Natasha andava sem prestar a atenção, tentava controlar a própria respiração depois do beijo de Steve. Porém, quando olhou para o lado o que viu parecia impossível e pavoroso: lá estava o gigante e verde Hulk, correndo até ela como no acidente durante a invasão de Loki. E Thor não estava lá para salvá-la dessa vez. Correu o mais rápido que pode, mas o ferimento causado pelo braço metálico do Winter Soldier ainda não cedera aos medicamentos. Teve certeza de que iria morrer, aquele era o fim.

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Os segundos passaram em câmera lenta: Steve se colocou entre Natasha e o Hulk, viu sua expressão de medo e sentiu o impacto no escudo, sentindo que seu braço se quebraria a qualquer instante. Porém, seus ossos e músculos não cederam à pressão. Quando o monstro desistiu de empurrar, Steve levantou-se e colocou-se em uma posição melhor, sentindo que Natasha colocava as mãos sobre seus ombros enquanto tentava controlar os tremores e a própria voz.

–Steve...precisamos sair...correr...

Ele respirou fundo, sabia que era loucura mas precisava tentar. Precisava ganhar tempo para ela fugir e avisar alguém.

–Se eu voltar, você daria uma chance a si mesma?

Não houve resposta, apenas um olhar suplicando para que ele não fosse, mas agora não era Steve Rogers...era o Capitão América. Se colocou em pé e deu um último aceno para ela, seu pensamento sendo estranhamente em um desenho que não havia terminado.

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Natasha foi o mais rápido que pode para o quarto de Barton na enfermaria, suas únicas esperanças estavam no sentimento que Bruce tinha por ele, que o Hulk desaparecesse quando o médico ficasse mais calmo.

–Nat, o que faz aqui?

–É Bruce.

Barton se levantou na cama,estava se sentindo muito melhor.

–Bruce? O que houve?

–Ele...perdeu o controle, Clint. Quase me matou e agora...

–Espera. Isso é impossível.

–Eu sei que ele estava no comando, mas alguma coisa...talvez o seu estado de saúde nos últimos dias, isso pode tê-lo afetado mais do que achávamos.

–Não, Nat, é mesmo impossível. Bruce estava comigo há menos de cinco minutos e saiu pra buscar um medicamento que desenvolveu ontem e que poderia me curar em algumas horas. Me diga: como Bruce poderia ter perdido o controle no caminho daqui até o quarto dele?

Ela abaixou o olhar, pensativa. Tudo havia acontecido rápido demais para que pensasse de forma coerente e estava deixando que detalhes importantes passassem despercebidos, afinal ela e Steve falaram com o cientista minutos antes também e ele parecia tranquilo a não ser por...

“-Eu...eu juro, estou quase ficando verde.”

A lembrança da frase causou um sobressalto na espiã, talvez ele não estivesse tão calmo quanto parecia.

–Eu sei o que está pensando e não, ele não estava nervoso. Só disse aquilo pra me repreender por ter saído da enfermaria e você sabe disso, faça o favor de pensar com clareza.

–Foi mal, Clint, mas não há outra explicação. Só não morri porque Steve nos protegeu com o escudo e me deu tempo pra fugir.

–Espera aí...isso quer dizer que agora, neste exato momento, o Capitão está...

O olhar dela foi o suficiente para responder, no entanto era tudo muito difícil de acreditar.

–Não, você está me fazendo parar de pensar racionalmente. Acompanha comigo, Nat: ninguém viu um monstro verde gigantesco arrebentando tudo? O corpo humano do Capitão foi suficiente para aguentar a força do Hulk? Ele teve tempo de pensar no que iria fazer, ou seja, aquela criatura hesitou em esmagar as cabeças de vocês? E, o mais importante, como Bruce perdeu o controle tão rápido?

–Tudo o que você diz faz sentido, mas como se explica o que eu vi?

–Isso é o que nós vamos descobrir.

–Já pode se levantar?

–Mesmo se não pudesse, investigaria isso. Tem muita coisa estranha acontecendo.

