Echo. escrita por nekokill3r


Capítulo 21
Capítulo 21.


Notas iniciais do capítulo

Eu já tinha terminado esse capítulo dias atrás, mas quis postá-lo apenas agora, no Natal...
Espero que gostem.



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Estar deixando a fazenda agora está sendo uma das coisas mais sofridas que fiz na minha vida. Já estou dentro do carro e enquanto os outros não entram logo, fico olhando para tudo a minha volta antes de ir embora. Sinto como se devesse ter feito mais, talvez até saído com Naruto mais, mas entendo que isso não foi possível graças à minha tentativa de suicídio e pela chuva que atrapalhou, de verdade, todos os meus planos. Ri muito enquanto estava aqui, e acho que é isso o que deve importar. Talvez eu ainda possa voltar aqui qualquer final de semana desses e quem sabe não posso fazer mais?

Não dormi essa noite pensando no que tinha acontecido ontem; Karin me protegendo. Aquilo foi porquê ela não gosta mais de Hinata ou quer se vingar dela? Não entendo muito bem, mas agradeço em silêncio mesmo assim. Os pais dela ficaram desesperados quando viram o celular todo quebrado no chão do quarto, e enquanto eles estavam lá dentro, dei uma corrida pelo corredor e depois voltei, fingindo que estava vindo do andar de baixo. Também lamentei pelo celular –– pelo menos isso não foi mentira, porquê ele me pareceu bastante caro.

–– Oh, adeus, querido lar! –– Leo fica gritando enquanto arruma as coisas no porta malas. –– Sentirei tantas saudades...

–– Pare com isso, da Vinci. Não é um adeus, então não precisa disso tudo –– digo rindo e ele corre até onde estou.

–– Com licença, mas para mim é sim! –– ele diz emburrado abrindo a porta e depois me empurrando (embora muito leve) e se senta. Ele fica olhando pela janela antes de recomeçar a falar. –– Passo o maior tempo ou na escola ou trabalhando, sequer tenho tempo de vir aqui mais de duas vezes no mês...

–– Não fique assim, seu bobo. Logo vai arranjar mais tempo, acredite –– digo tentando o incentivar a ficar um pouquinho alegre.

–– Tem razão! –– ele diz, ficando todo engraçadinho de novo. Não deveria ter dito nada. Leo se levanta e pega uma caixinha de óculos na frente (o que acaba me lembrando da minha lâmina, mas tento não demonstrar isso) e o coloca. Ele olha para mim fazendo aquela mesma careta de sábado e acabo rindo.

Pego meu celular e vejo que tem uma mensagem; estranho, eu nunca recebia nada que não fosse do Naruto. Me impressionei quando vi que era do meu pai e abri no mesmo instante, sentindo uma enorme vontade de chorar e tê-lo bem aqui na minha frente para poder o abraçar quando a leio:

Como deve saber, todo mundo ficou com medo de te perder, principalmente eu. Não quero perder você assim como perdi Sasori, meu amor. Fiquei totalmente em choque quando Naruto me ligou e disse que você estava jogada no chão, desmaiada e com os pulsos cortados. Sua mãe têm tentado me animar de várias formas (não pense besteira, pois infelizmente não têm), mas não tenho achado graça de nada ultimamente. Não consigo mais escrever, não tenho muita vontade de comer e quando fico perto de você, parece que tudo o que tenho para te dizer, some. Quero muito te abraçar, dizer que eu amo você, mas não dá, você entende? Eu amo você, amor da minha vida. Não quero nunca te perder, sério. E deve ser muito legal ler o pai escrevendo como um jovem de hoje em dia não é, brô? Eu amo você muito mesmo, assim como a sua mãe (não podemos deixá-la de fora, já que ela foi a quem mais gritou naquele dia), e acredite: tudo o que estamos tentando fazer te colocando naquela clínica, é ver você feliz e bem novamente. Amo você de novo e de novo e de novo e por toda a eternidade, e mal posso esperar para que você chegue logo e eu possa finalmente te abraçar.

Acabei relendo essa mensagem umas cinco vezes e sorrindo em todas. É ótimo saber que meu pai ainda têm vontade de me abraçar, e ruim ao mesmo tempo por ele estar se sentindo desta forma –– e pior ainda é saber que a razão sou eu. “Causa problemas e irritações”; acho que esse seria o significado perfeito para o meu nome.

