Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Saber brincar aproveitar é uma coisa, saber quando parar é outra... certo?

P.S.: Dica de cast?
Flávia - Dianna Agron (Glee; Eu sou o Número 4)
Gui (Aguinaldo) - Max Irons (A Garota da Capa Vermelha; A Hospedeira; The White Queen)



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Descobri que gosto de sentir frio e quente ao mesmo tempo.

Mentira. A verdade é que já sabia, só não sabia que sabia, se de fim eu já tinha abraçado meu namorado outras vezes durante um friozinho. Só que na época não éramos namorados, então talvez isso não conte. Mas também não dá para esquecer quando ele cuidou de mim na noite dos trovões ou mesmo quando aplacou o frio do tempo ao me abraçar numa sorveteria. Só sei que era bom. É bom.

A ventania da praia me obrigou a prender meus cabelos e ainda bem que preferi calça a shorts. Não estava nublado nem com cara que ia chover, mas era praia, então sempre tem aquele frescor geladinho para nos arrepiar. Estava com meus amigos num barzinho beira de praia, com aquela trilha broxante de forró, brega, sei lá o que era aquilo. Desculpa aí quem curte, eu não acho esse ritmo interessante. Sem preconceitos, só é engraçado porque pelo jeito eu e meus amigos fazemos um rodízio. Já fomos do pagode ao rock na festa de Flávia, agora da dança de salão ao barzinho de bregas. Eu só não me arrisco a nada, nem dançar ou cantar.

Não mais, muito obrigada.

– Hoje quem me acompanha nas bebidas? Porque só bebendo para aguentar essa mulher gritando no pé do meu ouvido.

É, Dani anuncia que não foi ao seu gosto, refletindo muito das caras e bocas que faziam os outros. A guia da noite foi Flávia, e ela quase propôs outra rota para seguirmos, mas eu falei que isso não era o importante. Além do mais, quanto mais diferente da gente, mais coisas engraçadas a gente poderia encontrar. E não foi que encontramos mesmo um bebum caído no fundo do bar, debruçado sobre a mesa, dormindo como um bebê? Nem se mexia.

Gui puxou sua chave ao alto:

– Sorry, Dani, também estou de carro. Não posso exagerar, se for o caso de eu beber.

– Vocês não me curtem. Mas eu sobrevivo.

Nem precisei olhar pro Bruno para ver que ele estava com ciúmes de novo. Mas eu quis, olhei e dei de ombros para ver se algo na cabecinha dele começava a maquinar. Sabia que não rolaria nada entre Dani e Gui, porém, na cabeça daquele que detém o ciúme as coisas não funcionam bem assim. Por isso aquela música do The Killers, Mr. Brightside que tocou na festa, era tão perfeita para descrever sua situação. Não deixo de lembrar que naquela noite também fiz referência à música do Reginaldo Rossi, “Garçom”, e cá estamos... “aqui, nessa mesa de bar”. E tem um bebum atrás de nós, que deve ter afogado suas mágoas e frustrações na bebida. Nem sei dizer se isso é irônico.

Sem tristezas, apesar de ser uma despedida. O ano está no seu fimzinho mesmo. Assim como a noite, pois marcamos para às 22h na frente da casa de Flávia. Os motoristas da noite eram os homens, assim minha amiga ficou no carro de Gui e eles que abriram o caminho para nós os seguirmos.

A outra, espivitada, logo começou com suas ideias... E Bruno desdenhou.

– Sabe o que me deu uma vontade agora?

– O que, Dani, de ir tomar banho de mar? Porque eu não vou.

– Nam, Bruno, ia ficar toda molhada... eu queria mesmo era um algodão-doce.

O riso foi geral, até do garçom que logo trouxe nosso pedido de petiscos e refrigerantes. Nunca espero normalidades dessa garota mesmo. Tive que retrucar.

– Ok, Daniela, onde vamos encontrar um algodão-doce... agora?

– Sei lá, eles passam por aqui. Se o virem, só chamarem o moço. Se ele tiver de vir, ele virá... mas que ele venha... Ô moço do algodão-doce, APARECE, tio! Tem clientes essa noite!

