Assim que Zykes e o “homem misterioso” fora embora, tivemos um momento de descanso. Finalmente tive tempo para colocar as ideias no lugar, mas ainda assim não conseguia entender o que o mundo estava virando.

A volta dos demônios, uma ameaça que poderia destruir o mundo, aquele homem estranho que conseguiu subjugar facilmente Zykes, e aquela sensação que tive quando Mike segurou meu braço e as escamas de dragão se sobressaltaram.

– O que diabos está acontecendo? - Mike falou em meio ao silencio. – O que porcaria aconteceu aqui? Ele vem, acaba com tudo, se mostra e depois foge? – Dizia frustrado, mas pensativo, provavelmente, assim como eu, tentando entender o que exatamente estava acontecendo e devo dizer que não parecia muito a cara dele.

– Mike, você sentiu a força dele, todos vimos a diferença de forças, deveríamos estar feliz por ninguém estar morto, e que saímos ilesos sem nenhuma baixa. – Elizabeth tentava anima-lo, mas não parecia dar muito certo.

Tod e Sue conversavam afastadas, mas não era uma linguagem que eu pudesse entender, elas não parecem ter tido muito contato com civilização humana e por isso não conseguem se comunicar facilmente conosco.

E como sempre, posso apenas observar a situação, não sou do tipo de pessoa que toma a frente em algo, e sempre fiquei muito afastada das outras pessoas, mesmo quando criança. E não sou do tipo que interage facilmente com outras pessoas.

Antes que pudesse notar algo, cornetas soaram e uma cavalaria vinha em nossa direção. Mike e Elizabeth logo se levantaram e ficaram encarando a cavalaria com uma postura mais formal. Tod e Sue se recolheram e tentaram se esconder em um local próximo, enquanto acenavam tentando me atrair para o local, mas não liguei e continuei imóvel encarando o céu.

Logo os cavalos chegaram, seis para ser mais exato, trazendo humanos e os tais abissais (tritões/sereias), que seriam humanos mas tinham algumas características que os diferenciavam facilmente dos humanos, mas eram diferenças pequenas que me foram ensinadas desde cedo, como a pele que parecia mais úmida que a de um humano, parecia sempre umedecida, feições desconfortáveis como se estivessem incomodados com a atmosfera e cabelos tão sedosos que chega a dar agonia (pelo menos para mim).

Com isso vieram três humanos e três abissais, entre eles havia uma garota loira, de óculos, aproximadamente 1,70 m, olhos verdes e usava roupas da mesma cor que seus olhos e trazia um arco empunhado. Havia um garoto com cabelos curtos e escuros, aproximadamente da altura de Mike e possuía um ar de nobreza e me parecia um pouco esnobe, trajava roupas da nobreza, um manto branco com traços dourados e trazia um tridente, assim como o terceiro garoto que parecia mais “relaxado”, diferentemente dos outros ele vestia roupas mais informais, casaco branco com capuz sobre a cabeça, uma calça preta e um tênis comum, como se não se importante com sua aparente posição de prestigio.

– Olá a todos meu nome é Isabela Sorioto, estes são Tifão Whispering e Alex Maxssuel. – Disse Enquanto se aproximava de nós. – Prazer em reencontra-los Mike e Elizabeth.

– Não vamos relembra o passado agora, vamos direto ao assunto. – Disse o cara de rouba nobre, aparentemente se chamava Tifão.

– Qual seria? Os demônios? Por que não estou surpreso com sua atitude Tifão? – Retrucou Mike, como se cada palavra que ele dissesse fosse um espinho que ele cuspia.

– Olá Isabela, oi Alex e você também Tifão. – Disse Elizabeth fazendo sinal para Mike se acalmar. – Estamos muito cansados será que não é melhor conversamos sobre isso no caminho para a reunião?

– Ok, ok. Estão todos ocupados e tem seus assuntos para tratar, irei seguir meu caminho. – Disse me levantando e percebendo que ninguém nem sequer olhava em minha direção. – Agradeço o fato de me ignorarem e usarei isso como oportunidade de sair. – Falei baixo esperando que ninguém notasse nada, mas quando fui saindo.

– Espere ai mesmo rapaz. – Disse um dos três guardas que vieram juntos deles. – Quem exatamente é você?

