Code 23 - Projeto I.A. escrita por Usui D Risu


Capítulo 5
Capítulo V – As aventuras de Gianny e I.A. (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

[Finalmente betado pessoal! Podem ler!!! ♥ Qualquer coisa que encontrem podem falar comigo! Ah, lembrando, eu mudei a forma de fala da I.A. agora está entre aspas! :3]

Depois de muito tempo sem postar, eu finalmente engrenei com a história! uhul! Então aí vai mais um capítulo, eu tenho também ela no Spirit agora, caso alguém tenha interesse ahahah ♥

Kissus! :*



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Gianny estava em sua casa, junto a Jet, ambos arrumavam-se para ir ao Energy Drink, mas ela precisava sair antes para comprar mantimentos para o bar. Ia saindo quando notou aquele “certo” relógio em seu pulso.

— Bem, eu vou te deixar aqui com o Jet. — anunciou à autodenominada Inteligência Artificial que estava em seu braço, desde o dia anterior.

“Não mesmo, não vou ficar aqui com esse palerma”, o relógio resmungou.

— Ele não é tão ruim assim. É uma boa pessoa.

— Vocês falam como se eu não estivesse aqui — reclamou Jet, passando um pano sobre a mesa da sala.

“Enfim, quero conhecer a região, me leve com você, eu te ajudo a carregar as compras.”

Gianny hesitou, mas enfim concordou:

— Está bem, contanto que você não me apronte nada, e trate de se comunicar por frequência telepática.

“Como se eu já não soubesse…”

— Bem, estamos indo — se despediu de Jet.

— Boas compras meninas, se é que você é uma menina… — Jet falou, a segunda parte se dirigindo à I.A., com um pouco de dúvidas.

“Eu não fui programada com um gênero específico, mas me identifico o citado”, afirmou I.A..

— Certo, então vamos — concluiu Gianny, já passando pela porta.

“Está bem senhorita apressadinha, vamos”, I.A. ironizou.

— Como eu falei antes, boas compras — Jet acenou da porta, enquanto Gianny ia andando despreocupada.

“Ei, eu vim te ajudar, não é? Por que está andando a pé?”, indagou I.A..

“É melhor assim, as pessoas aqui não estão acostumadas com Skydrivers.”

“Ah, que chato… Só um pouquinho vai…”, reclamou enquanto escaneava as coisas ao redor através do visor do relógio.

“Aqui não, quando chegarmos ao centro da cidade eu penso no seu caso”, pensou Gianny irredutível.

“Ah, sua chata”, murmurou I.A., meio enfezada.

Elas caminharam pela cidade, enquanto I.A. ia escaneando tudo que seu visor poderia alcançar, alguns ao redor percebiam esta ação, mas achavam natural naquele mundo. Então ela passou despercebida. Gianny seguiu a comprar os mantimentos, como alguns softwares novos para seus clientes, ou jogos para eles se divertirem. Pediu pra I.A. finalmente ficar em forma de Skydriver para ajudá-la, então esta alegremente se transformou em uma com bagageiro para que Gianny colocasse as compras ao seu lado. Elas passaram por alguns lugares conhecidos de Gianny, onde compraram comida, bebida e suplementos.

Continuaram a voar por um tempo, quando I.A. parou na frente de uma loja e a olhou encantada.

“Vamos I.A., em frente, ainda temos que comprar mais coisas…”, Pensou Gianny impaciente.

Apesar de Gianny falar com ela, essa estava simplesmente lá parada. Distraidíssima, parecia ter visto a primeira maravilha do multiverso. Gianny pegou o guidão da moto e acelerou, fazendo I.A. despertar.

“Ei… O que está fazendo?!”

“Acordando você, tava aí parada com cara de bunda olhando pra não sei onde…”

“Primeiro: sou uma máquina, você não pode ver minha cara…”

— É só uma expressão…

“Segundo: não me interrompa quando estou falando.”

Gianny deu um suspiro.

“Terceiro: eu não estava olhando para o nada, estava olhando pra aquela beleza de loja!”, contestou ela virando o guidão para o local onde se podiam ver outros Skydrivers.