Nossa mesa fica de frente para o calçadão, onde muitas pessoas passeiam, correm, fazem caminhadas, conversam... A avenida estava cheia de carros estacionados e o vento que corria era forte. A lua estava cheia desde sábado, linda no céu, sem ser eclipsada pelas nuvens por muito tempo. Gui ficou numa cabeceira, de costas para a avenida porque Dani disse que não queria “comer cabelo”, de acordo com sua teoria de que se sentasse ali ficaria de costas para o vento, assim sentou-se na outra ponta.

Dizem por aí que quem senta em ponta de mesa paga a conta, outros dizem que é o líder. E Dani, dona de si mesma, gritando que nem uma louca desse jeito pelo moço do algodão-doce não parece com nenhum dos dois, mas chama uma atenção que é uma beleza. Porque o tanto de gente que virou para nossa mesa, não dá para contabilizar direito, apesar de não ter muitas pessoas no bar, a maioria foi da avenida mesmo. Ainda bem que hoje não tinha ninguém para beber com ela, pois se ela está assim com refrigerante, imagina com umas doses de álcool no sistema.

E imagina a cara que o Bruno ia fazer...

– Ela disse “clientes”? Por que ela colocou no plural?

– Gui, não faz pergunta difícil, cara. Eu sou sincera, disse “clientes” porque eu sei que vocês vão ficar com vontade por me ver comer também. Enquanto o tio não chega, vamos para os presentes?

“Gui, O Perdido” algum dia, no cinema mais próximo de sua casa.

– Epa, ninguém me falou de presentes. Como assim ninguém me disse?

Dani tenta um acordo pra todo caso, muito bem a vontade na conversa:

– Tu paga a conta e meu algodão-doce... ficamos de boa.

– Tá. Sem problemas... Eita que bolsa de mulher é grande mesmo, porque olha, não tô vendo presente nenhum...

Na mesa, coincidentemente estávamos sentados separados por homens e mulheres. Do lado esquerdo de Dani, estava Flávia e do outro eu, do lado direito de Gui fica Vinícius e do outro Bruno. Com essa declaração do meu amigo, pisco para as meninas e me viro para ele na ponta:

– Gui, somos três mulheres para um homem, porque eu sei que o Vini e o Bruno vão ficar só rindo da tua cara quando a gente levantar para te provar o peso de nossas bolsas.

– Caras, vocês nem para me defender... cadê nosso acordo tácito?

Por um segundo pensei que seria um daqueles momentos “cri cri” que ninguém responde. Só que Bruno fala, para minha surpresa, pois sei que ele não é muito chegado no Gui.

– Gravar e colocar no youtube faria parte do acordo tácito?

– Nops.

– É, então a gente só assiste mesmo.

Risos a parte, Dani diz que Gui já começou a troca de presentes porque é ele que está patrocinando o encontro, então ele que deveria indicar o próximo. Ganha um picolé quem acha que eles estão de flerte aberto, que um dá trela ao outro e um terceiro na mesa não gosta nada. Um olhar enviesado de Vini para mim indica que temos um ganhador. Então minha amiga transloucada dá partida.

– Mi, uma coisa que eu sempre vi nas nossas cantorias de ônibus era o quanto você gostava de observar os chaveiros dos passageiros. Lembrando que no outro dia você foi assaltada, eu comprei isso aqui (http://bit.ly/15ki1t0) para você.

O pequeno embrulho branco de fita azul é passado a mim com um abraço e a expectativa de todos de ver o que era depois desse discurso dela...

– Não me diga que é um... ah, não acredito que é um chaveiro-canivete. Há, agora sim ninguém mexe comigo. O seu, quando meu olho bateu, disse pro meu cérebro “esse é a Dani”.

Delicadamente ela abriu e ao encontrar um colar de pingente de microfone (http://bit.ly/1dG1E3e), resolve “estreá-lo” com um som de carro que passa tocando um refrão de Foster The People e me puxa para tirar as fotos que eu nem tinha percebido que Gui estava registrando.

