Não me peçam para falar sobre a conversa, pois não estava presente (sim aparentemente era tão particular que nem a pessoa em questão poderia participar), e ainda mais fui obrigado a ir a cavalo porque todas as carruagens estavam cheias e única com vagas, digamos que não era um bom lugar para eu ir (carruagem de Tifão em questão).

Resumindo, viagem longa, chata e solitária, porem foi o melhor momento para absorver tudo que havia acontecido no ultimo dia: a morte do meu mestre, a destruição da minha antiga vila, o retorno dos demônios, a ascensão de uma perigosa criatura e perguntas sobre meu passado e o que exatamente eu sou.

Aquela estranha reação que ocorreu quando Mike segurou meu braço me dava uma impressão de ser totalmente diferente de um mestiço/hibrido de lagarto ou réptil como eu era chamado por algumas pessoas de minha antiga vila quando criança.

“- Criança réptil, aberração, lagarto humano.”

Essas palavras ressoavam em minha mente sempre que eu me lembrava de minha infância ou da minha vila. Nunca fui muito apegado às pessoas daquele lugar, porem me sentia mal ao saber que fora tudo destruído sem que eu pudesse fazer absolutamente nada para ajudar.

– Enfim, Chegamos. – Anunciou um dos condutores da caravana que nos guiavam para o local da reunião global: “o Reino Humano”.

Aquelas palavras me tiraram dos meus pensamentos de volta para a realidade, mas ainda pensei que estivesse sonhando quando avistei aquela cidade.

Era uma cidade linda, um reino aparentemente prospera e abundante. Casas grandes e bem construídas, com tijolos e blocos grandes de calcário, pessoas alegres e saudáveis. Seria um bom lugar para se viver ainda mais com a variedade de espécies vivas, mesmo sendo uma capital humana se você prestasse um pouco de atenção veria alguns elfos e abissais, não sei dizer ao certo sobre os rúnicos pelo fato de poderem assumir uma forma humana, mas tinha uma boa variedade de espécies por lá.

– Mas como sempre, os mestiços são vistos como aberrações e maus olhos. – Disse Alex vindo em minha direção. – Não é mesmo? – Continuou oferecendo um sorriso amistoso.

– Que seja, só acho idiotice pensar dessa maneira, muitos não nasceram assim porque quiseram isso para suas vidas. Acho que isso deveria ser levado em mais consideração. – Respondi e peguei minhas coisas para que pudéssemos nos dirigir ao castelo real.

– Ele aparentemente não é uma pessoa de fácil conversa não é mesmo? – Dizia Isabela para Mike e Elizabeth.

– Não sei dizer ao certo, conhecemos ele há pouco tempo, talvez ele só não consiga se comunicar abertamente com estranhos. – Elizabeth respondeu.

Eles pareciam bastante centrados na conversa, por isso iria seguir direto para o castelo, quando Mike me viu e me chamou. Acenei tentando avisar que iria direto porem ele insistiu e tive que ir até lá.

– Então Ren, poderia nos falar algo sobre você? – Perguntou com uma expressão seria no rosto. – Tem alguma ideia ou noção que tenha alguma ligação com a nobreza humana?

– Mike!! – Repreendeu Isabela. – Não jogue perguntar assim para ele, isso pode gerar um mal entendido.

– Idiota... – Elizabeth murmurou.

– É... Desculpe o que? Nobreza humana? Ein? – Estava ficando desnorteado com o rumo da discussão e a pergunta de Mike.

– Nada, esqueça não é nada especifico apenas uma suposição, mas como não sabe deve ser outra coisa. – Isabela tentou desconversar e eu resolvi deixar isso de lado. – Vamos entrando? Tenho que lhes apresentar uma pessoa. – E ela seguiu o caminho oferecendo um olhar feroz para Mike que foi seguido por um de Elizabeth enquanto ambas seguiam em frente.

Mike não parecia feliz com aquelas encaradas e quando tentei perguntar o porquê da pergunta ele só disse uma palavra “depois”.

Após isso os segui até a entrada do castelo onde se podia avistar uma pessoa com um manto preto cobrindo da cabeça até os pés (parecia mais um dementador com aquela roupa). Isabela acenou para ela e correu em sua direção.

Quando chegamos perto ela tirou o capuz mostrando o rosto e se mostrando ser uma garota de cabelos longos escuros, pele aparentemente pálida e lábios rosados, mas ela possuía feições feéricas, um rosto belo e uma aura atrativa.

– Está é Vanessa Steel a elfa representante, e ela quem irá acolher Tod e Sue em uma colônia que ela ajuda aqui perto. – Disse Isabela empolgada.

– o-Olá, sou Vanessa espero não ter problema ao ajuda-las. – Disse a garota.

– Agora que vocês falaram, não as vejo por perto. – Notei. – Onde estão?

– é mesmo, onde elas estão? – Disse Elizabeth. – Também faz tempo que não vejo Tifão nem Alex.

– Droga, se um deles fez alguma coisa contra elas... – Começou Isabela, mas não terminei de escutar e corri para procura-las pela cidade.

