ANTROPÓFAGO - Diário de um Canibal escrita por Adélison Silva


Capítulo 1
O Encanto de Érica


Notas iniciais do capítulo

Se gosta de romance negro, vai gostar dessa história.
Max é um rapaz de poucas falas, tímido e sombrio se apaixona perdidamente por Érica. No entanto não será tão simples viver esse amor...



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  Eu sempre fui um rapaz tímido, talvez por isso nunca tivesse muitos amigos, o único por quem eu ainda tinha alguma afinidade era o Davi, que morava na mesma república que eu. Davi ao contrário de mim era um rapaz alegre, brincalhão, era o popular da escola onde estudávamos, sempre chamou a atenção das garotas, era tido como o garanhão da escola. Já eu era o patinho feio, não me sentia bem em lugar nenhum dos quais eu frequentava, era como se eu fosse um peixe fora d’água, amei muitas garotas as quais nem pra mim olhavam, já ao contrário muitas garotas havia amado Davi e ele se quer as notou.

 

  Naquele dia fiz exatamente como o de costume. Vim até os armários pegar o meu material. Davi estava próximo, um pouco a minha frente conversando com algumas meninas que se encantavam com o seu jeito. Ricardo e dois de seus amigos tão babaca quanto, vão passando e me empurra contra os armários, derrubando os meus materiais no chão. Olhei tímido para eles,tentando esconder o ódio que eu sentia naquele momento. Abaixei e comecei a catar os meus livros. Eles zombam e riam de mim naquela situação.

 

RICARDO

(zombando) Olhem só, é muito zé ruela!

 

  Davi se aproximou ao ver Ricardo zombando de mim.

 

DAVI

— Qual é a graça, Ricardo?

 

RICARDO

— Chegou o macho dele. Sei não, acho que está rolando alguma coisa aí.

 

DAVI

— Também não sei não, vocês três sempre juntinhos. Você é gulosa hem? Pega logo é dois.

 

RICARDO

(se alterando) Qual é maluco, vai ficar de graça para o meu lado?

 

DAVI

— Deixa o cara em paz, Ricardo. O bicho nunca te fez nada.

 

RICARDO

— Dessa vez vou deixar passar, mas ver bem do jeito que você fala comigo. Vamos embora garotada, as gazelas querem ficar sozinhas.

 

 

  Ricardo se retirou e Davi me ajudou a catar os livros do chão.

 

 

DAVI

— Você está bem?

 

MAX

— Sim. Obrigado por me defender.

 

DAVI

— Não foi nada, esse Ricardo é um babaca.

 

MAX

— Não sei por que ele implica tanto comigo.

 

DAVI

— Não dê importância a isso, Max.

 

SUZANA

(se aproximando) Davi, vem cá. Tem uma amiga querendo te conhecer.

 

DAVI

— Opa! Vamos lá conhecer ela então. Você vai ficar bem, Max?

 

MAX

— Sim, vou. Pode ir lá.

 

 

  Davi se retirou com Suzana, e eu tomei rumo da minha sala com os meus livros nas mãos. Ao olhar para frente vi uma garota nova que não havia visto por ali.

  Os meus olhos se fascinaram com a sua beleza. Fiquei maravilhado com a sua maneira de andar, o modo que jogava os cabelos longos e negros, a forma em que olhava o sorriso que em seus lábios brotavam.  

  Percebo que vinha andando em minha direção, fiquei trêmulo, não sabia o que fazer, aproximou se de mim e já foi se apresentando:

 

 

ÉRICA

— Oi eu sou a Érica! Quem é o responsável por essa república?

 

 

  Quem era o responsável pela a república? A pergunta era simples, mais a minha timidez era tão tremenda que me impedia de dá tal resposta, tentei falar, mas as palavras pareciam travar em minha boca, e Érica me olhava como se não entendesse o porquê de tanto silêncio, e refez a pergunta:

 

 

ÉRICA

— Tudo bem? (T) Pode me dizer com quem eu falo pra me instalar nessa republica?

 

MAX

(gaguejando) É... é... a... dona Elizabeth!

 

ÉRICA

— E onde eu encontro essa Elizabeth?

 

 

  Ao mesmo instante percebo que Davi se aproxima de nós, com aquele jeito brincalhão, e o sorriso de lado a lado da boca.