I said don't stop, don't stop, don't stop… talking to me, stop, don't stop, don't stop… Giving me things, stop, don't stop, don't stop… Laughing about it...

Depois dessa eu disse que tinha um presente especial e todos viraram para meu namorado todo presunçoso. Desculpa, Vini, dessa vez não era você. Quando eu disse isso, os meninos começaram a encher o saco dele dizendo que tinha perdido a moral, então cortei entre risos que era o de Bruno, e por ser tão especial, até porque ele não queria, eu o deixaria por último. Assim entreguei o de Flávia, que era um cordão com pingente do fantasminha do jogo de PacMan que eu sabia que ela adorava jogar (http://migre.me/9jrLD). Era o jogo de “paciência” do celular dela. Muitas foram as vezes que a bateria dela baixava rápido por tanto ela jogar, mesmo em aula. O Gui foi o próximo, lhe dei um chaveiro que não é só chaveiro:

– Lembra que eu tinha perdido seu pen-drive no começo do período? Pois é, esse, além de fingir ser um chaveiro, é um pen-drive.

– Cara, nem eu me lembrava disso. Só sei que teve um que apareceu aí, eu aproveitei. Achado não é roubado. Mas valeu, gostei.

O próximo foi Vinícius e eu sabia que todos iam zoá-lo. Ele não queria uma mostra de meu ciúme? Agora ele ia ter a mostra do meu sentimento de posse. Era um cordão também. O detalhe melhor era o pingente.

– Então gente, por favor, não riam... mas esse presente que eu comprei para o Vini é sobre uma coisa que conversamos no outro dia. Ele diz “não ver” quando estou com ciúmes, então é para marcá-lo bem como MEU, que as mulheres pensem duas, três vezes antes de sair de papo com ele, pois dona ele agora tem. Abre.

Eu disse para ninguém rir, mas só foi ele tirá-lo do pacote e abrir aquele MEU sorriso que ninguém se aguentou e pediu para que ele mostrasse bem o presente (http://migre.me/9jsow). Era uma bonequinha prateada de vestido, tal como ele me conheceu. Me puxou para um beijo profundo e se não fosse pela galera a nos interromper, ele não pararia tão cedo. Ele nunca para cedo, na verdade, me deixando sem graça a frente de todos. Me abraçou de lado e aquele calor do seu corpo me envolveu deixando-me naquele estado de frio e quente novamente.

Era algo muito íntimo para dividir com todos na mesa, então engoli seco e dei passagem para ele ser o penúltimo, pois eu fecharia com a surpresa de Bruno e meu presente de Flávia ela acabou por me dar numa loja de roupas mesmo, uma blusa branca para o ano novo.

Vinícius quem toma a vez:

– Então, acho que a ideia que eu tive foi meio que de uma... piadinha interna, de uma vez que ela se referiu a mãe, falando de “amor do tamanho do universo”. E, como ela falou sobre outros presentes, quando bati o olho, vi que era perfeito. O engraçado é que no outro dia ela comentou sobre aquele filme M.I.B., e eles têm uma perspectiva interessante de universo. Se vocês bem se lembram do final, o universo não passava de uma bolinha de gude azul que monstros carregavam e brincavam, então, em reflexo disso, meu presente contém um pingente que lembra um pouco dessa história do filme, que pode existir todo um universo na correntinha do gato. Só que não é um colar. Abre.

Eu fiquei... besta. Estarrecida. Não com o presente em si, mas de tudo que ele falou e relacionou. Quer dizer, o que ele resgatou. E a história de M.I.B.? Me senti como na hora que acordamos e ele falou todo aquele papo de física e lógica que me deixou boquiaberta. E a pulseira (http://migre.me/9jgTx ; http://migre.me/9jgU4) é linda. Ponho no pulso toda emocionada e quando ia retribuir com um beijo, a galera nos corta dizendo que para isso tínhamos muito tempo e todos estavam ansiosos para o final. Confesso que eu também estava.

– Ok, amigos, o “gran finale “...

