O Dia Seguinte escrita por ChatterBox


Capítulo 5
Ma chérie


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá genteeeeeeeEstou amando a presença de vcs nessa fic e espero mesmo que continuem gostando :)Esse capítulo tem muitas surpresas e espero q gostemBoa leitura, Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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Saímos do Hotel, e entramos numa loja Starbucks, que ficava ali perto. Ao menos ali, já sabíamos a média dos preços, e sabia que não iria gastar muito.

Pegamos alguns donuts e sentamos numa mesa para dois, perto da parede de vidro que mostrava a rua, para degustá-los e encher nossos estômagos.

– Eu adoro donuts.

Comentei, enquanto dava a primeira mordida num donut de morango.

– Verdade, são uma das melhores coisas para se comer no café da manhã. E que bom que não são muito caros.

Concordou ele. Continuamos comendo e esperando o tempo passar.

Enquanto fazíamos isso, a cabeça de Nick girava de um lado para o outro, analisando o teto, os balcões, e as mesas do lugar, tudo com muito interesse. Estava tão distraído, que não pude conter a curiosidade:

– O que está fazendo? Por que fica olhando tanto para todos os lugares?

Ri um pouco,intrigada.

– É que... – debruçou-se na mesa. – eu gosto de olhar a decoração desses lugares, e como são feitos. É coisa de arquiteto. – deu de ombros. – já percebeu como a pessoa que fez a arquitetura da Starbucks criou um estilo próprio pra essa cafeteria? Quer dizer, você pode ir à qualquer franquia em qualquer lugar do mundo e o ambiente parece sempre o mesmo. Tem a sua própria estrutura.

– É verdade. – curvei o lábio. Fiquei um tempo quieta, observando os cantos. – Acho que você realmente nasceu pra fazer isso, não é? Desde quando você gosta disso? Arquitetura?

– Acho que desde sempre. – umedeceu os lábios, batendo as unhas na mesa com distração. Eu estava tentando não me concentrar muito na beleza de Nick, pois era bem fácil se sentir atraída por ele. Parecia que todos os seus movimentos e feições eram feitos para te seduzir. – acho que gosto da ideia de criar lugares perfeitos sabe... Dar às pessoas um ambiente feito para elas.

– É bem legal.

Sorri.

– Mas e você? Quando descobriu que queria ser artista?

Umedeci os lábios, aquela era uma história meio ridícula de se contar, e me fez dar uma risada abafada ao lembrar disso.

– O que foi...?

Ele franziu o cenho para mim, com curiosidade.

– Nada é que... É uma história tão boba...

– Não tem problema, acho que todos temos histórias bobas.

Abriu um sorriso torto amigável. Olhei para o teto e suspirei:

– Tá bem... – revirei os olhos, cedendo. – Vou contar. Foi no ensino fundamental. Eu tinha um pássaro numa gaiola. Ele era muito bonito, quase que meu melhor amigo. Se chamava Frank. Mas um dia a gaiola ficou enferrujada e pensei que tinha fechado a portinhola, mas ela continuou aberta. E ele fugiu. Eu acho que eu fiquei com isso na cabeça, sabe? Acho que fiquei meio magoada pelo fato dele não ter pensado duas vezes antes de ir.

“Achava que tínhamos uma ligação ou algo assim, mas... Isso é besteira. Pra mim fazia sentindo, então eu pintei um quadro: “conquistando a própria liberdade” era a figura de um pássaro, partindo as grades de uma gaiola com seu bico. Ganhei um prêmio na escola por ele, e de alguma maneira, senti que eternizei Frank. E desde então nunca mais parei. Gosto de eternizar as coisas. As emoções da minha vida. Gosto do jeito que a arte me dá esse poder.”

Desviei o olhar. Nick me fitava nos olhos com intensidade e me deixou tímida.

– Acho que você já deve ter ouvido isso antes, mas... – hesitou, e curvou o lábio num sorriso travesso. – As fotografias são formas mais simples de eternizar os momentos, e...

– Nick...!

Dei um tapa de leve no seu ombro, enquanto ele ria, adorando me zoar.

– Estou brincando. Sei bem o que você quer dizer. Nas fotografias não dá para expressar totalmente os seus sentimentos e a sua visão das situações... – pairou, para me encarar. Era como se suas órbitas escuras conseguissem absorver tudo que eu sentia. Essa devia ser a maneira com que conseguia levar as garotas para cama. Devo admitir que era, no mínimo, bom nisso. – Acho que temos mais coisas em comum do que pensei. Quer dizer... Visão artística, rebeldia...