 

 

DAVI

— Oi, eu posso ajudar?

 

ÉRICA

— Eu queria saber como eu faço para falar com a dona Elizabeth. Queria me instalar aqui, mas ainda não sei o que devo fazer.

 

DAVI

— Claro, vem comigo vou te levar até a dona Elizabeth.

 

  Eu fiquei ali paralisado, observando como pra ele era fácil lidar com as garotas, como um simples gesto, uma simples palavra mudava o rumo da conversa. Porque que comigo era tão difícil?

   Eu sempre fui um cara de baixa estrutura, pesava na faixa de uns sessenta quilos, não me achava feio, o meu problema era as palavras, não sabia como as usar diante de uma moça. Dentro de mim crescia uma inveja do Davi, um ciúme em ver a forma fácil que ele lidava com as meninas. E também inveja da veneração que as meninas da república tinham com ele. Mas meus sentimentos mudavam, pois ele era um cara legal e a única pessoa que ainda me dava ouvidos naquele lugar. 

  Érica se acertou com dona Elisabeth, e se estalou na republica. A nossa republica não era muito grande mais a única respeitada na cidade, dona Elisabeth era rígida, e observadora, dormitórios masculinos e femininos eram distantes um do outro, e ai de quem se atrevesse a ultrapassar os limites impostos por ela. Naquele dia demorei a dormir, fiquei meditando, a maneira em que Érica se aproximava, fiquei pensando nas palavras que eu poderia ter dito naquele momento. Acendi a luz do abajur e me sentei na cama, enquanto olhava para o lado vi Davi dormi e fiquei pensando:

 

MAX

— (pensamento em off) O que ele tem que eu não tenho? Porque para ele é tão fácil enquanto para mim é tão difícil? Eu deveria ter falado mais com ela. Essa garota mexeu muito comigo. Eu preciso me aproximar dela. E desta vez terei que ter coragem e falar alguma coisa. Não posso ficar como um babaca de boca aberta.

 

DAVI

(acordando) Max? O que está fazendo com essa luz acessa?

 

MAX

— Nada, eu só estava aqui pensando um pouco. Não estou conseguindo dormir.

 

DAVI

— Desliga a luz moço, vai acabar acordando todo mundo.

 

MAX

— Davi, o que você achou da Érica?

 

DAVI

(não lembrando) Érica?

 

MAX

— Sim, a novata. Fiquei sabendo que ela conseguiu se instalar aqui na república.

 

DAVI

— Agora entendi. É nela que você está aí pensando?

 

 

Balancei a cabeça positivamente.

 

 

DAVI

— Eu achei ela muito linda. Mas cuidado não vai se apaixonar.

 

MAX

— Não estou apaixonado.

 

DAVI

— Agora desliga esse abajur e volte a dormir, antes que acorde mais alguém.

 

MAX

— Tudo bem.

 

  Desliguei então o abajur e me deitei, e o sono demorava a vir, fiquei horas ali deitado pensando em como falar com ela, eu não poderia continuar assim tão tímido.

Logo pela a manhã do dia seguinte, eu estava sentado no refeitório terminando de tomar o meu café com leite, e com pão assado na chapa com manteiga, era o cardápio de quais todas as manhãs na republica da dona Elisabeth. 

  Érica surgiu todo sorridente e bem à vontade em uma conversa animada e intima com Letícia, a CDF da republica. Eu fiquei por um instante as observando. Letícia se assemelhava um pouco comigo, exceto pela a parte dela ser estudiosa. Eu nunca fui bom em matéria alguma, mas, assim como eu, ela era esquecida por todos. Era uma menina magricela, de cabelos ruivos e umas pequenas sardas no rosto, usava óculos “fundo de garrafa” e roupas cafonas. A cada frase que Letícia dizia, mencionava alguma matéria que havia estudado, mas Érica parecia interessada nas conversas dela, as duas riam e se entrosavam. 

Érica parecia interessada nas conversas de Letícia, as duas riam, se entrosavam, criei coragem levantei-me e fui até a mesa em que elas estavam, e puxei uma tímida conversa:

 

MAX

— Oi Letícia!

 

LETÍCIA

(se anima ao ver Max) Oi Max, conhece a Érica?

