Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

De ideias epic fail para epic win.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410172/chapter/4

Djane deve ter sonhado com a volta do filho para seus braços umas trocentas mil vezes, dormindo e acordada. Acho que eu também. Sempre foi uma das coisas que desejei fazer dar certo. Ela é uma boa pessoa que nunca pensei ela ser e, por ter tanto me apegado, queria seu melhor. E o que ela precisava era do filho... Ao chegar à sala de espera do hospital e ver A cena dos dois abraçados devia me trazer paz.

Só que não. EU ME SINTO É PIOR.

Estávamos no mesmo hospital de sempre. Conseguimos trazer seu Júlio às pressas dentro do carro de Vinícius. As chaves? Que grande, estúpida, idiota, sem noção, cachorra... foi aquela minha “ideia” de jogar as chaves na piscina? Que tanta ideia de merda eu ando tendo? Eu tenho que pensar mais no que ando fazendo, porque só tá me dando prejuízo. É a minha linda sorte voltando, só pode! Agora resolveu arriscar a vida de um homem inocente...

Eu ia me jogar lá pra buscar, só que Iara foi mais rápida... e foi de roupa e tudo. Filipe tentou colocar o pai no carro dele, e aí começou a briga de quem ia levar, e os empregados surgiram tentando ligar para a ambulância. De fim, Iara conseguiu as chaves de volta e, com a ajuda dos empregados, colocaram seu Júlio deitado no banco de trás do carro. Djane conseguiu pegar os documentos dele dentro da casa e ficou com ele atrás, deixando-me no banco do passageiro e Vinícius de motorista. Nessa hora eu não me importava com mais nada, só sentia uma enorme culpa. Atrás de nós estava Filipe no seu carro com Iara.

Demos entrada na emergência e deixamos tudo nas mãos dos médicos e de Deus. Eu estava só o bagaço, inquieta, querendo fazer algo útil pra ajudar. Mas não queria mais fazer besteiras – acho que já tinha feito o bastante para um dia. Na sala de espera do primeiro pavimento, eu não consegui ficar perto de ninguém, tamanha era a culpa que tava me acometendo. EU PODIA TER MATADO O HOMEM!

Foi por isso que me ofereci para levar Iara para o vestiário feminino das enfermeiras no quarto andar. Ela ainda estava pingando, encharcada – e a enfermeira da entrada estava começando a olhar torto por ela estar molhando o chão, eu percebi. Era o mínimo que eu podia fazer por ora. No entanto, eu não encontrei nenhuma enfermeira lá no vestiário, mas topei com aquele segurança, o que tinha me entregado o CD com o vídeo de Murilo. Ele percebeu minha perturbação e veio falar comigo. Me falou que eu não ia encontrar Diogo, pois este tinha tirado suas férias. Nem me lembrava disso.

Consegui com esforço uma roupa seca emprestada. Enquanto esperava que Iara se trocasse, sentei naquele banco onde uma vez me desesperei pelos trovões... e chorei. Não que eu não estivesse chorando antes, mas colocar tudo de uma vez pra fora. Iara ao me encontrar assim que veio me consolar.

– Hey, hey, por que está chorando? Ele vai ficar bem.

– Foi... culpa minha.

– Sua? Sua onde? Você não fez mais que ajudar, onde poderia ter errado?

– Ele poderia ter morrido ali, na minha frente, porque eu sou uma idiota e tenho umas ideias geniais, como jogar chaves de carro na piscina e atrasar o atendimento de um senhor com infarto...

– Milena, nós recuperamos a chave. Seu Júlio está sendo atendido. Você está se culpando por algo que não fez... Ele passou mal pelas eventuais emoções. Nada que você teria culpa ou poderia impedir.

– Mas...

– Vamos voltar, você vai ver que ele vai sair dessa.

Então voltamos. E ver a cena, que devia ser amorosa, era triste demais. Senti meu coração afundar de ver que a situação estava tão feia que Vini até tinha esquecido os problemas com a mãe e estavam os dois abraçados, de pé no meio da sala, imersos numa mesma preocupação. Dava pra ser pior? Na verdade dava, eu é que não queria pensar por esses lados, falar de algo ruim pode o fazer concreto na realidade.

E eu não queria que o pior acontecesse com seu Júlio.

Do outro lado da sala de espera, bem no canto da sala estava Filipe na sua. Iara foi até ele após me dar um afago no ombro. A atmosfera parecia abafada demais para mim. E nem The Lazy Song vibrando na minha bolsa conseguiu aplacar o que eu estava sentindo. Queria estar abraçando meu irmão agora, e ele tão longe.

– A-alô?

Tento não transparecer muito logo de primeira. Parece funcionar, só que ele se mostra preocupado de qualquer forma, pois não lhe dei alguma notícia depois de ter saído de casa. Os efeitos do remédio para dor deviam estar passando.