– Para de dizer que sou rebelde!

Me zanguei.

– Mas você é! Por que não admite? Não é exatamente uma coisa ruim.

– Ah, não...?

Levantei uma sobrancelha, com ironia.

– Não... – procurou as palavras. – Isso significa que você vai longe para lutar pelo que pensa.

– Boa estratégia.

Bufei, com sarcasmo, enquanto balançava a cabeça negativamente.

Nick mordeu o lábio inferior e bagunçou seus cabelos, se jogando na cadeira e olhando para o lado de fora pela vitrine.

– Acho que devíamos sair por aí.

Sugeriu, com a voz arrastada. A minha face se contraiu.

– O quê...? Só pode estar louco. Não temos dinheiro, nem segurança para andar por aí em Paris como se fosse um feriado.

Cruzei os braços e revirei os olhos, pasma.

– Não precisamos gastar dinheiro. Já estamos aqui mesmo, porque não ter a experiência completa?

– Porque isso é loucura...?

Cogitei com sarcasmo.

Mas ele levantou-se da cadeira e me encarou, esperando que eu fizesse o mesmo:

– Vamos.

Chamou, insistindo. Eu balancei a cabeça negativamente, insolúvel.

– Tudo que eu quero é voltar para o Hotel e ficar lá.

– Tudo bem então. – sorriu, levantando os ombros. Fiquei um pouco hesitante, sem entender o que ele queria dizer com aquilo. – Você já sabe o caminho, não é mesmo? Nos encontramos no fim do dia.

E seguiu até a saída. Fiquei ali sentada, o fitando de boca aberta e estarrecida, antes de levantar e ir atrás dele antes que sumisse de vista:

– Espera! – o alcancei, ele olhou para mim com satisfação e continuou caminhando. – Você ia mesmo me deixar sozinha nessa cidade?

– Não. Eu sabia que você viria.

Entortou o lábio, com malandragem. Eu corei, como fui tão estúpida. Podia ter ficado ali sentada e ele iria voltar e fazer o que pedi. Agora não adiantava mais tentar fazer isso.

– Não se irrite, doce. Tenho certeza que vai acabar gostando de ter vindo comigo.

Virou-se de costas, para me olhar de frente, continuou andando para trás, sem olhar para onde ia.

– Por que tem tanta certeza?

– Porque você e eu acordamos na mesma cama. Significa que você já gostou de mim o suficiente para deixar isso acontecer, não é?

– Eu estava alcoolizada. – me defendi, empinando o nariz. – E qual é a sua intenção? Fazer com isso aconteça de novo? Está planejando dormir comigo outra vez...?

Arregalei os olhos, estupefata.

– E tem alguma chance de isso acontecer?

– Nem um pouco...!

Neguei, abalada.

– Por que está tão assustada quanto à isso? Até parece que é a primeira vez que acorda na cama de alguém desconhecido.

Quando disse isso, voltou a ficar na mesma direção que eu, e andar para frente. Eu fiquei quieta, ele tinha acabado de perceber algo que estava tentando esconder. Abaixei a cabeça e tentei fazê-lo esquecer do assunto.

– Espera aí... – de repente ele parou, e tocou meu braço, para me fazer parar também. Engoli o seco, não queria que ele notasse o meu nervosismo. – Você nunca tinha dormido com um cara de uma festa antes.

Levantei o olhar e fiquei tensa, sem saber por onde começar. Não queria que ele soubesse disso. Tinha acabado de aumentar o ego dele mais algumas vezes. Agora ele com certeza iria se sentir o máximo.

A parte boa é que ele não sabia que ele tinha sido o primeiro cara com quem eu dormir na vida. O que era um desastre.

– Isso tem alguma importância?

Repudiei, e tentei mudar de assunto. Ele sorriu cheio de si.

– Me diga você.

Desafiou. Fiquei nervosa.

– Eu nem mesmo queria ter dormido com alguém.

– Isso significa que por algum motivo eu fiz você mudar de ideia, não é? – não respondi. – Sabe o que eu acho? Eu nunca “casei” com nenhum garota antes. Mesmo estando bêbado, eu sempre tive em mente que iria somente transar. Mas com você... Foi diferente.

