Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Como diz a própria sinopse, existe certo mistério quanto ao passado de Milena, algo que ela guarda a 5 mil chaves. Aos poucos ela vai soltando, então atenção aqueles que estão tentando adivinhar.
Enjoy.



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Viver numa área comercial é bom pelo lado de que sempre tem movimento pelas ruas, tem qualquer tipo de venda e serviço para ser prestado perto de casa, seja em casas ou edifícios comerciais, um acesso fácil e confortável. Meu bairro não é exatamente assim. No máximo lojas, padarias, sorveteria, pizzaria, lanchonetes, locadoras... algo do tipo entretenimento mesmo. Mas para meu caso em especial de hoje, era bom não ter clínicas ou edifícios de atendimento de saúde tão próximo do lar... Vai que alguém me reconhecesse? Não, muito obrigada.

Ok, uma mulher ir ao ginecologista é uma coisa super normal, afinal, sofremos altos movimentos hormonais por mês e temos que cuidar bem deles, principalmente quanto a efeitos que aparecem à superfície, seja mudanças de humor, seja dores mesmo. E pra manter essa rotina, uma visitinha à médica era uma boa. Até porque eu queria mesmo conservar meu período, evitar que a noite passada resultasse em outros seres humanos na Terra... Não estava a fim de perpetuar meu DNA nesse mundo ainda. Foi o que eu disse, toda nervosa, a minha médica quando ela perguntou o motivo de eu aparecer cedo no seu consultório sem hora marcada.

Ainda bem que ginecologistas (e obstetras também acho) são meio psicólogas. Não só compreendem nossos casos como sabem nos orientar bem. Fez as perguntas de praxe – vulgo “as vergonhosas” – e disse-me quase as mesmas coisas que uma outra já havia me orientado um tempo atrás. Da vez passada eu estava bem insegura, e foi pelas pressões de colegas mais minha paixão por Eric que me levaram a uma consulta bem embaraçosa com minha primeira ginecologista. Sério, realmente naquela época eu não estava preparada e ainda bem que não chegou a rolar nada, pelo menos nada de fim ou concreto. Agora foi decisão e concessão minha, apesar de um despreparo momentâneo.

Tive que esclarecer que me referia a minha inexperiência, mas sim, doutora, usamos proteção. E pra reforçar essa proteção, vim até a senhora. Pare de falar nomes estranhos, pedir para ficar traduzindo toda hora é chato e me faz sentir burra. E idiota. Médicos podem até nos acalmar, mas quando começam a falar difícil, parece que é para se gabar. Deixa eu falar de Economia e trâmites administrativos com eles que eu quero ver a confusão de vocês ante os lindos termos técnicos que vou lhes apresentar...

Recebi uma caixa de amostra grátis de uma pílula e ela me liberou. Ao chegar à recepção de novo, a atendente checou as informações do meu plano e me perguntou se eu estava mais sossegada. Respondi com outra pergunta, “como assim?”. Disse-me que observou enquanto eu esperava para ser atendida e eu pareci preocupada, perdida em tantos pensamentos que a revista que peguei pra folhear não passou da terceira folha. Bom, isso de fato aconteceu. Da revista, eu digo.

Não era sobre aquilo que ela pensava. É que eu estava intrigada, com uma pulga atrás da orelha. Levantei cedo para pegar um ônibus e vir ao consultório, só que Aline apareceu lá em casa antes de ir para o trabalho para buscar uns documentos e ela me deu carona até onde o ônibus me deixaria. Em sua presença, Murilo perguntou para onde eu iria tão cedo da manhã – quem me vê de pé antes das 8h da manhã sempre tem essas reações – e eu lhe enrolei com um papo de “vamos viajar semana que vem, tenho umas mil coisas para resolver em muito pouco tempo”. Então ela me ofereceu uma carona, só perguntou onde poderia me deixar, então não tive que especificar nem nada. Qualquer coisa era só dizer que Flávia morava ali perto e pronto.

