Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Para quem shipa/torce por Daniela e Bruno, algumas coisinhas sobre esse núcleo ♥



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Como o tempo passa rápido, Senhor!

No outro dia eu estava começando o período, como que já é a última semana de faculdade e eu nem tinha me tocado disso? E as compras de fim de ano? Eu tô atrasada! E pobre pelo jeito... Tenho muita gente pra presentear e pouco tempo para pensar nesses presentes. Dessa vez minha turma não ia fazer nada, afinal, tínhamos feito umas brincadeiras no semestre anterior e estava um pouco em cima da hora, além de que muitos não curtiram muito o amigo-da-onça.

Hoje era entrega de provas e notas de Economia. Quem se ferrasse, teria apenas um dia para estudar, pois a avaliação “final de final” seria no dia seguinte. Eu não estava preocupada com isso até entrar na minha sala e ver Gui inquieto, com receio do que seria sua nota. Acabei assimilando um pouco disso, apesar de ter conseguido dissipar um pouco dele falando de sábado.

Pra mim, Gui é um cara muito responsável. Não sei como ele foi chegar ao ponto de pegar uma bebida no bar da festa só porque estava sozinho. Se bem que se tratando de uma discussão com a mãe dele – e me lembrando dela na festa – eu poderia entender sua frustração, mas se apegar à bebida por isso? Não parecia bater bem com o perfil dele. Flávia, atrasada, chegou logo que ele começava a relatar o que tinha lhe acometido naquele dia, porém, teve que parar, pois logo o professor chegou e a tensão das notas recomeçou.

Eu e Flávia fomos muito bem. Já Gui... nos implora para o ajudar, fazer um grupo de estudos, porque ele não havia ido bem na avaliação. Eu não podia, porque... eu sei que é bobo falar isso, mas eu e Vini íamos fazer uma semana juntos e agora que ele se mudou, já estava com saudades daquele travesso perambulando pela minha casa. Depois de me deixar na faculdade, ele foi para sua antiga casa. Djane não estaria lá porque no momento estaria em reunião sobre a monitoria e mais tarde teria dois horários, então, sem pressão nele.

Ele estava até confiante com a mudança. Não só de se transferir de volta, mas de voltar a ter um relacionamento com a mãe. Ele até a tem chamado de mãe! Djane deve estar toda derretida agora.

– Então quer dizer que minha mãe já sabia de nós?

Perguntou-me dentro do carro a caminho da faculdade. Tínhamos saído cedo para não pegar engarrafamento, então não vimos como foi a chegada de Aline lá em casa para ver Murilo. É bom que esse safado me dê todos os detalhes quando eu chegar em casa! Quero só ver...

– Então quer dizer que você já a chama de mãe agora?

Joguei na mesma moeda, no mesmo tom brincalhão. Eu estava lhe contando sobre a minha “sogrinha”. Pois é, agora tenho uma. Só não disse a parte que ela nos pegou dormindo na mesma cama. Acho que ainda estava um tanto encabulada com isso.

– Ao que parece... sim.

– Fico feliz. Minha sogrinha deve estar nas nuvens agora.

– E eu, por você chamá-la de “sogrinha” agora. Quero ver quando eu conhecer a minha...

Que sutil...

Meu Deus, ele vai conhecer a transloucada da minha mãe! Eu sei que ela vai o amar... e esse é meu maior medo, porque ele já conquistou meu irmão – que, convenhamos, fez barreira o suficiente. Quero ver é a cara do meu pai, esse sim vai ser uma graça. Não comento nada disso, ele ia se achar demais. Ainda mais por ter convivido com a peste do Murilo.

– Quem sabe semana que vem, né?

– Semana que vem?

Dei-lhe um beijo de despedida e saí do carro sem responder... que a viagem à cidade do meu avô estava próxima e não tínhamos falado nada ainda sobre isso. Tínhamos uns tempos ainda para aproveitar.