“Aquele ferro velho?!”

“Mais respeito, não é um ferro velho! Não vê a imponência da loja? Olha que lindos Skydrivers eles têm, modelos muito raros eu digo, e mais, é um lugar espaçoso e aposto que eles podem fazer muitas coisas pra melhorar essa máquina que guarda meu software!”

“Não, não e não! Já estou vendo onde isso vai parar, não vamos ver nenhum upgrade pra você, na verdade, já estávamos indo embora. Vamos…”, Pensou Gianny virando o guidão e dando partida.

“Por favor, Gianny… Só uma olhada. Eu só quero ver o que podem fazer por mim. Não seja má, eu te acompanhei até aqui. Não custa nada fazer um favor pra sua amiga…”

— Ah, agora eu virei sua amiga, é isso mesmo? Engraçado, achei que fossemos estranhos a quem você queria matar…

“Não fale assim, sabe que eu sempre fui com a sua cara… Eu só não caio de amores por você, agora vamos lá, por favor!”

“Não e não, eu não tenho dinheiro pra isso.”

“Só uma olhada, juro que não vou comprar nenhuma peça sem seu consentimento. Até porque nem tem como eu fazer isso já que o dinheiro é seu…”, afirmou I.A., docemente, já se dirigindo lentamente a loja.

— Aaaaah… — Gianny exclamou, pensando em seguida: “Que opção eu tenho… Mas você fica quieta, me diga tudo o que quiser saber e eu pergunto.”

“Certo, certo.”, empolgou-se I.A..

Gianny levou I.A. até próximo à entrada e a deixou ali, se dirigiu até a porta e bateu. Reparou pelo vitral da porta que na verdade era um grande porão, onde havia ainda mais automóveis, principalmente Skydrivers. Esperou resposta, mas não viu ninguém aparecer para atendê-la. Então olhou pra I.A. e deu de ombros, quase desistindo, quando essa falou:

“Você poderia tocar a campainha ao seu lado… Aposto que assim alguém vem te atender…”

Gianny estava querendo tanto ir embora que nem notou a campainha. Ela então a tocou, esta, por sua vez, fez um som estridente, algo que todos poderiam ouvir. Pensou que até do outro lado do mundo poderiam escutar aquele tom agudo.

Saiu de baixo de um dos automóveis um senhor de meia idade, manco e que veio caminhando lentamente. Ele usava uma perna mecânica até o joelho, meio desajustada, mas bem bonita, estava descalço e com um macacão laranja por baixo de um avental que deveria ser branco, mas estava meio encardido e sujo de graxa.

Ele abriu a porta e deu de cara com Gianny, que estava meio impaciente pelo andar lento do homem.

— Em que posso lhe ajudar senhorita… — Deu uma pausa para que ela informasse seu nome, mas a Gianny nem notou isso e começou.

— Bem, eu estava passando por aqui quando ela… — Parou para pensar no que ia dizer e se lembrou de que Skydrivers não pensavam ou desejavam algo. — Eu… Quando eu fiquei interessada no seu galpão.

— Na minha loja, a senhora se interessou em minha loja, certo?

“Seja mais educada, aqui não é um galpão, eu já falei é uma loja muito…”

Ela passou a mão pela cabeça dizendo à I.A., porém em voz alta:

— Eu sei, eu sei… Uma loja muito imponente… — ela murmurou, um pouco sarcasticamente demais, meio que desdenhando de I.A.. Depois percebeu que estava falando sozinha e levou a mão à boca, passando lentamente, como quem comete uma gafe.

“Cuidado com o que fala… Ou pra quem fala.”, I.A. riu levemente.

— Fico feliz que ache isso da minha loja — comentou o homem estranhando o tom de voz dela. — Mas então, em que posso ajudá-la?

— Ah, eu queria que desse uma olhada no meu Skydriver e visse o que poderia fazer por ele, quero dizer, eu só quero dar uma olhada, não pretendo comprar nada, mas…

Quando ela desviou lentamente para que o homem visse a moto, este deu um pulo e correu tão rapidamente em direção a esta que Gianny até se assustou.

