O Dia Seguinte escrita por ChatterBox


Capítulo 4
~Merci~


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá
To de volta, muito feliz com os reviews, e com um capítulo novinho em folha :)
Espero que se divirtam lendo ^^ E obrigada por todo o incentivo.
Boa leitura,
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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– O quê...? - fiquei apavorada. – Eu não posso ficar aqui por dois dias! Nós não podemos! Vamos ser procurados a partir do fim do dia!

– Eu sei! Mas não temos o que fazer, vamos ter que dar um jeito.

Deu de ombros. E senti que queria me tornar invisível. Aquilo não podia ficar pior. Estávamos em Paris, sendo procurados pela polícia, sem grana e sem proteção. Ótimo, que ótimo. Eu devo ter jogado um chiclete na cruz, porque tenho que ter feito um pecado permanente para estar pagando com tanto.

Arfei o ar e tentei contar até três. Se eu queria sair daquela imune, eu tinha que continuar equilibrada, e pensar num jeito melhor para que tudo desse certo.

– Vamos ter que arranjar um lugar para dormir, disfarces e algumas roupas.

Explicou Nick, com a mão sobre a testa, de preocupação, e respirando devagar para continuar calmo.

– Como vamos ter dinheiro para isso?

Quis saber, já ficando mais preocupada.

– Vamos ter que comprar coisas baratas, usando o seu cartão. E assim que o dinheiro chegar nas nossas contas, nós vamos dar o fora daqui. São só três dias. Vamos dar um jeito.

Tocou meus ombros, e me encarou, sincero, querendo me passar confiança. E eu respirei fundo, tentando realmente confiar nele, pois se não fizesse, iria ser muito pior.

O fato é que aquela situação toda estava me obrigando a ficar presa aquele indivíduo durante três dias. E se eu queria me dar bem naquilo tudo, tinha que confiar o máximo que podia nele. Estávamos naquela juntos, por mais que fosse ruim, e era hora de aceitar isso.

– Eu vou voltar para Londres quebrada... – tapei o rosto, em um choramingo. – não acredito que isso está acontecendo...

– Fica calma! – a mão de Nick tocou meu queixo e me fez erguer a cabeça, para olhar nos seus olhos. – vai dar tudo certo. Agora vamos buscar o seu celular. Parece que só faltam quinze minutos até completar uma hora desde que saímos de lá. Vem.

Me conduziu de volta para a calçada que atravessamos para chegar até o telefone público, e caminhamos de volta até a loja onde meu celular fazia a recarga.

Assim que tive o aparelho em mãos, acessei às fotos e procurei as mais recentes. Agora era impossível que ele desligasse, teríamos uma pista sobre tudo. Segundo Peggy, planejávamos nos casar na noite passada, então, seria realmente, aquilo tudo, uma lua de mel improvisada que resolvemos fazer enquanto estávamos bêbados?

A primeira foto se abriu e Nick se esticou para olhar. Aparentemente, éramos nós dois no carro dele, rindo como retardados, enquanto ele encaixava um anel feito de talos de cereja no meu dedo.

A segunda foto, era a de nós dois, dentro de um avião, com os cabelos bagunçados enquanto cada um virava uma garrafa de vodka goela abaixo.

Aquilo era oficial, estávamos ali porque perdemos o controle noite passada. Estávamos em perigo, porque tínhamos simplesmente enlouquecido, era exatamente o que eu esperava não descobrir. Porque depois daquele tempo todo acreditando ser uma pessoa equilibrada e ajuizada, acabara de descobrir que eu era uma delinquente quando estava sob efeito do álcool. Parabéns Maddie, que pessoa especial você é, você perde a sua noção de certo ou errado quando bebe, exatamente... Como todo mundo!

Me sentia um ser humano desprezível e inútil.

– Não acredito que eu fiz isso. Ainda não entendo. Eu sempre fui tão responsável.

Seguimos para fora da loja.

– A bebida libera uma parte nossa que não conhecemos, doce.

Disse Nick, com um riso abafado.

- Onde vamos agora?

– Comprar algumas roupas, e disfarces antes de acharmos algum lugar para ficar.