 

ÉRICA

— Nós nos conhecemos ontem. Mas não havia me dito o seu nome.

 

Fiquei tímido com um sorriso meio amarelado no rosto.

 

LETÍCIA

— O Maxwell é assim mesmo, muito tímido. Né Max? É difícil arrancar alguma palavra dele, não sei como criou coragem de vir aqui falar com a gente. (se levantando da cadeira) Agora tenho que deixar vocês dois a sós, daqui a pouco vou ter aula de sociologia e acredite, eu não estudei nada. Não posso tirar nota baixa. Érica foi um prazer enorme te conhecer, depois a gente se fala. Fica ai com a maravilhosa companhia do Max.

 

    Nossa como essa garota fala, agora eu entendo porque ninguém fala com ela! Fiquei ali em pé próximo à mesa em que Érica estava, sem jeito, e sem saber que assunto iniciar naquele momento.

 

ÉRICA

— (puxando a cadeira que estava do lado) Sente-se aqui do meu lado, quero te conhecer melhor.

 

  A obedeci, mais fiquei paralisado ali sentado, e com um sorriso bobo estampado no meu rosto avermelhado de vergonha. Fiquei mexendo as pernas e estralando os dedos de nervoso. Érica pega nas minhas mãos fazendo eu parar de estralar os dedos.

 

ÉRICA

(sorrindo) Porque você está tão nervoso? E essas mãos geladas? Não se preocupe, eu não mordo. (jogando charme) A não ser que você queira.

 

MAX

(sem graça) Acho que estou mesmo um pouco nervoso.

 

ÉRICA

— Estou vendo. Vou lhe fazer algumas perguntas então, para poder quebrar um pouco o gelo. Você tem quantos anos?

 

MAX

(gaguejando) Dez... Dezessete.

 

ÉRICA

— Bacana. Eu também tenho dezessete. E você é daqui mesmo de Braço Forte?

 

MAX

— Não, eu nasci em Ouro Preto. Os meus pais souberam dessa república aqui e já procurou um jeito de me mandar pra cá. Acho que no fim o que eles mais queriam era se livrar de mim.

 

  Érica começou então um interrogatório, perguntando a minha idade, de onde eu vim, o que eu procurava, sobre os meus sonhos, o que eu desejava fazer depois de me formar. Respondi-lhe tudo e a fiz as mesmas perguntas, eu me surpreendi ao descobri que Érica veio de uma família pobre que morava em uma fazenda próximo a Matões do Norte, localizada em uma das cinco mesorregiões do estado brasileiro do Maranhão. E por isso ela resolveu vir para a nossa républica, era a mais respeitada e a mais barata da cidade. Ficamos horas ali conversando, depois de um tempo eu já não estava mais tão nervoso, e já me sentia até um pouco íntimo com ela, e a cada palavra que dizia ou gesto que fazia, eu me encantava ainda mais com Érica.

      Fiquei tão encantado com Érica que não observei que Davi havia sentado em uma mesa ao lado da que estávamos. E não desviava o seu olhar em direção a nós.

 

ÉRICA

(ao reparar que Max olhava para Davi) Olha só é aquele seu amigo que me apresentou a dona Elizabeth. Qual é mesmo o nome dele?

 

MAX

— Davi.

 

ÉRICA

— Vamos chamá-lo para sentar aqui conosco. (chamando) Ei Davi! Senta aqui com a gente.

 

DAVI

— Não, obrigado. Eu esqueci um livro no quarto, vou voltar lá pra buscar. Fiquem a vontade.

 

  Davi talvez ciente das minhas intenções com Érica, negou o convite e se retirou logo em seguida.

 

ÉRICA

— É impressão minha, ou o Davi quis deixar nós dois a sós?

 

MAX

(tímido) Acho que foi isso mesmo.

 

ÉRICA

— Então que bom. Pois estou gostando muito de estar aqui com você.

