Uma Nova Chance escrita por Lady Padackles


Capítulo 13
Capítulo 13




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O sol nasceu anunciando um lindo dia. Sam sentiu-se animado e otimista. Logo estaria em companhia de seus pais e sua irmã. Estava com muitas saudades... Pensou em Dean, e um sorriso bobo cresceu em seu rosto. A sua felicidade era redobrada quando pensava que o seu amado agora estava livre de sofrer solitário em todos os dias de visitas dos pais. Dean estaria por ali, rindo e se divertindo junto aos seus familiares: pai, mãe e irmã vivos, presentes e amorosos... Sam se viu assobiando uma musiquinha alegre enquanto se enfiava debaixo do chuveiro.

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Dean despertou ainda cedo. Queria voltar a dormir, mas não conseguiu. Era dia dos pais. Mais um maldito dia dos pais... O menino fechou os olhos com força. Tudo que vinha em sua cabeça eram recordações...

Era sexta-feira, dois dias antes do dia dos pais. O ano? 1982. Quando a professora de Dean contou aos alunos que pintariam caixinhas de baralho para dar de presente aos seus pais, o menino ficou todo animado. Tinha apenas quatro anos, e adorava pintar. A animação era ampliada por saber que daria a caixinha pintada ao papai. Faria com todo capricho.

– Vou pintar um mar e um barco. O meu pai tem um barco. Ele adora barco! – anunciou o lourinho à professora.

Molly apenas riu.

Dean molhou o pincel na tinta azul e espalhou pela caixinha. Tentou pintar o mar, mas saiu tudo errado. Era difícil segurar aquele pincel tão grande... Não tinha coordenação para fazer direito. Tentou mais uma vez. Tentou pintar o barco. Quanto mais tentava mais frustrado ficava porque sua obra de arte era simplesmente horrível. Dean largou o pincel no chão e começou a chorar.

– O que foi, meu amor? – perguntou a professora, chegando perto do pequeno.

– Está tudo errado, tudo feio. Papai não vai gostar! – choramingou o lourinho.

Dean se lembrava da tia Molly despenteando seus cabelos dourados e depois se ajoelhando para olhar em seus olhos.

– Hei, não precisa chorar! Está bonito! Você ainda é pequenininho, por isso não fica perfeito, do jeito que você queria... Mas quando você crescer pode ser um grande pintor, sabia? É só você treinar, porque talento você tem.

O menininho enxugou os olhos. Não sabia o que significava “talento”, mas devia ser alguma coisa boa. Olhou as caixinhas todas borradas de seus colegas. Talvez a dele não estivesse tão ruim assim... Quando Molly lhe estendeu o pincel que pegara do chão, Dean aceitou. Faria o seu melhor, e depois treinaria para fazer perfeito. Um dia ele daria a pintura perfeita ao papai.

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– Mamãe, olha a caixinha que eu pintei para o papai!

A Sra Sarah Campbell estava de costas para o filho, terminando de preparar o jantar, quando a criança tirou a caixa de dentro da mochila e estendeu em sua direção.

– Está bonita, filho. – Ela respondeu sem virar o rosto.

– Mas você nem viu... – retrucou o lourinho.

– Vi sim. Agora vai lavar as mãos que o jantar já está indo para a mesa.

Dean trotou até o banheiro indignado. Esticou-se todo para alcançar a pia. Quando voltou para a cozinha, tentou mais uma vez chamar a atenção da mãe, que agora já estava de frente para ele, colocando a comida na mesa.

– Olha, mamãe! – ele disse novamente esticando a caixinha em sua direção.

– Já disse que está bonito, Dean. – ela respondeu com impaciência.

A criança se zangou. Como ela podia achar bonito se mal tinha olhado?

– Então o que é? – Ele perguntou indignado. Queria saber se a mãe identificaria o mar e o barco no desenho.

Só aí Sarah fez algum esforço para olhar o que o garotinho segurava nas mãos.

– É uma caixa de baralho. Mas seu pai nem joga baralho... Agora larga isso e vem comer.