Quanto à pulga atrás da orelha foi de nossa conversa no carro. Estávamos falando da melhora nos movimentos do braço do meu irmão quando eu inferi se ela não tinha visto ou sabido de alguma coisa relacionada ao que aconteceu com o outro cara na festa, pois, pelo que consta da história que me contou, ele tinha caído de costas numa escada. Foi então que me contou sobre seus colegas de departamento, um casal amigo seu que ajudou o cara a ir para o pronto-socorro. Para o tal casal, eles tinham tirado já licença de fim de ano, o que para Murilo também poderia funcionar, dado aos seus créditos que tem de ser muito trabalhador e compromissado dentro de seu departamento, ele poderia tirar a licença a qualquer hora, mas ele que insiste em trabalhar. Penso talvez ser por causa da Aline, pois ela me contou que ainda está presa na assistência da diretoria até em cima do Natal, mas isso não vem ao caso agora.

O que eu quero dizer com isso é que o casal já foi embora, sem dar muitas informações sobre o fatídico dia. Mas teve uma testemunha do centro de meteorologia que comentou com Aline que o cara fazia parte de um grupo que se apresentou na confraternização cultural, ela só não sabe me dizer de que era, pois lá teve de tudo, encenações, bandas e dança. A outra coisa que a testemunha falou era que o cara tinha cabelo baixo e era bonito.

Grandes pistas as minhas. Isso só me descartou as chances de ser alguém do trabalho de meu irmão. Eu não sou muito de ficar curiosas com as coisas, mas dessa vez eu queria saber por que rolou briga, quem é esse tal cara mal intencionado, por que ele provocou meu irmão... Só que do jeito que a coisa andava, o mais fácil era esquecer, eu não chegaria a ponto nenhum. Foi a minha conclusão quando fechei a revista que disse a mim mesma que ia folhear esperando pela consulta.

Ao sair do elevador com mais três mulheres que deixaram o consultório comigo e mais dois senhores vindo do consultório de odonto, pensei logo numa desculpa se alguém me visse saindo daquele prédio. Estava no dentista, por isso tinha que estar com documentos pessoais e do plano de saúde. De tanto esconder as coisas das pessoas, isso de ficar pensando em desculpas já era coisa automática, mesmo que fosse nada demais... eu só não gosto de ter pessoas falando de minha vida por aí.

Ainda eram 10h da manhã, então dei uma caminhada básica até a casa da Flávia e liguei para seu celular para ver se estava em casa:

– Alô?

– Adivinha onde eu estou.

– Pela zoada, parece estar perto de uma avenida.

– Estou na porta de sua casa.

– Opa, estou chegando aí.

Dois minutinhos e ela estava de pijama abrindo a porta.

– Te acordei?

– Nada, fiquei com preguiça de trocar de roupa, só isso. Pensei que viesse só mais tarde, estava dando uma geral no meu guarda-roupa. Se você ver o tanto de tralha que encontrei jogado lá, nem vai achar que o móvel é meu.

Chegamos ao seu quarto e tinha um som ligado ao canto, de música tocando um ritmo leve meio underground de alguma língua que não sou comum. Tinha algumas coisas espalhadas perto da porta, como caixas, pastas, livros, bolsas e fiações. Quando ela trouxe a água que lhe pedi, estava sentada na ponta da cama com um sorriso que bem imagino ser dos meus bobos.

– O que é que você já está suspirando, hein? E não me venha com suspenses!

– Er...


~;~



O cunhado de Flávia conquistou toda a casa. Eu já me considero inclusa. O cara dá aula de francês, e apesar de quase não vê-lo, queria ouvi-lo falar umas palavras estrangeiras comigo. Como ele me conquistou se praticamente não o vejo? Pelo jeito, as músicas em francês que ele andava ouvindo ultimamente ao cair no ouvido de sua família, seduziu geral. Sério, até a sogra dele. Comigo não foi diferente, peguei umas também.


