Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Combo pra assegurar uns dias que vô tá off, motivos de viagem.
Cap para quem curte shipper Milena & Vinícius.
Enjoy.



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Todo mundo resolveu esticar expediente num sábado, foi? Quem foi esse que combinou? Isso é turno extra pra compensar quem vai faltar, viajar, tirar férias, é? Foi o que eu queria poder questionar ao guardinha do saguão do prédio de vendas de imóveis, esperando por Vinícius.

Logo que ele conseguiu chegar ao shopping para me buscar e estávamos decidindo para onde iríamos – porque ele estava tentando me convencer a não voltar pra casa ainda, naquele seu jeitinho charmoso, concentrado na direção do carro – uma ligação nos interrompeu e parece que um dos caras que chamaram para um trabalho provisório, desses que se abrem logo na época das grandes festas e feriado por causa da grande demanda de mercado e que reduz um pouco dos trabalhadores efetivos – que é o caso de Vini, que estava só com um turno no momento – fez uma besteira e olha quem foram chamar para resolver o caso.

Tive que vir, mesmo desse jeito largado em que me encontro. Vini insistiu para que eu saísse do carro com ele, dizendo que não haveria quase ninguém no prédio, que ele sabia, pois não fazia muito tempo que havia deixado o escritório. E não, eu não queria ver a diferença gritante que eram nossos trajes. Ele está até de gravata! Sem o terno pelo menos. Se tivesse com ele, quem sabe o terno poderia me cobrir melhor... Nam, estava quente demais para isso. O ar-condicionado que deixou ligado estava dando um jeito nisso. Só não deu jeito na minha tremenda sede. Sentia que não bebia água faz horas.

Desliguei o ar, peguei a chave, peguei minha bolsa e fechei o carro. Tracei o mesmo caminho que vi Vinícius fazer pelo estacionamento quase vazio para chegar ao saguão. Como o prédio era pequeno, não havia elevador, então o prédio era todo por escadas, e para chegar lá tinha que ir pelo saguão de entrada de clientes.

Não sabendo por onde ir e não querendo ligar para ele para evitar interrupções maiores, fui toda acanhada pedir informações para o recepcionista. Pelo menos achar um pouco de água. Ele me indicou o bebedouro ali ao lado e eu pedi que, se ele visse Vini passando, que o avisasse que eu, Milena, estava fora do carro, esperando por ele no saguão. Realmente, não tinha movimentos por ali. E eu senti o recepcionista todo engomadinho me olhar obliquamente, ditando que eu não estava bem trajada para estar naquele local.

É, meu amigo, eu também queria prezar pelo profissionalismo, mas ninguém estava querendo concordar ou colaborar comigo. Só não pensei no fato de eu poder ser uma cliente, pois, se realmente fosse, eu poderia ir do jeito que bem entendesse... cliente tem sempre razão. Mas ele já sacou que não sou cliente mesmo.

Bebo mais da minha água. Graças que tinha copo descartável disponível ao lado do bujão de água daquele bebedouro. Estava no segundo copo já, o primeiro desceu que mal senti. Observo ao redor, ali devia ter câmeras. Nem ouso pensar em quem está do outro lado observando tudo. E se eu começo a rir sozinha olhando para o copo? Vão pensar que o Vini está com companhias duvidosas... e isso pode gerar mais confusões. Então é isso, ficar na minha, fingir que está pensando longe – e estava mesmo – não me insinuar muito, nem me mexer impaciente.

Estava indo tudo perfeito... até que ouço uma voz de uma garota ao longo das minhas costas. Disse ela:

– Eu conheço aquela garota.

