New York.

E mais uma vez, lá estava ele, indo em direção a antiga e conhecida cafeteria. Itachi se lembrava de ter ido lá algumas vezes e em todas elas, Maya estava presente.

Foi nessa cafeteria que ele a viu pela primeira vez. Uma garota simples e linda, que ouvia musica no fone de ouvido de forma distraída enquanto esperava por seu cappuccino, perto do balcão.

Na época Maya e Itachi eram bem mais novos, mas isso não impediu o Uchiha de desejá-la. Ela, por outro lado, passou por ele sem nem ao menos notar sua presença. Tal atitude despertou curiosidade no garoto, uma coisa bem difícil de acontecer, pois não estava acostumado a passar despercebido pelo olhar das garotas. E foi assim que ele começou a observá-la, conhecê-la... Então passou a frequentar aquela cafeteria no mesmo horário em que sabia que ela estaria lá.

Até que, em um desses dias, Itachi criou coragem e se aproximou de Maya, com a desculpa esfarrapada de querer saber as horas. Ela estranhou, mas respondeu a ele e abriu um sorriso simpático, e naquele momento Itachi teve certeza de que queria ver aquele mesmo sorriso para o resto de sua vida.

O tempo passou, as conversas entre eles foram aumentando e por elas descobriram que eram totalmente opostos, o que fez, de uma maneira ainda desconhecida, que eles se aproximassem cada vez mais.

E foi nessa cafeteria... Que eles deram o primeiro beijo.

Onde tudo começou.

E agora, depois de anos, lá estava ele, esperando por ela mais uma vez.

Itachi olhou no relógio de pulso pela terceira vez, começando a suspeitar de que Maya não apareceria. Ela vai aparecer, ele pensava esperançoso. Tenho certeza que ela vai aparecer.

Dez minutos de atraso e Maya ainda não havia chegado.

A chuva começou a cair de maneira suave do lado de fora da cafeteria.

Itachi já tinha terminado sua quarta xícara de café quando se convenceu de que Maya não chegaria. Ele praguejou mentalmente por ser um tolo e suspirou pesaroso, se preparando para ir embora. Levantou da mesa deixando em cima desta o dinheiro pelos cafés que havia tomado. Provavelmente nem iria dormir naquela noite de tanta cafeína que havia tomado.

– Obrigado e volte sempre! – Exclamou a senhora do balcão. – Ei, espere um pouco... – Ela ajeitou os óculos e olhou melhor para Itachi – Você não é aquele garoto que estava sempre aqui nas sextas feiras? Hm... Como era mesmo que aquela loirinha o chamava...? Fuinha! Isso, você é Uchiha Itachi!

– Sim – Itachi confirmou com um meio sorriso – Sou eu mesmo, Sra. Yoshida. – Ele respondeu tranquilo.

Aquela mulher trabalhava ali há anos com seu marido, o dono da cafeteria. E claro, Itachi não se esqueceu dela, mas ficou surpreso em ver que ela ainda se lembrava dele.

– Eu nunca esqueço um rosto, meu rapaz! – Disse ela com orgulho na voz, fazendo Itachi sorrir mais uma vez. – Faz muito tempo desde a última vez que eu te vi, garoto Uchiha. Sabe... A ruivinha ainda vem aqui. Ela senta sempre na mesma mesa e fica perdida em pensamentos, olhando pela janela. Parece até que ela está te esperando. – A Sra. Yoshida riu consigo mesma ao falar a última frase.

Quando Itachi percebeu já estava com as sobrancelhas arqueadas. Ele se surpreendeu de verdade com a declaração repentina da mulher.

– Ela ainda...?

– Sim, sim – A Sra. Yoshida respondeu animada – Toda sexta-feira, no mesmo horário. Como vocês faziam antes.

Então... Não era exagero, Maya realmente esperou por mim durante todos esses anos, pensou o moreno. Sua consciência e sua culpa pesaram ainda mais sobre seus ombros enquanto seus lábios queriam sorrir. Era estranhamente errado se sentir triste e feliz ao mesmo tempo e isso era a única coisa que Itachi não entendia. Maya era a única coisa que Itachi não podia compreender por completo. Nunca pôde.

– Obrigado, Sra. Yoshida, mas eu tenho que ir. – Ele disse depois de alguns instantes, ainda abismado com o que tinha ouvido. Em seguida deu alguns passos em direção a saída.

Ao abrir a porta o Uchiha notou que a chuva havia aumentado, mas não tinha muito o que fazer sobre isso. Poderia muito bem chamar um táxi, mas optou por ir caminhando até o hotel onde estava instalado, assim poderia por a cabeça no lugar e esfriá-la um pouco.