Suspirou ele. Enquanto andávamos pelas ruas de Paris. A minha barriga roncava. Não via a hora de me sentir segura o suficiente para ir até um lugar e comprar algo para comer. Aquela tensão toda estava me deixando ainda mais faminta.

Mas enquanto caminhávamos. Consegui me distrair um pouco com o charme da cidade de Paris. É óbvio que qualquer garota sempre sonhou em estar num lugar desses algum dia. É claro que a minha pretensão era estar com alguém que amasse, quando isso acontecesse. E que estivéssemos realmente numa lua de mel digna. Mas nada estava sendo como planejei.

No entanto, era bom ter a oportunidade de dar uma olhada. Só esperava que toda aquela confusão, não me comprometesse tanto a ponto de que não fosse mais seguro voltar a Paris um dia, numa ocasião favorável.

As vitrines das lojas por quais passávamos eram muito elegantes e bem arrumadas para que tivesse algo que fosse compatível ao meu saldo, então continuamos andando até finalmente nos deparar com uma esquina com lojas populares, com produtos baratos.

A qual entramos tinha um nome em francês, então por isso não me dei o trabalho de ler, e me concentrei em achar algo num bom preço que me servisse ao invés disso.

A loja vendia um pouco de tudo. Óculos de sol, perucas, maquiagem, peças de roupa, chapéus; tudo pendurado em araras, e exposto em prateleiras. Havia uma francesa loira atendendo no balcão. E alguns provadores no fundo do estabelecimento.

Nick começou a desbravar a exposição de chapéus, enquanto eu, achava algumas roupas confortáveis e úteis que me servissem enquanto estivesse ali. Me aproximei de um balaio repleto delas.

Havia um moletom com os dizeres “Paris, Je t’aime”. Era confortável e barato o bastante para que eu usasse se houvesse frio. E peguei mais duas camisetas de manga, com algo escrito na frente, calça legging e algumas calcinhas e um par de meias. Acho que era o bastante para aquele período de tempo. Poderia permutar as combinações para não precisar ter mais peças.

Me virei com a minha muda de roupas pendurada no antebraço, e um chapéu preto caiu sobre minha cabeça. Era Nick, que também usava uma boina azul-escura e os óculos que roubou do Hotel onde estávamos.

– Acho que isso é o bastante para nos disfarçar. – ele disse. Me virou; enquanto eu tirava o chapéu de cima dos olhos; para que eu me olhasse no espelho. - Uma peruca boa o bastante, seria cara de mais.

Dei uma boa olhada em mim mesma. E estava parecendo uma vendedora de quadros ambulante com aquele par de óculos roubados que ainda usava, e aquele chapéu de gângster. As roupas que usava não ajudavam muito a mudar isso. Por conta de ter estado num boate antes de ir parar ali, eu estava me vestindo de uma forma um tanto devassa. De calça apertada, e camisa folgada, mostrando o sutiã preto por dentro e os saltos agulha. Podia com certeza ser confundida com uma prostituta, o que só deixava tudo pior.

– Pareço uma vendedora de quadros ambulante.

Resmunguei. Ele soltou uma risada.

– Essa é intenção, não é? – lembrou-me. – se misturar e parecer o menos suspeita possível. E as roupas? Já escolheu todas?

– Já. Preciso provar para ver se cabem direito. Espera aqui.

Com o meu monte de roupas eu fui até um dos vestiários e fechei as cortinas. Vesti a legging e uma das camisetas. Não precisaria provar a outra, pois tinha o mesmo tamanho. Quando terminei, saí de lá e mostrei para Nick.

– E então? Está bom...?

Na verdade só estava perguntando para averiguar, porque aquela roupa era tão simples que era difícil parecer bonita ou feia. Estava apenas, comum.

Nick me olhou com os braços cruzados e abriu um sorriso sorrateiro:

– Está linda, doce. – aproximou-se de mim um tanto sedutor de mais e eu desviei a atenção para não me distrair. Não era bom correr riscos. – O que posso dizer? Não durmo com garotas feias. Mas você é uma das melhores.