Praticamente pedi pelos cinco, dez segundos após essa sentença, implorei, quase me ajoelhei ali mesmo, suplicando mentalmente ao Senhor que ela não estivesse se referindo a mim, que não fosse mais uma pessoa que estava me reconhecendo de uma cantoria no ônibus. Esperança é a última que morre, não? Continuo na minha e sento numa poltrona ao lado, de onde podia ver a outra, ao pé da escada com um cara. Como Vinícius, estavam ainda formais, ela de vestido tubinho escuro, cabelos presos num coque improvisado, tinha traços orientais no rosto, diferente do outro que era mais moreno e estava de terno sem gravata.

Ela lhe deu um sorrisinho, deu um leve soco brincalhão no seu estômago e o puxou para mais próximo da recepção, como se fosse pegar alguma informação com o recepcionista. Só que o senhor engomadinho já tinha saído. Termino minha água, jogo o copo na lixeira ao lado e sinto os dois me observando. Tudo o que eu queria...

– Eu sei que eu conheço aquela garota, não sei de onde, Juan. Para de olhar tão na cara!

É, por favor, eu concordo, PAREM DE OLHAR TÃO NA CARA. Suspiro e continuo fingindo-me alheia. Faço o que qualquer pessoa faz nessas situações... procura o que fazer para se distrair. Acredite, 95% das chances a pessoa pega o celular para verificar qualquer besteira, ficar jogando um game tosco nele ou puxa o fone para se distrair com uma música. Opto só por ficar mexendo nele mesmo, queria ouvir se ela se lembraria de onde me reconhece.

– Espera, acho que... que também a conheço. Não era ela que estava naquela reunião no dia do jogo? Que foi na casa de Vinícius? Aquela que cortaram o jogo com o blackout?

Os dois estavam encostados no balcão da recepção, um do lado do outro, segurando uns papeis e tentando – sem sucesso – disfarçar as olhadelas. Eu conseguia melhor que eles. O guardinha ao lado teria até percebido se não estivesse de costas para nós, vigiando a porta. Aí que esse tal Juan é um dos caras que fizeram aquela zona na casa da Vini. Legal, muito legal. Que não fosse, pelo menos, um daqueles que me cantou. E logo a outra se lembra...

– Juan, eu não estava nessa festa. Como que eu v... Ah. Lembrei. É a garota da foto.

MEU DEUS, QUE FOTO? Sério, eu quis gritar. Quis mirá-los saindo do transe não-estou-vendo-vocês-não-estou-ouvindo-o-que-falam-não-estou-prestando-atenção para saber dessa história direitinho. Abaixo a cabeça num facepalm improvisado e continuo de ouvidos atentos, apesar de ainda encarar a tela do meu celular. Dali podia ouvir a zoada da avenida, apesar de meio abafado. A conversa daqueles dois não era bem sussurrada não.

– Que foto, Celly?

– Aquela que tem no monitor do Vinícius. É ela.

Cai pra trás, como aqueles personagens de animes que dramatizam seu embaraço. Claro que não caí de fato, só tenho essa sensação. E é morna, que se segue com um “own” meigo ecoando da minha mente ao coração. Seguro e seguro aquele sorriso bobo que vi de meu irmão um tempo atrás e, caramba, isso é difícil demais. Quem diria que desse embaraço todo eu ia conseguir essa informação linda? Minha língua coça só para perguntar.

Eles vão embora, seguem por um corredor atrás das escadas e somem. Ainda assim eu não posso rir abertamente por causa das câmeras. Como isso é difícil, viu. Tão logo Vini desce as escadas com sua mochila nas costas e me avista no saguão. O engomadinho não apareceu mais.

– Mi, pensei que ficaria no carro. Algum problema?

– Não, fiquei com sede.

Dou de ombros, levanto e já vou pegando a chave do carro quando ele começa a olhar para os lados e termina por dizer:

– Bom, já que está aqui...


~;~


– Não teremos que sentar em telhas, teremos?

– Não. Aqui o telhado é diferente.