Seu pai não jogava baralho? Dean nem sabia direito o que era baralho... Mas se seu pai não gostava então aquela caixinha não serviria para nada. O menino tratou de guardá-la novamente na mochila. Sentou-se na mesa com a mãe sentindo-se frustrado. Não quis comer, fez birra, e ainda levou uns tapas da mãe. Aquela noite seu castigo foi ter que ir dormir cedo, antes mesmo do papai chegar.

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O Domingo chegou. Dean não tinha mais nenhum presente para dar ao pai. Pegou a maldita caixinha e levou para ele, mesmo imaginando que não iria gostar dela.

– Papai, aqui o seu presente. – ele disse, envergonhado. Entregou o presente mal embrulhado em um papel colorido que achou pela casa.

O Sr. Campbell desembrulhou o presente.

– Que lindo! – exclamou ele com entusiasmo.

Dean nem pôde acreditar na cara de satisfação do homem.

– Você sabe o que é? – Dean então perguntou preocupado. Talvez ele não soubesse que era uma inútil caixa de baralho.

– Claro, Dean. Está lindo, filhinho! Um mar, um barco... E tem até um sol, lindo, brilhando... Você tem muito talento! – Ele disse sorrindo.

Dean sorriu também. O pai gostou da pintura, e isso importava muito! Depois comentou tristemente.

– Mas é uma caixinha de baralho... A mamãe falou que você não gosta de baralho...

Roger olhou para o filho e pareceu surpreso.

– A mamãe está errada, eu adoro baralho. Mas eu não tinha nenhum porque não tinha onde guardar... Mas agora eu tenho! – ele falou colocando Dean no colo. Seu olhar era carinhoso.

O lourinho sentiu-se imensamente feliz, principalmente quando seu pai convidou-o a sair para a rua com ele e comprar um baralho novinho. Foram somente os dois, pai e filho. E quando voltaram para casa, Sr. Campbell ensinou a Dean um monte de joguinhos com as cartas. Jogaram a tarde inteirinha. Sem dúvida um dos melhores dias de sua vida.

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Dean suspirou, aquele havia sido o último dia dos pais que passara com Roger. Não estava mais conseguindo segurar as lágrimas. Sentia saudades daquele homem que amou mais que tudo na vida. Pegou um copo de água e tentou se acalmar. Tentou esquecer, mas as lembranças do passado teimavam em tortura-lo.

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Era 1983. O dia dos pais estava chegando. Dean havia treinado muito durante o ano, e agora, que já era um rapaz crescido, pintava bem melhor. Tinha cinco anos e meio. Daria outra caixinha pintada ao seu pai: um porta-lápis, para Roger guardar os lápis e canetas que viviam espalhados pela mesa de seu escritório.

Dean chamou a empregada, Miss Hernandez, em um canto. Deu para ela todo o dinheiro que guardava no cofrinho e pediu que comprasse o porta-lápis para ele. Miss Hernandez lhe entregou a encomenda logo depois do almoço, e Dean começou a trabalhar nela imediatamente. O dia dos pais estava próximo afinal.

O lourinho pegou suas tintas e pincéis e sentou no chão do quarto. Dessa vez ele pintaria um cavalo, o animal predileto do pai. Dean desenhou a lápis primeiro, cuidadosamente, e só depois começou a colocar a tinta.

– Dean, o que você está fazendo? – perguntou a mãe, zangada, assim que entrou no quarto.

– pintando o presente que vou dar para o papai... – respondeu o pequeno.

Sarah começou a recolher as tintas nervosamente.

– Agora não, Dean, você está com febre! Depois você piora e vai sobrar trabalho é para mim. Deita e dorme!

Dean obedeceu à mãe, mas já estava de saco cheio de ficar dormindo o tempo todo. Estava doente há algum tempo, e fazia quase duas semanas que não ia à escola.

– O dia dos pais é no Domingo, eu tenho que pintar a caixinha... – O menininho, já deitado, falou para a mãe antes que ela saísse do quarto. Já era sexta-feira.