–– E lá vamos nós! –– Leo grita e só então percebo que estamos andando e Naruto está ao meu lado. Sorri para ele e ele retribuiu.

Passamos metade do caminho cantando de novo a música “Umbrella”, até que a graça acaba. No meio de uma das pistas, têm um carro todo amassado e pegando fogo, e também tem uma menina que parece ter a minha idade olhando de um lado para o outro, chorando, com as pernas e o rosto sangrando e gritando para os bombeiros:

–– O meu irmão! Onde está o meu irmão?!

Acabamos todos descendo do carro –– sim, somos mesmo curiosos –– e tenho um arrependimento eterno ao fazer isso. A menina ainda está gritando, mais especificamente berrando pelo irmão dela e eu estou me indentificando muito com ela, pois foi isso que tive vontade de fazer quando o nosso carro estava quase do mesmo jeito como o desse de agora. Até mesmo Leo, que é todo cheio de graça a todo segundo está impressionado com a cena e não tenta dizer nada. A menina olha para mim. Deus do céu, que vontade de saber quem é esse irmão dela e ir procurá-lo eu mesma.

E quando penso em fazer isso mesmo, outros bombeiros chegam com um corpo. Acho que me desespero junto com a garota, porquê sinto vontade de ir até lá e abraçá-la, mas Naruto puxa o meu braço de leve e balança a cabeça negativamente. Então sou obrigada a ficar daqui, vendo seu corpo se balançar por inteiro por causa dos inúmeros soluços e gritos –– “Não, não, não, não!” Sou obrigada a dar meia volta e entrar no carro antes que eu corra e vá abraçá-la de vez. Quando me sento, ainda estou em estado de choque e o ânimo por aqui desapareceu completamente. Naruto ainda dá uma olhada para trás, se ajeitando e depois olha para mim preocupado. Forço um sorriso que deve ter saído muito mal convincente, porquê depois de vê-lo ele me abraça. Leo está calado lá na frente, um pouco sem graça e também em choque pelo o que acabou de ver. Fecho os meus olhos que agora estavam um pouco molhados e encosto a cabeça sobre o peito de Naruto, dormindo depois de um tempo.

Acordo a tempo de perceber que estamos em uma rua que eu não conheço e me lembro de que vou ser internada. Eu aceitei, mas agora estou nervosa quanto a isso. Me lembro de Gaara e levanto no mesmo segundo.

–– Não! –– exclamo olhando para a rua. –– Tem que me deixar na casa do Gaara.

–– O que você vai fazer lá? –– Naruto pergunta e só agora percebi que Leo não está mais aqui.

–– Pedir desculpas por ser uma namorada tão idiota e ausente –– respondo sem me virar para olhá-lo. Eles estão desconfiados e eu sei bem o porquê. –– Não precisam se preocupar, eu vou ligar para o meu pai depois para ele me buscar. Sei que você têm coisas melhores além de ficar me esperando, Jiaraya. E você também, Naruto.

–– Não tenho não, e eu... –– ele se interrompe quando o olho. –– Eu quero estar lá quando você entrar na clínica.

–– Não precisa. Eu tenho os meus pais e um namorado para fazerem isso no seu lugar –– digo e eu sei que fui muito mal educada, mas estou sem paciência nenhuma.

Jiaraya muda de diração e me recuso a olhar para Naruto outra vez, ele também faz a mesma coisa, se concentrando em algum ponto a sua frente e às vezes sequer piscando. Quando chegamos, acabo reclamando baixinho que demorou –– o que é mesmo verdade. Desço do carro e Naruto olha para mim ainda preocupado, sorrio novamente dizendo um silencioso “Está tudo bem” e eles vão embora. Não sei se está tudo bem, mas não custa nada mentir uma vez ou outra. Passo pelo portão da casa de Gaara e ouço risadas, reconheço a dele no mesmo segundo. Estranho. Vou andando até encontrar ele e uma garota sentados em um banco como um casal de namorado –– eu deveria estar ali, ela não.

–– Se eu não for incomodar, gostaria muito de saber o que está acontecendo aqui –– digo tentando não demonstrar que estou morrendo de ciúmes e com vontade de voar e arrancar esse cabelo castanho dessa menina.

