Eu pensei que estivesse sonhando, eu deveria estar sonhando, após tudo o que fiz, depois de todas as minhas ações egoístas, eles estavam aqui para me apoiar.

Quando saíram das sombras eu vi, Mike com suas espadas e aquele jeito de durão dele, Vanessa e aquele velho olhar de que eu fiz besteira e iria pagar por isso, Derwim com suas melodias suaves, Tifão com sua compostura real e Amaya que por algum motivo sentia falta de algo, Zackary é claro, só estavam os cinco lá, até então.

– Vocês? O que estão fazendo aqui? Como chegaram aqui? – Falei pausadamente enquanto ainda me encontrava no chão.

Mike chegou perto de mim, enquanto Zykes e Garius recuavam. Parou, analisou meu estado deprimente, e quando viu o estado da minha perna ele abriu o sorriso e fez questão de encostar só pra me ver agonizar.

– Você realmente achou que não estaria aqui pra te ver levar uma surra dessas? – Disse Mike tentando segurar sua risada, mas não sua diversão com a situação. – Há, vai finalmente admitir que precisa dos cinco guardiões da profecia ao seu lado ou não?

– Espera como você sabe disso? – Perguntei surpreso. – Isso ainda não estava decidido...

E eu calei minha voz no momento em que ele começou a balançar uma carta perto da minha cara, uma que eu havia escrito antes mesmo de sair à procura dos demônios, mas não achei que iriam achar aquilo tão rapidamente.

Era uma carta que falava sobre os cinco representantes que eu decidiria escolher, um de cada reino, todos tinham a determinação e a força para vencer o que quer que fosse proposto a eles, e era nisso que eu acreditava. E também havia deixado instruções para se necessário Zackary guia-los em meu lugar, mas aparentemente eles ignoraram tudo e por algum motivo vieram me ajudar.

– Sério? Uma carta de despedida e ir embora pra morte? Muito maduro você, Garoto Rude. – Disse Vanessa se ponto a analisar minha perna. – Temos que cuidar disso ai né? Derwin...

Derwin estava chegando mais perto e mudando um pouco do ritmo da musica que agora estava um pouco mais agitada e ritmada, aparentemente era sua musica que fazia Zykes e Garius recuarem, pois quando a mudança se tornou mais audível eles deram um pulo para trás.

– Cuidem dele, eu dou cobertura. E vê se não demoram muito, pois isso me cansa ok? – Disse Derwin se pondo entre mim e os demônios. E Gerome parecia se revirar no trono, e aquilo me agradou.

– Ren, Ren, Ren... Idiota e compulsivo como sempre ein? Pelo menos dessa vez estou do seu lado. – Disse Tifão se pondo ao lado de Derwin fazendo a proteção e levantando uma muralha de agua ao nosso redor. – Poderia esperar um pouco pro segundo ato? Rei estupido.

– Agora você me deve uma, por desloca-lo e tirá-lo do perigo, e outra por isso. – Disse Amaya segurando um kit de primeiros socorros e fazendo uma careta pra mim. – Achei que iria precisar.

Eu realmente estava feliz, por eles estarem lá, mas mesmo depois de sair e deixa-los para trás por medo de coloca-los em perigo e mesmo assim virem me ajudar, eu me sentia culpado por estar feliz, tudo ao mesmo tempo.

– Olha, vocês não deveriam estar aqui, sério, eu posso cuidar disso... – Poderiam ao menos ter esperado eu terminar, mas todos me olharam com expressões de repreensão como se todos fossem me matar ali mesmo e após parar um pouco pra pensar eu continuei. – Mas como estão aqui, poderiam, por favor, me ajudar?

As expressões se suavizaram e todos consentiram, mas também consentiram que eu deveria sofrer mais um pouquinho, então fizeram questão de que eu sentisse toda a dor durante o tratamento, despejaram agua na minha perna, agua quente que esquentaram na pequena brasa em que Zykes aqueceu sua espada, enrolaram minha perna em um pano e só depois de ver lagrimas de dor se formando em meus olhos, que resolveram enfaixar minha perna.

– Obrigado... – Foi a única palavra que conseguir emitir depois daquele bom e eficiente tratamento.