Eu passei o resto do horário tentando convencer Flávia de ajudar Gui, que sofria da parte que ela mais se dava bem, capitalização e Bolsa de Valores. Ela sempre era bem solícita para grupos de estudo e agora estava bem resistente. Tinha algo diferente desde a semana passada. Discretamente perguntei se era sobre o tal cara que estava povoando a cabeça dela e ela disse que não era. Sei. Pelo jeito o cara não estava nas melhores com ela pelo modo como se portou.

Eu sabia que ela ia estar sozinha em casa esses dias. Ia convidá-la para fazer compras de Natal comigo até, porque sua família viajaria mais cedo e ela, dessa vez, iria viajar comigo. No ano passado, eu passei o ano novo com ela e agora ela ia passar o Natal comigo, para depois ir passar o ano novo com a família. Ai, ainda tinha que começar a arrumar as coisas da viagem... Mais coisa pra fazer de última!

Isso me distraiu tanto que ao chegar no intervalo e ver a ansiedade dos meus amigos ex-monitores sobre suas notas, praticamente joguei Gui pra cima de Flávia – com todo respeito, claro – pra evitar uma guerra fria com Bruno na mesa junto de Dani. Quando fui fazer meu pedido de lanche, Dani foi comigo e era minha chance, afinal, quase não estava mais a vendo e muito menos podendo conversar com ela. Depois de esclarecer que meu irmão só tinha dado um susto mesmo, eu queria saber era do susto do coração dela naquela festa:

– Então, o que foi aquela de sábado? Vocês pareciam tão bem...

– Vocês quem?

– Você e o Bruno. Com o Gui que não seria. Ou seria?

– Nam... ele é legal, mas não é dele que eu gosto. Gostar de quem não gosta de você é dose, viu. Principalmente vê-lo com a ex. Por isso procurei foi outra companhia, pelo menos pra me divertir.

Sabe aquela hora que você tem a resposta linda na ponta da língua e não pode falar, senão alguém passa a faca nela? Me dá uma vontade louca de dizer a ela que ele gosta dela sim, porque eu já estive no lugar dela e essa frustração nos toma fácil. Só que eu não posso dar essa esperança a ela, não se Bruno ainda está incerto sobre eles. Além do mais, ele confiou em mim isso sabendo que eu não era de espalhar. Meus amigos sabem me deixar de mãos atadas... Contudo, eu não desisto. Nem que eu tenha que apelar para as beiradas:

– Sabe, você nunca comentou sobre o foi aquele fim de semana que ele passou na sua casa. Não aconteceu nada assim... errrr... proveitoso?

– Lena, se eu te contar do mico que eu paguei nesse fim de semana em particular... olha, nem deve ser proferido para evitar a vergonha-mor. Pra você ver como isso só tem me trazido prejuízo... Eu devia era esquecê-lo e continuar nessa de amigos mesmo. Além de que, nós combinamos de não falar sobre isso.

– O que poderia ter sido tão ruim assim? Desanima não, garota.

– Tá, eu conto. MAS NÃO RI.

Sinceramente, Dani é uma das pessoas que mais me surpreende nesse mundo. É o tipo de pessoa que poderíamos dizer ser a mais previsível e acontece de ser a mais imprevisível justamente por não se esperar isso dela. Eu poderia muito bem estar falando das atitudes dela com Bruno e possíveis tentativas de sondagem que ela poderia ter desenvolvido naquele fim de semana que ele ficou na casa dela, mas não, ela consegue ser mais profunda que isso. Primeiro porque ela não tentou nada, se resguardou ao máximo para não suscitar suspeitas dele, e segundo... eu devia apresentá-la a minha avó. Sério. Uma vez eu lhe disse que ela poderia aparecer no jornal escrevendo crônicas e eu não estava brincando. A descrição que ela faz da situação, em minúcias, se não dá a ela um toque cronista, dá de contista.