Depois do almoço e de muito fofocar, sobre a viagem e sobre Vinícius, e de Flávia ter dado uns gritinhos como qualquer melhor amiga, finalmente chegamos ao Center para fazer compras. Como era cedo e meio de semana, era bom andar pelo centro de lojas, pois não tinha aglomerações para se esbarrar. Enquanto procuramos presentes para família primeiro, aproveito para questionar à senhora “não faça suspense e não deixe detalhes passarem” para fazer o mesmo, porque eu queria saber quem era esse que estava deixando minha amiga pensativa. Pelo menos ela já tinha admitido nos últimos dias que havia sim alguém.

– Eu posso afirmar que ele é desse mundo. Só não sei dizer se somos do mesmo mundo.

Diz de olhar perdido nos babados da blusa que pensa em dar de presente à irmã. Eu mais prestava atenção na expressão dela do que na arara de roupas que tinha a minha frente. Meu Deus, será que eu era assim quando falava do Vinícius para ela? O que um sentimento não muda na pessoa, viu.

– Depois sou eu que falo coisas vagas e incompreensíveis...

– Acho que aprendi com a melhor.

Ainda ri de mim, dando de ombros. Revido com drama, como se estivesse ofendida, levando a mão ao peito teatralmente. Mas de fim solto um suspiro e a conclusão parece mexer com ela.

– Ai, meu coração. Então é amor.

Balança a cabeça em negação e diminui seu sorriso. O caso é sério, pelo que parece. Também não me olha, continua mexendo nos babados da blusa como se estivesse no automático, ainda pensando longe. Quem quer que seja, já tem meio caminho andado nessa conquista.

– Não, acho que não é amor.

– Você... não quer?

– Não é bem o fato de eu querer, acho, e não quero justamente por não poder.

– Acho que agora entendo o que você queria dizer quando ficava perdida com o que eu falava da história de Vinícius.

– E eu entendo você quando tentava achar maneiras de falar e não exatamente falar sobre o caso.

Rimos juntas enquanto ela segue para o provador para verificar como a blusa ficava no corpo. Sua irmã tem medidas semelhantes, então dava para provar de boa. Mas isso não nos impede de continuar a conversa, fico bem do lado de fora da cortina dando uma olhada discreta nos vestidos ao passo que falava com ela. Sem gritar, claro, estávamos em um lugar muito público. Pelo menos a atendente ficou no caixa. Eu ainda sentia aquela chateação da semana passada marcando seu jeito de falar, algo estava incomodando ela de verdade.

– E por que não pode? Qual o impedimento? Ele tem namorada, é cafajeste, é traficante, é super herói, seus inimigos podem te perseguir?

Tinha que descontrair, claro. Sei bem até demais como é estar desse lado que ela se encontra agora. Não é muito interessante essa parte de frustração.

– Mais ou menos.

– Como assim, mais ou menos? “Mais ou menos” pra qual opção?

Sério, ela me assustou, principalmente por ter sido uma resposta que saiu meio contida daquele provador. É grave, ai Senhor, é grave.

– Calma, Mi. É que... é a família dele, pronto, falei.

– A família dele é perigosa, é isso?

– Não, nada disso, nada de perigo ou crime. Bom, não que eu saiba.

Só ela para mesclar humor numa parte crítica dessa na conversa. E que hipócrita sou eu por pensar assim se faço a mesma coisa quase todos os dias. Facepalm. Isso só me prova que faço mais besteiras do que posso realmente contar e, mesmo pensando nos outros, minhas decisões interferem mesmo em quem está próximo de mim. Ela puxa a cortina e a blusa fica perfeita nela, tanto que eu já ia perguntar se ela compraria para a irmã, só que ela é mais rápida.

– Acho que acabo de encontrar minha blusa de ano novo.

A blusa é de alças, branca, cheio de babados de cima a baixo, não muito brilhosa e ficou ótima nela. Isso lembra que eu não quero vestido para o ano novo também – chega de vestidos brancos por enquanto – eu podia optar por blusa e short ou blusa e saia, e não necessariamente brancos também. Não sou muito supersticiosa mesmo. A gente se comprometeu de começar pelas compras de família e cá estamos pensando nas vestimentas nossas de réveillon.