– Lena? Aconteceu algo? Onde você está? Vocês estão demorando...

Dá pra parar com o déjà-vu? Estava me sentindo como no primeiro dia que conheci Vini ainda de coma e Murilo ligando pra saber onde eu estava. Diferente dessa outra vez, eu quis falar logo, sem quaisquer rodeios, a verdade.

– Estamos no hospital, Murilo. O avô dele teve um infarto.

– Lena...

Seu tom penoso me dá vontade de abraçá-lo com força. Daqueles que se poderia quebrar as costelas de um como se isso fosse colar a de outro. Quer dizer, compensar na melhora do outro. O bolo já estava formado na minha garganta e é ele que trava minha voz, enquanto eu tento parar minha cegueira repentina por as lágrimas quererem me dominar de novo.

– E... a-acho que-e te-enho culpa...

– Como assim?

– Ai, Murilo...

– Eu vou aí. Em que hospital vocês estão?

– O mesmo de sempre. Mas nã-ã-ão adianta vo-o-ocê vir. Quer dizer, tentar vir. E-eu escondi suas chaves também, trouxe-as comigo pra-a evitar de vo-ocê dirigir do jeito que está... eu só faço burrada, maninho. Po-ode me xingar.

– Milena, você é minha irmã. Claro que você vai fazer burradas nesse mundo, sendo minha parente, é determinante.

– Eu não tô pra graças, maninho. Espera um pouco, o médico está vindo...

Com o celular no ouvido ainda, me aproximei pra ouvir as notícias do quadro de seu Júlio. Todos fizeram o mesmo, deixando o doutor, que trazia uma face sem emoção, quase acuado ao ficarmos ao redor dele. Não pude deixar de observar que Djane segurava apertado a mão do filho, e um choro maior vinha crescendo dentro de mim.

– Ele está estável, família. Agora está descansando no quarto, ficará em observação. Vocês podem ir pra casa, ele está fora de perigo. Só podemos permitir um acompanhante.

Um silvo de alívio tomou o espaço e eu pude agradecer a Deus por não ter acontecido o pior. Ainda tinha a imagem fresca dele cambaleando e caindo no chão, num som abafado ao tocar a grama e aquele segundo de paralisia de todos seguido de correria. Isso abala um coração.

– Milena? Milena?

Murilo falava do outro lado, esperando minha resposta.

– Ele está bem.

– E você, está bem?

– Melhor agora a-acho...

– Vem pra casa.

Olho a uma pequena distância Vini falar com a mãe e, ao perceber que era observado, ele assente algo a ela e vem na minha direção, de expressão mais calma. O aperto que eu tinha no peito se afrouxa e finalizo a ligação.

– Estamos voltando.


~;~


– Larga esse braço, Milena...

– Larga você o MEU braço, Murilo.

Estamos de volta à programação, vida de cão e gato se matando. Mentira.

Ok, eu estava tentando arrancar sutilmente algumas informações sobre o que foi essa tal briga de Murilo na festa de confraternização da empresa em que ele trabalha. Para isso eu tinha que fazer uma média de quem não quer nada e só ficar falando... e essa média se tratava de cuidar desse lindo – eu devia ganhar para isso. Estaria rica já!

Tinha que ajudá-lo a fazer exercícios e olhar seus machucados. Mas quem disse que meu mano estava deixando? Se antes já me chamaram de enfermeira, desse jeito é capaz de me falarem que levo jeito pra coisa, do tanto que ele me faz de uma. Mas não tem jeito, minha “praia” é outra.

A tipoia que ele tinha no braço foi só para imobilizar no dia mesmo, evitar maiores dores e movimentos bruscos. O médico disse que podia tirar as faixas que estavam nele enroladas, que também só estavam ajudando na imobilização. Quase o mesmo para o uso de remédios, era bem passageiro, só para uns dias, enquanto houvesse dor. O “a seguir” era constituído de exercícios e uns poucos movimentos para que o braço aos poucos fosse voltando ao normal. Só que ele não estava me escutando, nem disposto a fazer tais práticas. Dizia que doía. Doeria mais se ele ficasse com o braço duro.