O que ele queria dizer com aquilo?

– E o que isso quer dizer?

– Na noite passada nós vimos algo diferente um no outro não acha? – sugeriu. Achei que estivesse zombando, mas estava sério quando disse. – Você é a primeira garota que me fez pedi-la em casamento e eu sou o primeiro garoto que você deixa te levar pra cama em apenas uma noite. O que estou querendo dizer é que... Não tem curiosidade de descobrir como te conquistei noite passada? Porque eu quero descobrir o que eu vi de especial em você.

Fiquei um tempo parada e tentando entender o que ele falou. Porque estranhamente, por mais que eu tivesse certeza de que não estava falando sério, ele estava aparentando muito sincero.

– E se não vimos nada? Foi apenas um acaso provocado pela bebida?

– Vamos descobrir isso depois da nossa lua de mel.

Rimos. Tudo bem, talvez fosse hora de baixar a guarda. Nick estava se mostrando mais gentil do que presumi que seria, e quem sabe pudesse dar uma chance de sermos amigos depois disso... Por mais que fosse humilhante ser amiga de um cara que transou comigo. Acho que a vida estava me proporcionando fazer coisas que achei que nunca iria concordar em fazer.

Nick pegou o celular na minha bolsa e foi tirando foto por onde passávamos. Tiramos foto com um mímico francês que se apresentava em frente à um bar. E perto de uma estátua de alguém que não conhecíamos.

A caminhada foi longa até o rio Sena, e passamos pela ponte para dar uma olhada nos cadeados que eram postos nas grades da ponte. Era uma tradição na França, ir até a ponte do rio Sena, e prender um cadeado com alguém. Representando um segredo. E depois jogar as chaves dentro do rio, simbolizando que agora estavam trancados.

– Acho que devíamos trancar um cadeado. Isso tudo pelo que estamos passando é um segredo que vale a pena trancar, não é?

Sugeri, meio que instintivamente. A verdade é que estava preocupada em gastar dinheiro com algumas coisas desnecessárias enquanto estivesse por ali, mas agora já tinha passado por tanta coisa, que achava melhor não me preocupar tanto. Não adiantar mesmo. Estávamos ali, e gastando dinheiro de qualquer forma.

Nick me encarou um pouco surpreso e abriu um sorriso no rosto.

– É... Acho que sim. – concordou, ainda impressionado com a minha mudança de energia. – Vamos comprar um, tem um vendedor bem ali.

Fomos caminhando até um vendedor ambulante. Com ele, tinha um cavalete repleto de diversos modelos de cadeados.

– Quando custa?

Perguntamos. E quando fizemos isso, este fez uma expressão meio confusa. Acho que não falava a nossa língua. Ergueu os dedos, mostrando o número três e disse “euros” de um jeito engraçado.

– Você aceita libras?

Mostrei uma nota de uma libra. Ele encarou a nota na minha mão, confuso. Repeti:

– Libra.

Balancei um pouco mais próximo dele. Só então ele fez um "Ooh" e assentiu com a cabeça, afirmando que recebia. Entreguei a quantia a ele, que nos entregou um dos cadeados.

– Merci.

Agradecemos, quando nos afastamos.

Andamos pela ponte procurando um lugar vazio para pendurá-lo, eram tantos que ficava um pouco difícil encontrar. A grade estava repleta de cadeados de todas as cores, tipos e tamanhos. Quando achamos um espaço, nos agachamos para trancá-lo ali.

Ficamos um em frente do outro e seguramos o cadeado com as mãos, dando uma leve risada ao olharmos um pro outro.

– Ninguém pode saber que dormimos naquele Hotel e saímos sem pagar.

– Não mesmo.

Concordei com ele, e ri outra vez. Encaixamos juntos o cadeado na grade e após trancá-lo, entreguei as chaves para ele, que jogou longe no rio. Assistimos em silêncio, a chave bater na água, e depois afundar, sumindo de vista.

– O que acha de irmos almoçar agora?

Perguntou.

– Boa ideia.

Eram por volta das uma da tarde quando disse isso.

Andamos ainda algumas quadras até chegar em um restaurante. Paramos ali porque... Bom, vendia sanduíches, e... Sanduíches não são muito caros.

