“- Olá aos últimos competidores da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes. A alteração feita antes foi revogada, uma nova avaliação no livro de regras revelou que pode existir apenas um vencedor. Que a sorte esteja sempre ao seu favor.”

Calma aí! Ele disse mesmo que a alteração de que o casal iria para casa foi alterada e que agora apenas um de nós vai vencer? Esses idealizadores não sabem mesmo o que querem da vida, mentira eles sabem, agora tudo está esclarecido, a idéia de fazer com que houvesse dois vencedores foi apenas para que a gente se unisse por um tempo, eles nunca deixariam dois de nós vencermos. Como não percebemos isso antes?

Nós como sonhadores que somos aceitamos a proposta e fizemos de tudo para estarmos juntos no final, Katniss me olha e sei que assim como eu, ela está absorvendo o que foi dito e que ao mesmo tempo está chegando à conclusão que eu cheguei:

– Se você pensar bem, não é tão surpreendente quanto parece. – Digo isso e me levanto indo em direção a ela, nesse curto espaço eu tiro a minha faca e como um reflexo Katniss aponta a flecha para mim, sei o que ela está pensando, mas não vou matá-la, não teria forças, e quem deve voltar para casa é ela, jogo a minha faca no rio e ela percebendo o que eu fiz abaixa o arco com a flecha e dá um passo para trás, já sabendo que ela ficou desconfortável com o que fez eu digo – Não, vai em frente. – Mancando e com dificuldade chego perto e ajeito o arco em sua mão.

– Não vou fazer isso.

– Vamos lá, faça isso, antes que eles mandem as bestantes novamente, não quero morrer como Cato.

– Então atira em mim – Ela diz isso e joga o arco para mim. – Você me mata, volta para casa e vive com isso.

– Você sabe que eu não posso – Será que ela ainda não entendeu que eu não vou conseguir viver em um lugar onde ela não estará comigo, e ela tem a família dela para cuidar, não posso tirar ela de sua mãe e irmã, jogo o arco fora ao mesmo tempo que eu digo – Tudo bem eu vou primeiro de qualquer forma. – Eu rasgo o curativo, é só meu machucado sangrar e logo eu morro, seja pelo sangramento ou pelas doenças.

– Não, você não pode se matar. – Ela diz isso ao mesmo tempo em que está abaixada refazendo o curativo.

– Mas é o que eu quero.

– Você não vai me deixar aqui sozinha. – Ela diz isso e sinto que havia mais coisa, mas ela não é capaz de pronunciar, mas independente, ela tem que ir para casa. Puxando-a de volta eu digo:

– Escuta, nós dois sabemos que eles precisam de um vitorioso, e só vai poder ser um de nós. Por favor, vença! Faça isso por mim. Eu te amo demais, esses foram os melhores dias que passei ao seu lado, e depois de tudo o que aconteceu entre nós eu não vou poder viver sem você comigo na vila, você tem sua família para cuidar, não as deixe, vença os jogos, cuide delas e apenas não se esqueça de mim, e tudo o que passamos, monte sua história, mas lembre-se que eu fiz parte um dia, mesmo que por pouco tempo.

Pois é, a beira da morte eu consigo me declarar literalmente, chega a ser irônico, mas Katniss não me responde nada em momento nenhum. Será que ela está sem palavras ou nem escutou o que eu disse? Logo vejo que ela começa a mexer na bolsinha onde as amoras estão guardadas, ela não vai fazer o que eu penso, ela não pode, por impulso eu agarro sua mão e digo:

– Não vou deixar você fazer isso com sua vida.