Faço suspense e Gui coloca a câmera a postos. Eu levanto e Bruno também, rindo antecipadamente antes de receber o embrulho. Como uma premiação, passo a ele e antes de rasgar o papel brilhoso de presente, faço um pequeno discurso:

– Uma coisa que sempre nós lidamos é o inesperado. Ele que por maioria estraga nossos planos e bagunçam nossa vida, até que todo o equilíbrio é reestabelecido.

– Mi, para de falar assim, tá me deixando com medo.

Daniela finge um estado de medo, mordendo as unhas dramaticamente, seguida por Flávia que diz para eu não embromar muito. Mordo o lábio contendo-me ao máximo e finalizo o discurso.

– Não se preocupem, não é uma bomba. E sim, tem suas utilidades... mas a ideia mesmo é enfatizar o inesperado. Pode abrir.

Calmamente Bruno puxa a fita para fazer mais suspense que eu, vai mexendo devagar no embrulho e quando ele é o primeiro a ver... antes de tirar do plástico brilhoso, tenho uma visão privilegiada de suas expressões. Primeiro de tentar entender o que o objeto, identificá-lo, e toda a confusão de que cobre sua face por duvidar da minha sanidade, como Flávia fez comigo na loja. Com a pressão de todos, ele puxou de vez e mostrou o que era (http://migre.me/9jLN1).

– Eu acho que não entendi... um chapéu de palha? Tem certeza que estamos na época certa? Pensei que era Natal...

– Justamente por isso. Imprevisível.

Ele teima, mas sei que gosta. E pelo olhar discreto que trocamos, ele entende o que quero lhe dizer. Mais uma vez ROMA parecia estar escrito em letras garrafais na sua testa. Pode parecer que eu esteja fazendo pressão nele, mas é que eu quero que ele veja o que ele faz inconsciente.

Quem diria que seria ele o mais brincalhão com seu presente?


~;~



Os dias que se passam mal eu sinto, passam tão rápido que parece que nem consegui abrir o olho para uma manhã e já era noite. A tendência era ser assim até a viagem... Depois da quarta-feira à noite, despedida dos meus amigos, regada a uns chororôs no final (e sem algodão-doce, para infelicidade maior de Daniela) só veria a Flávia, porque ela, além de continuar a fazer compras junto, iria viajar comigo. Marcamos para a sexta-feira em cima do Natal já, que esse ano seria na passagem de sábado para domingo – eu sei, quer feriado pior? Minha mãe que não gostou muito dessa nossa data de ida, nem meu avô.


Queria logo sua netinha para ver o alvorecer, retrucou ele. Minha avó concordou, disse-me que minha voz transmitia muita felicidade para cortar antes do tempo. Meu pai ficou com um pé atrás, pois mesmo tendo seu filho para me vigiar, resmungou um pouquinho.

Mesmo estando grudada a Vinícius por muito tempo, não queria dizer que estávamos sozinhos. Fui na quinta-feira buscar algumas notas na faculdade e encontrei com Djane. Aquele desconforto de aparecermos abraçadas pelos corredores ficou no passado. Como bem Vini falou no outro dia, estávamos muito amigas, e nos comportamos como tais. Ela me acompanhou num jantar ao sairmos de lá. Vini não demorou muito e apareceu.

Não posso mentir de que me emocionei com os dois tão unidos. E quando Djane chorou por receber um presente de seu filho? Certamente um par de brincos perolado que ela não iria mais tirar tão cedo. Eu não sabia se iria encontrá-la quando saí de casa, ainda bem que tinha o presente dela na bolsa. Conheço pouco de Djavan, mas lembro que no dia que ela foi me deixar em casa, logo que Vinícius saiu do hospital, e conversávamos sobre o que ele sabia do mistério da família, era esse artista que tocava no carro.

Como eu não sou muito chegada a MPB, demorei muito a descobrir o nome da música. Era “Oceano”. Só soube mesmo por causa do meu avô, que ele sabe bem dessas coisas... e por causa dele, comprei outro dvd do Djavan, pra ele não ficar com ciuminho. Eu não disse que a sondagem que eu estava fazendo com ele era para minha sogra, talvez tenha entendido que era para ele. Assim, para todo o caso, tinha seu presente já.

