Echo. escrita por nekokill3r


Capítulo 20
Capítulo 20.


Notas iniciais do capítulo

VEI, EU ESTAVA OLHANDO QUANTAS VIZUALIZAÇÕES A FANFIC JÁ TEVE E AO TODO TEM 253! DIO MIO, COMO ASSIM? KKKKKKKKKKKKKKKKK' Quase morri.
Aqui está o capítulo, e o outro já está sendo escrito (a cada um que termino, começarei outro). E aviso: a fanfic está perto de acabar.
Espero que gostem, boa leitura e desculpem os erros.



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A chuva não ajudou muito e desde ontem está chovendo sem parar. Sou a pessoa mais sortuda do mundo, porquê além de ter que aguentar isso, acho que vou ficar gripada em breve –– a única coisa boa em meio a isso tudo é que Naruto e Leo também estão no mesmo estado que eu. E agora cá estamos nós três sentados no sofá, com um cobertor na cabeça e morrendo de medo da chuva. Estamos sozinhos; isso mesmo, sozinhos. Jiaraya disse que ia arrumar alguma coisa sei lá aonde e nos deixou, certificando-se e nos dando a certeza de que o sol que meio que apareceu mesmo que não tivéssemos o visto, não sumiria. Que nada. E Naruto, o cara que me abraçou tão forte a madrugada toda enquanto eu tremia –– e acho que chorei um pouquinho também ––, agora estava agarrando um dos meus braços enquanto Leo fazia a mesma coisa com o outro.

Eu não mereço isso, não é possível. Tinha feito tantos planos para hoje e agora o tempo está assim... Pretendia andar com Naruto, ver os inúmeros animais e talvez até subir em uma árvore ou outra. Mas nada disso vai acontecer graças à linda e abençoada chuva.

–– Vocês acham que o vovô vai demorar muito? –– Leo pergunta mesmo que estivesse olhando para a frente e não para nós dois.

–– Não. Ele não nos deixaria sozinho por tanto tempo assim –– digo com a voz horrorosa. A gripe já está começando a atacar. –– E o que você acha, Naruto?

–– Também acho que não –– ele responde, e continua a tremer.

Olho para a janela e consigo ver uma luz branca. Droga. Em menos de dois segundos estamos gritando por causa do relâmpago, e mais ainda quando Jiraya abre a porta no mesmo instante do estalo. Ai, meu Deus! Eu quase morri do coração agora, sem brincadeiras. Ele está rindo da porta e continua a fazer isso quando coloca uma sacola cheia de livros –– eu acho –– em cima da mesa.

–– Seguinte, meus jovens: vamos ter visitas mais tarde –– ele anuncia e acho que estou com raiva...

–– Quem vai vir ver o cara mais lindo do mundo? –– Leo pergunta mexendo na sacola, e depois de um tempo a rasgando (pois pelo o que acabei de ver, não tem muita paciência), ele corre até onde Jiraya está sentado com quatro livros nas mãos. –– Obrigado, vovô! –– ele agradece sorrindo e dá um beijo na bochecha dele.

–– Já falei para parar com essas viadagens! –– Jiraya diz, e embora ele fale dessas coisas de “viadagens” e tudo o mais, é super a favor dos gays e lésbicas do mundo. Naruto, Leo e eu também. –– Então, quem vai vir é a nossa linda Karin e sua família.

Por um momento, eu achei que aquilo era mentira. Olhei para Naruto, que deu um sorriso forçado de lado e percebi que não era e que teria de olhar para a cara de Karin mais tarde. Não acredito! Faço de tudo para ficar longe de qualquer coisa ou pessoa que me lembre da escola, e quando isso começa a dar certo, uma garota que já tentou me matar vem e estraga tudo. Oh, Deus, será que ela sabe que estou aqui? E como vai ser a reação dela quando me ver? Com certeza vai avisar para Hinata, ou para Shion. Aquelas três nunca se desgrudam uma da outra, e todas as vezes que as via tinha a impressão de que escondiam algum segredo. Tenho que descobrir um milhão de coisas, mas se me sobrar tempo, cuidarei disso.