–– Estou rindo com a minha nova namorada; aquela que sempre vem quando eu ligo para ela e nunca se esquece das promessas que faz –– ele responde sorrindo apenas para me irritar ainda mais.

–– E qual é o seu nome, querida? –– pergunto chegando perto e fingindo que não vou fazer nada.

–– Matsuri –– “Matsuri” responde e estendo a mão para ela. Mesmo hesitante, ela a apertou, e quando a soltou, eu passei as minhas unhas (que até agora também não sabia que tinha necessidade alguma) em seu rosto. Não vi exatamente aonde pegou, mas ela soltou um gritinho irritante e tapa parte do olho direito com as mãos.

Eu nunca fiz isso na minha vida com uma menina, e não sei de onde consegui arrumar coragem o suficiente agora. Estou olhando apenas para Gaara, mas não sinto vontade alguma de bater nele. Enquanto ele está preocupado com Matsuri e o coitadinho do olho dela que quase consegui arrancar, a pego pelo cabelo por trás, a jogando no chão. Vou para lá, subindo em cima dela e arrancando todos os fios que consigo enquanto ela também tenta fazer a mesma coisa comigo. Vejo o resultado que consegui causar sobre o olho dela; ele está sangrando um pouco, o que não vou me importar agora, mas talvez me arrependa de ter feito mais tarde. A tal Matsuri não é tão burra assim, porquê na primeira tentativa de alcançar o meu rosto, ela passa suas unhas bem maiories que as minhas sobre as minhas bochechas e sinto-as queimarem. Ela agora está por cima de mim, e me deu um tapa tão forte que meu pescoço virou e senti sangue escorrer pelos meus lábios. Iria fazer muito mais com ela se Kankurou não tivesse aparecido e me impedido, e Gaara fez a mesma coisa com a Matsuri. Pareço uma criança birrenta nos braços dele e fico o tempo todo me esperniando.

–– Vocês duas já acabaram? –– Gaara pergunta irônico, o que eu odeio.

–– Você é um completo idiota, Gaara Sabaku! –– grito apontando o dedo trêmulo para ele. –– E eu vou acabar com você também se não parar de rir. –– Meu olhar bate em Matsuri, que está tremendo e parece que logo vai chorar. –– E você, garota? Posso saber o que estava fazendo com o meu namorado?

–– Ele nunca me disse que tinha uma namorada –– Matsuri responde e sinto vontade de ir para o lado dela de novo.

–– Bem, então você pode começar a ficar feliz, porquê agora ele não tem mais nenhuma –– digo enquanto me solto do jeito mais gentil e delicado do mundo dos braços de Kankurou.

Pego a minha mochila que tinha voado para longe e vou em direção da porta da frente, tropeçando uma ou duas vezes. Assim como eu tenho certeza de que fiz um bom estrago no rosto de Matsuri, ela também fez, só que um ótimo estrago no meu rosto e nas pernas. Eu não estava com condições para ficar batendo em uma garota, mas quando vi ela com o Gaara agora, acabei agindo sem pensar. O certo seria eu ter ido embora ou esperar ele voltar atrás da própria palavra. Ouço ele me chamando lá atrás, me viro suspirando.

–– Aonde que você aprendeu a “lutar” daquele jeito? –– ele pergunta rindo.

–– Não te interessa, idiota –– respondo mais mal educada que nunca antes. –– E do que você tanto acha graça?

–– De você –– ele responde, agora apenas sorrindo de lado. –– É engraçado porquê você estava com ciúmes de mim.

–– Eu não estava –– discordo no mesmo segundo, mas é até estúpido dizer uma coisa dessas depois do que fiz.

–– Estava sim... –– ele começa a fazer graça e para quando vê que eu não vou sorrir. –– Mas Matsuri sabia que eu tinha uma namorada e que era você, e ainda assim ela aceitou ser a minha namorada de mentirinha até quando você chegasse. Eu queria ver a sua reação. E agora que vi, parece que você não aceita traição, hein?

Então a vontade de bater nele vem pela primeira vez. Como assim a tal Matsuri sabia que ele tinha uma namorada e era eu? E como assim ela aceitou ser namorada de mentirinha só para ele ver a minha reação?! Eu não acredito que acabei de quase arrebentar um rosto tão lindo como o daquela menina... por nada. E o pior é que eu também apanhei.