— Por Irinus, eu nunca imaginei que iria ver um desses na minha vida,  uma maravilha dessas, é um modelo Fire Road, mas é modificada, parece que esse bagageiro está atrapalhando ela… Essa marca é muito rara, tão rara que apenas a elite a possui, e mesmo assim ela já saiu de cartaz a muito tempo das lojas, é uma raridade, onde você disse que trabalhava mesmo? — ele começou a falar desembestadamente, passando a mão por toda a máquina.

Gianny estranhou a velocidade do velho em agir e falar, e estranhou mais ainda o fato da I.A. não ter reclamado até agora por ele a tocar. Ela então conseguiu prestar atenção na formulação da pergunta dele e respondeu secamente:

— Eu não falei.

“Mais gentil, mais gentil… Ele é um senhor tão doce, e conhece tanto de Skydrivers.”, Alegrou-se I.A., adorando os elogios.

“Entendi a sua, gosta de ser bajulada, né?”, pensou Gianny.

“Quem não gosta?”, respondeu I.A.

O senhor continuou falando, perguntando a Gianny:

— Certo, mas onde você trabalha mesmo então, querida?

— Eu? Bem, trabalho em um bar um pouco distante do centro da cidade, não sei se o senhor conhece, é chamado de Energy Drink… Já ouviu falar?

— Energy Drink? Realmente? Há muito tempo não vou lá, é um lugar realmente muito aconchegante, gosto muito desse bar. Com o trabalho e a família não estou podendo ir mais, todavia fui muito quando mais novo, cheguei a fazer amizade com a família deles… É realmente um bar muito bom. É garçonete lá?

— Na verdade eu sou a dona de lá… — sorriu, recebendo os elogios. Parece que não só I.A era suscetível a bajulações.

— Ah, então finalmente compraram o bar? Eu pensei que aquele casal não fosse se render aos caprichos dos grandes comerciantes, há muitos querendo comprar lotes e coisas do gênero para dominar o comércio popular… Poxa…

— Na verdade não fomos comprados não, eu sou filha do casal… — Ela sorriu levemente.

— Filha? Não sabia que eles tinham uma garota como filha…

— Ah, sim, eu sou adotiva, por isso o senhor não deve saber de mim.

— Me perdoe, não queria me intrometer na sua vida.

—Nada, imagina… O senhor é uma pessoa muito gentil, qualquer um que goste do meu bar é uma boa pessoa, por que não passa lá um dia pra tomar um drink?

— Eu adoraria, mas falta-me tempo… Bem, vamos ver o que eu posso fazer por essa belezinha… — Ele bateu, levemente, com uma das mãos sobre o capô da moto.

“Eu avisei que ele era um cara legal.”, ela soltou um leve risinho.

“Ok, ok, ele é um cara legal”, concordou Gianny, “Mas ainda não vou comprar nada pra você só por causa disso.”

“Já entendi… Já entendi…”, chateou-se.

— Bem, venha, vamos entrar…

— Ah, eu não quero atrapalhar… Só queria dar uma passada pra ver mesmo…

— Não vai atrapalhar esse velho homem, só me dará um pouco de companhia… Seria pedir muito?

— Já que o senhor pediu assim, eu fico. — Ela sorriu meio sem graça. — Mas e a I… Quero dizer, e o Skydriver?

— Ah, vamos colocar essa belezinha pra dentro, quero analisá-la mais de perto!

Ele se aproximou do portão e o abriu com um pouco de dificuldade. Gianny o ajudou e eles levaram-na para o interior do enorme galpão.

— Essa belezinha é realmente perfeita, mas é claro que toda perfeição precisa de reparos algumas vezes, principalmente na pintura. Há quanto tempo que essa belezinha não vê uma pintura, hein? Parece que ela estava guardada em um galpão a uma eternidade… — estendeu o “a” da eternidade ao falar.

— É, digamos que foi herança de família, achamos guardado em um galpão, estava fora de alcance a muito tempo…

“Se saiu muito bem com essa agora, hein, gostei da agilidade!”