–– Porquê você não me disse que ela também estaria aqui? –– pergunto para Naruto depois de um tempo.

–– Porquê eu não sabia que ela viria para cá –– ele responde, e estou com tanta raiva que coloco o cobertor na cabeça e subo para o quarto.

Ninguém tem permissão para entrar nesse quarto se Jiraya não a der, já que fomos obrigados a nos “acomodar” na sala. Abro, não com muito cuidado, a porta e me jogo na cama. Queria estar em casa agora, mas ao mesmo tempo quero estar aqui. Não sei como posso ser uma pessoa tão confusa desse jeito... De repente, sinto vontade de falar com o meu pai. Mesmo com um certo medo de ligar para ele e um raio cair em cima de mim por causa da eletrecidade –– mamãe disse que não podemos ficar pegando celulares em épocas de chuva ou todo mundo sai “frito”, em todos os sentidos –– e espero ele antender.

Aí é que vem a surpresa: ele não atende. Ligo umas quatro ou quatorze vezes, todas seguidas e em nenhuma ele atendeu. Que estranho. Vendo que não daria mesmo certo, deixei um recado meio estúpido.

–– Oi, pai. Eu não sei porquê você não fala mais comigo ou me abraça, mas quero que saiba que isso está me deixando maluca. Gosto de quando me abraça, e quando diz que me ama. De verdade. E odeio você desse jeito, emburrado como a mamãe. Não faz isso comigo, tá? Dói muito ver você desse jeito, tão distante. Mas liguei apenas para te dizer que... –– hesito no mesmo instante; normal. –– Que... Eu amo você. E que também estou com saudades. Tchau –– Desligo. Espero que ele ouça e pense sobre o que anda fazendo comigo, ou assim eu espero...

Passo metade do dia olhando para a chuva da janela, e vi a banda dos garotos de ontem irem embora todos molhados. Sinto por eles, mas a vontade de rir acaba se tornando maior. Também olhei para o meu celular a cada um segundo, porém o meu pai ou não ouviu a mensagem ou não quis ouvir ou, o que é mais provável, ouviu e não respondeu por pura maldade. Lá pelas 15:00 da tarde, Leo berra meu nome e digo para ele entrar. Ele avisa que poderíamos sair agora e eu confirmei com a cabeça embora não estivesse com tanta vontade como antes. Troco de roupa, colocando uma calça, um tênis –– que por sorte está todo sujo ––, duas blusas de frio, faço um coque desajeitado no cabelo e desço. Naruto está lá, sorrindo para mim e diz aquilo que parece ter prazer em repetir:

–– Você é linda.

–– Hum. Valeu –– digo somente andando até onde Leo estava. Este garoto não sente frio, pois está sem camisa e mesmo que eu esteja com duas, ainda continuo tremendo.

Quando saímos, a coisa entre eu e Naruto fica estranha. Ele está olhando o tempo todo para mim, mas me recuso a fazer o mesmo. Meus pensamentos estão em Karin, no meu pai e no Gaara –– vou ligar para ele ainda hoje –– e não nele. Mais caminhada e chegamos ao curral, lugar onde Leo chama de “lar” porquê passa o maior tempo aqui dentro. Não sei como ele aguenta, pois quando dei uma olhada por ali, meu estômago embrulhou completamente. Ele disse que precisava de ajuda para ordenhar mais duas vacas, então eu e Naruto saímos correndo antes que acabasse sobrando para nós.

Ele tinha pegado um guarda-chuva em algum lugar que eu não sei onde e começamos a andar. Nos primeiros passos, me recusei a ficar tão perto dele já que a minha segunda blusa tem um capuz e eu o coloquei, mas a chuva começou a ficar um pouco forte e tive que segurar em seu braço como as moças de antigamente faziam –– consegui até encostar minha cabeça em seu ombro, e ele nem reclamou.

–– Sabe, eu estou feliz por você ter vindo –– ele diz, parando do nada. Fico em silêncio, porquê não sei o que devo falar. –– Não quero que fique com raiva comigo pela coisa com Karin, eu realmente não sabia que ela viria. E se soubesse, daria um jeito de deixar ela lá em Konoha. Eu queria te contar uma coisa.