Já em casa após sair do atendimento, na hora de tirar sua camisa, os caras que se viraram pra conseguir tal coisa sem que ele urrasse de dor. Se bem que Murilo estava meio drogado, então talvez não tenha sido tão difícil assim. Pelo menos a camisa era de botões e não uma pólo, porque não teria quem o fizesse levantar o braço, mesmo entupido de analgésicos, para tirar a roupa. Será que teria que passar a tesoura para esse caso? Bom, não tiveram que apelar... e conseguiram achar uma camisa de dormir também de botões. Quando eu encontrei dona Bia nessa manhã de segunda-feira, ela estava separando as roupas para lavar e estava analisando a que Murilo usou no sábado do desastre – eu me esqueci de colocar a bendita pra lavar acredita? Tanta coisa na minha cabeça ultimamente – então ela perguntou o que tinha acontecido, por que a roupa estava tão manchada – acredite, tinha de tudo ali, de geleia a chantilly, de cerveja a vinho; talvez fosse melhor só jogar a camisa fora, tamanho era o estrago – e eu não sabia o porquê. Quer dizer, como. Mas estava pronta para meu plano de arrancar isso dele.

Na noite passada o ajudei a se trocar quando eu cheguei do hospital. O abraço que eu queria ter dado nele estava proibido pelas suas condições. Vinícius conseguiu cobrir isso antes de sairmos do hospital. Sua mãe ficou lá para cuidar do atendimento do sogro e Filipe foi junto para qualquer coisa. Ele estava bem devastado com tudo isso... e devia estar, se ele detém a grande parte da culpa de tudo isso, não só pelo enfarte do pai. Eu já tinha horror dele por separar mãe e filho – duas vezes, se contar que foi ele que provocou o parto de emergência e daí Viviane teve complicações –, mas agora nem eu sei o que sinto por ele e não é coisa boa. Se afastar dele por enquanto parece uma boa opção, tive que concordar com Vinícius.

Outra vez tinha me sentido mal por não ter ouvido quando tinha me procurado, achando que eu poderia intervir por ele, e vejo agora que foi bem melhor pra mim não ter sabido de tudo isso naquele momento... Seria uma carga pesada demais, quero dizer. Como ele pôde achar que eu saberia lidar com toda essa história sinistra, eu não sei, não sou tão forte assim para me jogarem qualquer coisa. Filipe realmente não batia bem das ideias. Esse drama pra mim ficou no pause, não ia me dedicar a algo que não valesse a pena.

Por isso eu estava tentando uma estratégia... Por ora, estava me dedicando a saber o que meu irmão estava “escondendo”. Assim, cheguei de mansinho, conversando com ele como quem não quer nada, e dei o bote: segurei seu braço de forma que ele tinha que fazer movimento, exercitar. Ele a mantinha junto do peito na mesma posição por horas, então, agarrando seu pulso, eu dei ênfase de que ia puxar para baixo – com calma, claro – só que ele deve ter entendido que ia ser de vez. Assim ele também revidou, segurando o meu outro braço. Um movimento meu e ele poderia urrar de dor, semelhante ao caso do dia que bati nele no hospital, porém, um movimento dele e ele poderia infligir dor a mim. Se ele estava numa má posição, também eu estava. Um olhava o outro com ar desafiante, em posição de ataque.

O que se tem de apelar pra arrancar uma informação, viu!

– Oi, famíl... o que vocês estão fazendo?

– PUUUUUUUUTA MERDA DO...

Aplicando o mudo da cena – pelos palavrões tão “lindos” proferidos pela figura a quem chamo de irmão – explico o que foi que aconteceu. Estávamos eu e o Murilo no nosso pé de guerra no meio da sala quando Vini chegou do trabalho para o almoço – alguém mais notou que ele ia dizer “Oi, família”, como meu irmão tem o costume de fazer? – e essa foi a distração perfeita que eu pude aproveitar para puxar sem resistência o braço direito dele, como um puxão pra tirar band-aid – aqueles pra doer uma vez só – e disso desencadeou todas aquelas lindas expressões populares de xingamento. Pior que meu namorado também achou que eu estava agredindo aquela criança, deixou a sacola enorme que trazia e me puxou para que eu soltasse o braço do outro. Até dona Bia chegou às pressas na sala enxugando as mãos num pano de prato achando que o urro do meu irmão era alarme para mais um desastre. É, olhando assim... é, talvez, talvez eu tenha exagerado um pouquinho. Ops!

E o bico? Nossa, Murilo é uma criança de 7 anos num corpo de 27. Aline, minha amiga, se você virar minha cunhada, se prepare para usar estratégias psicopedagógicas de creche, porque é bem possível elas serem uma solução viável. Ela trabalhando no R.H. também ajuda, deve ter uns exercícios de boas relações que detém uma psicologia que a favoreça. E pelas psicologias de mãe (ou irmã?), eu começo a me desculpar, com aquela voz fresca, dengosa e de acalanto dos males, a Murilo que se sentou no sofá com o auxílio de dona Bia, que fazia o mesmo que Vinícius comigo: “Não, Milena, isso não se faz”. Pelo jeito eu era a monstra violenta.

– Oti, eu machuquei foi? Own, deixa que eu dou beijinho e passa, deixa. A Lena não quis fazer isso, ela só queria ajudar a movimentar... sabe que isso é importante para voltar ao normal.