A espiã deu a mão para ajudá-lo a se levantar, era hora de esquecer assuntos pessoais e trazer a Black Widow de volta para descobrir o que havia de errado. Os dois saíram da enfermaria e foram até o quarto de Bruce, um aposento impessoal e simples, sem decoração ou aparelhos de última geração como Natasha imaginava, somente com uma cama de casal, um guarda-roupa e um banheiro. Deixando de lado a curiosidade ela se pôs a procurar qualquer evidência e rapidamente encontrou um frasco embaixo da cama.

–Hawkeye.

–Sim, Nat?

–Não estou te chamando, é o que está escrito nesse frasco.

–Então esse só pode ser o remédio que Bruce criou. Onde estava?

–Embaixo da cama dele.

–Eu acho que ele não guardaria aí, não é?

–Vai com calma, Clint, ele pode ter deixado cair quando se transformou.

–E o Hulk enfurecido num quarto pequeno como esse teria deixado tudo intacto?

–É, faz sentido. O que sugere então?

Barton começou a usar sua habilidade mais notável, os olhos de gavião, para revistar o ambiente. Havia um sapato jogado no meio do quarto e marcas no carpete ao lado da cama que seguiam até a porta. Na cama, uma discreta gota de sangue manchava o lençol. Ele foi apontando cada uma das pistas para Natasha e os dois obviamente chegaram à mesma conclusão: Bruce Banner fora levado a força de seu quarto.

–Um ataque...será que isso causou o descontrole?

–Ele foi arrastado daqui, Nat. O ataque foi tão rápido que Bruce perdeu a consciência antes de se transformar no Hulk.

–Nada está fazendo sentido.

–Na verdade...nada faz sentido desde o ataque do Daredevil.

–Pensei que isso estivesse claro, Karpov o reviveu.

–Natasha, nós trouxemos o Capitão de volta porque ele estava vivo no gelo. Winter Soldier também estava. Descongelar alguém nós já vimos que é possível, mas reviver? Pense de modo científico, nem Stark conseguiria reativar todas as conexões cerebrais.

–Vem comigo, eu preciso checar uma coisa.

Barton precisou quase correr para acompanhá-la, mas era óbvio para onde estavam indo. Quando chegaram ao quarto do Capitão Rogers, tiveram certeza de que alguma coisa estava mesmo muito errada: o corpo de Matt Murdock havia sumido.

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Steve Rogers acordou com o corpo todo doendo quase tanto quanto na vez em que injetaram o serum. Sua visão estava embaçada e escurecida, a seu lado um Banner desacordado jazia jogado no chão como se estivesse morto. No entanto, a respiração estava normal. Tentou se levantar, mas seu corpo de super soldado se recusava a cooperar e ele sentiu-se tonto. Precisava avisar alguém, dizer a Natasha o que havia acontecido, que tudo havia sido diferente do que ela imaginava. Mais uma vez lembrou-se do desenho que não terminou: nele a ruiva exibia uma expressão despreocupada enquanto passava seu poderoso Victoria’s Secret no braço (porque ele não ousaria desenhar outras partes do corpo dela sem permissão). Faltava cor no desenho, faltava ouvir uma resposta dela a seus sentimentos. Cedendo aos apelos do próprio corpo, Rogers voltou à inconsciência.

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Meia hora já havia se passado desde a revista no quarto de Banner. Barton tomara o remédio e se sentia muito melhor, estava tomando café com Natasha e eles traçavam em voz baixa todas as ideias possíveis para o que teria acontecido, uma parecendo mais improvável do que a outra.

–Gen...te.

O barulho pegou ambos desprevinidos e, o que viram em seguida, mais ainda. O Capitão América estava lá, estirado no chão com o escudo a seu lado, quase morto. Os dois levaram-no para a enfermaria e o Hawkeye deu o resto de seu medicamento a ele antes de deixar os dois a sós.

Natasha acariciava suavemente o rosto de Steve enquanto observava o metabolismo acelerado dele fazer bom uso da ciência de Bruce, recuperando seu corpo ainda mais rápido do que o de Barton. Porém, algo não se encaixava. Se não houve tempo para o Hulk aparecer, de onde vieram tantos ferimentos? Ela só sabia de uma coisa: estava disposta a trazer de volta seu pior lado quando descobrisse quem havia feito aquilo.