Acho que Vinícius tem uma fascinação por telhados, porque é segunda vez que ele me chama para ir em um. Primeiro na sua casa, agora no seu trabalho. Se ele pedir para subir no telhado da minha casa, ele vai sozinho – mentira, saberia que ele ia dar um jeito persuasivo de me convencer a subir sim. Mas eu faria uma pequena resistência primeiro.

Passamos as escadas do prédio comercial em que ele trabalha e poucas almas vivas andavam por ali, a maioria descendo para ir embora, o expediente já tinha acabado faz tempo. Um deles se desculpou, em insistência, com Vinícius. Devia ser aquele que cometeu o erro, coitado, e tiveram que chamar Vini para consertar. O cara que estava acompanhando esse deu uma boa checada em mim e Vinícius me puxou mais para ele, passando batido. Mas será possível que ninguém ia deixar de me encarar hoje não? Quase me arrependo de ter saído de casa.

Ao chegar ao último pavimento, passamos por umas salas e Vini me mostra a que ele divide com seu grupo. Queria ter dado uma pausa e visto melhor sua mesa, apesar de saber que seu computador estaria desligado. De lá fomos para uma escada mais ao fundo e chegamos ao espaço do telhado. Amplo, cimentado, cinza, e até que limpo. Tinha uma casinha de madeira escura num canto, que devia ser alguma parte de manutenção do prédio. Ela que dava uma sombra boa de toda aquela área. Apesar do dia quente, ali batia um ventinho leve, que remexia a barra do meu short-saia, e aliviava o calor.

– É permitido ficar aqui?

– Nem sim, nem não. Nunca colocaram algum impedimento.

Dá de ombros e me puxa para o parapeito do prédio. Ficamos à sombra do casebre e ao som do materialismo humano no trânsito, de buzinas, motores, derrapadas, marchas, freios. Era começo de tarde ainda, não devia passar de 15h. Não acredito que não sei dizer as horas depois de ter encarado tanto a tela do meu celular enquanto ouvia a conversa dos dois funcionários que estavam me observando no saguão. Vinícius me abraça de lado e beija minha testa.

– Gosto daqui.

– Tô vendo. Um fascínio por telhados, isso sim. Estava pensando no outro dia se não deveria ter comprado uma telha para sua mãe. Evitar de esperar a chuva para saber se pisei errado por lá.

Ele ri e é uma daquelas risadas que parece vir implodindo para fora, excêntrica. Gosto de como sua face muda para expressar isso. Enquanto ele se mantém olhando para frente com sua mão livre apoiada no parapeito onde estamos encostados, eu, mesmo de lado, lhe observo. Gosto de mirá-lo e ficar confirmando para mim mesma que ele é meu. E que o amo. Ele vira-se para mim e conta o que passa em sua cabeça:

– O melhor é imaginar qual seria sua resposta quando ela perguntasse como você teria conseguido fazer uma goteira na casa dela. Tá aí uma cena que eu gostaria de ver.

– Outra, você quer dizer. Na vez passada me pegou cantando sozinha. Ainda não foi o bastante?

Nunca é o bastante com você.

Amo quando ele faz isso, me surpreender com tão poucas palavras, sempre com esse semblante de que não tem como saber se está sério demais ou meio brincalhão, mas sincero. Fica difícil até de respondê-lo.

– Ah, eu diria a ela que seu filhinho continua não batendo bem da cabeça. Ela é sua mãe, deve se lembrar de histórias mais engraçadas e loucas. Tem boas recordações também, saudosas. Lembra-se daquela manta que ela deu de dica para dar de presente no chá de bebê?

– Quê que tem?

Desde aquela ligação que pedi a dica a Djane, tinha essa vontade de apertar as bochechas de Vini, fazer graça e usar uma voz meiguinha para lhe aporrinhar. Isso porque era fofo. Djane não me contou muita coisa naquela vez, apenas disse que tinha uma manta dele, que ele usou até uns 7 anos e disse que tinha virado “homenzinho” para continuar usando-a – o que lembra de mim por volta dessa mesma idade, que queria ser independente, e dizia a minha mãe que já era uma mulher feita. Só que quando ele adoecia, era essa manta que Djane usava para aplacar o frio de uma febre.

