Quase um ano havia se passado desde o término da guerra. Draco estava no antigo escritório do pai, analisando uma pilha de pergaminhos, as despesas da mansão eram muito grandes e ele já não podia arcar com elas. A única saída que encontrou foi vender a mansão com tudo dentro, inclusive os elfos, só retirou suas roupas e pertences pessoais.

A venda da mansão lhe rendeu dinheiro suficiente para pagar todas as dívidas e comprar uma casa num vilarejo próximo e ainda lhe sobrou uma quantia em ouro, pra ele se manter por um tempo. Sem luxos, claro. Aquela era sua última noite naquela casa, no dia seguinte os novos donos chegariam pra tomar posse dela.

Estava separando alguns livros, quando uma foto caiu de dentro de um deles, na foto ele estava abraçado com Hermione, perto do lago negro. Sorriu ao se lembrar da morena, ainda gostava dela. Foi até uma de suas malas – todas já estavam na sala – e retirou uma caixa de madeira de tamanho médio, dentro haviam outras fotos, dele com Gina, outras com Luna e algumas com Hermione também. Era onde também estava guardado o colar que havia dado à Gina, ela o havia jogado na cara dele, um pouco antes de nocauteá-lo com um feitiço e mandá-lo para a Ala Hospitalar. A pulseira de Hermione também estava ali, não totalmente inteira, ela havia se partido por conta da forma bruta com a qual a morena a retirou do pulso. Só não tinha o anel que deu à Luna, isso por que a loira o havia jogado no Lago Negro.

Era doloroso lembrar das três, afinal as fizera sofrer por puro egoísmo, não podia escolher entre uma delas e acabou ficando sem as três. Naquela época, realmente achava que amava as três garotas, mas agora, seus sentimentos estavam mais claros e percebia que amor de verdade, só sentia por uma delas.

Guardou a foto de Hermione junto com as outras e foi até a janela, ficando a observar a chuva fina que começava a cair, de repente, viu um vulto se aproximar dos portões da mansão e colocar uma espécie de caixa no chão. Pela distância e pouca luminosidade, Draco não podia identificar quem era, então, mandou um dos elfos até lá para verificar. A elfo doméstico de nome  Dipsy, retornou no minuto seguinte com uma cesta cheia de panos.

- Quem deixou isso? – ele perguntou.

- Dipsy não sabe, meu senhor... mas parecia uma mulher. – respondeu o elfo.

- E por que uma mulher deixaria uma cesta de roupas em frente aos portões da mansão?

- Dipsy também não sabe, senhor. Mas isso não são roupas... isso é um bebê!

- Um o quê? – perguntou espantado.

- Um bebê, senhor! – ela pôs a cesta no chão e retirou com cuidado um bebê loirinho de dentro dela.

- Isso só pode ser brincadeira! – exclamou perplexo – Por acaso acham que isso aqui é algum orfanato?!

- Tem uma carta, senhor! – o elfo apontou para um envelope dentro do cesto.

O envelope estava endereçado à Draco Malfoy, ele o pegou e o abriu, mas ao retirar a carta de dentro, acabou deixando-a cair na lareira, recuperou-a rapidamente, mas um pedaço da carta havia sido queimado. Abriu-a e começou a ler:

“Draco, sei que deve estar achando isso tudo muito confuso, mas eu não tenho outra opção a não ser você. Estou muito doente e não tenho condições de cuidar da nossa filha, me desculpe por estar te contando nessas circunstâncias, mas quando eu descobri que estava grávida, eu estava muito abalada por causa da guerra e não podia contar com ninguém, e também estava com raiva de você, por ter me enganado daquele jeito!

As coisas não foram nada fáceis pra mim desde o fim do nosso namoro, ainda estou muito magoada com você, mas preciso que cuide da Sissa por um tempo. É, o apelido dela é Sissa, como o  da sua mãe! Sei que era bastante apegado à ela, e como a nossa filha é a sua cara, achei que fosse combinar... Mas o nome dela é Melissa! Não acho “Narcissa” um nome muito bonito. Sem ofensas.

Por favor cuide dela pra mim. Vai ser por pouco tempo, é só até eu me recuperar e ”

O resto da carta havia sido queimado e Draco não sabia quem a escrevera.

“desde o fim do nosso namoro”

Havia três possibilidades: Luna, Gina e Hermione. Mas qual delas seria? Um choro alto de bebê o fez retornar à realidade.

- O que ela tem?

- Deve estar com fome, senhor! Dipsy vai preparar uma mamadeira pra ela! – e sumiu num estalo.

Draco pegou a menina no colo e tentou acalmá-la. Dipsy voltou alguns minutos depois e lhe entregou a mamadeira.

- Mas eu não sei fazer isso!

- É só colocar na boca dela, senhor.

Draco, um pouco desajeitado, pôs o bico da mamadeira na boca da criança, que parou de chorar na mesma hora.

- Como é que eu vou cuidar de você sozinho, hein?

- Dipsy pode ajudar, senhor!

- Não, Dipsy. Você e os outros elfos vão ficar na mansão. Faz parte do acordo.

- Mas, Draco Malfoy ainda é o senhor de Dipsy! Dipsy pode ajudar de vez em quando!

- Obrigado, Dipsy. Agora mais do que nunca eu vou precisar... Tenho que arranjar um berço pra ela dormir.

- Tem o seu berço, meu senhor!

- Meu berço?

- Sim, senhor. Sua mãe o guardou por todos esses anos, está em perfeito estado lá no sótão!

- Ótimo. Ponha no meu quarto.

- Agora mesmo, senhor! – fez uma reverência e desapareceu num estalo.

Draco ficou observando a filha terminar de tomar a mamadeira e dormir instantaneamente, para só então  começar a subir as escadas em direção ao quarto, nunca deixando de pensar no que havia lido naquela carta.