– Confie em mim! – A analiso, não sei ao certo o que ela está pensando, solto sua mão, e ela pega as amoras coloca um pouco em minha mão e um pouco na dela, agora entendi, eles precisam de um vitorioso, se os dois últimos morrerem, a população acabará com eles e parece que ela não pode viver sem mim, Katniss me olha e diz – Contamos até três? – Não sei o que irá acontecer dessa vez, mas não vou perder a possível última oportunidade debeijá-la, dou um beijo simples, delicado, mas com muito carinho em sua boca e digo:

– Até três! – Nós estamos de costas um para o outro, não nos movemos, minha mão vazia está entrelaçada a dela, como último recurso para mostrar a decisão digo a ela – Mostra bem as amoras, para que fique bem visível o que faremos.

Como um sinal, Katniss aperta a minha mão e começa a contagem, dando um tempinho de respirar entre um número e outro, no três parece que nosso plano não dará certo, mas se for para morrer, quero morrer dessa forma, de mãos dadas com ela pelo menos uma última vez, no momento que estou com as amoras quase na boca, os trompetes começam a soar e a voz de Claudius Templesmith berra por cima do som:

– Parem! Parem! Senhoras e senhores, apresento a vocês os vencedores da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes! Katniss Everdeen e Peeta Mellark, os tributos do distrito 12!

Após o anuncio nós dois nos livramos das amoras e cuspimos qualquer fragmento que possa existir, puxo Katniss para o lago para assim lavarmos a boca melhor, ao terminar ela olha para mim e pergunta:

– Não engoliu nada não é? – Balanço a cabeça negativamente como resposta e pergunto:

– E você? Engoliu algo?

– Imagino que estaria morta a uma hora dessas caso tivesse engolido.

– Isso não deixa de ser verdade – Digo em resposta, mas acho que ela não me escutou, pois no exato momento o barulho de comemoração da Capital foi permitido ser ouvido na arena.

O aerodeslizador que vai nos tirar da arena aparece e desce duas escadas, uma para cada um, mas Katniss sobe na mesma comigo, ela me ajuda a subir na escada e assim que ambos colocamos o pé, a corrente nos paralisa e a escada é levantada, a adrenalina do meu corpo vai diminuindo e eu vou começando a me sentir cansado, não tenho idéia de como meus machucados estão, mas minha energia está sendo sugada.

Mal chegamos dentro do aerodeslizador, sinto minha consciência diminuindo mais e mais, só consigo distinguir alguns sons, mas não os entendo, sinto que sou colocado em uma espécie de mesa ou cama, e levado, sinto o calor da Katniss deixando meu corpo, mas não consigo lutar para recuperar e em poucos minutos eu estou desmaiado, em total inconsciência.

Não sei quanto tempo passou, um dia eu acordo e me encontro em um quarto todo branco, eu tento me mexer, mas há muitos tubos ligados em mim e de repente eu adormeço. Novamente não sei quanto tempo passou, mas dessa vez eu não estou sozinho no quarto, uma pessoa toda de branco está sentando ao meu lado, anotando alguma coisa em uma prancheta, deve ser um médico, reúno as poucas forças que tenho e pergunto se está tudo bem comigo.

Ele diz que conseguiram me salvar de uma infecção a tempo, me deram os remédios necessários e que não estou com nenhuma doença, isso já me dá um alívio imenso, mas ele não para por aí, ele diz ainda que meu corpo está saudável, nada atingiu meus órgãos, mas que minha perna ia ser fonte de contaminação, e que ela já estava quase perdida e não houve outra forma a não ser amputar-la.

Essa noticia cai como uma bomba para mim, mas só o fato de eu estar vivo, tira todo o medo que eu senti, o médico fica um tempo calado, para que eu possa absorver as informações, e acho que pela minha expressão de entendimento, ele prossegue dizendo que uma prótese está terminando de ser feita e que amanhã eu poderei começar a treinar com ela, de resto eles sumiram com as cicatrizes que eu tinha pelo corpo, que hoje será mais um dia de descanso para todo o resto que está por vir.