Meu coração acelerou.

–– Pode falar.

–– Eu... –– Ele olhou para mim, arrumando o meu capuz e sorriu. –– Eu estou mal de novo, pequena.

Parte de mim ficou triste depois de ouvir isso, e a outra parte está preocupada e ao mesmo tempo desesperada. Imagens dos últimos momentos que tenho tido junto com ele surgem na minha cabeça do nada, e então percebo que em todos, ele está usando blusa de frio.

–– Como assim? –– pergunto tentando não expressar nada, o que está sendo bastante difícil. –– Desde quando?

–– Um pouco depois que começou a namorar com o Kiba –– ele responde e minha respiração falha por alguns segundos. Acho que sabe a pergunta que eu pretendia fazer se conseguisse encontrar a minha voz novamente, pois diz: –– Não contei nada porquê não queria que se preocupasse, ainda mais com um namorado.

–– E vem guardando tudo só para si por causa disso?! –– pergunto novamente, mas dessa vez um pouco impaciente.

–– Ah, me desculpe, Sakura –– ele pede e balanço a cabeça negativamente sem querer. Naruto abaixa os olhos. –– Fui um idiota.

–– Não foi não! –– digo agora desesperada.

–– Eu fui um idiota –– ele diz me olhando de novo. –– Eu fui um idiota, eu fui um idiota...

E não para de falar isso até que eu o abraço forte, por não aguentar ouvir ele dizendo tais coisas como essas. Ele não foi um idiota, com certeza não, apenas guardou o sofrimento para si para me livrar da preocupação, o que embora tenha me deixado com um pouco de raiva. Não gosto que as pessoas mintam para mim mesmo que eu faça isso quase o tempo todo, e uma das pessoas que mais odeio quando esconde seus sentimentos, é o Naruto –– e depois o Gaara; sei que tenho o deixado muito como segunda opção, mas não consigo pensar em um jeito de mudar isso...

Naruto chora com o queixo encostado no meu ombro e não falo nada. Minha preocupação agora está totalmente nele, e em quantos cortes ele já deve ter feito. Não vou falar também sobre isso, não por enquanto. Talvez, de madrugada, ele se abra comigo... Acho isso um pouco difícil agora. E também tem Leo, que na maior parte das vezes finge estar dormindo apenas para ouvir o que nós dois estamos conversando –– creio que isso deva mudar em breve já que a ruiva de ontem (que agora sabemos que se chama Lavínia) pegou seu número do celular e liga quase a todo segundo; Leo disse que ela é uma garota legal, mas que não gosta de ler, o que atrapalha qualquer chance de algum dia os dois virarem “namorados”, como ele mesmo explicou para a gente.

–– Melhor? –– pergunto quando vejo seu rosto novamente e fico triste por ver aqueles olhos que costumam ser sempre alegres agora tão vermelhos.

–– Sim. Principalmente porquê sei que está aqui –– ele responde e acabo rindo. Ele faz a mesma coisa e essa risada sai de um jeito tão... forçado.

–– Eu odeio vocês dois! –– Ouvimos a voz de Leo e nos viramos. No mesmo segundo, eu tenho que tapar a boca com as mãos para evitar a risada; ele estava todo sujo de lama, feses de animais e tudo o que podia se imaginar ter em uma fazenda. O que salvou foi apenas seu rosto, porquê o resto não há lugar para colocar um dedo.

Na hora de ir embora, ele têm a ideia magnífica de tomar banho na chuva, mas acontece que agora não está mais caindo nenhum pingo sequer. Então Leo se senta no chão cruzando os braços, berrando que não sairia dali até que chovesse. Eu e Naruto concordamos e depois de alguns passos, o ouvimos implorando para que nós voltássemos. No meio do caminho, Lavínia ligou e ele apenas respondia com “Uhum”, “Sei”, “Não”, “Tá bom, então”, “Sim, senhora”, “Até mais”. Estou começando a achar que Leo não quer mais conversar com ela, mas isso é apenas pelos pequenos problemas que ele acha que não podem dar certo: aquela coisa de ela não gostar de livros, ela não gostar de cachorrinhos –– fato que até eu achei um absurdo, pois pensava que era impossível encontrar no mundo uma pessoa que não gostasse de bichinhos tão lindos –– e, principalmente, ela não ter ideia de quem foi Leonardo da Vinci. Eu não entendo; não entendo porquê Leo odiava o nome até eu tocar no do artista e do nada ele começou a escrever o próprio nome como um idiota por toda a casa, não sei qual o objetivo disso ainda.

