomodando no carro, eu acho.

•••

Se fosse realidade, no momento que aquela coisa me atacou com suas garras, minha barriga e meu peito teriam sido talhados.

A ardência que senti ao usar a toalha para limpar meu corpo, veio de dois cortes na barriga.

São 10hrs da manhã e estou voltando para casa. No momento que desmaiei, papai e Blue estavam me colocando no carro e então me levaram para o hospital.

Esse último sonho me deu de presente duas linhas na barriga. Duas cicatrizes.

•••

Depois de chegar do hospital, fui para o quarto descansar. Fui gentilmente acordada por Blue para ir almoçar. Durante o almoço, que aconteceu poucas horas mais tarde que o costume, meu celular tocou. Lucinda estava me ligando.

–Alô? - Murmurei.

–Rose? Que voz é essa?

–Acabei de acordar. É isso. - Não deixa de ser verdade, mas o real motivo não é esse.

–Sei... - Lucy disse ainda desconfiada. - Liguei pra saber se não quer sair hoje! Eu, Klaus e acho que Peter também...

Acha nada! Ela tem certeza...

–Não vai dar! Descul... - Minha voz falhou por um momento e suspirei baixo. Ainda me sinto fraca. - Desculpe.

–Rose tá tudo bem contigo?

–Está.

–Verdade? Cara, tá acontecendo alguma coisa?

–Não.

–To indo ai. - Desligou o telefone em seguida para não me dar tempo de contestar.

•••

Lucinda acabou de chegar. Fui abrir a porta pra ela e fomos juntas para a sala.

–Rose, você está mais branca que o costume! O que aconteceu contigo? Fala logo pelo amor de Deus! - Lucy disse quando viu meu rosto direito.

–...

–Tem a ver com os sonhos?

Em resposta apenas acenei com a cabeça.

–O que aconteceu no sonho?

Comecei a narrar tudo o que houve no último sonho.

–Tá ficando cada vez mais difícil, Lucy! Sinto que vou enlouquecer a qualquer momento!

–Não Rose! Tira isso da sua cabeça! Você não vai enlouquecer! Para com isso! - Lucy bronqueou.

Prendi as lágrimas que iriam cair. Lucy me abraçou de lado e se pôs a afagar minha cabeça. Ficamos assim por um tempo e depois desfizemos o abraço. Para nos distrair, decidimos ver séries de televisão até Lucy ter que ir embora, afinal, hoje ela vai sair com Klaus e eu não queria que ela desmarcasse isso por minha causa como ela ameaçou a fazer.