– Então, a família dele não gosta de você? Que idiotas, quem pode não gostar de você? Tipo, é você, caramba!

– Digamos que... bom, pegando pelo seu exemplo, eles tinham um plano geral, e eu sou um paralelo que não deveria entrar no plano.

É duro confessar isso, sinto ao vê-la se admirar com a blusa de frente para o espelho do provador. Seu semblante é meio triste, me dando vontade de gritar a essas pessoas que eles não conhecem a ótima pessoa que minha amiga é. Ajeito uma ponta da blusa que tinha ficado presa ao seu short e me aproximo mais dela, passando um braço por seus ombros e digo, a sua imagem refletida, como uma grande sábia que eu não era, algo que pudesse a animar:

– Não sabem eles que planos nunca saem como se quer?

– É o que parece. E pelo jeito, o plano era levar essa blusa para minha irmã, mas ela não precisa saber disso, precisa?

O bom de comprar coisas de Natal de última hora é que os preços super saem em conta. E isso representa um perigo em mãos de mulheres, mesmo que elas não sejam muito consumistas. Confesso que sair com a melhor amiga para fazer compras e conversar parece terapêutico mesmo. Acabo por encontrar uma saia laranja linda nessa brincadeira, já na saída da loja.

Vagando pelo corredor de lojas, já com a primeira sacola em mãos, a conversa ainda é a mesma. Eu me contento com o pouco e o vago que ela fala, sei que ela precisa desabafar um pouco, mesmo que eu fique a pensar e não chegue a conclusão alguma de quem está entendendo muita coisa. Eu também devia ter dado uns bons perdidos nela.

– Então vocês ficaram?

Pelo visto o que rolou está bem encaminhado. E foi bom, porque algo muda no seu rosto por se lembrar de como foi. Não que ela descreva como aconteceu, mas no seu íntimo, aposto que tudo estava acontecendo de novo. Contudo, como dizem as pessoas, alegria de pobre dura pouco, pois só foi mencionar a família dele de novo que aquele desconforto voltou.

– Uma vez apenas. Então saímos, como amigos, e foi então que sua família me deu esse sutil empurrão para me afastar dele.

– E ele não te defendeu? Que cachorro.

– Isso que mata também, porque ele diz não querer desrespeitar os pais, mas eu me senti ofendida.

– E eu impotente, porque quero matar esses seres e não sei quem são. Mas deixa, não precisa falar agora. Qual é o status de agora?

Sem ficar se remoendo pela falta dos outros, temos mais o que fazer. Além do mais, esse tal cara não merece. Claro que muitos pensamentos sobre ele vão povoar a cabeça da minha amiga, mas por mim, ela vai ser só sorrisos essa tarde.

– Eu não estou atendendo as ligações dele. Se o encontrar, pelo menos vou ser educada de dizer “Feliz Natal” e agora só quero saber de nossa viagem.

Ela me abraça de lado quando uma ideia de súbito surge:

– Ah, tenho que comprar um presente para sua mãe, afinal, ela vai me receber na sua casa.

– Ah, não precisa. Ela diria que sua companhia já é o bastante.

– Eu insisto. O que você pensa em comprar mesmo para ela?

Viramos o corredor e, ainda duvidosa do que comprar algo para minha mãe, meus olhos batem em algo a pouca distância, que de primeira não fez muito sentido, mas no terceiro segundo me trouxe um sorriso traquina.

– Eu já ia te perguntar isso, porque eu tô sem ideias dessa vez. Preciso de dic... Bom, falando no presente perfeito, acho que encontrei o do Bruno.

– Onde?

– Ali, naquela vitrine que tem os colares.

– Hã... ô Milena, pelo que me lembre, nós ainda vamos passar pelo Natal, por que você daria um... ?

– Exatamente. Por isso é um presente perfeito. Acho que ele tem lidado muito com o inesperado e não sabe se comportar muito bem com ele, então essa é uma boa oportunidade para ele começar.