 

  Passado algum tempo Érica e eu nos tornamos grandes amigos. Ela sempre demonstrava interessada  em minha vida. O que eu fazia , o que eu gostava, o que eu sonhava e até mesmo do que eu tinha medo. Só que o meu coração parecia uma máquina a vapor, por mais que eu gostasse da amizade de Érica não era só isso que eu queria. Eu estava a cada dia mais me apaixonando por ela. Era um sentimento estranho, queria possuí-la, queria estar com ela vinte e quatro horas por dia. Não conseguia fazer outra coisa a não ser pensar nela. Me cobria de ciúmes quando alguém se aproxima dela, o que não era difícil, Érica era linda e com isso chamava a atenção de muitos rapazes. E ninguém conseguia me deixar mais incomodado do que Ricardo. Érica estava sentada em uma mesa no meio do jardim lendo um livro. Enquento Ricardo se aproximou lhe trazendo uma flor.

 

RICARDO

(entregando a flor para Érica) Pra você.

 

ÉRICA

(recebendo a flor) Obrigada!

 

RICARDO

— Posso sentar aqui?

 

ÉRICA

— Se eu disser que não?

 

Ricardo sentou em um banco ao lado de Érica.

 

RICARDO

— Que isso linda? Vai me desprezar agora?

 

ÉRICA

— Não estou te desprezando. Mas prefiro ficar sozinha.

 

  Eu estava escondido atrás de alguns arbustos observando a conversa dos dois.

 

RICARDO

— Só me tira uma dúvida. O que há entre você e o banana do Max? Você sabe que é extremamente proibido namorico aqui na república né? A dona Elizabeth é bem rigorosa e ela disse que se pegar é expulsão na certa. Sem conversinha.

 

  Érica fechou o livro e olhou fixamente para Ricardo. Enquanto isso eu ainda observava os dois ao longe.

 

ÉRICA

— Primeiro, o Max não é nenhum banana. Segundo, você não tem o que se preocupar e nem relatar nada para a dona Elizabeth. O que existe entre eu e o Max não é nada demais. Não quero nada nem com ele, e muito menos com você. Agora se puder me dá licença, quero terminar de ler o meu livro.

 

RICARDO

(levantando todo sem graça) Desculpe aí, estou saindo.

 

 

  Depois que Ricardo saiu, eu me aproximei de Érica.

 

 

MAX

— O Ricardo estava te perturbando?

 

ÉRICA

— Garoto chato! Estava aqui querendo saber o que existe entre nós dois.

 

MAX

— Você acha que ele está com ciúme?

 

ÉRICA

— Ele é um impertinente, isso sim. Mas esquece ele. E aí, já leu esse livro “Dom Casmurro de Machado de Assis”? Conta a história de amor entre Bentinho e Capitu.

 

MAX

— Não, eu nunca li.

 

 

Érica bateu no banco me indicando para sentar do lado dela. A obedeci, e sentei. E ela continuou me falando do livro que estava lendo.

 

 

ÉRICA

— Deveria ler é uma história muito interessante. Deixa eu ler um trecho pra você: (lendo) “Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto. Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de criança; depois que saiu do colégio, é certo que não...”

 

 

  Eu ficava feliz, porque apesar do grude do Ricardo eu percebia que Érica não se balançava com ele, e ilusão minha ou não ela também gostava da minha companhia e conforme o tempo passava eu me apegava mais a ela. 

  Em um dia como outro qualquer, levantei cedo, coloquei uma calça, vesti minha camisa e penteei o cabelo um pouco para o lado. Passei um perfume e saí do quarto em direção ao refeitório. Fui andando e ensaiando as palavras as quais eu falaria quando a visse, ficava imaginando a reação dela. O desprezo que por ventura poderia ter por mim ao saber que não a queria mais só como amiga, pensava em voltar atrás, “Melhor esperar um pouco mais, estamos tão bem não posso estragar isso!”. Mas por outro lado ficava imaginado o contrário: “E se ela já esperava isso a tempo?”.

Sentei-me em uma cadeira próximo a um balcão de madeira, fiquei ali a meditar em todas as possibilidades, em tudo o que poderia acontecer, como se eu tentasse adivinhar a reação de Érica conforme cada palavra ou gesto que eu viria a expor. Davi chegou logo depois sentou-se do meu lado e começou puxar conversa:

 

 

DAVI

— Nem vi a hora em que saiu do quarto.

 

MAX

— É eu não estava conseguindo dormir direito resolvi levantar.

 

 

Ricardo também foi se aproximando acompanhado de seus amigos.

 

 

RICARDO

— Olha só rapazes, como o menino está perfumado, bem ajeitado, cabelinho no gel. Está investindo hem garoto, nunca te vi assim!

