Steve se encontrava algemado em uma cadeira, Natasha estava a seu lado mas não havia acordado totalmente. Poderia escapar dali com facilidade, porém Fury não parecia agressivo e eles até cuidaram do ferimento na testa da ruiva.

–Desculpepor fazê-lo esperar, Capitão Rogers- Fury sentou-se numa cadeira na frente da sua- A Agente Romanoff ainda não acordou?

–Algumas vezes, mas parece atordoada e volta a dormir.

–Deve ser efeito do anestésico.

Então era isso? Fury estava tranquilo porque mantinha Natasha como refém, dopada? Steve estava a ponto de se livrar das algemas e atacá-lo, mesmo estando em enorme desvantagem.

–Fique tranquilo, ela estará livre assim que o efeito passar. Foi só precaução por causa do ferimento. Não sei como ela conseguiu fugir com a perna nesse estado.

Ele não soube como deixou de reparar na bolsa de gelo sobre a coxa de sua parceira, aliviando a dor do machucado causado na luta contra Bucky.

–Gostaria de esperar Romanoff acordar, mas conto com sua ajuda para falar com ela depois- Steve franziu as sobrancelhas, aquela história estava cada vez mais esquisita- Não os ataquei porque descobriram meu plano Counter Avengers, Capitão. O plano seria revelado aos Vingadores assim que fosse concluído, para que o receio limitasse suas ações.

–Então por que atacou a Stark Tower e nos perseguiu?

–Uma coisa muito importante foi roubada da SHIELD no mesmo dia em que vocês invadiram o sistema. Essa coisa era o projeto de uma futura nave, muito mais segura e avançada apesar de menor. Lá ficaria o banco de dados e o centro de operações de inteligência, enquanto a tripulação ficaria na nave maior. Decidimos investir nisso depois de quase perder todas as informações durante o ataque do Loki.

Steve não podia acreditar, agora tudo fazia sentido. Sharon Carter já estava na sala quando ele, Natasha e Barton entraram, além do “jato” que vira no esconderijo do Winter Soldier ser baseado realmente num projeto da SHIELD.

–Eu mesmo- continuou Fury- mandei Sharon Carter para o banco de dados como “prova de confiança”, afinal ela nunca conseguiria invadir as áreas restritas. Só não esperava que três dos meus melhores agentes fossem me hackear.

–Ha o que?

–Nada. Resumindo, Sharon já devia estar espionando vocês antes de eu mandar que o fizesse. Isso explica o motivo de ela me pedir algo tão estranho quanto entrar no nosso banco de dados.

–Dei uma pancada bem forte nela, não sei como conseguiu roubar um projeto desses depois de acordar.

–E eu não sei como agentes experientes como Romanoff e Barton deixaram as informações à disposição daquela maneira.

–Por falar nisso, por que Barton não está aqui?

–É isso, Capitão...que eu quero que me ajude a contar para ela.

–-----------------

Natasha acordou pela quinta vez, porém agora se sentia mais lúcida. Tentou abrir os olhos, mas a claridade e uma forte dor na cabeça fizeram com que os fechasse de novo.

–Como está se sentindo?

Ela sorriu discretamente ao ouvir a voz do loiro.

–Cansada e dolorida. Por quanto tempo eu apaguei?

–Várias horas, não sei exatamente o quanto porque também fiquei desacordado- ele passou alguns segundos calado, pensando em como iniciar um diálogo- preciso conversar com você.

–Aconteceu alguma coisa?

–Várias, mas quero que mantenha a calma e me ouça até o fim.

A espiã balançou a cabeça afirmativamente, sentindo dor ao se movimentar.

–Qual a última coisa de que se lembra?

–Estávamos numa explosão, atrás do seu escudo. Depois acordei em algum lugar sem equilíbrio, estava no seu colo. O resto são só borrões sem sentido.

Steve ficou contrangido ao se lembrar que passou longos minutos com Natasha em seu colo, todavia era preciso ignorar esses detalhes.

–Estamos na nave da SHIELD- ela ia dizer algo, mas se conteve ao notar que não estava presa- Fury não está mais contra nós. Sharon roubou um projeto da SHIELD no dia em que invadimos a conta pessoal dele, pensaram que éramos os culpados e por isso fomos perseguidos.

–Estamos livres, então?

–Não é bem assim. Ainda temos o Winter Soldier e...Clinton foi atacado.

Natashapercebeu logo que, pela expressão dele, o caso era mais do que sério.

–Ele está vivo?

–Por enquanto, sim. Mas o real problema é quem o atacou.

–Não foi o Winter Soldier?

–Todos pensaram que sim, mas em um momento da luta a máscara dele de soltou.

Steve entregou um tablet e, assim que assimilou o que estava vendo, ela deixou o aparelho cair.

–Isso...não pode ser...

–Sinto muito, Natasha.

–Ele estava morto, vi com meus próprios olhos!

–E acabou com Sharon usando suas próprias mãos. Karpov desenvolveu demais suas técnicas e vai continuar a trazer as pessoas de volta...

–Não, não vai. Quando percebi a armadilha antes da explosão, detonei a bomba que estava no bolso de Karpov. O elevador ainda estava descendo, tenho certeza.

–Menos mal, então. Se quiser conversar eu...