Falando em avôs, seu Júlio conseguiu alta na sexta pela tarde. Murilo ainda não estava dirigindo, assim foi comigo e Vinícius para o hospital. Meu irmão ainda se sente desconfortável por entrar em hospitais, quando na verdade quem deveria sentir isso era Vinícius, já que ele passou uns nada belos meses por lá, mas quanto a isso ele estava bem indiferente. Queria mesmo era ver a saída de seu avô, enquanto Murilo queria logo chegar a casa em que programamos passar a tarde.

Engraçado é que ele disse que os novos exercícios dele era com o videogame, pois ele fazia parte daquelas pessoas que quando pegam um controle de jogo de corrida, se sentem como se estivessem com um volante e ficam fazendo mil e um movimentos com o braço de acordo com o cenário do jogo. Assim ele levou seu aparelho e jogos para a casa de seu Júlio.

Queria este oferecer um almoço ou jantar pela sua volta para casa, mas claro que não deixamos. Fizemos só um encontro pela tarde mesmo, os meninos disputando não só na corrida, mas a torcida minha e de Djane. O estranho foi ter Filipe e Iara por lá. Filipe tinha se mudado para a casa do pai desde aquele trágico dia. Djane tinha razão, ele estava estranho demais.

Ele foi gentil comigo. Esperava, sei lá, senão apatia, um comportamento desesperado. Conversou rapidamente quando nos encontramos na cozinha, coisas banais por eu ter ido buscar umas pipocas. Seu Júlio estava descansando e Iara não demorou muito teve que voltar para o trabalho. Murilo devia até estar no centro meteorológico também, mas preferiu faltar. Ele estava de boa com Aline esses dias... só não me conta os detalhes direito. Tive que fazer chantagem com o remédio para dor dele para que pudesse me soltar algumas coisas. E sim, ele não perdeu tempo, aproveitou que eu saí com a galera na quarta e a chamou para assistir filme com ele.

Só que ele não conseguiu ficar com ela... o que explica ele estar meio para baixo, pensativo. Eu sei, Murilo pensativo não é algo que se vê todos os dias, é estranho. E fofo ao mesmo tempo. Mas nada mais que isso ele falou.

Estava achando o máximo ele todo apaixonadinho, adorava o aporrinhar. Só que eu também estava na mesma situação, então ele ficava dando uns chega pra lá no Vini quando nos via muito juntos. Na quinta mesmo, depois que chegamos do jantar, Vini ficou um tempo lá em casa e quando as coisas começavam a esquentar um pouco, meu irmão empata aparecia e nos separava. Aquelas regras que uma vez ele ditou, ainda estavam em vigor, disse ele. Logo que meu namorado foi embora e eu fui para o quarto dormir, Murilo apareceu na minha cama para conversar.

Quando digo apareceu, tá mais para “ele quase me matou do coração quando liguei a luz e o vi sentado na ponta da minha cama a minha espera”. Tinha uma expressão séria. Pensei de primeira que fosse sobre Aline. Não era. Mal entrei no quarto e ele falou tudo na lata, sem notar meu mínimo susto. Ele parecia inquieto.

– Mi, eu sei que você não concorda com meus “métodos” para cuidar de você, mas só faço porque acho necessário. Como você vê, por mim o Vinícius é um irmão já, parceiro mesmo. Só que acontece que ele gosta de você, o que me deixa numa má posição...

Apesar de sério e expressão preocupada, sua voz era calma. Ainda na porta fiquei parada ouvindo o que mais ele tinha a dizer. Queria saber qual era o ponto que ele queria chegar antes de ter que o interromper ou responder.

– Ele passou no teste, você sabe, e nem precisou me enfrentar na verdade. Como te disse na outra vez, ele provou ser digno e eu confio nele. Mas ele é homem e você mulher... Só peço para tomar cuidado de não se envolver depressa demais, ok? Vão com calma. Eu não tô a fim de bater nele, de novo, mas o farei se tiver de fazer.