Sento ao seu lado e faço carinho no seu rosto, cabelo, dou meu sorriso mais meigo, dou beijinho na testa, e ele ainda me olha raivoso. Fica mais calado ainda, vira para o outro lado, como se não fosse digno responder algo, o bico formado. Vinícius senta-se à mesa de madeira do centro da sala de frente a nós como se fosse o pai lidando com uma travessura, tentando apaziguar. E a travessa era eu. E eu nem podia rir! Se fosse com nossos reais pais, Murilo devia estar me apontando agora, dizendo “foi ela, foi ela” ou “briga com ela, briga com ela”.

– Lena, ele ainda tá machucado...

– Mas Vini, ele não quer fazer exercícios. Se ele estivesse fazendo, esse simples movimento de baixar o braço não teria doído. Dói de primeira, claro, e quanto mais ele ficar em uma só posição, mais vai doer.

Vinícius acaba por concordar:

– É, meu amigo, sinto em dizer... ela tem razão quanto a isso. Eu já machuquei meu tornozelo uma vez e, quanto mais eu tentava não mexer, mais me doía. Claro que a intenção da Milena não chegou BEM ao ato, mas ela sente por isso, não sente, Lena?

– Claro.

Ok, eu me sentia um pouco culpada sim. Foi exagero mesmo de minha parte, mas é culpa dele também por ser tão molenga com isso. Tragicamente a distensão do ombro/braço dele foi no mesmo local que eu bati nele naquela vez do hospital. Chateado e com dor, Murilo pediu por seu remédio analgésico – detalhe, pediu para Vinícius, pois estava me ignorando – enquanto eu me mantinha a seu lado fazendo carinho. Isso ele num negava, incrível. Quando Vini voltou com o remédio e a água, Murilo mudou de assunto:

– O que é essa sacola?

– Ah, é um abajur novo.

Só assim para ambos concordarmos em alguma coisa, pois a mesma expressão de que não entendeu nada que tomou a face de meu irmão, tomou a minha. Então Vinícius logo se explicou:

– Vocês me permitiram ficar aqui e, mesmo dividindo as despesas esses dias, eu comprei o abajur só por complemento mesmo. Aquele lá do quarto parece ter dado o último suspiro.

– Ah, foi.

Me escapuliu por reflexo e teve gente que não gostou de saber disso. Agora ele não me ignora, né?

– Ah, foi O QUÊ, MILENA?

– Hã... ele me contou, oras. Assim você me faz parecer uma não digna de respeito, Murilo, como se eu não cumprisse “as regras”.

– Hum.

Mentira deslavada, nós vemos por aqui. Meu irmão fica desconfiado, mas nada que eu e Vinícius não enrolamos, dividindo um olhar cúmplice. Para meu mano, deixamos a impressão de que dormimos separados e, sendo a última noite de Vinícius na nossa casa, era mais um lembrete das regras impostas por ele. E foi a última noite dele por ele estar voltando para sua antiga casa.

Naquela conversa que teve com o avô, depois que saiu bruscamente da mesa de almoço, seu Júlio estava colocando juízo na cabeça do neto. Disse que o mais sensato era deixar minha casa – afinal, isso estava acelerando demais nosso relacionamento, o que poderia nos prejudicar num futuro próximo e não era isso que queríamos – e então ele ficaria na casa do avô, pois não havia como ele voltar para o antigo apartamento, onde Iara estava com Filipe. Tampouco voltar à antiga casa de seus pais, por causa de Djane. Só que depois de uma passagem no hospital, tudo mudou novamente. Quer dizer, quase tudo, pois ele ainda estava de saída da minha casa.

Ele iria agora para a casa de Djane, porque Filipe iria ficar na casa do pai enquanto seu Júlio estivesse de recuperação e, independente de Iara ficar ou não no apartamento, para lá Vini realmente não ia considerar voltar. A casa dos seus pais adotivos era uma boa opção, até porque ele estava numa melhor situação relacional com a mãe.

Planos fazemos o tempo todo. Não sei por que insistimos em fazer mesmo, se quase nunca eles saem como gostaríamos – a exemplo, essa minha estratégia de fazer Murilo abrir o bico sobre a tal festa e a tal briga e até agora nada, só fiz foi machucá-lo – e eu também já havia sonhado de como seria a reconciliação de Djane com o filho. O que não foi bem assim que planejei, de ser numa sala de espera do hospital, na aflição por notícias de seu Júlio, enquanto eu me martirizava mais. Só que... pensando bem, era meu lucro. Ou nosso. Toda situação ruim por um lado traz algo de bom, parece.