“Ah, como você é hilária, I.A.”, Pensou Gianny, meio a repreendendo.

“Calma, coisinha fofa, não falei por mal, foi só um elogio.”

— Que bela herança de família, hein? Que sorte, queria poder deixar algo assim pra meus filhos…

— Ora, o senhor tem filhos, é?

O homem passou a mão por seus cabelos loiros esbranquiçados, dizendo meio que com um pouco de orgulho.

— Sim, eu tenho filhos… E eles me ajudam muito na loja, aliás eu não seria nada sem eles comigo… Estou um velho decrépito… Não posso fazer nada mais sem eles.

“Poxa, ele parece ser um bom senhor, por que não o anima?”

“Eu não sou boa nisso…”, pensou Gianny.

“Tente… Não custa nada, ele foi muito gentil conosco…”

— Ah… Bem… O senhor não está tão ruim assim…

“Tão ruim? Você sabe fazer melhor!!!”

— Quero dizer… O senhor está em boa forma!

— Ah, minha filha, não precisa ser gentil comigo, e sei que não estou mais na forma que deveria. Mas, não vamos nos afligir! Vamos agir! — Ele puxou um dos sinos que estava ao lado de uma bancada, nesta havia alguns deles, de diferentes tamanhos e espessuras. O que ressoou foi o terceiro maior, que ecoou em um som grave, mas gentil.

“É, você não foi convincente o suficiente…”, apontou o erro, com um tom sarcástico.

Gianny deu uma risada interna pausada e falsa para I.A. e pensou:

“Muito engraçadinha você…”

Depois de poucos minutos, não muitos, um ou dois, pode-se ouvir passos vindo da escada ao fundo do galpão onde estavam. A luz do topo foi acesa e pode-se ver, descendo,uma sombra grande, de um homem, aparentemente. A sombra foi tomando forma, e então foi aparecendo um homem alto, cabelos loiros arrepiados e olhos claros, de uma cor de mel tão clara que chegava a ser quase amarelo. Claro que foi Gianny quem reparou em todos esses detalhes, não I.A., esta reparou mais no fato do homem ser enorme. Ele tinha os ombros largos, e os músculos bem definidos, ela podia ver claramente, afinal ele trajava apenas uma calça, com um avental semelhante ao do senhor que as atendeu, porém o seu estava pendurado na parte da cintura com a parte que deveria estar pra cima invertida. Só que o dele tinha algo bordado na barra, mas Gianny não teve tempo de conseguir ler, pois o senhor interrompeu sua curiosidade.

— Bem esse é o meu filho Eliot… — Ele apontou para o nome no avental dele ao dizer. — Como está escrito, bem ali, como a moça pode ver.

Ela se sentiu um pouco envergonhada, pois o senhor reparou o que ela estava tentando ver. I.A. riu levemente, e Gianny fechou um pouco a cara.

— Bem Eliot, se apresente a moça…

O homem alto chegou mais perto, estendendo a mão para a mulher a sua frente, dizendo:

— Muito prazer, eu me chamo Eliot Diann.

Gianny ficou por um segundo imóvel, até que I.A. a despertou.

“A mão… Aperte a mão dele, mulher…”

— Ah, sim… — Ela despertou e estendeu a mão para o homem alto, chamado Eliot. — Prazer o meu, Eliot, me chamo Gianny…

“Está babando, pode admitir, olha só! Ele tem um físico lindo, uma raridade de se ver!”

“Pare com isso! Não estou reparando em físico nenhum!”, pensou Gianny ficando um pouco corada enquanto continuava a apertar a mão.

“Ah, reparou no que? Não vejo mais nada pra reparar, ele tem belos cabelos, é isso?”

“O quê? Como assim?”, pensou, ainda segurando a mão, “Você só reparou no corpo dele?”

“Tem as roupas, mas nada demais… Alguns detalhes que fazem dele um cara até bonitinho…”

“O quê? Você é louca!? Ah, deixa pra lá!…”

“Aliás, eu sugiro você largar o moço, ele está ficando sem graça já…”

Ela acaba por reparar que está segurando a mão dele ali, durante todo aquele tempo, e puxa-a sem mais nem menos, levando-a para trás da cabeça, rindo um riso amarelo e sem graça que deixaria qualquer um sem jeito, mas o rapaz a sua frente abriu um grande sorriso e continuou.