Mordeu o lábio e enrubesci por completo e fiquei tão nervosa que tive que pigarrear antes de falar, para não começar a gaguejar:

– Seria bom se não falasse de mim como um objeto sexual.

Disse, e me direcionei até o caixa para pagar as roupas.

– Me desculpe. É a primeira vez que fico com uma garota por mais de uma noite, nunca tive de pensar em ser delicado com as palavras antes.

- Dá pra perceber.

Sorri com sarcasmo para ele, que só conseguiu segurar uma risada. Não sei porque estava achando o que eu dizia tão engraçado. Estava sendo séria a maioria do tempo.

A moça do caixa pegou nossas roupas, nossos chapéus, e passou tudo no meu cartão. Enquanto colocava a senha sentia um aperto no peito pelo meu dinheiro indo embora com todas aquelas baboseiras. Mas no fim, era tarde, não tinha escolha.

Saímos da loja com as sacolas cheia de roupas, e vestindo nossos chapéus. E andamos pela calçada, para achar algum lugar por aí, onde houvesse hospedagem barata que coubesse no nosso bolso.

Seguíamos em silêncio. E isso estava me deixando muito feliz. Queria mesmo que a gente tivesse uma relação distante e passageira. Mas ele fez com que minha felicidade terminasse:

– Então... Qual é o seu sonho?

Me virei para ele e ergui uma sobrancelha, sem entender muito bem suas intenções:

– Sonho...?

– É. – encolheu os ombros, sorridente. – Toda garota que sai dos Estados Unidos para viver em Londres com certeza tem um sonho.

Fiquei pasma. Como ele sabia?

– Como sabe que não sou Londrina?

– Você não tem sotaque.

Riu-se. Ah, é claro. Estou com o pensamento meio lento desde que acordei.

– Tinha esquecido disso. Acho que meu sonho é o de qualquer artista: De viver da sua arte.

– Então deve estar satisfeita agora.

Mordi o lábio e fiquei um pouco pensativa.

– Na verdade eu não tenho certeza. Tive que deixar muita coisa pra trás para fazer o que amo.

Abaixei a cabeça, não queria pensar nisso na verdade. Sempre sentia uma dor no peito.

– Que tipo de coisas você está falando?

Nick inclinou-se para olhar nos meus olhos.

Respirei fundo antes de falar. Não tinha certeza se queria tocar nesse assunto. Mas achei melhor dizer:

– Meu pais. – suspirei. – Eles nunca aceitaram minha carreira. Quando ganhei a bolsa na Escola de Artes de Londres, eles ficaram contra, mas mesmo assim eu vim. Por isso eles não falam mais comigo.

Nick calou-se. E ficou quieto, sem saber o que dizer.

Eu estava planejando não ficar íntima de Dominic e agora já tinha contado a fase mais complicada da minha vida. Já era tarde para voltar atrás.

Paramos em frente á uma farmácia e entramos nela para comprar escovas de dentes. Enquanto esperávamos na fila, Nick ficava me examinando, e me deixou um pouco desconfortável.

– O que você fica olhando, hein?

Voltei-me para ele, irritada. Ele deu um meio sorriso e respondeu:

– É que você tem a alma mais rebelde do que eu imaginava.

Abri a boca, mudei de ideia, fechei, e finalmente soube o que falar:

– Não sou rebelde.

Ele riu.

– Quer dizer que fugir de casa não é nem um pouco rebelde...?

Bufou, com sarcasmo. Chegamos na nossa vez na fila, e entregamos os pacotes para o caixa.

– Escuta, se sou rebelde ou não, não faz diferença.

– É claro que faz. Você é muito rebelde para ser tão séria. Por que é tão séria...?

Revirei os olhos e inflei o pulmão. Precisava ficar calma, mas toda aquela conversa irritante de Nick estava me irritando!

– Não te interessa.

Respondi. Desviei o olhar, enquanto entregava o cartão para a vendedora, mais uma vez sentindo-me péssima ao fazer isso.

– Acho que ainda vou conseguir fazer você se soltar.

Ele murmurou no meu ouvido. Disfarcei o fato de ter ficado arrepiada com a sua voz rouca no meu tímpano.

– Vai sonhando.