Eles não conversaram muito. Vinícius disse que quando foi se perceber, já estava nos braços da mãe, um consolando o outro, sem nem se importar com o passado. Na verdade, para ele, devia desculpas à mãe, pois ela ao longo dos anos estava o poupando de muita coisa ruim, coisas que nem ela mesma sabia – como a história completa de Filipe quanto aos fatos – e, ao reconhecer isso, percebeu o quão injusto ele tinha sido com ela por muito tempo. Quando me contou sobre como pediu para voltar à antiga casa, eu senti uma pontada por querer ter visto essa cena, nem que fosse como uma mosquinha espiando:

– Mãe, posso voltar para casa?

– Claro... meu filho.

Vou pedir para Djane me dar os detalhes dessa cena, porque Vinícius foi muito simplista para meu gosto – homens e suas poucas descrições. Aproveitar e também pedir os detalhes de como ela nos viu juntos naquela noite em particular. Hoje na faculdade seria a reunião sobre as notas definitivas dos alunos monitores, então ninguém vai estranhar se eu ficar um bom tempo conversando com ela.

Bom, quanto à “última noite”... ele me imitou.

Quer dizer, ele repetiu algo que eu havia falado uma vez a ele no hospital, não as mesmas palavras, claro, mas era quase a mesma coisa:

– Por que isso está parecendo uma despedida?

– Porque é uma.

Detalhe para nossa troca de papéis e... detalhe para nossas condições de cena. No hospital, ele estava na cama e eu não tinha como ficar mais tempo lá de visita, e na noite passada, estávamos os dois na cama do quarto de hóspedes, deitados e abraçados aproveitando nossos últimos momentos juntos antes de ele ir embora. Fiquei um bom tempo pensando que eu viraria para o lado e ele não mais estaria lá, e tive de me convencer que isso era bom. Era bom, é bom... é não, é? Quer dizer, em geral, não?

Ambos cansados do dia tenso que foi o domingo, só nos restou conversar até dormir. E sim, eu percebi quão tola eu estava sendo por considerar que eu tivesse alguma parte de culpa de seu Júlio estar mal. Antes de sairmos do hospital mesmo Vinícius me fez voltar às órbitas, porque, sinceramente, acho que aquela loucura toda me atingiu de um jeito tão inexplicável que eu acabei culpando a mim mesma por piorar. Fato que não foi das minhas melhores atitudes, no entanto, a visão de seu avô caindo a nossa frente... ainda me dava uns arrepios de preocupação.

O médico não nos disse muita coisa, afinal Djane que ia ficar lá para conversar melhor sobre o estado de observação que seu Júlio teria que passar, só sabemos que a pressão dele subiu e, por não nos avisar, o caso foi piorando até chegar ao ponto do infarto. Tudo isso ocasionado por emoções fortes, que não foi só pela briga, mas por toda carga emocional que envolveu aquele almoço. Se nem Vinícius se preocupou de se culpar, por que eu haveria então? De qualquer forma, de que adiantaria eu me culpar – por algo que realmente não fiz – se o importante agora era a saúde e o tratamento que estava recebendo? Djane nos manteria informados.

Chegar em casa foi só para jantar, cuidar do meu pestinha e fazer de tudo para minha dor de cabeça passar. Isso meu namorado quis se encarregar. Como sempre, esperamos Murilo dormir – ainda bem que este não pediu para ficar no quarto com ele – e escapuli para o quarto de hóspedes. Ativei o alarme no celular e logo que começamos a conversar, de frente para o outro, o abajur deu seu último suspiro e desligou. O que foi bom, muito bom, porque Vini teve a brilhante ideia de ficarmos abraçados em conchinha e assim ele poderia sentir os pelinhos do meu pescoço se arrepiarem enquanto ele falasse ao pé do meu ouvido. Muito esperto ele.

Essa foi a primeira manhã que acordei colada a ele sem ter que me preocupar com outra coisa senão a preguiça. Ele teve que acordar cedo para ir trabalhar. Empurrado, na verdade, pois minha preguiça estava o contagiando... E sabendo que nem meu irmão iria interromper, pois não iria trabalhar hoje dado ao estado que se encontrava, Vini quase desistiu de levantar. E eu quase concordei.

Após uns esclarecimentos – leia-se “enrolation” convencendo de que a noite tinha sido normal e de que a peste precisava dos exercícios – o celular de Murilo tocou e, antes que ele conseguisse pegar, martirizado em drama de dor, eu alcancei. O visor dizia Aline e eu que atendi. Meu plano tinha que continuar:

– Oi Aline.

Com o outro braço Murilo tenta arrancar o aparelho de mim. “Não tão depressa, maninho... eu preciso fazer esse draminha pra você”, estava eu maquinando.

– Milena, como está seu irmão?

– Teimoso. Não quer fazer exercícios no braço, nem no ombro, acredita?