 

DAVI

— Não perturba o rapaz, Ricardo!

 

RICARDO

— Não estou perturbando. Estou apenas elogiando. Está uma lindeza Maxweel. E cadê ela, a gostosa da Érica?

 

DAVI

(levantando e se colocando entre Ricardo e Max) Agora já chega Ricardo, respeita o garoto!

 

RICARDO

(empurrando Davi) Qual é maluco? Não estou fazendo nada contigo. Fica na sua. A Érica é linda, e gostosa sim. Se eu pegasse uma mulher daquela eu torava ela no meio.

 

Eu me mordia de ciúmes, a cada palavra que Ricardo dizia. A vontade que eu tinha era de pegar Érica e colocá-la em um esconderijo aonde só eu soubesse como encontrar, para que o mundo não a cobiçasse. Mas que direito eu tinha de fazer isso, se ainda estava procurando uma maneira de poder contar a ela o que estava sentindo? Eu estava com tanta raiva ao ouvir Ricardo dizendo aquilo que cerrava os olhos e apertava o pão que estava em minha mão. 

  Para a minha surpresa Érica também chega ao refeitório, mais uma vez acompanhado de Letícia. Nossa como ela estava linda! Seu jeitinho meigo, e sua maneira delicada de por os cabelos atrás da orelha me paralisavam. Eu não conseguia nem prestar a atenção no que o Davi e o Ricardo me falavam, fiquei ali completamente sem ação.

 

 

RICARDO

— Olha a nojeira que esse bunda mole faz no pão. É um mané mesmo. (ao ver Érica) Olha quem chegou. (provocando) Vou lá conversar com a minha gatinha.

 

 

Me batia uma raiva e uma tristeza ao ver ele indo em direção a ela. Davi se aproximou tomou o pão de minhas mãos e colocou em cima do balcão.

 

 

DAVI

— Escuta. Não fica assim cara. O Ricardo é um babaca, e ele te provoca exatamente porque sabe que você ficará desse jeito. Olha lá, a cara desapontada dele por ter levado um toco da Érica.

 

 

Ao olhar notei que Ricardo saia de perto da mesa de Érica. Ela olhou para mim e me deu um sorriso de canto de boca.

 

 

DAVI

— Vai lá seu bobo, ou vai deixar o Ricardo ficar com a sua namorada?

 

 

Olhei fixamente para Davi.

 

 

DAVI

— Vai lá e se abre com ela. Conta o que você sente. Não tenha medo.

 

 

  Dei uma risada sem graça procurando disfarçar o meu nervosismo, e não sei de onde encontrei coragem, mais sem responder a pergunta do Davi, levantei-me da cadeira onde estava e dei passos apressados até a mesa em que Érica se encontrava.

 

 

LETÍCIA

— Oi Max!

 

MAX

(nervoso) Oi Letícia! Oi Érica, como você está?

 

ÉRICA

— Melhor agora na sua companhia.

 

LETÍCIA

— Opa! Já vou começar a achar que estou sobrando aqui.

 

MAX

— Desculpe Letícia. Mas podemos conversar um pouco a sós, Érica?

 

LETÍCIA

(já se preparando pra sair) Imagina, o amor é lindo, fiquem a vontade.

 

ÉRICA

— Pode ficar Letícia. Vem comigo Max, vamos conversar lá no jardim.

 

 

   E para minha surpresa ela deu aquele sorriso, levantou-se da cadeira em que estava, pegou-me pelo o braço, entrelaçou a sua mão na minha e me puxou até fora do refeitório. Existia ali um jardim com imensas árvores, me levou até perto de uma delas e com um imenso sorriso me questionou:

 

ÉRICA

(com um imenso sorriso no rosto) Pois não aqui estou, o que queres de mim?

 

 

Fiquei ali em sua frente inerte, as palavras vinham em minha boca mais se prendiam em minha língua, e delicadamente ela amaciava as minhas mãos e estranhava por senti-las fria.

 

 

ÉRICA

— Elas são sempre assim?

 

MAX

(aéreo) O quê?

 

ÉRICA

— As suas mãos são sempre assim geladas?

 

MAX

(sem jeito) Só quando estou nervoso.