–– Achei que estava com raiva de mim –– digo o olhando com os olhos cerrados por causa do sol.

–– Eu ainda estou –– ele diz e não entendo porquê olha tanto para a minha boca. –– Ah, ainda está sujo aí.

–– Mesmo? Espera aí... –– Começo a passar as mãos sobre a boca e até no queixo, mas não tem sangue nenhum. Que ótimo, deve ter secado. –– Não tá saindo...

–– Vem aqui que eu limpo –– ele diz me puxando pelo braço e antes que eu possa me soltar ou fazer qualquer outra coisa, me beija.

A minha raiva pela brincadeira idiota que ele acabou de fazer ainda não passou, mas decidi retribuir o beijo para que não tenhamos mais brigas para frente –– pelo menos, não enquanto eu estiver internada. Uma coisa muito rara aconteceu depois que nos separamos; Gaara encosta nossas testas e eu sinto vontade de chorar. Estranho também.

–– E sobre aquela vez com aquela sua amiga Tenten, também foi brincadeira. Ela não tentou me beijar segundo nenhum –– ele começa soltando um risinho pelo nariz. Fico calada apenas ouvindo.

–– Odeio suas brincadeiras –– digo com a voz um pouco rouca enquanto acabo esfregando meu nariz no dele de leve.

–– Você odeia tudo –– ele diz e deve estar sorrindo.

–– Odeio você também –– digo e acabo rindo, o que atrapalha muito a mentira.

–– Hum... Será que odeia mesmo? –– Abro os olhos e ele estava mesmo com aquele sorriso irônico no rosto. Gaara fica me olhando por um tempo e depois começa a beijar meu rosto. Começo a rir e quase caio levando ele junto comigo.

–– Sim, odeio! Tipo, muito –– respondo depois que ele está me abraçando forte (tanto que eu não consigo nem me mexer direito).

–– Ah, vem aqui –– Ele se aproximou de novo fazendo um bico horrível e ameaçando me beijar. Acabei abaixando conforme ele ia se aproximando cada vez mais e Gaara fazia a mesma coisa, até que conseguimos cair de vez no chão.

Meu Deus, que vergonha. A rua estava praticamente lotada de pessoas que começaram a rir no mesmo instante em que nos viram naquele estado –– eu fiquei em baixo e ele foi mais espero, se apoiando no chão. E nem eu nem Gaara sabíamos muito bem como reagir isso, então a primeira coisa que fizemos foi também começar a rir. Me levantei o empurrando e peguei a minha mochila de novo, tentando agir normalmente.

–– Vai, levanta daí logo –– digo sem muita paciência, pois já deveríamos ter chegado na clínica a quase uma hora atrás e sei que os meus pais estão começando a achar que eu acabei fugindo.

–– Preciso da sua ajuda para me levantar... –– ele diz rindo e ao mesmo tempo fecha os olhos.

–– Pare com essa bobagem! –– digo irritada. –– E é melhor levantar antes que acabe sujando toda a roupa.

A última coisa que eu disse, bem, foi mais ou menos uma indireta; Gaara odeia sujar as roupas. É estranho, sinistro e até hoje ainda não entendi o porquê, mas ele uma vez disse que não era eu quem as lavava todos os dias de madrugada. E é mesmo verdade pois minha mãe sempre lavou para mim, e sim, eu já tentei muitas vezes fazer com que ela deixasse eu fazer o serviço da minha própria bagunça mas ela apenas gritou comigo dizendo que eu iria levar um choque e que não sabia manusear uma máquina como ela –– chegou a acrescentar que eu não tinha força.

No final, ele acabou levantando e seguimos para clínica de um jeito diferente; ele estava andando abraçado de trás comigo. Me pergunto agora se ele ainda está com raiva de mim... Acredito que não, mas não vou ser tão burra ao ponto de ficar dando razões para que ele fique de novo. Decidi que a partir do momento em que me deitar pela primeira vez na cama da clínica, vou mensagem o tempo todo e pelo dia vou ligar para ele. Não é certeza de que eu cumpra mesmo essa “promessa”, porém eu juro que tentarei de tudo para fazê-la todos os dias. E outra coisa que não é certeza é que ele vá me ver todos os dias, por isso minha preocupação está a mil. O pai do Gaara às vezes é tão mau que tira o celular dele, me impossibilitando de ter algum contato.