Pense numa atitude descarada a minha.

– Ah, mas ele tem que fazer! Já lidei com o Recursos Humanos para abonar faltas. O atestado dele é para três dias, então ele tem que fazer tudo direitinho. Posso passar aí no final do expediente?

– Claro. Quem sabe mais uma pessoa não o... não o convença?

Aline, você é uma ótima candidata a cunhada, já te falei isso? Que pena, ainda não tive a chance... e se tivesse dito, bom, Murilo teria me matado já. Ele fica todo desconcertado quando se trata dela, então por enquanto eu estava deixando quieto – apesar de vez e outra eu aporrinhá-lo com isso. O fato é que a partir disso eu posso dar uma boa continuidade ao meu plano.


~;~


Eu devia ter apostado alto.

Mas não haveria porque arrancar dinheiro do meu namorado...

Se bem que poderia ter pedido outra coisa e não um sunday. Ou poderia ter mesclado. E agora já foi.

Apostei um sunday de que se apenas mencionasse que Aline viria no final do expediente para ver meu irmão, este iria se prontificar rapidinho a fazer os exercícios. Ainda mais pelo suspense que fiz. Logo que finalizei a ligação, fui para a cozinha deixando o outro na curiosidade, como se eu fosse ver como estava indo o almoço e chamei Vinícius para o canto.

Dona Bia já estava saindo de fininho, quem sabe achando que queríamos fazer outras coisas, mas logo que ela ouviu meu comentário, tratou de voltar para a pia, onde lavava algumas coisas. Disse que o almoço estava pronto. Já suspeitando da minha vitória, voltamos à sala. Murilo nem perdeu tempo:

– O que a Aline disse?

– Que você devia começar a fazer esses exercícios logo, afinal, seu atestado é de três dias...

– Hum.

No sofá, ele parecia pensativo. Só reagiu mesmo quando falei meu complemento:

– E ela vem aqui mais tarde, depois do expediente.

– Hum. E... como são esses exercícios mesmo? Esses que você tá insistindo.

Vitoriosa eu sorri para Vinícius, que tirava o abajur da caixa e eu pegava o plástico bolha para estourar. Estava adorando o drama.

– Eu insistindo? Já desisti, meu bem, você não quer fazer, não adianta o que fale. E ainda tem esses seus machucados no rosto. Nem vi sua mão também... quem quer que você tenha batido, não revidou bonito, porque só agora que percebi esse roxeado na sua mandíbula. Mas fica aí, toma um remedinho e dorme.

– Poxa, maninha, eu tô dodói, me dá um desconto e me ajuda aqui, vai. Eu... eu perdoo você por esse... hã... incidente de agora pouco.

– Agora você chama incidente, né?

E então dona Bia anunciou o almoço e era o favorito dele, macarronada. Sorte a dele, porque se fosse carne, eu só cortaria para ele se de fim abrisse o bico e me contasse o que tinha acontecido naquela festa. De qualquer forma, estava me contentando com meu draminha, não importasse quanto Vinícius estivesse dizendo que chantagem emocional era trapaça. O plano estava dando certo e ainda ia ganhar um sunday lindo.

Depois do almoço, Vinícius foi para o quarto para terminar de pegar suas coisas e Murilo estava insistindo para eu começar logo os exercícios. Sério, ele estava no meu pé. Eu queria só descansar o almoço, assistir TV e estourar as bolhas do plástico-bolha e ele não deixou. Até buscou o álcool-iodado para passar nos seus ferimentos. Eu me surpreendi, de verdade, com essa iniciativa dele. Aline realmente o fisgou. E isso era tãaaaaaao adorável... quase um ouro de troca. Tão bom estar em vantagem.

E quando ele sentiu o ardor do remédio penetrar suas células no machucado do seu rosto? Não foi tão lindo quanto aos palavrões que soltou mais cedo, mas chamou tanta atenção que Vinícius veio do quarto só para ver se eu estava batendo no meu irmão. Bom, foi isso que aparentou. O que é isso que todos me acham violenta agora? Só por causa daquele vídeo de segurança que mantenho escondido? E por eu ter batido no Filipe quando achei que ia ser assaltada? Bom, eu tive que bater nesses casos. Nem menciono o caso de ele ter batido no pai também porque, por ora, estávamos deixando isso passar.

Não eram tantas coisas mesmo para pegar no quarto, então Vini acabou ficando pela sala, checando algumas coisas mais no seu notebook, olhando de soslaio vez ou outra para nós, sentados na mesa da cozinha. Devia estar se lembrando de que no outro dia era ele ali, sendo cuidado. E teimoso.

– Aiiii, Milena. Cuidado com esse troço.

– Só tá doendo porque você quer.

– Como assim? Quem disse?