 

 

Érica laça-me com um dos seus braços em meu pescoço, enquanto com o outro alisa o meu rosto, e olhando firme em meus olhos me revela algo surpreendente.

 

 

ÉRICA

— Pensei tanto em você esses dias.

 

 

  Naquele momento parecia que o meu coração palpitava em minhas mãos. Minhas pernas ficaram trêmulas, que a impressão que tinha é que se Érica tirasse o braço do meu pescoço eu me sedia ao chão. O vento batia e trazia seu perfume junto a mim, fazendo se único e exclusivo cheiro a marcar aquele lugar. 

  Encostou o seu rosto no meu e levemente acariciou-me com sua boca carnuda, deixando-me sentir seu fôlego quente sobre os meus lábios. Fechei os olhos e respirei fundo na expectativa de que ela me desse um bom beijo. Mas não, afastou-se de mim e com um olhar sapeca e um sorriso enigmático perguntou curiosa.   

 

ÉRICA

— E então, o que queria mesmo comigo?

 

MAX

— Já não sei, só sei que te quero.

 

  Eu nem sabia o que estava falando, minha língua já não recebia mais o meu comando. Era a primeira vez que sentia o meu coração pulsar tanto. Érica aproximou-se de mim em um estilo malicioso, parou na minha frente, deu uma volta ao meu redor e sussurrou em meu ouvido.

 

ÉRICA

— Eu acho que também te quero.

 

 

  Fiquei ali sem conseguir mover um músculo sequer, mal respirava. Meus olhos a fitavam a cada movimento até que estivesse de volta à minha frente, deixando sua mão sobre a minha nuca, com a qual me acariciava provocando arrepios, e finalmente beijou meus lábios, me deixando louco com o sabor quente e suave da sua boca molhada. Quando o beijo chegou ao fim, Érica afastou-se de mim o suficiente para que os nossos olhos se encontrassem. Eu queria sentir o seu gosto ainda mais do que antes, minha saliva descia rasgando a minha garganta em um prazer do qual ainda não estava saciado.

 

 

RICARDO

— (flagrando) Eu não estou acreditando nisso!

 

 

Assustamos-nos ao ouvir a voz de Ricardo do nosso lado.

 

 

RICARDO

— Você me trocou para ficar com esse mongoloide?

 

ÉRICA

— Ricardo, calma! Não aconteceu nada demais aqui. Eu e o Max estávamos conversando e nos deixamos levar pela o calor da emoção.

 

RICARDO

(com deboche) Que coisa mais linda! Será que a dona Elizabeth vai pensar a mesma coisa? Sim, porque vocês sabem que é extremamente proibido namorico dentro das dependências da república?

 

ÉRICA

— Ricardo, por favor, não fale nada disso para a dona Elizabeth. Eu preciso muito ficar aqui.

 

RICARDO

— Deveria ter pensado nisso antes.

 

MAX

— A gente não fez nada demais Ricardo.

 

RICARDO

(imitando Max) “A gente não fez nada demais Ricardo”. Érica, fala sério você beijou esse cara por pena, né? Você estava se divertindo com a cara dele, né isso? O cara era BV você achou interessante seduzir ele, não foi isso?

 

 

Érica me olhou fixo e depois virou-se para Ricardo e falou com firmeza.

 

 

ÉRICA

— Exatamente isso. Tudo não passou de uma diversão para mim.

 

MAX

(tristonho) Então você não sente nada por mim, me beijou por pena?

 

RICARDO

(zombando) Ela sente seu otário, peninha de você. Eu sabia, não tinha condição de uma gata dessa com um Zé ruela como esse.

 

ÉRICA

— Desculpe Max, eu sinto muito. Eu achei fofo o seu jeito atrapalhado, todo tímido e daí eu fui vendo até onde isso iria. Mas acho que agora já deu, vamos parar por aqui.

 

RICARDO

(zombando) Olha a cara do zé ruela!

 

 

Meu coração sofria com aquelas palavras, não dava pra acreditar que tudo era um engano. Que todas aquelas palavras doces que outrora havia me dito eram mentiras, ou fui u que acabei fantasiando tudo.


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Notas finais do capítulo

Max se apaixonou perdidamente por Érica, no entanto estão proibidos de ficarem juntos. Será que vão cumprir as exigências de Ricardo, ou vão arriscar? Por favor, comentem o que acham.