– Dean, enquanto você não melhorar não vai pintar nada. Não quero saber se é dia dos pais ou não!

Sarah saiu e fechou a porta com força. Ela era durona e inflexível. Não entendia que Dean precisava dar um presente ao seu pai...

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Dean acordou sonolento no meio da madrugada. Estava com calor e com sede. Levantou-se da cama e foi até a cozinha beber um copo de água. Não tinha vontade de dormir mais. Resolveu então terminar a pintura. Sua mãe estava dormindo, não iria impedi-lo.

Dean pegou a caixinha, as tintas e pincéis, e pintou o cavalo com uma habilidade incrível para um menino tão pequeno. Ao final sentia-se exausto, mas feliz por ter terminado o presente. Estava bonito, o pai iria gostar. Dean sorriu satisfeito e se enfiou novamente por baixo das cobertas. Não custou a dormir.

Na manhã seguinte, acordou ao som dos gritos da mãe. Dean ficou muito assustado e levantou para ver o que estava acontecendo. Sarah, sentada em sua cama, chorava copiosamente enquanto rasgava as roupas do marido. Nem reparou no garotinho pequeno que se aproximava arregalado.

Dean começou a chorar, e só então Sarah se virou para ele.

– Ele foi embora! Tudo culpa sua! – ela gritou lhe lançando um olhar raivoso. Dean não entendeu nada. Estava assustado demais e não conseguia parar de chorar. Sarah não disse mais nada, apenas pegou o menino no colo e o enfiou de volta na cama. Dean não se atreveu a sair de lá. Ficou deitadinho chorando por muito tempo, até Miss Hernandez entrar no quarto.

– Eu quero o meu pai... – o menino falou para a empregada fazendo beicinho. Ele estava com muito medo, e nem sabia de que.

A empregada acariciou seus cabelos.

– Seu pai viajou, querido, e a sua mãe está triste. Tente se comportar, está bem? E não chore mais, você assim só vai piorar. Nós vamos lá no Dr. Petrowicz agora para você tomar remédio e ficar bom. – Ela disse enquanto guardava algumas roupas do menino em uma bolsa grande.

– Amanhã é dia dos pais. Ele vai voltar? – o garotinho perguntou ainda choroso.

– Não sei, meu amor...

Os olhos de Miss Hernandez brilharam de uma maneira muito triste, e o pequeno e sensível Dean entendeu que sua vida nunca mais seria a mesma. Onde estaria o seu pai? Começou a chorar de novo.

Miss Hernandez tentou consolá-lo, deu banho nele e o arrumou para sair. Segurou o menino no colo, enquanto Dean segurava o porta-lápis. Iria lavá-lo consigo para onde fosse para entregar ao pai quando o visse de novo. Sua mãe, agora aparentemente recomposta, pegou algumas bolsas. Foram os três dali direto para o hospital.

O Domingo seguinte foi o primeiro dia dos pais de Dean sem Roger, e o primeiro dia que acordou longe de casa internado no Hospital Pediátrico Santa Fé para um longo tratamento.

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Dean segurou o pincel que achara na praia no dia anterior. Engraçado ter encontrado o objeto logo na véspera do dia dos pais... Seria coincidência? Em seguida olhou para a sua escrivaninha. Lá estava ele: o presente que guardara para seu pai por tantos anos. A última pintura que fizera na vida: um cavalo desbotado. Talvez não a última de fato, mas a última que fizera com vontade. Todas as outras que se seguiram foram feitas sem inspiração e sem capricho, e apenas quando exigido como um trabalho da escola.

Quando Miss Hernandez e todas as enfermeiras do hospital lhe disseram que o cachorro que pintara estava bonito, Dean não as desmentiu. Cavalo ou cachorro, tanto fazia se Roger não estava lá para ver seu desenho...

As lágrimas agora já inundavam seu rosto. Por que ele ainda guardava aquele maldito objeto velho de madeira? Talvez porque ele, Dean, conseguisse ser ainda mais patético que um cavalo desbotado com cara de cachorro.


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