Aí sim ela se sentiria a artista.

Mas voltando ao que ela estava dizendo... olha, foi difícil não rir. Me exigiu um esforço hercúleo. Me senti fazendo teste para soldado da portaria real da Inglaterra, que não pode se exceder. Na lanchonete tinha quase ninguém por ser última semana, a faculdade estava meio vazia. A maioria das pessoas que iam eram só para buscar notas e conversarem com os professores, então por esse lado pelo menos aliviou... não tinha plateia.

O fato foi, que foi um mico mesmo. Imagine que ela acordou de boa naquele domingo, foi fazer seu café, preparar o desjejum, e foi sentar-se no sofá para ver televisão, costume dela. Agora imagine um cidadão que estava dormindo lá sem mais nem menos e ela não o viu... sentou-se em cima dele. Ao perceber o corpo estranho, ele embaixo dela, ela em cima da coluna dele, o susto foi maior quando, ao pular, o café subiu... e desceu. Sim, o líquido QUENTE o atingiu.

E ele não estava bem apresentável debaixo dos lençóis... Pelo menos de boxer ela pôde garantir que ele estava vestido. E, claro, suas bochechas rosearam só por me contar isso. Ele tinha ido para o sofá porque o primo dela, que estava por lá, roncava de um jeito estranho e não o deixava dormir. O jeito foi se jogar no sofá.

– Não ri, Lena!

– Eu não tô rindo.

Mentira, eu estava me lavando por dentro. Por dentro.

– Eu tô vendo seus olhos se encherem... eu não devia ter contado. Que vergonha.

Nossos sanduíches saíram e pegando as bandejas com a atendente, caminhamos para a mesa. Deve ser assim que eu pareço aos olhos dos outros que me pegam no flagra, uma graça total. Só não é legal quando é com você.

– Acredite, eu sei como é... então relaxa. Sorria e acene.

– Sorria e acene?

– É, nunca assistiu Madagascar?

– Ah, sim, o pinguim. Mas não enrola, eu quero saber do seu.

– Meu o quê?

– Seu mico, oras. Quero provas de que você sabe mesmo como é.

– Tá, eu conto. Só não agora. Me cobra essa.

– Pode ter certeza... Ai. Meu. Deus.

– Quê? Que foi?

– Olha aí.

Era Luciano, o cara da recepção, saindo da sala do diretor para colocar a tão esperada lista de notas da monitoria. Preciso dizer que todos foram correndo atrás, como naqueles filmes que sai a seleção de atores de peça e uma galera fica rondando o mural? Eu não, sentei na mesa e fui tratar de comer, afinal, nota ruim eu sabia que não ia tirar. Além do mais, tinha que falar com Flávia dos detalhes da nossa viagem. E dos presentes que eu tinha logo que comprar.


~;~


Sensação de estar sendo observada.

Não perseguida, claro.

Mas sabe quando você passa por uns lugares e parece que estão falando de você? Que, de repente, todo mundo olha? Meu Deus, era bom Djane começar a melhorar a imagem dela de carrasca porque isso está chegando a um estado preocupante.

Só que não.

Quer dizer, não era pela fama dela ou estranheza das pessoas de me verem conversando de boa com ela. Era outra coisa e era besteira. “Apadrinhamento” como dizem por aí. Eu poderia ter ficado chateada por Djane ter feito o que fez nessa monitoria – ela convenceu a professora Silvana a me liberar da avaliação final, ou pelo menos aliviar minha barra, e a história vazou por rumores – no entanto, ela conseguiu me dizer a tempo de que foi uma atitude desesperada para me deixar livre para que eu pudesse ter tempo de ficar no hospital. Isso com a professora Silvana foi logo depois do episódio que Murilo lá ficou internado e nossas vidas passaram a se entrelaçar mais.