Sentamos numa mesa e pedimos ambos. Eu um sanduíche de frango e ele um sanduíche de peru. Havia uma banda francesa tocando uma música típica do lado de fora, na calçada, onde estava a mesa onde nos sentamos e deixava o ambiente bem parisiense.

– Sabe que olhando o quanto é bom ser servida eu não sinto nem um pingo de saudades de servir alguém?

Comentei. Nick franziu o cenho.

– Servir alguém?

– Sim, porque eu moro em um apartamento com mais duas amigas, e enquanto estou estudando artes, tenho que arranjar um jeito de pagar as contas. Eu trabalho de garçonete nos sábados, eu e minhas amigas.

– E todas elas são artistas.

– Sim. Nos conhecemos nos EUA e achamos que seria perfeito se viéssemos juntas.

– Eu moro sozinho. Só eu e um cachorro chamado Spike. Mas tenho amigos folgados que me visitam o tempo todo e parece que moro com eles.

Rimos.

– Sabe o que eu estava pensando? Já está ficando tarde, e a gente vai ter que voltar pra o Hotel andando? – choraminguei. – estou exausta.

– Podemos ver se pegamos um ônibus, ou algo assim...

Ele disse. O garçom voltou com os pratos e deixou-os na nossa mesa, e Nick aproveitou para perguntar:

– Ei, com licença.

Oui?

– Sabe qual a melhor forma de voltar para o bairro próximo à Torre Eiffel...?

Oui. Podem pegar um metrô numa estação aqui perto. Logo duas quadras adiante.

– Tudo bem, obrigada.

O garçom sorriu e voltou para dentro. Nos entreolhamos e ficamos em silêncio por um minuto, sem ter nada para dizer. E começamos a comer.

Na verdade, estava começando a sentir que eu e Nick estávamos ficando ligados de alguma maneira. Não era mais como antes, agora sentia que podia confiar nele.

Assim que o almoço terminou nós pegamos mais dois sanduíches pra viagem, para comer no jantar e seguimos nosso destino. Descemos até a estação e fomos até o quadro de destinos. Havia uma mapa com algumas referências e o nome dos lugares.

Achamos o bairro correspondente ao nosso Hotel e procuramos o horário da sua chegada.

Nick desceu o dedo pelo quadro e parou no horário de cinco e meia da tarde.

– Que horas são agora?

Me perguntou.

– Não sei.

Encolhi os ombros, e comecei a procurar algum lugar onde dissesse que horas eram em Paris naquele instante, e meus olhos pararam num relógio na parede ao lado.

A minha face se contorceu em desespero quando vi os ponteiros indicando cinco e trinta e cinco e ambos viramos em direção ao trem que estava estacionado ali naquele minuto, e fechava as portas para partir de imediato.

– Tá de brincadeira...!

Foi a última frase de Nick antes de ambos saíssemos correndo em direção ao trem que partia naquele momento e seguíamos a sua direção, tentando alcançá-lo.

Era tarde de mais, a porta estava fechada e não iriam nos ver. A minha reação foi querer parar de correr, mas eu me surpreendi quando Nick se jogou nos trilhos atrás do trem e agarrou-se na barra do lado externo, puxando seu corpo para cima do vagão, e me deixando sem fala.

– Vamos! Agarre a minha mão, anda!

Apressou. Eu fiquei em pânico imaginando em não conseguir e ficar ali sozinha pra sempre, queria na verdade matá-lo por isso, mas não tinha tempo para pensar, apenas continuei correndo com a mão estendida na direção da sua, até que finalmente, num alívio, consegui agarrá-la e pular para cima do vagão, em segurança.

Soltei o fôlego, ofegante e fitei o chão, ainda em choque.

– Você é louco...

Murmurei entre um ofego e outro, e àquela altura estava tão aliviada e tensa ao mesmo tempo que ri um pouco, junto à ele.

– Eu sabia que você ia conseguir.

Riu-se, confiante.

– Você tem muita certeza das coisas. Espero não acabar me encrencando por conta disso.

Apontei para ele, levemente ameaçadora. Mas estava tão feliz de ter conseguido que só conseguia rir enquanto falava.

– Não se preocupe com isso. – calou-se e curvou o lábio, de um jeito malicioso que me deixou um pouco intrigada. – O que você achou de hoje?

– Não foi tão horrível.

Ri, debochando-o. Mas ele continuou sério.

– E você? – eu quis saber. – por que está tão quieto?