— Bom, feito as apresentações, o que eu devo fazer pela senhorita?

— Meu filho, a moça quer apenas uma análise desta máquina magnífica, veja só! É uma Fire Road, pode acreditar?! Não achei que viveria pra ver uma dessas!

O rapaz olha para a máquina, se aproxima lentamente, passando a mão pelo capô e se abaixa olhando os fusíveis de propulsão. Foi aí que ele simplesmente pegou com uma das mãos por baixo do Skydriver, na parte do meio, entre os dois propulsores principais e levantou a moto. Puxou uns ganchos que estavam presos ao teto e prendeu gentilmente o Skydriver neles. A forma dele agir era rústica, porém muito nobre e delicada, usando a força, porém com graça e sutileza. I.A. estava nas nuvens, talvez mais literalmente do que em toda a vida dela, assim como a Gianny, embora essa nunca fosse dar o braço a torcer.

Ele começou a olhar o Skydriver de todas as formas físicas possíveis e então se pôs de pé de frente para o pai e ao lado de Gianny.

— É sem dúvidas uma Fire Road, mas é estranho, há plugues de entrada e saída, mas eu não reconheço o criador em lugar nenhum, parece ter a carcaça de uma Fire Road mas ser modificada. Ela pode parecer antiga por causa da pintura mas tem um alto grau de probabilidade de voo e propulsão. Os eixos que ligam a carcaça ao ambiente são estáveis e, apesar de ser um modelo ultrapassado, com toda a certeza está interligado a algo bem maior. Onde conseguiu essa preciosidade? — ele indagou se virando para Gianny e a olhando nos olhos.

— Ah, como eu falei antes… É uma herança de família… — ela afirmou sem graça e com medo de que eles descobrissem algo.

— Você possui uma família de alta classe? O que está fazendo na periferia? Por acaso não pretende comprar a loja de meu pai, não é? — Ele cerrou os punhos e os dentes.

— Calma, Eliot, a moça é de confiança, tenho certeza que ela não pretende comprar nada de ninguém não é mesmo? — perguntou o senhor sorrindo levemente olhando pra Gianny. Quando ele sorria seus olhos se fechavam ainda mais. Sendo que quase não dava pra se ver seus olhos normalmente, quando sua face era serena e usual, e quando sorria estes eram escondidos ainda mais. Sua face enrugava, seus lábios, faziam um certo esforço para manter os dentes à mostra e os olhos sumiam de uma vez por todas, era literalmente um olhar que sorria, um sorriso sincero junto ao olhar.

Gianny reparava isso, enquanto I.A. estava a observar os músculos dele novamente. Essas tecnologias de hoje em dia não são mais as mesmas, elas simplesmente reparam o superficial, será mesmo?

— Claro que não… — Gianny sorriu a dizer. Ah! E seu sorriso sincero era uma coisa rara de ver, era uma mistura de falta de jeito e sinceridade, algo como uma flor, que desabrocha meio sem forma, um pouco sem graça, devagar e lentamente, abrindo-se aos poucos e depois mostrando a sua beleza, plena, firme, forte, linda. Era como o florescer dos campos de orquídeas, algo que leva uma pessoa a respirar fundo e pensar em coisas maravilhosas. Coisas como a vida, o nascimento, o brotar, como, bem, um florescer afinal… Mas por que deste sorriso? Talvez porque ela tenha notado a sinceridade nos olhos daquele senhor, uma sinceridade que era compartilhada por ambos. Ela também simpatizava com o jovem moço? Talvez… Por ele não querer perder o lar, perder a vida, mas isso, é pano pra outra manga, outra parte da história. Por enquanto, que fiquemos com o agora. Ela continuou — Eu queria somente dar uma olhada na I.A. ela parecia interessada por esse lugar, acho que agora entendo o porquê…

— I.A.? E quem seria essa? Nome engraçado, apenas iniciais… — perguntou o filho, enquanto o pai apenas observava.