Sua imaginação começou a vagar, imaginando Maya freqüentando aquele lugar por tanto e por sua causa. Porem, logo foi tirado de seu devaneio.

– Itachi... – Chamou uma voz conhecida.

Imediatamente o Uchiha se vira e encontra a dona da voz.

– Maya? Por que você...? – Itachi tentou perguntar e em sua voz era possível notar a confusão de emoções que ele sentia.

– Me desculpe te fazer esperar – Maya o interrompeu. – E não vou ocupar muito seu tempo – Ela começou abriu a bolsa que trazia consigo e começou a procurar algo lá dentro.

Ocupar meu tempo? Eu quero que o tempo se dane!, Itachi pensou imediatamente, com um brilho no olhar.

Nenhum dos dois pareciam se importar com a chuva que caía sem dar trégua.

– Isso é seu – Disse Maya ao entregar o objeto que procurava na bolsa para Itachi – Vim te devolver e te fazer um pedido. – Sua voz estava mais firme do que jamais esteve. Ela estava se controlando ao máximo.

Itachi pegou o objeto das mãos da garota e o encarou por alguns segundos. Era o colar. Aquilo o entristeceu.

– Isso não é mais meu – Ele disse, cabisbaixo e a voz grave. – Eu o dei pra uma pessoa muito importante pra mim.

Itachi... Por favor, não me torture assim, Maya pensou fechando os olhos. Sua respiração estava pesada e ela tentava se manter firme, não poderia traquejar agora. Tinha decidido que não deixaria Uchiha Itachi a usar mais uma vez e estava certa de que isso era o melhor pra ela, mas só Kami sabe o quanto era difícil sentir raiva da pessoa que um dia foi tudo pra você.

– E-eu... Preciso te pedir uma coisa – Maya gaguejou, focando sua visão em qualquer outro ponto que não fosse Itachi.

Ele afirmou com a cabeça uma única vez, incentivando-a a continuar.

– Não me procure mais – A voz de Maya saiu chorosa, enquanto uma tímida lágrima escapava e se misturava com as gotas da chuva em seu rosto. – Esqueça que eu existi e... Vá embora, por favor. Vá embora.

Itachi não acreditou no que ouviu, talvez por notar que ao dizer aquilo ela ficou nervosa ao ponto de revelar sua mania de repetir as palavras na frase. Porem, isso não impediu que aquilo machucasse o Uchiha.

Sem saber muito o que fazer ele se aproximou dela e segurou seu queixo com a ponta dos dedos, fazendo com que Maya olhasse para ele, direto nos olhos. A ruiva se encolheu com o toque e abraçou a si mesma, sentindo um arrepio se misturar com o frio causado por suas roupas molhadas. A chuva realmente não estava ajudando em nada.

Itachi a encarou por alguns segundos, ele estava com a feição preocupada encarando uma outra completamente abalada.

– Diga isso olhando nos meus olhos – Itachi pediu.

Maya fechou os olhos com força e mordeu o lábio para conter o choro.

– Não faz isso comigo... – Suplicou ela.

– Eu preciso ouvir isso mais uma vez, então eu te deixarei em paz, May-chan. Eu prometo.

Todo o corpo de Maya respondeu com um leve tremor ao ouvir Itachi chamá-la daquele antigo jeito.

– Eu... – Ela respirou fundo – Eu não posso! – Confessou começando a chorar. – Não posso, Itachi! Eu não posso!

Imediatamente o Uchiha a envolveu em seus braços, a acolhendo, a protegendo, a tomando para si.

Claro que ela não podia, já era pedir demais que ela tivesse forças para estar ali agora. Como podia ela dizer aquilo fitando aquelas orbes ônix que ela tanto esperou rever? Era mentira, uma completa mentira. Maya não queria que ele a deixasse, de novo. Queria ser egoísta e tê-lo para ela mais uma vez.

Foi por esse momento que ela esperou sete anos, foi por esse abraço que almejou durante todas as noites, foi por esse cheiro que chorou tantas vezes, foi desses olhos que sentiu tanta saudade.

Quando Maya percebeu já estava entregue a ele, soluçando feito uma criança que precisava de colo.

– Eu não vou te deixar – Itachi repetia baixinho no ouvido dela.

– Nunca mais? – Ela perguntou em meio ao choro.

– Nunca mais. – Afirmou ele – Não importa o quanto me mande embora. Eu não vou!