– De nada, nos esforçamos também. – Disse Vanessa com uma expressão divertida no rosto.

– E agora, vamos acabar com eles, prometi a Eli que iria vingar a nós duas. – Disse Amaya com uma determinação maluca na voz, depois de tudo ela ainda estava irritada com o fato deles terem acabado com o encontro romântico delas com Mike e Zackary, sério isso? Lembrem-me de nunca estragar nada dela.

– E que comece o segundo ato. – Disse Derwin mudando a melodia para a mesma que ele usara no dia da festa, um ritmo lento e suave, que aparentemente era para prevenir ferimentos graves.

– Segundo ato: O espancamento do rei idiota. – Disse Mike sacando suas duas espadas, e todos os outros representantes seguindo-o seu exemplo e se pondo em guarda de luta.

E pela primeira vez eu estava realmente feliz em lutar ao lado de todos daquela forma.

– Só porque chegaram mais vitimas não muda o fato de que todos irão morrer e que eu enfim verei a morte de Ren. – Disse Gerome tentando esconder a raiva pelas coisas terem saído de seu controle.

– Vamos? – Perguntei e todos consentiram, eu abri um sorriso para Gerome. – Isso realmente acaba aqui.

E então investimos, e não foi preciso muita coisa, palavras, instruções nem nada do gênero, estávamos totalmente sincronizados o que era incrível, nos dividimos em três duplas para enfrentar cada um deles.

Derwin e Tifão se encarregaram de Garius, pois ele era lutador de media distancia e aparentemente poderia usar magias, então o melhor pra combater isso eram eles, um perito em tridente que poderia lutar contra Garius e sua lança sem problemas, e Derwin que poderia rebater os feitiços com suas melodias.

Amaya e Vanessa se prontificaram contra Gerome, pois elas eram uma arcana e uma necromante, ninguém melhor para enfrentar Gerome e suas artimanhas do que elas, que conheciam magia e tinham seus próprios truques para lutar.

E por ultimo, Eu e Mike contra Zykes, nunca imaginei lutar novamente ao lado dele depois daquilo tudo, achei que aquela luta no coliseu era uma “disputa final”, mas acho que ela iria acontecer agora, investimos ao mesmo tempo, mas aparentemente era pra ver que o derrubaria primeiro.

É meio confuso prestar atenção nas batalhas dos outros enquanto luta a própria, mas de alguma forma eu conseguia ver alguns detalhes.

Primeiramente Tifão lutava igualmente com Garius, tridente contra lança, aço contra aço, ele fazia Garius recuar para a parede, e não se passou muito tempo até Garius parecer exausto, e me toquei que poderia ser graças a Derwin que poderia manipular varias coisas com suas melodias, talvez a fadiga fosse uma delas.

Não sei exatamente como, mas brotara algumas mãos dentro da barreira de Gerome e ele usava magias descontroladamente para destruí-las, e aquilo era apenas uma distração de Vanessa que de alguma forma conseguira esse feito, para que Amaya investisse furiosamente com seu florete contra a barreira com toda sua fúria envolvendo sua lamina com magia do vento.

Já eu e Mike não trabalhávamos assim tão bem, ambos investíamos ao mesmo tempo querendo derrubar Zykes que apenas conseguia se defender de nossos ataques ferozes, mas até nos mesmos tínhamos que desviar um do outro pra não ser pego desprevenido pela lamina do seu “parceiro”.

– Garius, vamos usar aquilo novamente! – Gritou Zykes no momento em que se ouviu o rachar da barreira de Gerome e seu grito de desespero.

– Não é possível! Como duas meras garotas conseguiram destruir minha barreira! – Gritava Gerome enfurecido e frustrado enquanto era imobilizado no chão por vários corpos mortificados e tinha Amaya nas proximidades apontando seu florete a ele.

Nisso Garius tentou vir para junto de Zykes, mas quando tentou levantar voou ele aparentemente se desequilibrou e caiu com tudo no chão, Zykes tentou então ir para lá, mas Mike já estava do seu lado atingindo-o com suas duas espadas banhadas em relâmpagos que quando o atingiram fez com que ele voasse para a parede e atingindo-a com força.