“Em casa” deixamos Leo tomar banho primeiro –– ninguém deixou realmente, nós é que o empurramos para dentro do banheiro pelo cheiro estar se tornando insuportável, e ele entrou lá desse jeito mesmo, com roupa e tudo. Minha preocupação era em Karin. Deus do céu, se ela falar que estou aqui para Hinata, então quando eu voltar para a escola ela vai acabar comigo. Não quero a ajuda do Naruto dessa vez, pois vejo que ele não está conseguindo nem ajudar a si mesmo e meio que me sinto muito, mais muito idiota mesmo por não ter percebido nada. Ainda não acredito que ele ficou esse tempo todo desse jeito e eu achei que ele estava feliz da vida... Bem, pelo menos naquele baile que teve na escola –– maldito baile, na verdade ––, ele me parecia muito feliz da vida. Me lembro do que Gaara disse, sobre ele ser profissional em parecer estar bem e tenho que concordar com ele. Paro com esses pensamentos e pego meu celular, ligando para o meu atual namorado e morrendo de medo do que ele vai falar –– sinto que ele quer dessa vez me dar um tiro, de verdade.

–– Oi? –– Gaara pergunta do outro lado, e não parece estar triste ou algo assim.

–– Sou eu –– digo insegura de que isso fosse dar certo; eu tentar o animar, pois a “namorada super-ausente” estava de volta.

–– Eu sei –– ele responde apenas, e ficamos em silêncio.

Não sei o que dizer agora. Acho que seria mais fácil e simples se eu ficasse mesmo calada, já que fiz a injustiça de ficar tanto tempo sem falar com ele desse jeito.

–– Por favor, não fique calado –– peço e Gaara parece perceber que sou eu mesmo quem está falando.

–– E quer que eu diga o quê? –– ele pergunta impaciente.

–– Não sei, mas qualquer coisa é melhor do que o seu silêncio –– respondo fazendo o papel nada convincente da namorada desesperada e preocupada.

–– Já que me permite: fiquei desde que foi embora escrevendo um monte de estórias para você, para quando fosse para a clínica. Fiquei também esperando que me ligasse, dizendo que tinha chegado bem e estava tudo okay –– ele diz e sua voz vai aumentando aos poucos até se transformar em um grito. –– Você se esqueceu de tudo!

Estou me sentindo muito culpada, quero pedir mil desculpas para ele, mas continuo o ouvindo gritar comigo. Depois de um tempo, Gaara fica calado e tudo o que ouço é sua respiração. Aproveito a chance para falar, ou pelo menos, tentar.

–– E o que você quer que eu faça, meu amor? –– pergunto falando o apelido que ele mais adora ser chamado, achando que assim a coisa vai melhorar.

–– Não prometa coisas se não vai cumprir depois, Sakura. –– E desliga no mesmo segundo, não me dando oportunidade de tentar o chamar de volta.

Fico olhando para a frente, ainda com o celular no ouvido, não acreditando que ele disse tudo isso mesmo e depois não me deixou explicar. Tudo o que eu me pergunto é: “e agora?” Fico me perguntando isso até que chega a minha vez de tomar banho, onde acabo chorando em silêncio por ter mentido para Gaara e imagino as estórias que ele deve ter escrito para mim.

E aqui estamos eu, Naruto e Leo novamente sentados no sofá esperando por Karin e sua família. Espero que eles não sejam tão ruins como ela. São quase 20:00 quando chegam, e a minha respiração meio que para quando Karin me conhece de longe. Naruto me dá um empurrãozinho de leve por trás, mas não olha para mim como eu fiz agora.