Ele me faz dormir novamente, e no dia seguinte quando acordo eu tenho uma surpresa, além do médico, Portia está aqui também, ela me dá um sorriso ao ver que estou acordado e diz que está feliz por eu estar bem, o médico vem do meu lado e mostra a prótese que irei usar, ele me ajuda a colocar, e me ajuda a ficar em pé.

Confesso a sensação é muito estranha, eu quase me desequilíbrio na hora em que estou em pé, mas o médico me dá apoio de um lado e Portia do outro. Eu tento dar um passo, mas quase caio, e então o médico diz que o melhor é que eu seja levado até a sala de fisioterapia na cadeira de rodas, mas eu sou teimoso, eu tenho que aprender a lidar com isso, falo para eles me apoiarem novamente e tento andar, meio tremendo, eu consigo, e assim foi pelas próximas duas semanas, eu era levado para a sala da fisioterapia, às vezes andando ou na cadeira de rodas, eu já estava conseguindo me manter um pouco, mas eu precisava de apoio, então decidiram me dar uma bengala.

Eu fui me acostumando, e bom sempre que eu podia perguntava de Katniss, mas sempre me diziam que ela estava bem, mas não davam maiores informações, até que forcei a Portia me contar, e ela disse que queriam ver a gente junto apenas na cerimônia e depois de totalmente recuperados, me conformei com sua resposta e continuei praticando com a ajuda da bengala, em pouco tempo eu me acostumei a andar com a prótese.

Durante esses dias que passaram, nos momentos em que eu ficava sozinho, eu começava a pensar em tudo o que aconteceu nos últimos dias, eu e Katniss ameaçamos comer as amoras e assim deixaram a gente sobreviver, Portia me contou que a população suspirava ao falarem de nós na Capital, diziam sobre como estamos apaixonados e o que o ato que fizemos significava. A população da Capital viu a nossa ação como um ato desesperado de amor dos amantes desafortunados.

Em um determinado dia, eu acordei e me deparei com Portia me observando, perguntei o que aconteceu, e ela me disse que era hora de eu me arrumar, hoje era a cerimônia dos vitoriosos. Eu apenas concordei de cabeça baixa, me sentei na cama e ela me alcançou a prótese, eu a coloquei e em seguida peguei a bengala próxima a minha cama. Ela me guiou até o elevador dos tributos, o hospital se encontra abaixo da sala de treinamento, ela diz que como os vitoriosos são do distrito 12, eles disponibilizaram o andar 1 para me arrumarem e o 12 para a Katniss.

Chegamos ao andar e dou de cara com Jonas, Rubia e Kellen, eles sorriem por me ver, e me cumprimentam de uma forma entusiasmada e juntos me levam para comer, não me permitem comer muito, mas nem eu sinto tanta vontade, após todos os pratos recolhidos Portia me deixa com os três, eles começam a me dar banho, e a falar, mas eu não presto atenção, resmungo e concordo às vezes, eu estou pensando em como será assistir o vídeo dos Jogos.

Após eles terminarem Portia surge com um pacote, nele encontra-se uma calça preta, uma camisa, eles me ajudam a vestir a calça, e eu visto a camisa e em seguida as botas perto da cadeira.

Após tudo pronto, vamos todos para o elevador, vamos para o andar de treinamento, chegando lá me posicionam sobre uma placa de metal que me levará para o andar de cima, Portia diz que tem que se arrumar e junto com a minha equipe vão trocar de roupa e se posicionar, mal saíram, Haymitch aparece ao meu lado e apenas me pergunto se está tudo certo eu aceno que sim, ele me dá um aceno com a mão e some.

O hino começa e Caesar Flickerman conversa com a platéia, e depois começa a chamar cada equipe de preparação, depois os dois estilistas, e por fim o nosso mentor. Assim que Haymitch entra no palco e todos gritam a plataforma começa a subir e a me levar para o palco, nisso eu já coloco um sorriso no rosto, não posso parecer chateado nem nada parecido.

PS: LEIAM AS NOTAS FINAIS, SÃO IMPORTANTES!