– É que eu acho que... Pela primeira vez, depois de dormir com alguém, eu desejo poder lembrar como foi. – contou, sincero. E me deixou um pouco desconcertada, e corada. Olhei para ele, sem saber o que dizer, encarando suas íris escuras. – Não pode me culpar por isso, você me fez gostar de você, não é mesmo?

Aproximou-se, e acabei encostando na parede da parte externa do vagão. Ninguém podia nos ver ali, era trancado e de passagem proibida. Meu coração se acelerou de nervosismo por estarmos muito próximos um do outro e as minhas veias se invadirem por uma onda de atração incontrolável. A face de Nick era atraente de mais para ignorar tão de perto.

Quando inclinou-se para perto de mim, seus olhos transbordaram desejo e sua boca veio em encontro com a minha. Meu corpo recebeu uma onda de excitação, mas consegui me segurar, e virar o rosto antes que fosse tarde, com a respiração falha.

A sua reação foi ficar confuso:

– Qual o problema...?

Sussurrou no meu ouvido, provocando arrepios.

– A gente não devia.

Respondi, tentando não deixar que notasse que a minha voz estava trêmula.

– Por que não? Você não quer...?

Virou-se e me encarou de perto, com o hálito fresco que podia sentir na minha língua. Seus braços estavam rodeando meu corpo, apoiados na parede do trem, e sentia que se não ficasse firme, cedo ou tarde, acabaria me entregando de vez.

– O que eu não quero é ser um lance de alguém.

Expliquei, sincera. Ele me olhou intrigado e depois retrucou:

– E quem disse que você é só um lance?

Aquilo me surpreendeu um pouco, mas como confiar na palavra de alguém que já deve ter dito isso pra todas? E se estivesse mentindo? Iria partir meu coração em mil pedaços.

– Como posso confiar nisso Nick? As coisas aconteceram tão rápido e não tenho certeza se você sabe reconhecer se realmente gosta de alguém ou se simplesmente... Quer tentar algo novo, quem sabe. – ele abaixou a cabeça um pouco incomodado com o que eu dizia. – Você acabou de me conhecer e...

– Eu gosto de você. Mais do que das outras. Não é mais preciso mais de um dia para reconhecer isso.

Os olhos de Nick eram extremamente convincentes, mas aquilo era loucura. Eu não podia acreditar que iríamos ficar juntos depois disso tudo, era uma ilusão.

Era óbvio que aquilo era só uma paixonite de momento que ele achou conveniente, mas quando voltássemos, iria querer sua vida agitada de baladas de sempre e me deixaria num minuto. Não podia arriscar.

– Será que gosta o suficiente mesmo? – questionei. A sua face se apagou, e senti que finalmente tinha o feito entender. Era ruim ter que dizer aquelas coisas, mas necessário. – Vamos ser amigos, está bem...? Só temos um outro por enquanto e... É fácil confundir nossos sentimentos. Não vamos nos precipitar.

Toquei o seu braço, ternamente, tentando não deixá-lo magoado. Sentia que estava mesmo entristecendo com as minhas palavras.

– Eu gosto de você. – contou, com a voz grave. – Não faria nada que você não queira. Então está tudo bem.

Aquilo me caiu como uma rocha no estômago. “Que você não queira”... Eu queria muito, mas não podia me arriscar a me envolver emocionalmente estando naquela situação. Se fosse apenas uma certa afeição que estivesse surgindo entre nós, já que estávamos naquela encrenca, sem mais ninguém além de um ao outro. Ambos iríamos acabar saindo machucados, e a amizade que poderia existir entre nós, estaria arruinada desde então. Era melhor não.

Inflei o ar em meus pulmões e tentei me convencer de que estava fazendo a decisão certa. Enquanto Nick se encostou do meu lado e ficou quieto, distante, sem querer dizer nada.

A viagem continuou e ainda não tínhamos nada para dizer, mas quando descemos, Nick me mostrou um sorriso um pouco tímido o que queria dizer que talvez já tivesse se acostumado com a ideia de que seríamos só amigos.

O caminho foi mais curto até o Hotel, e consegui descansar um pouco as pernas. Estava exausta, e quando vi a cama, só conseguir sentar meu corpo pesadamente no colchão e tirar os sapatos, enquanto gemia de alívio. Nem sequer pensei em comer os sanduíches que trouxemos. Coloquei-os em cima do criado-mudo, empacotados.