Afrontei. E saímos da loja. Já estava com a barriga roncando, e os pés ardendo e precisávamos realmente achar um lugar para nos hospedar. Ainda estava ignorando o fato de que Nick estava sendo extremamente inconveniente e invadindo o meu espaço, mas tudo bem, eu conseguia lidar com isso.

Caminhamos até encontrar um Hotel numa esquina estreita. Era um pequeno prédio de quatro andares, paredes desgastadas e um letreiro de neon, que estava desligado já que ainda era dia.

Entramos pela porta de madeira que rangeu, e nos vimos numa saleta, com um sofá velho, uma mesinha com algumas revistas dos anos 60, e um balcão logo em frente, onde estava um homem de bigode, careca, lendo o jornal com um cigarro na boca.

Nos aproximamos e ele demorou a nos dar atenção.

Oui?

Nos entreolhamos, esperando quem fosse falar, e Nick falou primeiro:

– Sabe falar inglês?

– Sim. – respondeu. Soltei um fôlego de alívio. – O que querem?

Indagou, sem ânimo.

– Precisamos de um quarto para duas pessoas por duas noites.

– Eu tenho um disponível. São trinta euros.

Nos entreolhamos. Era um bom preço.

– Então tudo bem, vamos ficar.

Nick respondeu. O homem levantou-se, e tirou uma chave de uma gaveta, entregando para ele.

– Obrigada.

Agradeci.

– O quarto fica no primeiro andar, porta sete.

– Tudo bem, e... – hesitei. – São duas camas de solteiro, certo?

– Não, uma cama de casal.

Contou. Gelei. Não, não podia ficar na mesma cama que Nick. Não era confiável.

– Nós precisamos de um com duas camas de solteiro.

– Não temos. Esse é o último.

Fiquei quieta. Não iria fazer isso, sem chance. Recuei e fui em direção à porta:

– Tudo bem, então, obrigada, vamos procurar outro lugar que tenha.

Assim que dei um passo em direção à saída, a mão de Nick me deteve:

– Não precisa, vamos ficar aqui mesmo.

Disse ao homem, e me puxou em direção à escada. Irritei-me, o que pensava que estava fazendo? Não iria dormir com ele na mesma cama, sem chance!

– Você deve estar louco se pensa que vou dormir com você!

Desfiz da ideia, com desdém, seguindo-o pela escada escura.

– Não podemos ir para outro lugar! – debateu com impaciência. – esse lugar está com um preço bom, e é o último quarto. Então fica calma.

Passamos pelo corredor do primeiro andar até a sétima porta, e eu ainda tinha o semblante de desgosto no meu rosto. O observei de braços cruzados, enquanto encaixava a chave na porta.

– Não precisa ter tanto medo. – sorriu, malicioso. – sou domesticado. Só mordo se você pedir.

Corei, e lhe lancei um tapa no ombro, desconcertada.

– Se tiver um tapete, ou sofá, você irá dormir nele!

Exigi. A porta finalmente se abriu, depois de um empurrão, e nos vimos no quarto que compramos.

Não era muito atrativo, nem muito confortável. Se tratava de um quarto pequeno, com uma cama enferrujada de casal estreita no meio, coberta com lençóis acinzentados, um armário de madeira do lado direito, e uma porta do lado esquerdo, que levava ao banheiro.

Nick deu dois passos para dentro, e depois mordeu o lábio contando, triunfante:

– Não tem tapete. Nem sofá. Desculpa, mas não vou dormir no chão.

Revirei os olhos.

– Nem pense em tentar gracinhas.

Ameacei, entre dente, apontando para o seu nariz.

Fui até o armário e deixei as sacolas lá dentro. Sentia vontade de deitar e descansar, mas não podia, porque estava com o estômago completamente vazio, e ainda enjoada, por conta da ressaca.

– Acho que agora nós podemos sair para comer algo. Estou faminto.

Nick sugeriu, também deixando suas sacolas no armário, e abrindo um sorriso amigável, transparecendo covinhas em seu rosto.

– Eu também.

Concordei.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo então? :) Espero que tenham gostado.
Beijocas, Anonymous girl writer s2.