Djane só foi saber que eu não gostava dessas coisas no dia que foi interferir por mim com o diretor sobre minha suposta falta no evento por causa do trabalho de parto que me envolvi. Bem verdade que ela poderia ter confessado logo naquele dia sobre esse caso de Silvana, porém, achando que eu não fosse descobrir e que tudo estava tão bem para se estragar mais ainda, ela preferiu omitir.

O que me chateou mesmo foi ficar sob o olhar de alguns alunos... Parecia que eu estava no colégio de novo, quando a vaca pinoia da Denise saiu fazendo minha caveira. O resto daquele segundo ano de ensino médio foi quase todo assim e eu não ia ficar calada como antes. Agora era hora de fazer as pessoas verem que comigo as coisas não funcionam assim.

Estava eu conversando com Djane no pátio sobre os últimos acontecimentos. A saúde de seu Júlio só está comprometida pela sua pressão, então se ele evitar fortes emoções, tudo ficará bem. Daqui pra sexta o médico já pode até liberá-lo. O que tem preocupado a cabeça da minha sogrinha – já disse que acho uma graça pensar nela dessa forma? – é o comportamento atípico de seu cunhado.

Quem disse que ele estaria todo cuidadoso com o pai? Filipe se ofereceu para ficar na casa de seu Júlio para dar uma melhor assistência a ele – o quê que uma culpa não faz, né? – mas não é bem sobre isso que ela tem se espantado. Que ele esteja se aproximando do pai e resolvendo problemas antigos de família, tudo bem, mas os problemas antigos que tem com ela? Definitivamente eu também não sei se ele está sendo sincero ou se é mais uma tática dele. Esperar de Filipe, nós esperamos qualquer coisa, e ver ele nesse estado manso chega até ser preocupante mesmo. De qualquer forma, só manter os olhos abertos.

Não nos detivemos de falar sobre isso mais que o necessário. De Filipe, digo. A mulher está em júbilo! Ir ao hospital para cuidar do sogro nem a deixou para baixo... na verdade, seu Júlio também anda de boa, pois, por mais que aquele almoço tenha terminado num desastre, algumas coisas certamente mudaram e foi para a melhor. Primeiro que muita coisa foi esclarecida e, mesmo não dando espaço para ele ou Djane se explicarem, quanto aos seus feitos ao longo do que foi esse caos familiar, a situação praticamente falou por eles.

E se antes eles conseguiram resgatar uma cumplicidade, agora a família parece estar se reestruturando novamente – apesar de Filipe ser um caso a parte.

Eu disse que ela estaria toda derretida. Seu nível de contentamento estava imensurável. Isso só porque o filho dela estaria de volta a sua casa quando terminasse o expediente. O brilho que ficou no seu olhar enquanto descrevia a cena de como foi que ele pediu para voltar para casa me emocionou. Ela também foi muito detalhista, contando sobre quão significativo foi para ela, a busca dele por conforto nela no hospital, a mínima conversa, o contato que tiveram em abraço e mãos unidas, o pedido oficial, ele a chamando de “mãe” de volta... Céus, eu parecia estar tendo uma catarse de fim de novela. E que novela foi essa!

Tão logo estávamos rindo, felizes, bobas. Ela mencionou que falta de fato uma conversa real entre eles, pois perdão é algo que certamente entre eles deve acontecer, e só essa proximidade já a deixa nas nuvens. Eles merecem esse momento, mais que tudo. Pertinho do Natal então... Esse encontro tem que ser essencialmente entre os dois, sem interferências minhas como foi no domingo. Ainda bem que estávamos num banquinho afastado no pátio.

Assim eu aproveitei e engatei sobre aquela noite... Aquela que ela tinha nos visto juntos depois de certo temporal que dominou a cidade. E do blackout que caiu sobre seu bairro. Claro que eu ainda estava com vergonha, foi a passividade dela que me deixou mais desse jeito. Não que eu achasse que ela ia me queimar viva por ter um relacionamento amoroso com seu filho, mas sei lá, ainda é estranho saber que ela nos viu juntos. Ela sabia esse tempo todo!

