Acácia Amarela (final de tarde)

Fabinho está atrás do balcão arrumando alguns papéis. De cabeça baixa, ele não vê quando Perácio entra na loja.

Perácio: Oi, tudo bem?! Você trabalha aqui?

Ele levanta a cabeça por um instante e abaixa novamente.

Fabinho: Não, querido, só estou ajudando uma amiga a fechar a loja. Pois é, a gente está fechando… Se quiser alguma coisa pede rapidinho que eu não vou ficar esperando a noite toda!

Perácio se aproxima e coloca uma mão em cima do balcão.

Perácio: Eu estou procurando um rapaz… O nome dele é Fabinho, você conhece?

Ele se espanta e muda o semblante.

Fabinho: O que você quer aqui? Pode ir embora que não tem Fabinho nenhum aqui, não!

Perácio tenta acalmar o rapaz.

Perácio: Calma, eu não sou da polícia… Na verdade eu tenho um assunto delicado para tratar. Eu posso deduzir que pela sua reação, você é Fábio Queiroz, não é?! Eu venho em paz, eu prometo.

Fabinho: Desembucha, logo, cara! - ele diz impaciente.

Perácio: Meu nome é Perácio e... Eu tenho razões para acreditar que você é meu sobrinho…

Fabinho: Qual é a tua, hein, cara? Tá maluco? De onde você tirou essa história? Me viu no jornal e foi achando que é meu tio?

Perácio: Calma, calma… Eu tenho motivos muito bons para acreditar que você é filho da minha irmã, Lívia, que morreu. Por favor, deixe-me explicar… Eu vim te procurar para nós fazermos um exame de DNA...

Fabinho sorri ironicamente com os braços cruzados.

Fabinho: Exame de DNA? - ele aumenta o tom de voz - Tá pensando que é assim? Chega aqui e vem pedir exame de DNA? Pois fique sabendo eu eu não faço a mínima questão de conhecer o senhor, a sua família e muito menos fazer qualquer exame. A porta da rua é serventia da casa!

Perácio tenta se explicar.

Peracio: Por favor… Esse é um assunto muito sério, minha mãe está doente!

Fabinho aponta para a porta.

Fabinho: Ah, tá doente? Então quê que tá fazendo aqui que não está cuidando dela? Faz favor!

Perácio suspira e desiste.

Perácio: OK, eu vou… mas eu volto depois. - ele se vira e vai embora.

Fabinho fica perturbado e leva as mãos à cabeça. Giane aparece pelas portas dos fundos.

Giane: Quem foi que você expulsou daqui, cara? Deu pra ouvir os seus gritos lá de trás!

Fabinho coloca as duas mãos no balcão.

Fabinho: Um otário aí, que apareceu aqui dizendo que era o meu tio. Perácio, pfffffff, isso é nome de gente? Já foi falando de exame de DNA, é golpe, só pode ser!

Giane fica preocupada com o amigo.

Giane: Peraí, Fabinho! Esse cara pode estar falando a verdade. E se você tiver mesmo uma família? Você não quer saber quem são

Fabinho perde a paciência.

Fabinho: Pra quê? Pra começar de novo todo aquele inferno de exame, desconfiança, briga!? Sem falar que esse Perácio tem cara de ser pé rapado e golpista!

Ela insiste.

Giane: Fabinho, você pode encontrar a sua família verdadeira. Saber de onde você veio, isso vai te fazer bem!

Fabinho: Tô falando sério, Giane. Essa é uma página que eu virei da minha vida. Não quero saber quem me pôs no mundo e me abandonou, não quero mais ir atrás disso, não me interessa! Minha vida é hoje, é agora, o presente! E a minha mãe é a Margot (Noemi Marinho)! A única pessoa que ficou do meu lado pra valer. Eu não quero transformar a minha vida num inferno de novo, dá pra entender?? - sai pisando forte em direção aos fundos.

Giane pensa por um instante e então pega o celular no bolso.

Giane: Oi, Malu, tudo bem?! Estou precisando falar com você, tem como você dar uma passadinha amanhã aqui na Acácia Amarela? Não, não é nada sério, pode ficar tranquila… Tá certo! Combinado amanhã então, tchau!