–– Soube que você estava de namorada nova... –– o pai dela, eu acho, diz olhando desconfiando para nós dois. Rimos ao mesmo tempo nos esquecendo de negar. –– Você viu, amor? Ela ficou vermelha, que gracinha!

–– Não somos namorados! –– digo ainda sorrindo.

O pai de Karin se aproxima de mim como Leo fez da primeira vez que nos vimos, e para a minha surpresa e ao mesmo tempo desespero, ele me beija bem na boca. Eu fiquei totalmente congelada e não consegui entender o porquê de todo mundo estar rindo quando ele se afasta.

–– É melhor ir se acostumando –– Leo diz e vejo a mãe o beijando logo em seguida.

Só depois de um tempo, eu entendo que os pais de Karin são hippies e acreditam que uma longa amizade ou um amor começa pelo toque –– em todos os sentidos, principalmente o beijo ––, por isso o razão disso. É um pouco estranho, mas prefiro não comentar nada. A mãe se aproxima de mim e confesso que fico um pouco mais nervosa, afinal ela é uma mulher. Meu Deus, se os meus pais souberem que eu beijei uma mulher que deve ser mais de 17 anos mais velha que eu, estarei muito ferrada. E o tal do beijo tem que ser por toda a família, o que inclui Karin. Ela se aproxima de mim, porém não faz nada além de ficar me olhando.

–– Oi, Sakura –– ela cumprimenta com um sorrisinho de lado.

–– Você já conhecia ela? –– o pai pergunta gritando embora eles estejam muito perto.

–– Sim, pai. Estudamos na mesma escola e digamos que... Somos um pouco amigas –– Karin finge que vai me beijar, mas na verdade ela passa para Leo, depois Naruto e eu dou graças em silêncio por isso.

Nos sentamos todos na mesa e fico chateada por não poder ter ficado ao lado do Naruto ou do Leo, porquê agora acabei ficando no meio dos pais –– que estavam dizendo que meu cabelo ficaria “incrívelzisissimo” se algum dia eu pensasse em fazer um rastafári; não é uma má ideia, e eu acho muito lindo quem faz...

–– Então! –– Jiaraya exclama batendo a mão na mesa, o que assusta todo mundo. –– Olhe quem, infelizmente, acabou conseguindo arrumar tempo e vir para cá. –– Ele aponta para Leo, que fica um pouco sem jeito.

–– Só arrumei tempo e vim para que você não morresse de saudades, vovô –– ele retruca rindo, mas está olhando para os pais de Karin. –– Onde estão os meus livros desse ano, seus ingratos?

–– Oh, os livros! –– a mãe lamenta batendo de leve a mão na testa. –– Nos perdoe, queridíssimo Leo... Acabamos esquecendo... Mas a culpa é da Karin!

–– Como assim, minha? –– Ela parece surpresa, ou finge muito bem.

–– Falamos para você mil vezes para pegar aqueles dez livros em cima do piano e você não fez isso –– o pai grita de novo e sinto uma vontade absurda de perguntar o porquê de os dois ficarem gritando com ela desse jeito.

–– Enfim, não importa. Vou no banheiro –– Karin se levanta e consigo ver ela pegar o celular antes de subir as escadas.

–– Dez livros? Não acredito... –– Leo lamenta dessa vez e tenho a impressão de que está perto de chorar. Ele realmente ama mais livros do que qualquer outra coisa no mundo.

Olho para Naruto desesperada, porquê tanto eu quanto ele sabemos que Karin vai ligar para Hinata ou Shion. Percebendo esse desespero e necessidade de ajuda, ele também se levanta e diz que vai fazer alguma coisa que eu não entendi na cozinha –– mas a mentira até que foi boa, já que os pais acreditaram. Leo os distrai quando percebe para onde estamos indo e os dois não percebem quando desviamos o caminho.

–– Escuta: Karin é um pouco surda, por isso você ouviu o pai dela gritando daquele jeito. Ela sempre coloca o celular no viva-voz, então vai dar para você ouvir tudo perfeitamente, porquê ela também tem a mania de aumentar as coisas no último volume. O seu desafio agora só vai ser achá-la –– ele diz e não falo nada enquanto isso.