Eu sabia que vinha do fundo do seu coração, uma sinceridade máxima, cuidadoso e “ameaçador” como sempre. Seu discurso foi lá no meu coração e voltou... ele tinha seus belos momentos, tenho que confessar. Apesar de ser a peste que me atormenta 16h, 18h por dia – sim, eu desconto minhas horas de sono – é um cara que eu amo e admiro muito. Deve ele não saber, mas também tenho ciúmes dele. A cumplicidade que ele tem com Vini, por exemplo, é uma dessas horas.

O que os dois dividem às vezes me faz sentir um pouco de fora. E sendo Vini sozinho, digo, sem irmãos (apesar de termos descoberto que Iara é uma irmã-que-não-é-irmã), ver os dois como são me deixa feliz. Os dois homens da minha vida atualmente... mas Murilo assim, nesses momentos, tão exposto e franco, me dá vontade de poder confessar isso a ele. Porém, sabendo de antemão como ele é, sempre guardo isso para mim. De qualquer forma, ele sabe o que sinto por ele... meu irmãozão.

Ao seu lado sentei e segurei sua mão para tranquilizá-lo. Só que não. Como uma vingancinha por ter dado um de empata comigo e Vinícius, um comportamento travesso maquinou na minha cabeça... Eles podem ser parceiros, irmãos, cúmplices, o que seja, mas eu tenho proteção o bastante agora e gosto de aprontar de vez em quando. Assim, tendo ele esperando por uma resposta, mesmo sabendo que era sacanagem brincar com ele desse jeito, comecei bem amena como o próprio clima que ele criou.

– Eu sei, maninho, eu entendo e, estranhamente, agradeço. Mas só não bate muito forte... o seu sobrinho não pode crescer sem pai. Ele saiu outro dia do hospital... Eu não quero que o moleque cresça culpando seu tio.

Murilo deixou minha mão que ele começara a apertar para deixar o badalo de suas emoções o alterarem. Levantou-se num átimo tamanha a sua surpresa. Por fora eu mantinha o drama, por dentro eu rolava de rir de sua expressão. Ele sempre fazia umas assim. Só que dessa vez ele não gritou ou disse algo de imediato... algo perpassou por sua mente e o fato dele demorar a falar só me faz pensar que a desconfiança que rolava a solta naquela cabeça estava fazendo algum “clic” que eu queria saber. O problema é que ele não parecia querer falar, então fui amenizar o caso.

– Calma, é brincadeira, é brincadeira.

– É bom mesmo ser brincadeira, porque se eu souber que esse cara tá te desrespeitando... olha, não vou ver nada mais que vermelho na minha frente.

Drasticamente ele mudou de Vinícius-parceiro para “esse cara”. Algo definitivamente sério ele estava guardando de mim, eu senti. Sua reação não foi bem comum do que eu estava acostumada a ver. Será que Vini fala de...? O que tanto eles devem conversar? Eu precisava dar uma sondada, e a brincadeira é a única coisa que me vem à cabeça para poder verificar suas reações.

– Nada. Vinícius não vai ser papai, o pai é o Bruno.

– Porra, Milena, para de me sustos.

Ele sacou dessa vez que era brincadeira, só que eu ainda tinha uma brecha para aumentar seu terror. Desviei do seu olhar, engoli a seco, dei uma suspirada forte e deixei meu papel correr...

– Tá, agora foi sério. Antes de namorar o Vini... eu fiquei com o Bruno e...

“E...” foi um belo suspense. Percebi a tempo que era hora de parar e falar sério, ele merecia. Estava cedendo muito para quem costumava pegar ao extremo do meu pé, tenho que confessar. Ele não merecia o que estava fazendo com ele.

– Calma, é brincadeira, é brincadeira, é brincadeira. Você se assusta muito fácil. Nem pensa que nem teria dado tempo para uma coisa sem-noção dessas.

– Porra, Milena, quando eu digo que você não sabe quando parar, é sério. Eu vim aqui de boa e você fica de sacanagem comigo. Depois não reclama...

É, ele ficou bolado. Me senti culpada.

– Eu sei, eu sei. Desculpa, tá? Não foi minha intenção. Mas de verdade, eu agradeço por esse seu gesto. Entendo sua posição. Eu só... me sinto estranha por falar assim sobre isso com você. Quer dizer, você nunca foi de aprovar muito minhas decisões ou conversar sobre elas, sempre chegava já ditando tudo.