– Ninguém mandou brigar. Se você machuca alguém, é lógico que a pessoa vá revidar, então você já deveria saber que isso tem consequências. Então as aguente agora.

– Eu fiz pra te proteger...

Ele deixou escapulir quase num rosnado, mesmo contido, e no mesmo segundo eu parei de passar o remédio, ainda com ele fechando os olhos e segurando a vontade de xingar (é, eu tinha o proibido só para sacanear).

– Quê? Eu nem estava lá...

– E-eu... eu quis dizer as mulheres em geral.

Isso não me cheira bem – não, não é o remédio de odor estranho. Ainda mais que ele hesitou e pareceu ter olhado para meu namorado na outra mesa. Se Vinícius sabe de alguma coisa, eu não gosto nadinha desse trato de amigos que esses dois têm. Assim aperto o algodão molhado de álcool-iodado na sobrancelha do brigão que tinha um leve arranhão já quase sarando. Maldade, eu sei. Não me recriminem pelos métodos de chegar a um fim.

– Sei.

– Aiiii, Milena. Manera aí.

– Isso é porque você está muito concentrado na dor, devia relaxar mais. Se ficar pensando no quanto “isso” e “aquilo” podem doer, vai doer mais por antecipação. Vi numa reportagem uma vez.

– Rum. Como se desse pra relaxar com você e esse algodão em suas mãos...

Ok, eu confesso, esse papo de distração, mesmo sendo de uma reportagem mesmo – que nem lembro se era desse jeito – era mais uma estratégia para chegar ao ponto que eu queria. Fazê-lo falar. Era ele então o culpado por sentir mais dor, pois eu tinha que apelar para conseguir as informações.

– Então me conte o que foi essa confusão na festa. Assim você bota para fora logo e se distrai, mal vai sentir o que estou fazendo. Melhor, comece pela parte que você disse que tinha conseguido sair com ela. Você prometeu que ia contar e até agora nada. Quero ver se esses créditos realmente são seus...


~;~


Eu quase preparei pipoca quando Murilo cedeu, que ia contar. Só que não dava mais tempo. Me contentei de apenas continuar fazendo a limpeza e medicando ele devagar, agora sem pressão ou tortura. Vinícius pareceu querer saber também, então se sentou a nossa frente com o notebook, só esperando para saber do tal “plano” do meu irmão que deu certo.

– Sábado de manhã, quando fui chegando ao departamento, eu vi pela janelinha que dá no corredor que Aline estava na saleta ao lado da sala de reuniões. Ia começar uma com a diretora e, sendo ela sua assistente, era previsível pensar que ela estaria por lá para qualquer necessidade. Só não o burro do cara com quem ela estava meio que se envolvendo, aquele que eu falei que é um cafajeste... ele tava de papo com outro de sua laia, que é do departamento vizinho, então eu tive uma ideia.

– Tenho medo de suas ideias.

Ele fez que nem me ouviu. Vinícius riu. Rum.

– Eu o cumprimentei por conveniência de trabalho mesmo, mas aí fiz que me acompanhasse à sala de reuniões, que dividisse comigo uma papelada que eu tinha que deixar lá na mesa de reuniões. E eles continuaram o papo. Aline devia estar ouvindo tudo, então perguntei se ele estava se dando bem por usar as pessoas. Sabe, passando lição de moral pra ver se ele respondia algo. Ele mordeu a isca e desatou a falar besteira. Te juro, Milena, eu me segurei mesmo por não dar uma na cara dele... só não o fiz porque eu já tinha levado advertência por comportamento assim. Minha reprimenda foi só com palavras mesmo e ele logo saiu. Fiquei uns minutos ainda lá, esperando que ela saísse, mas ela não saiu da saleta.

Acredite ou não, mas eu estava roendo as unhas mentalmente pra saber o final da história. Estava até fazendo cafuné no safado, contanto que ele não parasse. Ai dele se parasse, ele ia sentir o álcool-iodado nos olhos, se fosse o caso. Ok, eu não chegaria a tanto. Não por querer...

– Então fingi que ia fazer alguma coisa lá... e tipo, desligar a luz acesa, pois em tese não deveria ter ninguém lá e não haveria porque deixar a luz ligada. Isso é um gasto desnecessário. Então...

– Então...?

Ele não ia fazer suspense, ia? Eu ainda tinha o algodão molhado de remédio nas mãos, ele que não me testasse. Sou má, admito.

– Ela me viu quando desliguei a luz no interruptor. Fiz que tinha a percebido só depois e liguei de novo. Ela estava encostada na bancada do café, e não parecia legal. Perguntei se estava bem, ela disse que sim. Perguntei se ela tinha ouvido algo... e ela respondeu que sim. Falei que sentia muito por ela descobrir assim, no entanto, melhor que fosse logo. Ela agradeceu por eu ter a defendido e saiu.

