Minhas ideias, aparentemente diabólicas (eu havia decidido esquecer Aspen e dar uma chance a Maxon, afinal!), não me deixaram dormir. Mas eu já sabia porquê. Saí da cama e fui em direção ao piano...

Pensei em ler o diário de Gregory Illéa, mas achei que, do jeito como eu estava má, se lesse ficaria pior. Lembrando que o tal "herói" de nossa "terra" vendeu sua filha por poder. Preferiria ser uma Oito a ser esse tipo de heroína.

Então sentei na banqueta do piano. Olhei para ele e passei os dedos pelas teclas, relembrando os tempos em que eu passava noites cantando e tocando para ganhar dinheiro. Era um trabalho bom, eu amava, mas cansativo. E agora eu estava ali, no palácio, podia ter tudo em minhas mãos. Menos, é claro, o coração de Maxon.

Eu sabia que tinha conquistado Maxon. Mas as besteiras que cometi naqueles meses parecem ter apagado a intensidade dos sentimentos dele. E ainda havia Kriss, que por mais que lutasse contra o instinto da competição, não dava para sermos realmente amigas. Por mais que eu e ela quiséssemos. Sabíamos que Celeste estava abaixo de nós duas - mas quando pensei nisso, meu sangue esfriou. Quanto tempo a Newsome levaria para descobrir meus segredos e me entregar para Maxon?

Eu nem quis pensar.

Primeiramente, porque caí do piano.

Segundo, porque um papel amassado caiu junto das pautas.

O que seria aquilo?

Peguei o papel rapidamente e abri. Estava realmente amassado.

Então surgiram duas hipóteses em minha cabeça:

Se estava amassado, porque a pessoa que o escreveu não jogou fora? E porque aquilo estava no meu quarto, como se alguém tivesse escrito e depois se arrependera...

Ah, não.

Minha raiva subiu a cabeça na mesma hora. Não era um motivo muito convincente, mas senti raiva. Raiva. Porque aquela perua havia ficado com Maxon quando eu deveria estar com ele.

Então entendi.

Juro que, se já estivesse fora da Seleção, acabaria com Celeste no mesmo momento.

Como ela era suja. Falsa.

Mas disso eu já sabia - sabia desde o primeiro momento, no avião para Angeles.

Só que saber não significava muito naquele momento. Celeste passara dos limites. E porque eu deixei. Se eu tivesse mostrado meu lado cruel desde o início da Seleção, ela já teria saído do caminho. Mas não, em vez de marcar meu território, agi como Natalie - tentei ignorar. Só que Natalie havia saído. E eu não queria sair como ela.

"Bem", pensei, "já que atingi o nível total da crueldade ao decidir esquecer um pouco Aspen, terei de ir até o fim se quiser ficar na Seleção. E não, não quero só ficar na Seleção. Eu quero ficar com Maxon."

Eu precisava fazer alguma coisa para parar aquela garota.

E rápido.

Pus meu roupão de cetim e abri a porta do quarto. Aspen não estava lá - o rodízio dos guardas. Saí de fininho, pronta para minha melhor atuação.

Não iria ser ingênua.

A Seleção me ensinou o que fazer.