A primeira coisa que fiz quando entrei por aquela porta foi procurar o meu pai, e assim que o encontrei, deixei o meu orgulho e teimosia de lado e fui correndo abraçá-lo bem forte.

–– Amor da minha vida! –– ele diz em meu ouvido. Ele me chama assim apenas quando estamos muito tempo sem nos falar, o que aconteceu depois que eu entrei na maldita depressão.

–– Eu realmente senti a sua falta –– sussurro por não querer que mais ninguém ouça isso.

–– Eu também, e muito. Agora vai ali e abraça a sua mãe antes que ela morra de inveja –– ele avisa e me solto dele, colocando os pés novamente no chão pois tinha me erguido.

Olho para a minha mãe durante alguns segundos, que está com os braços cruzados e parece que vai chorar a qualquer momento, mas ela é do mesmo jeito que eu e finge que não está mal.

–– Mãe, quer um abraço? –– pergunto sorrindo; acho que vou começar a chorar também em breve.

–– Rá! Como se eu me importasse com essas coisas –– ela responde e agora não consegue parar de sorrir. –– Ah, pule aqui no colo da mamãe!

Faço como ela diz e pulo em seu pescoço, rindo e chorando ao mesmo tempo. Faz séculos que eu e ela não nos abraçamos ou rimos e choramos como estamos fazendo agora, e isso é tão bom que eu agradeço profundamente ao Naruto por ter me ensinado a fazer todas essas coisas novamente. Naruto. Ele não está aqui... E eu queria que ele estivesse.

–– Então, vamos arrumar as coisas –– ela diz e dou um suspiro desanimado.

–– Não vai desistir logo agora –– Gaara diz pela primeira vez com a cabeça encostada na parede.

–– Não, eu não vou –– digo toda cheia de esperanças.

Meu pai conversa com a moça bonita que estava no balcão nos observando e sorrindo e indica o corredor para que eu siga em frente. Por um segundo, olho para trás imaginando que Naruto poderia chegar, assim, do nada e ir junto comigo. Me arrependo tanto de ter dito aquilo para ele... Ele deve estar mal, mas acredito na possibilidade de que algum dia venha até aqui. Gaara meio que percebe isso e segura a minha mão, dizendo silenciosamente para que eu andasse logo porquê ele queria ver o meu quarto. Acabo soltando um risinho pelo nariz e balanço a cabeça, andando com ele mais para dentro. Conforme faço isso, percebo o quanto o meu caso parece nada comparando com as pessoas que estão aqui; em alguns quartos algumas estão sozinhas e em outras com várias pessoas, conversando animadamente. Cada uma está com algum curativo nos pulsos ou eu consigo ver suas cicatrizes enormes de longe. E imagine só? Elas estão sorrindo. Me sinto fraca vendo pessoas desse jeito e que ainda conseguem ter tanta força de vontade para seguirem em frente.

Quando entro no meu quarto, parece que estou na verdade em uma galeria ou um museu pelos enormes quadros espalhados para todos os cantos. O mais curioso: não tem ninguém por aqui. Fico imaginando que devem ter pintado isso para mim, para que o lugar não parecesse tão estranho ou algo assim. Meus pais voltam para fora dizendo que iam comprar alguma coisa para eu comer e beber e Gaara infelizmente tem que ir embora –– na despedida ele me deu um beijo longo, o que é muito raro de acontecer vindo da parte dele e depois me abraçou, dizendo um “Okay” enquanto seguia o corredor ainda olhando para mim. Começo a ajeitar as minhas coisas, colocando as roupas que tinha na mochila e as que a minha mãe comprou dentro de um armário, quando uma pessoa entra. Ela não parece me perceber ali e apenas fica de costas, levando as mãos sujas de tintas. Então é essa a pessoa que pintou tudo isso aqui? Incrível.

–– Ah... Bom dia, moça! –– cumprimento mesmo que cheia de vergonha.

A pessoa não se vira, pelo contrário, fica paralisada e tudo o que consigo ouvir é o barulho da torneira agora jorrando água até para fora da pia.