– E aí?

– E aí que fomos trabalhar, oras. No final da manhã que nos encontramos com outros colegas na cafeteria, e todos falavam da cultural. Então ela mencionou que iria e perguntou se eu estava pensando em ir... com a galera. Claro que eu aceitei, né?

Preciso dizer que isso lhe iluminou o rosto? Até o momento ele nem estava ligando para os machucados, que eram poucos. Eram mais do tipo arranhões e o bônus de sua mandíbula meio arroxeada. Ele não reclamou de dor nem pra mastigar, e eu não saberia dizer se isso era por causa dos analgésicos ou porque ele estava estranho e não falando.

– Isso não foi seu plano dando certo, só foi uma coincidência e você aproveitou. Mas agora levanta, chegou a hora de mexer nesse braço.

– Aw... mas já?

– Você quer continuar parado?

– Tá, tô indo.

Isso que é espírito de vontade.

Me posicionei com ele para ajudá-lo com o exercício. Segurei seu braço e fui orientando, conforme eu fui movimentando:

– Ok, devagar vamos puxá-lo para baixo. Muita calma... isso, assim mesmo. Dói?

– Dói.

Fez cara feia e força de resistência.

– Logo não vai doer. Agora vamos esticá-lo. Só até onde você conseguir... aham, desse jeito. Grita “para” quando sentir que não consegue mais.

– Para.

– Vamos voltar jájá, primeiro só preciso tirar essas faixas.

Tiro a faixa de seu braço e deixo-a no chão mesmo. Ele estava a me olhar seguindo cada passo. Lá estava eu sendo sua enfermeira. De novo.

– Pronto, preparado?

– Vai.

– Subindo... calma. Foi.

– E agora?

– Descendo... estica com calma. Isso.

– E agora?

– Repete três vezes que eu vou jogar essas coisas da limpeza fora.

Dou uma geral rápida e volto para continuar o processo. Ele ainda apresenta muita resistência, coisa de primeiros movimentos mesmo. Vinícius comenta que era assim e que Murilo devia estar agradecendo por eu estar o ajudando, porque quando ele torceu o tornozelo e teve que fazer exercícios, foi Wellington, treinando pra ser militar na época, que ficava no pé dele. Não é qualquer pessoa que faz isso.

– Agora hora de mexer esse ombro.

– Ah, não.

– Ah, sim, senhor. Aproveita e conta a segunda parte. O que aconteceu na festa.

– Hum.

Certo. Eu VI. Eu vi quando os dois trocaram um olhar rápido. Vinícius levantou minimamente o olhar de seu notebook enquanto digitava e Murilo lhe direcionou um enquanto resmungava. Até agora o único resmungo dele foi de dor, então tem algo sim e até meu namorado tá metido nisso, seja cúmplice, seja apenas amigo. Homens e esses seus mudos acordos tácitos.

– Estica o braço, assim. Agora vira um pouco o corpo pra mim. Dobra o braço em 90º, pega impulso do ombro e estica em direção do outro braço. Mantém.

– Ai ai ai ai ai...

– Negativo, mantém. Agora fala.

Se ele pensa que desisti, está muito enganado. Os dois, na verdade.

– A festa foi boa. Teve umas apresentações e eu e Aline estávamos nos dando bem. O cara tava por lá, porém, ao ver que tinha perdido, desistiu. Te disse que ele era cafajeste, nem para brigar por ela ele tinha coragem. Depois foi que...

– Que...

– Me provocaram.

Solta, por um pigarreio. Vergonha não era, tenho certeza.

– Como assim?

– Uma presença mal-intencionada... aí quando vi, eu já tinha partido pra cima dele. Brigamos feio e quebramos uma mesa lá. Ele levantou cambaleando e não viu que tinha uns degraus atrás de si. Eu fui levantar e deslizei no conteúdo que tínhamos derrubado. Aí bati no parapeito por cair de mal jeito.

– Agora volta o braço. Puxa ele para trás.

– Como?

– Assim.

– Aiiii, Milena, devagar.

– Eu TÔ indo devagar. Mas sim, quem era esse cara, por que mal intencionado? Era aquele que tinha saído com a Aline antes?

– Hã... digamos que ele já tivesse machucado alguém importante. Ele mereceu o que levou.

– Vocês brigam demais pro meu gosto. Puxa mais esse braço, Murilo!

– Eu tô puxando, oras. Só consigo até aqui.

– Tá, agora volta.

– De novo?

– Ou você quer ficar com o braço flexionado pra trás?

– Tá, tô voltando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem mais acha que tem caroço nesse angu? Ou angu nesse caroço? Suspeitas, suspeitas...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.