–– Tá –– concordo somente, me virando e ele puxa o meu braço de leve. –– O que foi?

–– Ah, nada. Mas vai logo –– ele avisa meio desespero e concordo com a cabeça novamente, iluminando o lugar com a lanterna que antes eu achava ser inútil do meu celular.

A coisa está tão horrível que a todo segundo parece que alguém está atrás de mim, e me viro no mesmo segundo, me deparando com nada. Não sei se isso é só o meu desespero ou têm alguma pessoa assombrando por aqui, mas só espero que ela me ajude a encontrar Karin de uma vez. Ouço a voz dela não muito longe, dentro de um quarto que me parece estar trancado. Ela está gritando embora pareça querer falar mais baixo, e para a minha surpresa com quem está falando é Shion, e não Hinata.

–– Você soube que a Hinata fez a Sakura se suicidar, não é? Sinceramente, Karin, porquê você ainda anda com essa garota?! –– Shion pergunta e parece que todos nós estamos desesperados.

–– E você é bem engraçada, Shion. Quando chegou naquela escola, não tinha nenhuma amiga e ficou toda felizinha quando Hina falou com você e olhe agora, fica aí me perguntando porquê eu ainda ando com ela. E quer saber porquê mesmo? Porquê ela é minha melhor amiga, totalmente diferente de você –– Karin responde gritando e estou tentando fazer o mínimo de barulho possível até com a minha respiração. –– E você, porquê está tão preocupada em relação à Hina desde que aquela garota tentou se matar?

–– Nós fizemos ela sofrer, muito. Estou preocupada porquê também já sofri com isso, você sabe, e eu não queria ter sido tão dura com ela como fui. Pelo contrário, eu quis fazer a Hinata parar no mesmo instante em que ela começou, mas não fiz nada, apenas vi aquela garota sofrer –– ela responde e junto as sobrancelhas em dúvida. Será que eu estou muito mal dos ouvidos ou ela acabou de dizer que queria me ajudar?

–– Você é mesmo falsa e inútil, hein? –– Karin dá uma risada e tenho que me controlar para não entrar no quarto e dar uns bons tapas nela.

–– Posso ser até inútil, mas falsa não –– Shion agora parece estar chorando. –– Quando você fez aquela covardia de cortar o cabelo daquela pobre garota, Ino, eu te apoiei e manti a minha palavra de não contar para ninguém, e você ainda tem coragem de me chamar de falsa? Eu confiei em você, Karin.

Tenho que parar de ouvir por um segundo antes de entender que é mesmo a Ino que se dizia minha amiga e depois fez tudo aquilo comigo. Deus do céu, eu sinto por ela, de verdade. A única coisa que Ino dizia amar mais que o pai era o próprio cabelo, aquele que eu tinha uma inveja infinita... Mas agora me pergunto se ela estava de peruca naquela vez que a encontrei no ônibus –– provavelmente, estava. Quando volto a ouvir, não é mais Shion e sim o maior pesadelo da minha vida.

–– ... bem, Hina, me desculpe se ela é falsa daquele jeito –– Karin diz e parece estar com medo.

–– Não quero saber disso, idiota. Quero saber mesmo é se ela vai contar para alguém a porcaria que você fez com a Ino –– Hinata retruca. Ela é totalmente diferente com as “amigas” quando está longe da escola como agora.

–– Eu fiz? Mas foi você quem mandou... –– A voz de Karin está com um tom de quem vai chorar em breve.

–– Exatamente, eu mandei você fazer, não contar para a Shion. Se alguém descobrir que fui eu, então você pode se preparar para ficar cega –– Hinata ameaça e fico de boca aberta com isso. –– Mas, enfim, você sabe aonde aquela outra idiota da Sakura se meteu?

Por um minuto inteiro, eu acho, Karin ficou em silêncio. Ela tinha todas as oportunidades de me ferrar de vez e dizer onde eu tinha me “metido”, mas não fez isso.

Não houve som algum além de um celular sendo jogado no chão junto com um grito de raiva. Ouço passos vindos do andar de baixo e saio correndo, não acreditando no que Karin acabou de fazer.

Ela me protegeu.


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