Gianny, percebendo a besteira que havia falado ficou um pouco atônita, mas logo pensou em algo.

— Bom, é que a minha família tem muita estima pelo Skydriver, é como se ela fosse um parente… Então, demos um nome pra ela e a tratamos como uma pessoa mesmo… Sei que não é o melhor nome mas… — Ela coçou a cabeça, esperando que eles acreditassem em, pelo menos, algo que ela havia dito.

— Ah, sim, entendo… Bom, fazemos isso por aqui também, não é, pai? — Ele fez uma pergunta retórica, olhando pro velho que estava a passar a mão pela barba, um pouco pensativo, observando a máquina.

— Sim… Fazemos isso mesmo… — afirmou, indo na direção de I.A.. Intrigado. — Filho, “ocê” falou que não tem ligação com fornecedor?

— Sim, pois é, não achei, é como se fosse cortado…

— E o que tem a me dizer sobre isso, filho?

“Ele sabe…”

“Sabe o quê?”, pensou Gianny.

“O velhote, ele percebeu, se ele não for boa pessoa, é melhor sairmos daqui agora, nesse exato momento.”

“Espera, mas como assim? Não entendi nada, eles estão falando dos termos técnicos, não é? Eu entendo um pouco disso também…”, ela falava com I.A. mentalmente.

“Sim, mas o problema é justamente quando saírem dos técnicos… Aí será um grande problema. Você estava certa, eu detesto admitir, vir aqui foi errado, estamos encrencadas… É melhor sairmos agora…”

Seus pensamentos e conversas foram interrompidos por Eliot que respondeu rindo, com um sorriso aberto:

— Não entendo nada! — Riu abertamente — “Cê” sabe pai, dessas coisas eu não entendo, pede pros “manos” ajudarem você, a minha análise física eu já fiz, a Katy te manda um relatório mais tarde, aquela mulher adora escrever… Ele desceu o Skydriver dos ganchos e então saiu se despedindo de Gianny e do pai.

Gianny estava pasma, I.A. estava calada, e se ela tivesse uma cara está estaria boquiaberta sem entender o que havia se passado. Ele, depois de fazer uma análise física completa, simplesmente afirmou que não saberia fazer uma análise técnica de software. Uma gota imaginária rondava as “cabeças” de I.A. e Gianny, que estavam chocadas com o que havia acabado de acontecer. Gianny se despediu de Eliot e ele subiu as escadas, acenando com uma das mãos, fazendo seus músculos do ombro contraírem, mostrando cada vez mais seu porte atlético. Mas a única a perceber aquilo foi I.A., Gianny apenas reparava sua maneira de andar despreocupado, mas firme. E então ele se foi, não esquecendo de apagar a luz da escada.

O senhor continuou, coçando a cabeça lentamente:

— Bem, quem eu deveria chamar… — Ele pega a corda do segundo menor sino, e toca-o com delicadeza. — Sim, a pequena…

Gianny e I.A. foram despertas pelo som relativamente longo do sino, mas ainda suave e doce, um pouco alegre, que de certa forma passava um ar de inocência.

— Ah, senhorita, Gianny, espero que seja sincera conosco, algumas coisas em sua história parecem incongruentes, não vou questionar os clientes, longe de mim. Pode confiar em mim para manter segredos ou não saber deles, mas minha família sempre é do tipo muito sincera, então, peço, por favor, que retribua isso.

Gianny olha para o homem que observava agora o vazio da escada, afixando em seu topo, esperando por alguém. Gianny acompanhou sua visão, dizendo:

— Eu sei que posso confiar no senhor, mas nem tudo depende de mim, na verdade. — falou aquilo se referindo a I.A..

“Não confio nele. Não confio nem em você pra começo de conversa. Vamos embora!”

“Vamos ficar. Agora eu quero saber sobre você. Se está com vontade de sair pode ir, um Skydriver andando sozinho por aí vai ser completamente normal, não acha?”, pensou.