Sinto minha bolsa transversal colada à cintura vibrar e logo uma batida longínqua anuncia Good Life, meu toque de celular. Instantaneamente meu sorriso traquina se alarga para um curioso de saber quem estava ligando. Muitas vezes perguntei onde estava minha “good life” e agora posso dizer que estou vivendo dela. Perfeito não é, mas “good life” é. Alcanço logo que o Ryan do One Republic começa a cantar, que já ia cair de tanto chamar, e aponto para Flávia ir em frente que eu ia atender.

– Sim, meu amor por você é do tamanho do universo.

Revigorante. Já a pessoa do outro lado desconfia:

– Huumm. Sua mãe de novo ao telefone?

– Não.

– Huummm. Melhor ainda. O que minha namorada anda fazendo que não responde minhas mensagens do dia? Saudades.

Ai, toda vez que ele falar essas coisas meu coração vai amolecer, é isso? Fica difícil ter uma postura de difícil com um Vinícius me falando essas coisas. Difícil mesmo foi ir para casa ontem. Ele, de fato, quase me sequestrou. Eu não queria ir embora, mas tinha de ir, e quem disse que ele gostou de saber disso? Ele sabe ser bem persuasivo quando quer e, mesmo que meus argumentos batam os dele, não quer dizer que ele vá parar de insistir.

Quando consegui fazê-lo dirigir, fazê-lo deixar-me sair do carro para entrar em casa foi outra odisseia. Murilo que, ao ouvir que tinha carro parado na porta, foi ver quem era. O revestimento do vidro carro é fumê, mas não é do forte, então mesmo sendo noite, dava para ver um pouco quem estava do lado de dentro. Além do mais, deve ter reconhecido o carro, afinal, este passou dias e dias estacionado na nossa porta. Ele bateu no vidro da minha janela e foi minha deixa.

Meu irmão estava fatigado. Se visse um esquilo, ele convenceria o bicho a ficar com ele para fazer companhia, porque ele não sabia mais o que fazer. Disse ter assistido três filmes, novela e séries o dia todo, não aguentava mais TV. Ainda assim me arrastou para ver outro filme com ele, pelo menos para ter com quem comentar. Ele aproveitou para fazer mais exercícios comigo e o braço estava bem melhor, o ombro dele que estava doendo mais. Tive que esconder as pílulas dele, senão, capaz dele ficar viciado em remédio para dor, dei apenas um. Quando pensei que ia assistir ao filme, ele também não me deixou – foi nessa hora que soltei discretamente um “vocês combinaram?” e eu tive que embromar qualquer coisa para cobrir meu deslize – ele comentou que conversou com nossos pais e falou os tranquilizou do acidente dele.

Eu não queria preocupá-los, por isso demoramos a contar sobre o ocorrido. Mamãe ficou no pé dele para fazer os exercícios e parece ter delegado a mim a função de colocar juízo na cabeça-dura (ou cabeça oca?) do meu irmão. Se eu tivesse falado com ela, diria algo como “olha, mãe, eu tento, quase todos os dias, mas parece que é ele que não consegue absorver”. Lidar com essa figura não é fácil, eu sei do que falo.

Na hora de dormir, ai, essa foi difícil. Não por causa do meu irmão, ele foi para o quarto dele sozinho, graças a Deus. Logo que deitei, vi uma mensagem de Vinícius dizendo “nenhum travesseiro é capaz de dar-me a serenidade que você possui”. Mais flashbacks dominaram minha mente. Olhar o travesseiro ao meu lado me fazia pensar o mesmo, toda inquieta. Dormir com ele se tornou mesmo um “bom mau hábito”. Começava a sentir falta de uma outra respiração, de outro corpo, de outra presença. Respondi sua mensagem concordando, “e nenhum travesseiro é capaz de ser... você”.

Fiquei um bom tempo brincando com a ponta da fronha do meu travesseiro, só pensando nele e na nossa tarde. Nosso “aniversário” e nosso momento. Nossa bolha. Só que uma hora eu tinha que deixar a bolha e voltar para o mundo, que continuava. Foi então que todo o itinerário desse dia se desenrolou.