– Eles estão bem próximos uns dos outros, que tal uma combinação final agora? - Sugeriu Mike.

– Pode funcionar. – Falei interessado na ideia. – Por que não? Quero testar uma coisa nova também, vem comigo Mike.

Com isso conversamos rapidamente e fomos à direção do resto do grupo e os preparamos para tudo.

– Eu começo, tenho uma melodia especial para essa situação. – Disse Derwin. – Que o tempo pare e sua percepção seja e destruída. – Disse ele calmamente e então passou a tocar uma melodia grave em seu “violão”, uma música grave e pesada, quase assustadora.

Todos os três pararam de se mexer e mostraram expressões de desespero e seus olhos desfocaram como se não percebessem mais nada ao seu redor.

– Minha vez, vamos ver se eles aguentam serem varridos pelas aguas. – Disse Tifão e pegou seu tridente e começou a recitar. – Que as ondas dos mares e oceanos assim como a agua das chuvas afoguem todos aqueles que querem causar a destruição deste mundo.

Ao terminar de recitar uma enorme quantidade de agua caiu acima deles afogando-os, mas a agua não nos incomodava, apenas caia para o lado deles, como se quisesse apenas eles, e aquela agua cada vez mais se juntava e aparentemente aumentava a pressão dentro ela, afogando cada vez mais os três.

– Que o vento sopre e corte tudo a minha frente. – Disse Amaya conjurando várias laminas de vento que passavam cortando por dentro da prisão aquática e cortava também todos os três, e foi tanto que depois de um tempo a cor da agua começava a ficar de uma cor vermelha escura, como se o sangue dos três se misturassem na agua.

Contudo, infelizmente nesse momento ouve uma explosão e a agua evaporou livrando os três que mesmo em um estado critico ainda estavam de pé.

– Isso não acaba aqui, vocês me pagarão por tudo agora! – Gritou Zykes mostrando sua aura assassina que inflava e cobria tudo até os céus próximos a torre. – Vocês morrerão com todo meu poder!

Zykes começava a criar uma tempestade acima de nós, nuvens negras se formavam com raios vermelhos, um fenômeno raro de se ver devido ao baixo nível de oxigênio na atmosfera, mas aquilo não era tudo, o próprio ar começava a ficar com cheiro de ozônio e rarefeito, uma atmosfera mortífera.

– Agora Vanessa! – Gritou Mike, e ela aparentemente entendeu. – Meu servos, voltem a vida e façam o que eu quero.

Ao falar isso umas hordas de zumbis levantaram e agarraram todos eles, deixando-os imóveis.

– Só preciso imaginar não é? – Perguntei para Mike ainda inseguro por nossa conversa, ele me olhou com uma cara de pânico e falou responde.

– Deveria, também nunca fiz isso antes. – Digamos que aquelas palavras me deram vontade de devolver todas as costelas que ele me quebrara, mas era nossa melhor chance.

Eu fechei meus olhos e comecei a imaginar, me imaginar como um dragão, já tinha visto um antes então não era muito difícil e logo meu corpo se aqueceu e formigou, formigou e começou a arder e incomodar. Quando abri os olhos eu estava com meu braço esquerdo envolto em escamas de dragão prateadas, eu possuía uma garra de dragão.

Mike foi mais além, ele tinha os dois braços como garras de dragão e escamas sobressaindo nas pernas também, todas negras como a noite, e aquilo me deu pouco de raiva, mas assenti a ele e investimos rapidamente como dois feixes de luz e no momento do choque uma onda de raios negros e chamas prateadas-azuladas para todos os lados.

Ao final, quando a explosão de extinguiu só se viam corpos se esfarelando, a explosão fora tão forte que desintegrara tudo ao redor, só o local onde Vanessa, Amaya e Tifão haviam levantado uma barreira estava intacto, todo o resto da torre estava aos pedaços.

Então uma sombra veio voando em nossa direção, e quando chegou perto o suficiente notei que era uma garota com cabelos roxos e com uma roupa aparentemente de assassina.

– Amaya! – Disse a menina chorando. – Nossa casa... Ela fora atacada e destruída.