– Bom, as coisas mudam.

Cara, essa Aline faz milagre. Ou é o Vinícius. Ou é a vida como ela é... pregando peças e nos surpreendendo a todo momento. Ele voltou a se sentar onde estava no começo, me deu um beijo na testa e foi para seu quarto. Só que antes de fechar a porta do meu, acrescentou meio taciturno – algo que não faz parte de quem ele é, ficando mais estranho – uma sentença que confirmava aquilo que acreditava...

Vinícius também estava o mudando.

– E os outros nunca te mereceram.


Trilha indicada: Uncle Kracker – Smile


http://www.youtube.com/watch?v=PP_apsbNev8


You're better then the best


I'm lucky just to linger in your light

Cooler then the flip side of my pillow, that's right

Completely unaware

Nothing can compare to where you send me,

Lets me know that it's ok, yeah it's ok

And the moments where my good times start to fade


You make me smile like the sun


Fall out of bed, sing like bird

Dizzy in my head, spin like a record

Crazy on a Sunday night

You make me dance like a fool

Forget how to breathe

Shine like gold, buzz like a bee

Just the thought of you can drive me wild

Ohh, you make me smile


Even when you're gone


Somehow you come along

Just like a flower poking through sidewalk crack and just like that

You steal away the rain and just like that


Don't know how I lived without you


Cuz every time that I get around you

I see the best of me inside your eyes

You make me smile

You make me dance like a fool

Forget how to breathe

Shine like gold, buzz like a bee

Just the thought of you can drive me wild


Você é melhor do que os melhores


Tenho sorte só por ficar sob a sua luz

Melhor do que o outro lado do meu travesseiro, é verdade

Completamente inconsciente

Nada se compara ao lugar a que você me envia,

Deixe-me saber que está tudo bem, sim está bem

E nos momentos em que os bons momentos começam a desaparecer


Você me faz sorrir como o sol


Cair da cama, cantar como um pássaro

Tonto na minha mente, girar como um disco

Louco num domingo à noite

Você me faz dançar como um bobo

Esquecer de respirar

Brilhar como ouro, zumbir como uma abelha

Só pensar em você já me deixa louco

Ohh, você me faz sorrir


Até mesmo quando você não está


De alguma forma você aparece

Assim como uma flor que nasce de uma rachadura na calçada e assim como

Você rouba a chuva e assim como...


Não sei como eu vivi sem você


Porque sempre que estou ao teu lado

Vejo o meu melhor nos teus olhos

Você me faz sorrir

Você me faz dançar como um bobo

Esquecer de respirar

Brilhar como ouro, zumbir como uma abelha

Só pensar em você já me deixa louco



Meu Vini.



Observá-lo jogando videogame era uma coisa bem trivial. Vê-lo disputando com meu irmão ou mesmo provocá-lo para ganhar dele pode ser idiota, mas eu queria todo esse estado de idiotice para mim desde que significasse nossa felicidade. Bem vi Filipe ora e outra passando pelo corredor, e a ele não podíamos ser totalmente indiferentes. Éramos todos como uma grande família improvisada, com seus erros, machucados, segredos e cuidados. Apesar de ter tudo bem estampado, achamos um pedaço de alegria.

Finalmente, né? Eram esses bons momentos que eu queria construir ao lado deles, mesmo de Filipe. O pause dele ainda vai dar play, nós sabemos, mas por enquanto, eu queria era curtir tudo isso. Além do mais era Natal, não? Era época de perdoar os erros, por mais errôneos que fossem, ou pelo menos dar um tempo ao tempo. Era muita felicidade para se dispensar assim. Djane, Vini, Murilo, seu Júlio, Filipe e Iara concordavam, apesar de as coisas serem estranhas. Bom, o pior estava passando, era com isso que devíamos contar.

Enquanto curtia essa nova família que estava agregando, aproveitava meu relacionamento com Vinícius. Ele definitivamente mudou boa parte de minhas perspectivas. E eu, aparentemente, o mesmo para ele.