Aconteceu de que naquele dia ela chegou pela manhã e quis ver como tudo estava. Dona Ana já estava na cozinha preparando o café e nem tinha percebido que a patroa tinha dormido fora ou que eu estava por lá, só viu a bagunça de sujeira que a festinha de Vinícius proporcionou – isso porque a gente ainda deu uma limpada. Foi então que Djane disse para dona Ana checar o quarto de hóspedes, que ela mesma ia ver o quarto de seu filho. Dona Ana estranhou o fato de eu não estar na cama e foi avisar Djane, que estava então na porta do quarto de Vini, nos observando dormir.

– Eles não são lindos juntos?

Ela diz se lembrar de ter dito isso à Ana do seu lado. Assim não quiseram incomodar e fecharam a porta, e foi a hora que eu acordei, porque não fecharam a porta direito. O tempo todo Djane sabia, meu Deus. Estranhou quando dona Ana contou sobre meu pedido de manter isso em segredo. Por isso que vez e outra ela fazia umas insinuações, pra ver se eu falava alguma coisa. O fato é que naqueles dias eu ainda estava muito duvidosa quanto a tudo que estava relacionado a ele e a descoberta de Becca como sua namorada ainda era recente, bagunçando tudo. Não chego a mencionar isso a Djane, claro, primeiro porque são detalhes da vida de seu filho e segundo que estávamos ainda na faculdade. Tínhamos que maneirar um pouco. Foi então que nos levantamos, pois ela tinha horários para fechar e eu tinha que comemorar as boas notas com meus amigos monitores.

Aí Dani apareceu, pediu-nos licença e me puxou discretamente. Uma vez um pouco afastadas ela contou-me sobre os rumores. Antes de a professora subir para a sala, fui buscar esclarecimentos. Ok, não fiquei tão chateada, eu entendi, apesar de não ter gostado, então deixei passar. O problema começou foi com os outros que ficaram cochichando...

Fui até chamada à diretoria, junto com Silvana. Fabiano só queria saber se era verdade, então falei logo, sem rodeios. Ele não viu nada demais, afinal, eram os professores que decidiam sobre isso de liberar alunos das avaliações finais. Para os que importavam, estava tudo esclarecido. Mas eu queria abalar um pouco só pra calar a boca de muita gente ali.

Logo que saí da sala do diretor uma garota passou por mim com seu grupinho e fez um comentário ofensivo sobre puxa-saquismo. Eu não resisti. Claro que não avancei na menina, eu não ia me fazer por tão pouco. Revidei da melhor forma e olha, foi revigorante colocar aos quatro ventos que eu estava num relacionamento sério. Quem diria que até longe, Diogo estaria me aconselhando?

– Ô queridinha, do que você reclama mesmo, se você se aproveitou da epidemia para faltar aulas e monitoria? Fala sério, depois que você voltou, quase não fazia nada e ainda reclamava. Eu fiz meu trabalho e ainda fiz o seu. Se não queria, antes tivesse avisado desde o começo que não queria ficar de monitora, mas achou que ia ser nota fácil, né? E olha, acho bom você não falar da minha sogrinha, pois só tá é pegando mal pra você.

Mais reconfortada, sentei de volta à mesa onde ainda estavam Bruno e Dani, como se nada tivesse acontecido. Pena que Gui e Flávia estavam já em sala. Logo logo eles iam saber mesmo... fofoca corre solta por aqui e pelo menos essa foi uma boa. Agora era só rir da reação de todos, principalmente dos dois que estavam na mesa.

– BEM que EU disse que tinha algo entre vocês, desde aquele dia que vocês jantaram aqui os três na lanchonete. Eu devia ter apostado e devia ter apostado era alto.

– Bruno, você presta TANTO que eu sou capaz de te pagar de verdade. Sobremesa?