Havia procurado de vistas altas, e por cima de uma grande parte da muralha que a cidade possuía para evitar a invasão de monstros (que por sinal não havia visto nenhum no caminho, o que era estranho). Até que notei uma multidão eufórica e barulhenta e fui investigar.

– Estão vendo estas duas mestiças? O que acham que devemos fazer? Mata-las ou tortura-las? – Dizia uma voz masculina grave e aparentemente embriagada.

Porem ninguém respondia e muitas pessoas até pareciam aterrorizadas, mas ninguém se movia do lugar e outros até riam com a situação, o que fez meu corpo arder em fúria.

Não sei exatamente como elas foram parar lá, mas aquilo já era demais, principalmente com aquele homem que parecia ser da guarda e tinha uma espada em punho direcionada a Tod.

– Se bem que elas não são de se jogar fora até. – Ele disse se dirigindo a um provável companheiro da guarda que o acompanhava.

– Que tal cada um ficar com uma delas? – o outro sugeriu.

– Ótima ideia, por que não? Ninguém vai se importar mesmo. – Quando finalmente cheguei perto o suficiente para vê-los, observei que eram realmente da guarda, com armaduras de ferro e espadas de ferro com o símbolo da guarda humana, mas a qualidade da armadura sugeria que eles não eram de tão importância hierárquica. Ambos eram altos, porem um era mais encorpado que o outro, e ambos possuíam algumas cicatrizes de batalhas.

– AH, vamos ver como são os corpos delas. Que tal? Depois decidimos o que faremos. – Sugeriu o comparsa.

– Ótima ideia cara fica feliz que esteja aqui. – disse em meio a gargalhadas direcionando a mão a camisa de Sue. O que me fez avançar, pois não podia mais observar aquela cena e segurei a mão dele com força.

– Não, eu que fico feliz por me dar motivos para descontar minha raiva em vocês. – Falei apertando mais o pulso do cara o suficiente para quebra-lo o que o fez gritar.

– Quem é você?!? Mostre o rosto! – ele gritava, pois estava com o rosto coberto por um manto por sugestão de Isabela. Mas antes que eu pudesse fazer o que ele sugeriu alguem gritou na multidão.

– PAREM!!!! – E quando prestei atenção percebi que eram Isabela e Vanessa juntas de Mike e Elizabeth. – Que palhaçada é essa que está acontecendo aqui? Quem deu permissão de atormentar os convidados para a reunião. Vamos todos nos acalmar e terminar com esse teatro aqui. – Disse ela notando as expressões aterrorizadas de Tod, Sue com a mão em sua adaga e principalmente para mim que segurava o braço daquele guarda totalmente em fúria.

– Convidados? Não me faça rir, como elas podem sequer ser convidadas a entrar neste país. – Disse o segundo guarda embriagado. O que me irritou ainda mais.

– HAHA – Ri sem achar graça. – Como podem dois guardas que deveriam proteger as pessoas fazer uma estupidez essa. EIN?!?! – E nesse momento minhas mãos se acenderam em chamas prata-azuladas o que me surpreendeu e me fez recuar enquanto o guarda gritava em desespero.

O guarda ficou tão desesperado que começou a rolar no chão até o fogo se extinguir e ele desmaiar.

– o-o-o que está acontecendo aqui? – Disse o segundo guarda assustado enquanto corria para longe.

– O que aconteceu aqui? – disse Vanessa assustada enquanto me encarava.

– De toda forma, desculpem o transtorno aqui. Principalmente para as duas. – Disse Isabela estendendo a mão para Tod e Sue. – Vamos? Vou leva-las para um lugar seguro.

– O-obrigada. – Disse Tod gaguejando enquanto Sue assentia.

– E você. – Disse Mike apontando para mim. – Vê se consegue se acalmar antes da reunião, pois eles irão mata-lo se sentirem uma hostilidade.

Depois daquela confusão toda recusei ir direto para o castelo real, tendo como desculpa observar mais a cidade para poder me acalmar. E acabei parando em um local isolado em cima das muralhas.

– Novamente esse fogo? O que exatamente eu sou? – Dizia enquanto olhava as nuvens passarem.

– Quer saber mais sobre o seu passado? – disse uma voz que me fez pular e procurar de onde vinha aquela voz. – Não sabe o que é? Deixe-me ajuda-lo com isso.

– Quem é? Mostre-se!! – Falei enquanto procurava. Quando uma imagem tremeluziu e apareceu um homem em minha frente, porém só a silhueta sem mostra exatamente quem era, como se fosse um espelho refletindo um local escuro. – Mostre-se!!!

– Acalme-se minha criança, ainda não é o momento, logo você descobrirá a verdade sobre você, mas primeiro deve descobrir a verdade deste reino. Traições, ganancias e mortes fazem sempre parte da historia, mais neste lugar que em qualquer outro. – Dizia a voz como se apreciasse cada palavra. – Mas agora não é o momento correto, a reunião está prestes a começar e preciso que você entenda toda a situação antes de vir até mim criança.

E então com isso a imagem tremeluziu mais uma vez e se “quebrou” a minha frente. Me deixando a sós com mais e mais perguntar enquanto o sino tocava anunciando o inicio da reunião.