Quando eu enfim consegui pegar no sono, Lucy me acordou com uma animação exagerada, ou seja, ela está ansiosa. Assim como eu...

–Rose, acorde! Tá na hora da gente se arrumar pra ir lá. - Avisou.

–Ok. Ok. To indo. - Falei, sonolenta.

–Não enrola, Rose! Levanta logo dai! Quanto mais cedo formos, mais rápido nossa busca chegará ao fim! - Aconselhou.

Ela estava completamente certa. Enrolei por mais alguns segundos e levantei da cama.

Saí do banheiro já arrumada. Dei uma última olhada no espelho que tem ao lado da porta, ajeitei rapidamente o cabelo e saímos no quarto. Encontramos papai e Madame Blue no saguão do hotel e de lá fomos para o estacionamento.

•••

O trajeto do hotel até a escola durou um pouco mais de uma hora. Papai estacionou o carro na margem do meio-fio da calçada, em frente a entrada da escola. Somente eu e Lucy saímos do carro, papai e Blue vão nos esperar aqui fora.

Então, nos aproximamos da entrada. Parei, de repente, a um passo da porta.

–Rose, tá tudo bem? - Lucy perguntou, preocupada.

–Sinceramente? - Olhei pra ela que levantou uma das sobrancelhas. - Não.

–Rose, vai dá pra trás logo agora? Falta tão pouco, estamos tão perto.

Mordi, de leve, um dos cantos da boca. Respirei fundo.

–Vamos. - E abri a porta.

Entramos na escola a procura de alguém que nos mostrasse o caminho para a secretaria. Encontramos uma senhora, na base dos seus quarenta anos, ela me parece ser uma espécie de inspetora, não sei ao certo, preferi não perguntar pois poderia pegar mal. Ela nos explicou como chegar lá.

Seguimos as instruções que nos foi dada e facilmente achamos uma porta onde uma placa escrito ''Secretaria'' estava pregada. Batemos na porta e uma menina a abriu.

–Bom dia. - Ela nos saudou. Podem entrar.

Ela se sentou numa mesa e indicou para que fizéssemos o mesmo. Sentamo-nos em frente a ela.

–O que desejam? - Perguntou.

–Queremos falar com a diretora. Sabe, eu sou ex-aluna... - Expliquei.

–Hum... Só um minuto. Vou ver se ela poderá atende-las.

Ela levantou e foi até uma porta que fica atrás de sua mesa, por onde entrou e sumiu. Não demorou muito e ela surgiu dizendo que poderíamos entrar, indicando aquela mesma porta. Então, eu e Lucy fomos até lá.

–Com licença? - Pedi ao abrir a porta.

–Pode entrar. Sente-se. Se quiser é claro. - Falou sem tirar os olhos do computador e riu no final.

Agradecemos e nos sentamos em frente a ela. Lucy soltou uma falsa tosse para chamar a atenção da mulher que não ainda não havia dirigido o olhar a nós.

–Oh! Desculpem, estava terminando um documento. Bem, primeiro vamos as apresentações. Sou Audrey Bennett, mas todos me chamam de Ant, é o apelido que me deram já que sou baixinha. - Riu novamente. - E vocês são...

–Lucy Lovegood.

Minha amiga respondeu primeiro vendo que eu não estava conseguindo falar. Eu simplesmente fiquei olhando para Audrey. O apelido dela, Ant, me soa familiar.

Então eu lembrei do dia do acidente. Foi nesta sala que fui interrogada. É a mesma diretora daquela época.

–Desculpe. - Falei depois de Lucy me dar uma discreta cotovelada no meu braço. - Alice BlacknedRose. - Consegui me apresentar.

Os olhos de Ant se arregalaram assim que eu falei meu nome.

–Alice? É a mesma Alice que estou pensando? - Perguntou.

Seus olhos estavam cheios d'água ou é impressão minha?

Ant se levantou, foi até a mim e me abraçou. Correspondi ao gesto. Depois que desfizemos o abraço, ela se sentou na ponta da mesa.

–Como você está?

–Vou bem, obrigada. E a senhora?

–Oh! Vou bem. Um pouco desconjuntada por causa da idade, mas fora isso estou bem. - Riu de novo.

Ant ri facilmente. E ri de suas próprias piadas, sendo elas engraçadas ou não.

–Então, o que trás vocês até aqui?

–Quero lhe pedir um favor, Ant. Se não for incomodar muito. - Falei com dificuldade.

–Pode pedir. - Ela falou, desconfiada.

–Você poderia me dar uma informação, qualquer uma, sobre o amigo que eu tive, que estudava aqui comigo. Jack.

–Como assim, querida? - Ant perguntou mais desconfiada ainda.

–Eu quero encontra-lo, Ant. - Expliquei. - Preciso encontra-lo. - Frisei.

–Bem, é que, como vou dizer, não posso compartilhar informações sobre alunos. Seja eles alunos atuais ou não. Vai contra as ordens. Desculpe.

Ah, não... eu não vim até aqui pra ir embora de mãos vazias. Não, não e não. Não pode ser...

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Estava nervosa.

–Por favor, Ant. Me ajude. Por favor. - Praticamente implorei.

–Por que quer tanto isso? Faz tanto anos, Alice. Por que está fazendo isso agora? - Ant perguntou.

Pude ver que ela estava confusa, não estava entendendo nada. E não é pra menos...

O silêncio pairou sobre nós. Eu e minha amiga trocamos um olhar.

–Sofri um acidente. - Contei. - Perdi minha memória.

–Céus! - Reagiu.

–Me ajude, Ant. Eu preciso recuperar minhas lembranças. Eu já lembrei de quase tudo. Lembrei de Peter. Do acidente. De tudo. Mas a pouco tempo lembrei de uma promessa que fiz e eu preciso realizá-la.

Tá bom que não era tudo verdade. Mas eu não posso contar para Audrey sobre meus sonhos e tudo mais.

O silêncio tomou conta de nós mais uma vez. Ant ficou me observando por alguns momentos.

–Não posso fazer nada por enquanto. Isso envolve documentos de muitos anos atrás, nem mesmo sei se existem ainda. E se ainda existirem, não posso pegá-los agora. - Ela explicou. - Façamos o seguinte, me deixe seu telefone e se eu conseguir alguma coisa, entrarei em contato.

–Eu estou hospedada em um hotel. Irei embora amanhã. - Falei depois de lhe dar o número de meu celular.

–Farei o que estiver ao meu alcance. Não poderei lhe dar certeza de alguma coisa, ok?

–Está bem. - Disse. - Obrigada, Ant.

–De nada.

Depois de nos despedirmos, eu e Lucy voltamos para o carro e seguimos de volta para o hotel.

–Vamos conseguir alguma coisa. Tenho certeza que essa diretora vai achar alguma coisa! - Lucy tentou me confortar.

Ainda tenho minhas dúvidas...