– Pede duas. Eu também teria apostado.

– Ok, saindo dois mousses para dois amigos que não prestam.

– Isso porque a gente te ama, Lena.

– Eu sei, Dani, e pelo visto, me amam até demais... mas eu gosto é disso.


~;~


Eu ia sair para comemorar com eles. Esse período foi... acho que não tenho palavras que possam descrever como tudo foi. Merecia mais que uma comemoração, era uma despedida, afinal, era fim de ano e logo cada um ia seguir com seus planos. Ainda estávamos na mesa da lanchonete conversando sobre o que cada um ia fazer:

– Para o Natal, minha família vem quase toda do interior. Ano novo, acho que vou ir com uns primos passar na praia... ainda não fechamos isso. Dificilmente viajamos. E vocês?

Dani falava pensando longe, com a colher apontada para o nada enquanto se deliciava com seu mousse. Já disse que ela tinha mania de filósofa? Ela faz tão natural. E nem percebe que Bruno a perscruta. Quando ela volta a si e nos questiona, ele parece responder para disfarçar:

– Pra mim acho que o mesmo. Ainda não sei os planos para o ano novo, mas devo ficar pela cidade.

– Eu vou viajar. E acho bom meu irmão melhorar do braço dele logo porque é ele quem vai dirigir. Flávia vai comigo esse ano, a família dela vai dar uma dispersada nesse Natal. Para o ano novo devo ficar na casa dos meus pais mesmo, pouco tenho tempo de vê-los... O que me lembra de que tenho que comprar presentes, com urgência. Antes que comece aquele desespero de última hora nas lojas. Vocês vão me deixar pobre.

– Uia, vai rolar presente?

Um beijo pra você que sentiu que essa foi da Dani. Porque foi.

– Por mim, não precisa. Presente é só uma convenção, prefiro que a pessoa me prove ser amiga no dia-a-dia.

– Credo, Bruno, presente não é lembrete de ser bom amigo, é... sei lá, um mimo que a pessoa merece por ser quem é. Além do mais, presente é presente, se aceita, não se reclama. Não te preocupa, Lena, pode ser apenas uma lembrancinha, sem muitos gastos.

– Desse jeito vou ter que pensar bem no que dar para vocês. Que tal adiarmos nossa comemoração para... hã... quarta? Pode ser? Até lá acho que já vou tê-los em mãos.

Ficamos assim combinados. E era melhor que eu seguisse essa noite para casa para deixar os dois sozinhos e para dar uma checada no meu irmão. Ele TEM que melhorar logo, pois a viagem está muito perto. Quando Bruno foi até a diretoria buscar nossos documentos de certificação de monitoria, fiquei de papo com a Dani.

Ela me faz um lembrete:

– Agora aproveita e conta o mico.

– Ai, não, tenho vergonha.

– Mas é essa a ideia.

– Ok...

Ela se atreveu a rir da forma mais descarada da minha história com Djane. Só não riu por saber da minha história de trovões, pois bem ela sabe o que é ter uma fobia, mas tirando isso, ela GARGALHOU por eu descobrir que Djane sabia o tempo todo. Ela disse que foi falha minha de não ter dito de antemão que ela não poderia rir, por isso ela aproveitou. Já disse que meus amigos não prestam? Tenho enfatizado bem isso ultimamente?

– Primeiro, já é bem difícil imaginar Djane como boa pessoa e como boa “sogra”, segundo que ela revelar esse “detalhe” que presenciou deve ter sido mais hilário ainda, e terceiro... eu ainda não acredito que ela é sua sogra, cara. Caramba, por isso que você sempre a defendia.

Com a vergonha-mor latejando por meu rosto, abaixei a cabeça na mesa e fingi me esconder. Não deu um minuto e Bruno reapareceu com nossos certificados em mãos, perguntando o que era tão engraçado. Era bom eu pensar em um jeito de revidar, e não tendo ideias imediatas, respondo a ele antes que Daniela fale alguma coisa. Aproveito e sinalizo a ela, sem ele ver, para ficar de boca fechada, passando um zíper imaginário à boca.

