Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 4
Capítulo 4 -Brooklin


Notas iniciais do capítulo

Estou inspirada esses dias, por isso resolvi postar esse cap.
Agora vou dar um tempo na fic, mas volto com um novo capítulo semana que vem.
Beijos!



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Eu fiz planos naquele dia, sem que outras pessoas pudessem saber e, mesmo se elas soubessem, ficariam tão confusos quanto as minhas ideias. Eu desejei muitas coisas, a maioria sem razão, e todas elas evaporaram da minha mente, como se elas nunca tivessem existido.

Respirei fundo, como se aquilo fosse uma sentença, e esfreguei os olhos fortemente, até senti-los arder.

–Claire...

–Estou bem, Megan. – falei antes que ela decidisse outro destino que não fosse sua casa. –Eu só preciso descansar. Só isso.

–Mas... É melhor que você passe por uma avaliação médica. – balancei a cabeça, fazendo-a entender que eu não iria. –Não precisa ficar constrangida. Nós entendemos sua situação e... – ela tentou ser discreta, mas olhou Ethan como se quisesse esganá-lo. –Ethan e eu, sentimos muito pela ceninha desnecessária. Não era essa impressão que queríamos causar.

–Megan... Você não tem que me pedir desculpa por nada, tá legal? Eu que fui boba demais para entrar em crise. – mesmo sendo sincera, minha vontade era de esconder cada palavra, por que eu não sabia mais como olhar para eles.

–Então vamos esquecer esse episódio. Bate aqui.

Bati minha mão contra a dela e um sorriso tímido nasceu dos meus lábios.

–Jason, vamos pra casa. – disse Megan e, imediatamente, Jason mudou o percurso do carro.

–Olha Claire, achei uma coisa interessante na internet. – Nicholas se esticou todo para cima de mim, tentando me mostrar à súbita pesquisa online.

–O que é? – perguntei tentando lê o que ele mostrava.

–Aqui diz que existem dois tipos de pacientes em crise. Um é aquele que está em crise devido a um desastre ou circunstâncias traumáticas de vida. O outro tipo é o paciente propenso a crises, para qual acordar de manhã e ter de lidar com os acontecimentos cotidianos da vida. Envolve crise e angústia.

–Quanta informação de ânimo, hein Nicholas! – Megan suspirou.

–Err... Obrigada pela pesquisa, Nicholas.

Agradeci um tanto constrangida, entretanto, sem deixar de dá importância a seus esforços; mesmo sem saber o porquê de ele me dá tantas informações.

–Sem problema. Eu gosto de está bem informado, principalmente se alguém surta do meu lado. Cara, isso foi muito louco! Não dizendo que você é louca e...

–Ela já entendeu, Nicholas! – gritou Megan, fazendo o primo calar a boca.



Com a mochila nas costas e a mala de tamanho médio na mão, desci do carro com a atenção voltada para todos os lados.

–Já conhecia o Brooklin?

Virei-me para Jason, que ajudava Megan com a mala.

–Não, mas eu sempre tive curiosidade de saber como ele é.

–Uh. E qual é sua primeira impressão? – perguntou Jason.

Não dava para dizer que Brooklin era o melhor bairro de New York, por que eu mal o conhecia e, além do mais, a noite escondia grande parte do seu cenário. Porém, dava para afirmar que meu antigo bairro não se igualava a ele.

–Eu gostei e estou ansiosa para conhecê-lo melhor.

–Você vai gostar. – Jason sorriu carregando as malas.

Encostei-me no carro enquanto eles tentavam descobrir com quem estava a chave do apartamento. Eu, no entanto, estava focada na ampla visão da rua e os poucos comércios ainda abertos. O movimento de pessoas não era muito, apenas alguns jovens espalhados pela calçada ou sentados nas escadas dos prédios baixos.

–Vem, Claire!

–Sim. – respondi ao chamado de Megan, pois finalmente ela tinha encontrado a chave.

Ao dar o primeiro passo, escutei o som abafado de um celular tocando dentro do carro. E, pela música romântica como toque de chamada, deduzi que fosse de Megan. Voltei arrastando a mala e a deixei em um canto enquanto eu bisbilhotava o carro. Em poucos segundos achei o bendito aparelho e, no visor, a chamada estava identificada como sendo da mãe de Megan. Apressei-me para levar o celular para ela, mas parei bruscamente, ainda dentro do carro. Ethan também tinha ficado do lado de fora, falando ao celular e, aparentemente, estava irritado com a respectiva ligação.

–Argh! – resmunguei alto, pois me pegava mais uma vez olhando um garoto que, sequer, lembrava que viajamos juntos, e que eu estava me hospedando em sua casa. –Está se tornando um hábito muito desagradável espiar esse rapaz, Claire. – disse a mim mesma, saindo do carro. –Você tem que parar com isso, garota, ou... – bati a porta do carro, interrompendo meu próprio discurso.

