Steve chegou antes de Natasha no refeitório, estava nervoso. Sabia que o convite era estritamente profissional, mas não conseguia parar de se imaginar em um encontro com a ruiva. Quando ela chegou, os cabelos ainda estavam úmidos e tinham a forma naturalmente cacheada. Usava roupas de couro: uma jaqueta aberta, uma calça e uma blusa decotada. Steve levantou-se para cumprimentá-la e notou o quanto era mais baixa que ele, afinal Natasha não usava saltos por causa da perna machucada.

–Boa noite, Cap.

–Boa noite.

Ele não fazia ideia do que falar, então seguiu com ela até onde estavam os pratos do dia. Serviram-se e voltaram para a mesa, Natasha parecia se divertir com a situação.

–Nós já jantamos juntos antes, lembra?

–Já estivemos em situações bem piores juntos. E mais constrangedoras.

A sobrancelha esquerda dela se levantou ao lembrar do quarto de motel.

–Então por que está nervoso?

–Não ligue pra isso. Acho que sou naturalmente nervoso. Como está Clinton?

–Melhor. Acordou e está se recuperando bem.

–Creio que Banner tenha feito um excelente trabalho.

–Como é isso pra você?

–Isso o que?

–Essas novas...convenções sociais. Sabe...Bruce e Clint.

–É estranho, mas para mim tudo aqui é estranho. Na minha época mulheres como você eram consideradas sem caráter e moral. Não acho que esteja apto a julgar alguém.

–Acha que sou sem caráter e moral?

Não havia raiva na voz dela e sim compreensão.

–Enquanto os outros soldados zombavam de Peggy por ser uma oficial mulher, eu me apaixonei por ela.

–Você a vê em mim?

–Não. Você é diferente.

–E diferente é bom?

–Diferente é incrível.

–Boa noite, Steve.

Ela se levantou e foi embora, dando uma olhada discreta para o capitão. Steve suspirou, levantou e seguiu para seu quarto. Não era como se estivesse com sono, mas precisava ao menos descansar os músculos. Algumas horas depois, alguém batia em sua porta.

Natasha acordou durante a madrugada, estava preocupada com Barton e decidiu ver como ele estava. O quarto dele estava escuro e a única coisa que ela conseguiu ver foi a silhueta de Banner, com a cebeça encostada na cama e os óculos tortos no rosto. Saiu de lá e pensou em conversar com Steve, ele era insone afinal...bateu na porta. Ouviu alguns barulhos no quarto e se perguntou se ele estaria dormindo. Porém, os ruídos persistiram e foram ficando cada vez mais altos. Ela abriu a porta com força, entrou e fechou-a novamente. O que viu lá dentro fez seus joelhos tremerem.

–Cuidado!

Steve pulara na sua frente e fizera com que se abaixasse, o que resultou em uma espécie de lança atravessando seu ombro esquerdo. Lá atrás, Daredevil preparava-se para acertá-lo novamente.

–Desculpe, Cap, isso vai doer.

Puxou a lança do corpo dele e avançou até o adversário. Tentou atacá-lo, mas ele desviou habilmente de todos os seus golpes. Natasha também se esquivava até que Matt acertou sua coxa machucada e empurrou-a com força. Steve correu e se colocou atrás dela, de modo que batesse em seu peito e não na parede.

–Chame reforços, não precisa passar por isso.

–Na verdade- ela se levantou- preciso. Já está na hora.

–Então vamos fazer isso como um time.

Natasha parecia querer discordar, mas ele seguiu para o lado oposto ao que ela estava, deixando Daredevil no centro. Começaram a confundir os sentidos aguçados dele ao derrubar móveis para fazer barulho, atirar coisas para que desviasse. A Black Widow se preparou para acertar na próxima tentativa, mas o inimigo caiu subitamente. Quando viram o objeto cravado na testa dele, Steve e Natasha se voltaram imediatamente para a porta. Lá, um Hawkeye despenteado, vestido com uma camisola de hospital e fazendo uma expressão de dor, segurava seu arco. A ruiva murmurou algumas coisas em russo, as quais o capitão decidiu traduzir como “se ele não morrer sozinho, eu mato”. Os dois apoiaram Barton nos ombros e seguiram até a enfermaria, onde Bruce Banner esperava com um olhar incrédulo.

–Eu...eu juro, estou quase ficando verde.

–Foi mal Bruce, precisei dar uma saidinha. Sabe como é...derrotar inimigos mortos.

O cientista olhou para cima, suspirou e ajeitou os óculos.

–Volte a se deitar. E vocês dois? Não parecem melhores que ele.

–Nós vamos ficar bem. Onde está o médico de plantão?

Banner apontou uma sala e eles seguiram para lá. Alguns minutos depois, Steve tinha um curativo no ombro e Natasha segurava um pouco de gelo sobre a perna, ambos sentados na mesma maca.

–Está doendo muito?

–Estou bem. O analgésico está fazendo efeito. E o seu?- Ela tocou o braço dele com cuidado.

–Não dói muito, na verdade. Espero que isso não atrapalhe meu desempenho.

–Você vai se virar.

Steve sorriu e olhou para ela profundamente. Natasha desviou o olhar, mas sua mão permaneceu no braço dele, seu polegar fazendo movimentos suaves e involuntários.

–Do que tem tanto medo?

–Não quero...não posso perder o controle.

–Controle de que?

–De mim mesma.

–Você já perdeu. Sabe disso, que não pode mais evitar.

–Não...não posso.

Ela largou a compressa e levantou, estava a alguns passos de distância quando Steve finalmente tomou coragem. Segurou firme o braço dela, mas não o suficiente para machucá-la. A aproximação foi lenta, mas ela não se esquivou. Suas bocas tocaram-se levemente, entreabriram-se e começaram uma massagem delicada. Os lábios de Natasha eram massios e expessos, assim como os seus, e isso tornava aquele beijo algo delicioso de se aproveitar. Queria mais daquilo, porém ela interrompeu o contato.

–Steve...

A voz dela soou como uma súplica, um único segundo de distração. Logo em seguida, Natasha se afastou dele e continuou seu caminho para fora da enfermaria, como se nada tivesse acontecido. Como ela ainda mancava, Steve a seguiu. Alguns poderiam dizer que aquela foi uma decisão errada, mas ele agradeceu por tê-la tomado.