“Não acredito que está fazendo esse tipo de chantagem comigo!”

“Já fiz, se não estiver satisfeita pode ir. Não ligo”, ela respondeu em um tom normal, enquanto reparou nas escadas. Passou um tempo e ninguém veio.

— Não deveria descer alguém?

— Ah sim… Giselle, mas ela sempre demora um pouco… Sabe como são… Ah! Lá vem ela!

Uma sombra magra, aparentando ser comprida percorria as escadas logo após acender as luzes. A forma foi diminuindo aos poucos, ficando menor, menos alta, cada vez menor. E no final uma criança de aparentemente 6 anos ao fim das escadas, saltitando, feliz e contente. Nesse momento nem I.A. nem Gianny puderam se segurar e exclamaram juntas em indagação:

— Uma criança!?

“Uma criança!?”

O senhor se voltou para Gianny e em seguida à máquina. Gianny percebeu e inclinou discretamente o rosto para I.A. que se pudesse estaria com uma cara de “Você esperava que eu fizesse o quê? Uma criança foi demais pra mim! Inventa algo!”. Gianny se recompôs e pigarreou, tentando dar a entender que sua voz estava falhando. O senhor fez uma cara de descrente, levantou uma das sobrancelhas e voltou-se para a menina que estava descendo.

— Olá, querida, venha dar um abraço no papai!

— Pai, é hora de trabalho não temos tempo pra isso!

— Não fale assim, venha cá…

— Tá bem, tá bem… — A pequena se aproximou de seu pai, que se abaixou e lhe deu um abraço, a levantando e fazendo algo como “upa”. Esta ficou com cara de tacho e biquinho, ele a beijou e dela escapou um sorriso.

Gianny estava achando tudo aquilo muito fofo, uma pena que I.A. não pensasse o mesmo, pois ela ainda estava com uma cara de “O que esta criança vai fazer em mim? Eu não creio que aquele homem lindo foi substituído por essa pirralha”, e outros pensamentos desse tipo. A criança viu a Fire Road e ficou encantada, pulou de alegria, já ia pegando seu computador enquanto Gianny olhava e tentava convencer I.A. de que ficaria tudo bem, mas esta não concordou. Quando a menina havia preparado os melhores meios de pesquisa para uma máquina que ela nunca sonhou em ver na vida, I.A. não aguentou e se comunicou com todos via frequência.

“Já chega, olha aqui, nenhuma criança vai tocar um dedo de pirralha na minha maravilhosa armação, mesmo que antiga.”, Ela roncou o motor em revolta., “Vamos embora, Gianny.”

— I.A. o trato de só se comunicar comigo foi pra onde!?

“Foi embora a partir do momento em que uma pirralha vai mexer nas minhas instalações de software e update, se fosse você a confiar o corte do seu cabelo a uma criança eu duvido muito que deixaria!”

— Não sou pirralha!!! — contestou Giselle, irritada.

“Ah, é anã então? Tem má formação dos ossos, atrofia muscular!?”

— Não!

“Então é uma pirralha! E nada mais que isso!”, I.A. zombou da garota.

— I.A. pare com isso, discutindo assim com a menina parece que você tem a mesma idade que ela.

“Claro que não, minha idade é mais elevada que a de todos nessa sala, não ouse dizer que sou da idade dessa pirralha.”

— Não me chame de pirralha! — a menina protestava com a máquina.

Nisso o velho estava a observar tudo aquilo, a discussão entre duas pessoas e uma máquina, ele olhou ao redor, olhou para Gianny, ela não parecia ter nenhum dispositivo remoto, ele analisou a máquina, ela não parecia ter nenhum alto-falante embutido para que alguém controlasse as falas. I.A. era o nome dado a máquina… I… A…

— Inteligência Artificial! É isso, você possui algum tipo de inteligência artificial embutida!

“Chegou perto, doce senhor… Eu não possuo uma inteligência artificial embutida, eu sou uma inteligência artificial propriamente dita. Por isso I.A., mas acho bom o senhor não contar isso a ninguém.”, Ela projeta uma de suas armas laterais, do seu interior, mirando na direção do velho.