–Eu pensei que você tivesse esquecido meu número.

Voltei para trás, sem querer atrapalhar Ethan que falava ao celular.

–Foi uma viagem cansativa e muito estressante. Não quero falar sobre isso. Quando posso vê-la?

Ele parecia está mais calmo, até mesmo carismático.

–É melhor às nove da manhã, no mesmo lugar de sempre. Tchau, Sarah.

Encostei-me no carro, tendo o outro lado da rua como minha única visão, e esperei Ethan entrar. Eu não queria ser vista escutando sua conversa, ainda mais naquele nível em particular. Além do mais, seria saudável manter certa distância dele, visto que nada tínhamos em comum.

–Ainda está escutando minha conversa?

Assustei-me com a voz acusadora de Ethan que, provocativo, apoiou o braço acima da janela do carro, como se aquilo fosse me impedir de sair.

–Megan... O celular dela tocou e eu voltei para pegá-lo. – pelo semblante pensativo e a sobrancelha erguida, deduzi que ele não estava acreditando nenhum pouco na minha explicação. –Olhe. – o visor do celular clareou, mostrando as informações da última ligação.

–Eu não sou cego. – com as costas da mão ele empurrou a minha, que ainda estava suspensa, e não estava irritado. –Você poderia ter me ignorado e passado por aquela porta. – apontou para a porta de madeira, entreaberta. –Mas achou mais interessante ouvir minha conversa.

–Nunca passou pela minha cabeça ouvir sua conversa. Eu estava esperando você desligar o celular e entrar. – aborrecida, saí puxando a mala. –E fique sabendo que eu morro de tédio quando escuto alguém conversar ao telefone! – praticamente gritei, sem me virar para vê-lo.

–Claire! – Megan correu para me ajudar com a mala. –O que ainda fazia aqui fora?

–Eu... Ah! – ignorei a explicação sobre o irmão dela ter me aborrecido e lhe devolvi o celular. –Você deixou no carro.

–Obrigada. – Megan verificou as ligações. –Minha mãe... – ela suspirou alto e, como se o fato de sua mãe ter ligado fosse menos importante que me mostrar o apartamento, Megan puxou a mala.

–Você não vai retornar a ligação? – perguntei surpresa.

–Vou sim, mas entre às dez e onze da noite. – subimos o lance da escada. –O David está com ela agora e eu não quero ouvir a voz dele.

–Pelo jeito esse tal de David não é muito querido aqui. – disparei o comentário, sem muito perceber que já estávamos no segundo andar.

–É aqui. – anunciou Megan, deixando-me passar, mas parei e a olhei fixamente.

–Eu tenho que me preocupar com o David? – perguntei sem mais conter minha curiosidade.

Megan não escondeu a insatisfação em responder aquela pergunta, embora eu já soubesse qual seria sua resposta.

–Não. Você é minha hóspede e eu não vou deixar que ninguém nessa casa te perturbe. – ao dizer, Megan me deu uma leve chocalhada nos ombros, fazendo-me rir. –Seremos imbatíveis em qualquer lugar, desde que sejamos amigas. – ela suspirou alto, estufando o peito, e notava-se ânimo em sua nova postura. –Não quer conhecer sua nova casa?

–Oh, sim! – me apressei a entrar.

Receptível, Megan me levou a todos os cômodos, e falou sobre eles como se eu tivesse que decorar uma tabuada. O apartamento não era muito grande, embora os cômodos fossem apropriados para abrigar cinco pessoas. Alguns móveis, especialmente os dois sofás da sala, tinha um charme decadente, que dava elegância em meio a outros objetos modernos. A sala de jantar quase não brilhava entre a cozinha e a sala de visitas, por que era bem pequena. A cozinha também era apertada, porém bonita, e a vista da janela não era tão ruim. Ainda na cozinha, escondida atrás de uma porta de correr, a área de serviço espremia uma máquina de lavar, um tanque, um varal engenhoso, e um armário mais acima. Os quartos eram separados por um corredor, sendo dois quartos em um lado, e mais um quarto ao lado do banheiro.
Megan disse que o apartamento era muito antigo e que sua mãe o comprou quando ela tinha três anos, e desde então não saíram de lá. Apesar de ser um imóvel de arquitetura ultrapassada, ele era aconchegante, e tinha cheiro de história.
Depois de muito olhar, acabei aceitando que, nada naquele lugar, me faria vê um único detalhe da minha casa. Ela era velha, não tinha o charme envelhecido de uma casa do campo, muito menos a notoriedade de um apartamento no Brooklin. Ainda assim, eu queria ter um objeto ou um lugar para olhar e fazer comparações que somente eu entenderia.



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