–No momento, só quero ver como Clint está.

Steve desistiu, ela não ficaria vulnerável mesmo vendo Matt Murdock atacar seu melhor amigo. Natasha era uma mulher excepcionalmente forte, ele concluiu.

–Consegue andar com a perna assim?

–Consegui subir num elevador e correr, tudo antes de ser medicada- ela sorriu- vou sobreviver, Steve.

Ele compreendeu de imediato que ela não estava falando só sobre sua condição física.

–Onde Clint está?- Natasha se apoiou no braço que ele ofereceu.

–Foi operado e está na UTI em coma induzido. Doutor Banner está usando raios gama de baixa concentração para acelerar o processo de recuperação.

–Não faz ideia do que seja isso, não é?

–Não exatamente. Me mandaram repetir essas informações pra você.

–Imaginei. Se precisar conversar com alguém, posso falar com você, não é?

–Claro, conte comigo.

Chegaram, depois de longos minutos, na frente de um quarto cheio de aparelhos de última geração. Lá dentro, separado por uma grossa parede de vidro, Clinton Barton parecia já estar morto.

–Estou fazendo tudo que posso, mas não vai ser fácil salvá-lo.

A voz trêmula pertencia a um suado Bruce Banner, que apertava uma caneta compulsivamente e parecia se conter ao máximo.

–Eu imagino, Bruce. Não se cobre tanto, Clint não gostaria que ficasse nervoso assim.

–Até porque, Agente Romanoff, eu nervoso sou...instável.

Um arrepio percorreu a espinha de Natasha, ainda tremia ao se lembrar do Hulk correndo atrás dela.

–Todos confiamos no senhor, Doutor Banner.

–Obrigado, Capitão. Se me dão licença, tenho que reunir alguns raios gama.

Os dois observaram Banner se afastar, andando em zigue-zague e maltratando a pobre caneta.

–Será que é isso o que chamam de força do amor?-Natasha sussurrou para si mesma, mas Steve ficou curioso.

–O que disse?

–Essa doação total de Banner para tentar salvar Clint. Se Peggy estivesse em perigo e pudesse salvá-la, você o faria a qualquer custo?

–Na época da guerra, com certeza. Hoje em dia acho que não.

–Não a ama mais?

–Posso não ter sentido o tempo passar, mas o choque quando acordei nesse novo mundo me fez ver o quanto as coisas mudaram. Peggy teve a vida dela, não vale a pena desperdiçar a minha pensando no que poderia ter sido. Acho que entende, não é?

–O que quer dizer?

–Se aquele homem que você amava morresse hoje...será que teria os mesmos sentimentos daquela época?

–Não tenho mais sentimentos, Cap.

–Se não os tivesse, não estaria aqui torcendo pela recuperação de Clinton- Steve segurou a mão dela entre a sua e Natasha tentou se esquivar, mas acabou desistindo- não precisa de toda essa armadura, não vou te fazer mal.

–Eu sei. É só o meu jeito.

–Estamos juntos nessa, não é?

–É...e parece que agora somos só nós dois. Se Clint sobreviver não vai estar em condições de lutar e eu ainda não confio no Fury. Vamos nos aliar a ela por enquanto, mas se precisarmos fugir você está comigo?

–Claro. Tudo isso é, de certa forma, pessoal pra mim.

–Pra mim também, Cap- Natasha apertou a mão dele suavemente- se contar para alguém sobre nossa conversa, acabo com você.

–fique tranquila, seu segredo vai comigo pro túmulo.

–Tenha certeza disso.

Ela piscou e Steve fingiu uma expressão de medo, arrancando um riso disfarçado da agente. Os dois se olharam por alguns segundos, Natasha podia sentir a mão dele suando sobre a sua e os batimentos cardíacos acelerados. Teria interrompido o momento, mas Nick Fury o fez.

–Com licença, Capitão Rogers. Tenho más notícias.

Steve soltou a mão de Natasha e esperou o diretor falar.

–Winter Soldier, ou Daredevil vestido como ele, atacou a casa de repouso onde estava Peggy Carter.

–Ela se foi?

Fury concordou com a cabeça e foi embora. O Capitão suspirou profundamente e olhou para Natasha por cima do ombro, mas ela não parecia querer confortá-lo, o que o deixava sem saber o que fazer. Não queria deixar sua parceira sozinha, porém não conseguiria olhar para ela sem enxergar um pouco de ternura em seus olhos. Gostava de Natasha exatamente como era, mas as vezes desejava ver só um pouquinho de Peggy nela.

–Mudou de ideia sobre não amá-la mais?

–Achei que não viria falar comigo.

–Não sou um monstro, Steve, ou pelo menos acho que não. Só penso que é besteira alimentar tantos sentimentos em relação a outras pessoas. Somos diferentes demais.

Pela segunda vez no dia, Steve percebeu que ela mandava uma mensagem subliminar para ele.

–Talvez precisemos de algo diferente.

Natasha passou por ele e, quando já estava longe, surpreendeu-o novamente.

–Janta comigo hoje?

–Claro.

Naquela noite, após o jantar, o Capitão América recebeu uma visita inesperada em seu quarto. Ninguém poderia dizer que ele e a Black Widow não tiveram uma noite...agitada.