Nick sentou-se do lado oposto, e pude ouvir a sua respiração densa, enquanto tirava os sapatos e livrava-se da camisa. Não podia olhar para trás, mas vi a sua sombra enorme no chão do quarto, contraindo os músculos para se despir do quadril pra cima, e quase perdi o ar. No entanto tive a decência de virar o rosto e disfarçar o meu desconforto.

Fui andando até o banheiro para escovar os dentes, e tomar uma ducha.

Demorei no banho, para deixar que toda aquela água levasse embora o cansaço no meu corpo e a confusão que estava na minha cabeça. Quanto mais tempo passava longe de casa, maiores as complicações seriam. E era difícil não se preocupar, era difícil manter isso longe da minha mente por muito tempo.

Quando estava com Nick, ao menos conseguia me distanciar um pouco dos problemas. Era das melhores coisas de estar com ele. O fato de que me sentia segura, e que tudo daria certo. Conseguia me transportar para outro lugar por alguns instantes e me concentrar no momento.

Ele vivia dizendo que eu tinha que viver mais o instante, e realmente estava conseguindo me fazer aprender isso.

Assim que terminei, saí do banheiro e dei o lugar para Nick entrar, em silêncio. Fui até a cama e me virei. Estava um pouco tensa, imaginando o que fazer quando ele chegasse. Aquela não era uma situação que se vivia todo dia. Era estranho ter que permanecer distante quando dormíamos na mesma cama.

Não sabia bem como agir, então virei as costas para o lado onde ele iria deitar, e fechei os olhos, com a coberta sobre o corpo, tentando me fazer relaxar e dormir. Mas por mais que meu corpo estivesse exausto, não conseguia me concentrar e dormir, enquanto ouvia o som do chuveiro ligado dentro do banheiro.

Alguns minutos depois o chuveiro foi desligado e a porta se abriu. Eu fechei os olhos, forçadamente, tentando fingir já ter pegado no sono, e ouvi seus passos ao redor da cama, e em seguida o peso do seu corpo no colchão.

Ele apagou o abajur e nos deixou no imenso escuro. Senti um peso no peito quando ele se cobriu, e pareceu respirar mais devagar, até rapidamente adormecer, e eu ficar ali, acordada. Ao menos tinha visto que não iria tentar nada e já podia me despreocupar e dormir.

Mas estava tão calor, que queria poder descobrir minhas pernas. Eu vestia uma calça legging e geralmente eu nunca durmo assim. Uso apenas uma calcinha e uma camiseta.

Foi então que espiei as costas enormes de Nicks deitadas do meu lado em sono profundo, e pensei em me livrar das calças. Ainda estava muito quente, e era arriscado que ele acordasse, mas não pude evitar, me movimentei devagar, tirando as calças do meu corpo e joguei para algum lado da cama, dentro das cobertas, finalmente sentindo um leve frescor e fechando os olhos, para em fim adormecer.

****

Cerca de dez minutos depois, eu acordei. A bexiga cheia e a garganta seca. Procurei desesperadamente as calças embaixo das cobertas, e não achei. Estava escuro, e provavelmente, elas deviam estar em algum lugar próximo aos meus pés, e se fosse me esticar para alcançá-los, poderia acordar Nick, sem dúvida.

Então espiei de novo o seu movimento do lado da cama, e me inclinei para ter certeza de que tinha os olhos fechados. Parecia totalmente adormecido. Então me arrisquei, com passos lentos e cuidadosos, eu saí de calcinha e camiseta da cama, e dei passinhos apressados até o banheiro, fechando a porta num alívio.

Sentei-me no vaso, e quando terminei, abri a porta e coloquei somente a cabeça para fora para vigiar se ainda estava dormindo. A minha respiração falhou quando olhei para cama e esta estava vazia.

Meus olhos se puseram a procurar pelo quarto, até se assustarem com a sua silhueta gigantesca no escuro, logo ali do lado da porta, como se estivesse me esperando.

Entrei em choque a minha boca se abriu, quase produzindo um grito de pavor, e esse foi abafado por sua mão na minha boca, e a outra em meu punho me puxando com toda força para fora do banheiro.


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham amado esse capítulo tanto quanto eu >.Bom, até o próximo.E mais uma vez obrigada.Beijocas, Anonymous girl writer s2.