Fora minhas horas de sono, eu pensava nele tão naturalmente quanto respirar. Às vezes estava pensando em uma coisa bem aleatória e lá ele aparecia. Me peguei assim tantas e tantas vezes que parei de me policiar... Não precisava mesmo, culpa nunca mais. Sentia sua falta dentro de casa, perambulando, fazendo graça, trabalhando na mesa, assistindo TV, dormindo no quarto de hóspedes... Por causa dele peguei o abajur que deixara e o coloquei na cômoda ao lado da minha cama. Só meus pensamentos não bastavam para cobrir essa falta, eu precisava vê-lo todos os dias e assim estava sendo. Não importava o local ou com quem estávamos, com tanto que estivéssemos juntos. E isso não me assustava, na verdade, só me deixava mais ansiosa de estar ao seu lado.

Boba apaixonada é uma coisa, viu.

Djane permitia que eu o roubasse um pouquinho dela... disse-me que só o fazia porque era eu e não tinha ninguém mais que pudesse fazer seu filho feliz. Sério, a mulher queria e conseguiu me deixar sem palavras depois dessa. E desconcertada. O brilho de vida eu tinha resgatado definitivamente – minha promessa vingou! –, concordo, mas ficava encabulada quando me davam tamanho crédito assim. O carinho que vinha dela era ótimo, apesar do lembrete da falta que minha mãe fazia.

Por enquanto eu não podia unir minhas duas famílias numa mesma data. Pensar nisso para o futuro já me arranca uns sorrisos, imaginando Djane de papo com minha mãe, Vinícius de amizade com ela, papai dando uma dura nele, Murilo botando lenha na fogueira... Eita. Era assim que minha mente trabalhava quando estava longe dele. Geralmente quando ia dormir.

Me sinto livre, leve e solta, espalhando sorrisos por onde passo. Quero que todos riam comigo, que vejam como uma pessoa fazia um efeito danado na vida de alguém. Mas às vezes queria um tempo só nosso, que é algo desde sempre difícil para nós, interrompidos por um drama, por uma confusão, que seja. A gente conseguia vez e outra, mas, como dizem, “tudo que é bom, dura o tempo necessário para ser inesquecível”. Isso Vinícius sabia bem como garantir.

De volta à sala, a uma tarde gostosa de sexta-feira, devo falar do milagre – que achei muito do suspeito – de que meu irmão ganhou a maioria das corridas. Ok, ele é um exímio jogador, apesar de não ser bom estrategista – quer dica maior para a explicação de seus planos darem errado? – e é meio viciado. Acho que não sabe é trabalhar bem a intenção de ganhar com a concentração pra ganhar, porque ele é o tipo de pessoa que se distrai muito fácil. Por isso por muito tempo consigo e conseguirei enrolá-lo quando quiser.

Talvez Vini queria dar um desconto para figura, já que estava meio chateado ainda com a história de Aline – é, meu irmão tem que “rebolar” para fatalmente fisgar a moça –, eu faria o mesmo. Digo, dar um desconto. Só joguei uma vez e foi contra meu próprio namorado. Nada de deixar-me ganhar, eu fiz por merecer, oras. O negócio é que eu sabia ser discreta, já Murilo... nem tanto. De imediato baixou a voz quando o repreendemos por estar na casa alheia, com o anfitrião descansando. Mas não deixou de comemorar, conseguiu até mexer melhor seu braço.

Ainda estava dolorido, porém, num estado tolerável. O que era muito bom, pois além de deixar de tomar remédios para dor, ele já poderia dirigir e levar o carro para uma checada no dia seguinte.

Duro será o dia que teremos que deixar essa família para trás e ver os meus outros familiares... só de pensar, me bate uma “descoragem” – essa palavra existe? Devia, porque o sentimento que se aplica em mim é real – e uma prévia saudade antes do tempo. Tento me manter anestesiada de amor para não ficar me atendo a isso...

O bom é que Vinícius sabe colaborar.


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Notas finais do capítulo

Pode deixar que logo vocês conhecerão a família transloucada da Milena. Na verdade, transloucação é de família mesmo.



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