Entro no estabelecimento e vejo minha amiga com o futuro presente de Bruno em mãos com uma cara de duvidosa de minha sanidade. É uma loja de variedades, tem de tudo um pouco. Passo por umas prateleiras e uns manequins sem propriamente ver o que fica para trás, pois minha atenção era outra.

– Sabe que eu nem vi. Tô com a Flávia fazendo as compras. Descobriu o nome do artista que sua mãe gosta?

– Djavan. Também estou fazendo umas compras de Natal, meu expediente esses dias é só pela manhã, lembra? Pode comprar o dvd do Djavan que eu penso em outra coisa. Sim, eu olhei nas coisas dela, não tem nenhum dvd dele, e sim, eu sei que você não quer algo extravagante... mas só uma lembrança tá difícil, viu. E já que você não viu minhas mensagens, só uma dica: Gol.

– E eu que pensei que meu namorado era representante de imóveis... agora ele deu para ser jogador. Nunca ouvi falar que jogador pudesse ser bem persuasivo com os goleiros... Mas que sei eu sobre futebol?

Ryan, eu demorei a te ouvir. É “good life” mesmo. A risada gostosa que vem do outro lado, junto com uns zumbidos do ambiente em que ele está, me deixa mais feliz. Nada melhor que não só ser feliz, mas fazer o outro feliz? E quando isso é mútuo? Onde colocar a felicidade que transborda de um coração... quer dizer, de dois corações?

– Sabe que eu dedico meus gols a você.

– Só faltam me chamar de Maria-chuteira... ainda mais com um jogador desse que não quer me dar uma lembrança e sim um presente de Natal. Eu devia era ter proposto um amigo-da-onça... Falando nisso, eu já achei o do Bruno.

– Mas ele não disse que não queria? E que não gostava dessa brincadeira?

– Disse, mas presente é presente. E outra, não é tão mal assim, tem... suas utilidades. Eu garanto.

– O que você vai comprar, Milena? Diz.

Olho para minha amiga parada na sessão de bijuterias e... essa definitivamente é a sessão mais perigosa quando se trata de mulheres fazendo compras. É a perdição. Uma peça de longe me chama a atenção.

– Negativo. Eu também quero ver sua cara hoje à noit... Oh.

– O quê? Que foi?

– Acho que acabo de encontrar o presente de minha mãe também. Do tamanho do universo... Tenho que ir. Beijos, te vejo mais tarde.

– Hum, bom mesmo.

Lembro uma vez de ter assistido um episódio de uma série que o cara dava para namorada um cordão em que o pingente era um anel simples, representando o infinito. Eu sei que tem aquele símbolo, muito utilizado na matemática, que consiste em duas circunferências que se cruzam para indicar o infinito... Só que minha mãe só o chama de “oito deitado”, ela não sente a profundidade do significado.

Então estava pensando em algo como nesse episódio que vi, de ser um anel ou algo assim, “do tamanho do universo”. E achei um bem melhor (http://migre.me/9js3t– é o primeiro do post, colar de prata longo, com pingente de pérolas em cacho). Além de ter círculos, tinha umas pérolas que davam “o” charme em forma de cacho. Já via minha mãe se achando com ele por aí, era ele mesmo que ia levar. Mais uns minutinhos perambulando pela sessão e minhas mãos já estavam cheias. O de Vinícius também não ficou atrás, quero ver qual dos dois, ele ou Bruno, vai arrancar mais risos.

– Flávia, acabo de achar 5 presentes numa loja só. O de Bruno, Dani, Vini, mamãe e o seu. Agora fica aí, que eu não quero que você veja antes de todo mundo.

– Milena Lins Albuquerque Camargo! Como você me fala isso e não quer que eu te siga?


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Notas finais do capítulo

Não sei quem é pior quando diz que tem uma ideia, se é a Milena ou o Murilo rsrs



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