–– Eu sou menino –– a pessoa finalmente diz, se virando lentamente e é aí sim que eu fico toda vermelha e tenho uma vontade enorme de me esconder.

–– Me desculpe –– peço meio desesperada e vou onde o garoto está. Ele não me olha desconfiado e nem nada disso, apenas me observa com os olhos. –– Me chamo Sakura Haruno e vou ser a sua parceira durante um tempo. Qual é o seu nome?

Ele demora um pouco para responder dessa vez. Pensa um pouco, como se estivesse se perguntando que seria certo me responder.

–– É Sai –– ele responde afirmando com a cabeça, coisa que eu não entendi. Quando percebe isso, ele dá um sorrisinho. –– O seu nome é feio.

Ok! Nunca falaram do meu nome antes e algumas pessoas desejavam ter nasci com ele, e como assim esse tal de Sai vem e diz que ele é feio? Acabo ficando com raiva sem perceber.

–– E o seu parece nome de menina, aliás, você parece uma menina! –– retruco aumentando o meu tom de voz, o que faz ele sorrir. Do nada, fica sério de novo.

–– O seu é pior, parece mais nome de pu...

–– Não ouse –– o interrompo antes que possa continuar a palavra que já sei bem qual é. Me viro no mesmo segundo, indo em direção a porta mas ele me chama e acabo me virando com raiva.

–– Aonde vai? –– ele pergunta me olhando sério; eu acho.

–– Vou dar um jeito de me trocarem de quarto –– respondo não muito interessada.

–– Então é melhor não perder seu tempo, pois não tem mais nenhum além desse –– Sai informe e sinto ódio da clínica. –– Se quer ficar bem de novo, Sakura Haruno, basta me aguentar por um tempo.

–– Pelo o que vejo, vai ser um pouco difícil –– respondo cruzando os braços e o encarando com os olhos cerrados.

–– Vai ser para mim também, e pare de ficar me olhando desse jeito, parece até uma criança birrenta. –– Sai se senta em sua cama e tento me acalmar. Não vai ser nada legal se eu voar nele aqui e agora. –– Você é bonitinha.

Fico sem entender nada, porquê a um segundo atrás ele estava dizendo que o meu nome era feio e eu realmente fiquei com a impressão de que não gostou nem um pouquinho da minha cara –– se isso for mesmo verdade, então estamos de acordo, porquê eu não gostei mesmo da dele. Eu acho que acabei ficando vermelha ou alguma coisa desse tipo para fazer Sai até dar um risinho. Ignoro o assunto como se fosse nada.

–– Foi você quem pintou tudo isso aqui? –– pergunto apontando para os quadros atrás de mim.

–– Sim –– ele responde somente e fica me olhando. –– Acho que vai demorar para você sair daqui, e enquanto isso, queria aprender a desenhar comigo?

–– Ah, tudo bem –– respondo dando de ombros, pois até que não é uma ideia tão ruim.

–– Começamos amanhã, e é bom estar preparada –– ele diz se levantando de novo e vestindo a blusa de frio. Fico sem entender de novo. –– Estou falando dos seus pulsos, porquê vai doer um pouco.

–– Não precisa se preocupar quanto a isso, eu sei a hora de parar –– retruco levantando uma sobrancelha.

–– Vamos ver se sabe mesmo amanhã –– ele diz e continua na minha frente. –– É, até que você é mesmo bonitinha.

–– Sai, faça o favor de sumir daqui agora antes que eu acabe com a sua cara! –– aumento o tom de voz, tentando fazer o papel de mandona, coisa que eu ainda não sou.

Ele se aproxima ainda mais e afasto o rosto rápido, antes que seus lábios consigam alcançar uma das minhas bochechas. Sai ri indo lá para fora e eu só tenho certeza de uma coisa: não vai ser difícil ficar aqui com ele, vai ser insuportável!


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Notas finais do capítulo

FELIZ NATAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAL À TODOS VOCÊS, LEITORES QUE EU SEI QUE EXISTEM, LEITORES QUE DESISTIRAM DA FIC, LEITORES QUE LÊEM MAS NÃO COMENTAM E PRA TODO MUNDO MESMO!
Beijos para todos e até o próximo