– Nada, Bruno, nada. Acredite, NADA.

– Sei. Então, vamos?

Nos levantamos e assim, do nada, Dani distraída parece cantar baixinho. Quando eu e Bruno paramos para olhar, ela aumenta a voz. Nada a detém mesmo.

And raise your voice… every single time they try and shut your mouth.


Trilha citada: My Chemical Romance – Sing

http://www.youtube.com/watch?v=hTgnDLWeeaM&ob=av2e


– Mas sim? Palhinha gratuita, é?

– Ah, Lena, é daquelas músicas que a gente ouve assim, de última, e parece que ela gruda o resto do dia na sua cabeça.

– E de quem é?

– My Chemical Romance. “Sing”.

– Só eu sinto que você tem uma fascinação por essa banda?

Falo enquanto caminhamos calmamente para a saída.

– Até que não. Vocês só me pegam quando eu escuto umas esporádicas. De qualquer forma... Sing it for the boys, sing it for the girls, every time that you lose it, sing it for the world…

É, ela CANTA mesmo, sem se importar com quem estava olhando. Também não comento mais nada. Bruno ri, ele não resiste a essas coisas dela. E eu sei que é desse jeito que ela o conquista.

Antes de chegar ao estacionamento da frente da faculdade, tio Chico corre para chamar a atenção dela. Eu e Bruno continuamos a andar até o carro, só acenamos a ele, íamos a esperar. Acho bom que ela esteja um pouco afastada, assim posso abordá-lo também. Ele senta na vaga do motorista e eu fico na parte de trás.

– E aí, tem pensado?

Finjo mexer na bolsa à procura de algo, como se o que eu estivesse falando era papo furado. Só que acabo por procurar mesmo meu celular.

– Em quê?

– Na morte da bezerra.

Ok, eu não resisti à deixa.

– Quê, menina?

– Na Dani. Quer dizer... no que conversamos sábado sobre a Dani.

Ele também estava fazendo média, percebo logo. Fecha a porta do carro e mexe nuns botões do seu aparelho de som. Olha, que legal, ele consertou o ar-condicionado.

– Ah, um pouco, eu acho.

– Alguma conclusão?

Arrisco, antes de Dani chegar. Eu a vejo vir feliz e saltitante em nossa direção pelo estacionamento. Quando ele a olha de sua janela e ri bobo, finjo que não vejo. Se ele pudesse ouvir pensamentos, ele se espantaria com a firmeza que eu estava gritando por dentro “EU VI”. Ainda bem que ele não ouve, ou que ninguém ouça, pois, já pensou se alguém pudesse ouvir seus pensamentos? Nossa, eu teria que virar alienada pra não saberem o que realmente penso das coisas.

– As mesmas, ainda.

Responde, resoluto. Dani senta no banco passageiro sorridente e muda o clima de segundos atrás. Não deixo de perguntar sobre o que essa alegria:

– E essa felicidade toda, vem quê mesmo?

Bruno liga o carro e se mostra atento também.

– Tio Chico. Ele conseguiu as mudas que eu lhe pedi. Minha tia estava doida atrás delas faz um tempão. Estava em falta. Foi ideia dele de fazer uma surpresa, agora eles são super amigos.

– Hum. Romance no ar?

– Sabe que eu ainda não tinha pensado sobre isso? É, acho que nunca se sabe.

– É, nunca se sabe...

Falo sem muitas intenções de quem tinha muitas dessas intenções. Na verdade, falo ao encontrar o olhar do meu amigo pelo retrovisor central quando ele trabalhava para mover o carro do estacionamento. Não resisti e ele percebeu.


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Notas finais do capítulo

Bom que ele tenha percebido, mas pra se mexer, ele tá demorando... Teorias?



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