E foi nesse momento que todos olharam em minha direção e finalmente perceberam que eu ainda estava por perto.

– Não vejo necessidades de responder a essa pergunta. Agora se me der licença irei seguir meu caminho. – Continuei indo em direção a minha mochila que estava no chão um pouco distante quando uma rajada de agua me atingiu jogando-me ao chão e logo em seguia uma rede me cobria.

– Vejo que é rude o bastante para não se apresentar depois que nós nos apresentamos. Se você pensa que isso é um comportamento que será deixado de lado está enganado. – Disse Tifão.

– De fato não é um comportamento exemplar, mas não acho que uma rajada daquelas era realmente necessária se levar em conta que joguei minha rede para evitar que saísse dessa forma. – Indagou Alex que agora tirava seu capuz e se expressava pela primeira vez.

– Muito engraçado isso. – Ri sem achar graça. – Se realmente acham que ficarei aqui esperando vocês decidirem o que fazer comigo estão muito enganados. – No mesmo momento saquei minha Ninjaken, cortei a rede e me livrei daquilo.

No mesmo momento Alex e Tifão se puseram em guarda e Isabela armou seu arco e mirou uma flecha em minha direção, porem foram impedidos por Mike.

– Infelizmente não posso deixar que o matem, ele foi de grande ajuda na luta contra os demônios e devo informar que ele é o aparente único sobrevivente dessa vila por isso seu relatório é importante. – Mike dizia sem qualquer resquício de boa vontade e apontando para onde Tod e Sue estavam. - Assim como o delas.

– Mestiços? O que essas criaturas inferiores fazem aqui? E porque ainda estão vivas e andando livremente por aqui? – Disse Tifão.

Nesse mesmo momento Tod e Sue se encolheram atrás de uma parede de uma casa em ruinas, e pude perceber que Mike cerrava os punhos.

– Tente repetir isso na minha frente. – Falei nervoso e não tentando nem um pouco me controlar. – Apenas tente. – Ameacei-o.

Tifão me encarou e se sentindo desafiado abriu a boca na intenção de repetir, mas foi tarde demais para perceber seu erro, quando ele foi começar a pronunciar avancei em sua direção e pus minha espada em sua garganta.

– Se falar mais alguma palavra, quero ver tentar repetir sem o seu pescoço. – Falei enquanto pressionava minha lamina em sua garganta. – Se mais alguem pronunciar alguma coisa sobre os mestiços não irei mais me segurar.

Nesse momento os três guardas vieram em minha direção com as armas em punho. Não pensei em nada e simplesmente me movi na direção deles desarmando-os e após um tempo observando a expressão de surpresa de todos guardei minha espada e recuei.

– Ren, acalme-se. Eles não são pessoas que você quer como inimigas. Cada um deles é um representante de seu devido reino e por isso eles têm bastante influencia. – Explicou Elizabeth tentando me convencer a me acalmar.

– Já não me importo muito com essas coisas politicas, todas as pessoas que um dia fizeram parte de minha vida estão mortas junto dessa cidade. Não há mais nada que eu queria proteger e me importe o suficiente para me impedir de matar um idiota como ele. – Retruquei colocando a mão na minha espada novamente. – Entretanto, irei acompanha-los para a reunião com uma condição. Que Tod e Sue sejam levadas até a cidade para que possam ficar em segurança.

– Além de me atacar ele ainda quer que realizemos seus caprichos? – Disse Tifão em arrogância.

– Cara, se acalma você não está em boas condições no momento, e esse pedido é um tanto quanto difícil de garantir. – Afirmou Alex com um tom mais reverente.

– Não precisam se preocupar, eu irei leva-las e as colocarei sob a guarda de uma amiga minha, não precisa se preocupar, já pretendíamos fazer isso mesmo antes desse escândalo todo. – Explicou Elisabeth, olhando para Mike como se esperasse que ele se manifestasse o que não o fez além de assentir com o que ela disse.

– Se é assim que será feito. – Manifestou-se Isabela. – Então não podemos fazer mais nada além de seguir em direção à reunião. Agora todos a seus postos e para suas devidas carruagens. Mas Mike e Elizabeth, eu irei com vocês para que possam me explicar melhor o que houve. Tirando que precisamos conversar sobre o seu “amigo”. – Completou e a forma que ela pronunciou a palavra “amigo” não me soou muito bem.