Ele não reclamava, só se encobria mais, porque era a dose certa de proteção. O “homenzinho” ainda queria o carinho daquela manta. E foi esta que manteve parte da esperança desse menino que ainda precisaria muito da mãe, quando estavam tão longe. Por muito tempo foi só a esse pano que Djane teve que se encobrir para sentir o filho perto.

– Djane me contou a história de “alguém” que tinha e adorava uma manta. Mas a deixou para trás. Sabia que ela ainda a guarda?

Sua expressão muda para a incredulidade, com as sobrancelhas levantadas e um traço de sorriso em sua face que parecia não saber se abria ou se continuava fechado. Estava adorável.

– Mentira. Sério? Acho que não vejo esse cobertor desde, sei lá, meus 11, 12 anos. Pensei que ela tivesse doado. Ela te mostrou?

– Não, só comentou. Só disse que uma manta para uma criança é às vezes uma boa recordação. Senão para a mãe, pois é a figura materna quem um dia já envolveu seu bebê. Djane pode não ter te gerado ou te carregado, mas sempre intentou por fazê-lo.

Não sabia se era um campo minado comentar isso, assim desvio o olhar para a avenida que tinha lá embaixo. Parar e observar para falar da vida me fazia sentir como minha avó quando descrevia como era fazer suas crônicas. É como uma pausa necessária para a vida poder correr, pois não adianta viver e viver sem pensar no que se está fazendo, no porquê, que propósitos são esses que estão nos regendo, que coisas estamos absorvendo de cada situação ou mesmo que mistura eles fazem em nossas cabeças. Admiro por ela conseguir transpor tudo isso em palavras que acredito nunca pude coordenar como ela. E então percebo que meu risco valeu a pena:

– É, isso ela tem deixado claro ultimamente. Estamos conversando bastante, sobre tudo, minha infância, meu pai Gustavo, minha mãe biológica... Filipe, meu avô. E você. Ela tem essa... adoração por você... e, sabe, eu entendo bem ela. Talvez até demais.

Enquanto descreve tudo, até mesmo essa indireta bem direta para mim, vejo por visão periférica que ele também adota o olhar para a avenida. Era como estar alheio e ainda assim dentro de nossa velha e boa bolha.

– O mesmo ou próximo eu posso dizer de Murilo. No outro dia ele veio com uma conversa sobre nós três. Que você é muito mais que amigo para ele, mostrou-se um irmão... e isso o deixa numa má situação, pois ele nunca vai perder o cuidado por mim, assim ele vai bater no próprio irmão se for o caso. Tenho notado umas boas diferenças no comportamento dele também... será que depois de tudo isso, nossos “protetores” estão percebendo que podem confiar em nós?

– Algumas lições são difíceis, porém, necessárias. Todos estamos aprendendo no final das contas.

Sua fala desliza simplesmente com essa acepção tão segura que chega a ser, sei lá, poético. Assim como aquelas lindas imagens com uma boa frase de efeito, é como se estivéssemos num quadro passando uma mensagem a quem nos mirasse e decifrasse. E todo o conjunto do ambiente, mesmo sendo um telhado meio inóspito, estava sendo iluminado pelo sol e, onde estávamos, sombreados pelo casebre quieto, éramos silenciados pela leve brisa que por ali passava.

E é essa cena em particular que me faz querer ser a poeta que nunca fui – e que provavelmente não seria com mais ninguém num futuro próximo – descarregando em poucas palavras significativas aquilo direto de meu âmago, libertando-se do que já foi uma opressão.

O que sentimentos não fazem conosco...

– Eu te amo, sabia?


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Notas finais do capítulo

Como as coisas aparecem pra essa menina, hein.



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