Eles ficaram abraçados por um tempo, até que Itachi a afastou um pouco para lhe olhar nos olhos, que estavam vermelhos, mas continham um brilho único que havia se perdido a muito tempo. Itachi os contemplou, segurando o rosto de Maya entre suas mãos, para logo em seguida aproximar seus lábios. Estes se roçaram suavemente, parecendo averiguar se ainda eram os mesmo de antes e quando tiveram certeza de que não poderiam aguentar mais... Eles se tomaram, colocando pra fora toda a ansiedade, a saudade e o desejo que mantiveram guardados. Como uma explosão. Seus corpos entraram em combustão.

As pessoas passavam apressadas fugindo da chuva e mal notavam o casal que ali estava, parado no meio da calçada, sem se importar com o frio, sem se importar com mais nada.

– Acho melhor tirar você dessa chuva – Disse Itachi ao se separarem. Era notável em seu tom de voz a satisfação de ter vivido aquele momento.

– Concordo. – Maya abriu um sorriso agradecido.

.

Hospital de Konoha – Japão.

Quando avisaram que haviam achado Sakura e Naruto e que estavam levando eles direto para o hospital, o coração de Hinata quase parou. E nada a tirou de lá até então.

– Você precisa dormir, Hinata-chan – Ino a advertiu, preocupada.

– Eu estou bem, Ino-san, não se preocupe – Respondeu ela com um sorriso fraco.

A verdade era que Hinata não conseguia pregar o olho desde que soube que Naruto precisaria passar por uma cirurgia. Todos tentaram acalmá-la dizendo que era uma cirurgia simples, mas para a Hyuuga qualquer que fosse o risco, por menor que fosse, ainda era uma chance de perder Naruto.

E lá estava ela, sentada na sala de espera do hospital em uma poltrona que, por mais confortável que fosse ainda assim não lhe trazia o sono. Mas seu corpo estava pedindo por um descanso, ela estava exausta.

– Você está a mais de 24h sem dormir – Observou o pai de Sakura.

– Isso não é saudável – Dizia a Sra. Haruno.

Até mesmo o médico que estava tratando de Naruto tentou convencê-la a ir para casa, tomar um banho e descansar, mas de nada adiantava. A garota não sairia dali até ver aqueles lindos olhos azuis lhe sorrirem mais uma vez.

Ino, que havia chegado ali a pouco tempo, estava sentada ao lado de Hinata, afagando-lhe os cabelos enquanto a morena mantinha a cabeça baixa, esperando que Naruto acordasse da cirurgia, o que não demoraria muito tempo.

Sakura ainda não havia acordado, o que deixava todos muito apreensivos. Os médicos tentavam diagnosticar algo anormal na rosada, mas, pelo que tudo indicava, ela estava apenas dormindo tranquilamente. Porem, essa informação não era o bastante para acalmar a todos.

– Eu vou buscar alguma coisa pra você e para aquele cabeça-oca ali comer – Ino avisou se levantando e apontando para Sasori, que estava sentado logo a frente delas. – Vocês dois vão acabar ficando internados aqui também se não se cuidarem e... – Ela saiu tagarelando enquanto caminhava para a lanchonete do hospital.

Hinata levantou o olhar até Sasori. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, seu rosto estava tão abatido e tão cansado quanto o dela.

Por que ele ainda está aqui?, Hinata questionava em pensamento.E, assim como ela, Sasori não pregou os olhos, dizendo que não sairia dali até ver Sakura acordar. A Hyuuga sabia que ele e Sakura eram amigos, mas não o conhecia direito para poder afirmar que aquilo era amor. Então decidiu não tirar conclusões precipitadas.

De repente o médico de Naruto aparece na sala de espera. Hinata e Sasori se colocaram de pé imediatamente.

– E então? – Perguntou Hinata, apreensiva.

– Ele está bem. Vocês podem ir vê-lo. – Avisou o médico – Mas, por favor, não façam muito barulho, ele vai precisar de tempo pra se recuperar e não pode fazer muito esforço.

Hinata respirou aliviada.

– Me acompanhem – Disse o médico e assim eles fizeram.

Ao chegar ao quarto de Naruto, Sasori disse que entraria depois para conversar com o loiro e Hinata agradeceu mentalmente por isso.

Ela apertou uma das mãos contra o peito e com a outra girou a maçaneta da porta. Seu coração parecia que iria saltar para fora a qualquer momento.

Ao entrar seus olhos perolados não demoraram a pousar nas orbes azuis, que a fitaram com ansiedade.

– H-Hinata-chan – O Uzumaki disse com dificuldade, abrindo um largo e lindo sorriso.

Finalmente, ela pensou.