— Está me ameaçando, uma máquina, ou seja lá quem for, me ameaçando, pois saiba que esse velho aqui não tem medo de morrer, muito menos se for por meios de uma inteligência artificial bobinha.

“Não tem medo de morrer? E seus filhos, tem medo que eles morram?”, I.A. direcionou a arma para a menina, que tremia no canto.

O senhor se assustou com a atitude da máquina, não esperava que ela fosse ameaçar uma criança.

— Por favor, não faça nada com minha filha…

— I.A., abaixe essa arma agora mesmo, o que pensa que está fazendo, você mesmo disse que ele era um senhor simpático, agora o ameaça? Assim como fez comigo da primeira vez, anda, pare com isso!!!

“Mas ele vai contar pra alguém e eu vou aprisionada novamente, eu não confio nessas máquinas, e pra começo de conversa eu não confio nem em você, a única que eu posso contar é a 23 e ela me larga aqui com você, isso é injusto, eu deveria estar com ela, em sua casa.”, Ela guarda a arma, roncando o motor tristemente.

— Qual sua relação com a 23 afinal?

“Não é da sua conta Gianny, você nunca entenderia, e eu também não estou disposta a te contar, afinal não é como se você fosse minha amiga, não tente ganhar minha confiança.”

— Você não vai me matar mais? — Giselle, quase chorando, perguntou.

— Você fez a menina chorar I.A., olha só! Qual seu problema, hein? Apontar uma arma pra uma criança! Onde já se viu… Está tudo bem, pequena, ela não vai te machucar não…

— Eu não sei quem são vocês de verdade, mas por favor, saiam da minha loja… — O senhor disse abraçando sua filha.

— Espere, não quero que termine assim. Sei que o senhor tinha uma boa relação com os meus pais. E não quero que isso seja estragado por essa máquina maluca, que se autodenomina uma inteligência artificial, eu não ligo pra ela e espero que não se importe também. Ela é uma descompensada!!! — Gianny dizia, tentando demonstrar firmeza em suas palavras.

— Olha querida, eu sinto muito, mas lhe peço que não volte a minha loja nunca mais. Nem que precise muito de minha ajuda, afinal, nós, máquinas, pra sua querida inteligência artificial, não somos confiáveis. — afirmou, ainda abraçando sua filha que estava a tremer por toda aquela situação traumática.

— Viu só, I.A., esse é o resultado de ser dessa forma, vamos embora… — Gianny pegou I.A. pelo guidão, para tirá-la dali.

“Eu só vou embora depois que esse senhor falar que não contará nada a ninguém.”, resmungava a citada, ainda prendendo-se ao chão.

— Pode ter certeza que se for pra vocês nunca mais voltarem aqui eu prometo que não contarei isso a ninguém.

“Ótimo…”, Ela se retira, deixando o senhor e sua filha, receosos para trás.

Gianny sai logo em seguida, seguindo I.A. e pulando sobre ela no meio do percurso. As duas discutiram durante boa parte do caminho de volta, até que Gianny ouviu uma frequência a chamando.

— Espera! — exclamou Gianny estranhando aquela voz.

“O que foi agora, vai falar novamente que eu estava errada, que era só uma criança, e blá, blá, blá… Eu não ligo pra você e…”, I.A. foi interrompida por Gianny de uma forma brusca.

— NÃO! Tem uma voz chamando, você não está ouvindo?

“O quê? Você está louca agora? Enlouqueceu, é isso?”

— Não, ó superinteligência artificial, super-redundante… Vamos ver de onde está vindo essa sintonia! — Ela acelerou, dirigindo manualmente I.A., já a outra, por sua vez, queria ver Gianny quebrar a cara então não tomou o controle, partiram em busca da voz que Gianny ouvia.


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Notas finais do capítulo

Aeeee depois de um tempo voltei com essas doçuras de personagens (principalmente a I.A. nesse início ela é tão chata, mas me diverti ahahaha)!!! Aguardem o próximo capítulo, devo terminá-lo hoje, e portar amanhã, se tudo der certo!



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