Eu esperava pela calada da noite, asiosamente para ver  a minha princesa, Ariel. Aquela pele branca que ficava reluzente a luz da lua, seus olhos amarelados que ficavam vermelhos na luza do sol, suas palavras sinceras, seu coração doce e sua alma pura. Estavámos nos preparando para fugir e iríamos terminar de preparar tudo essa noite e esperar a noite de amanhã para irmos atrás de nossos sonhos juntos.

   Eu estava escondido dos guardas na frente da mansão dos Becke, esperei mais uns 20 minutos e subi os muros já com facilidade de tanto fazer isso. Ela me esperava na varanda de seu quarto, seu vestido preto dava contraste com sua pele branca, seus longos cabelos pretos, hoje estava puxados para trás, mostrando seu belo rosto. Subi pelas raizes que estavam grudadas na parede da varanda e quando entrei no campo de visão de Ariel, ela sorriu. Seus olhos brilharam e seus lábios vermelhos chamavam os meus para um beijo.

   - Silas! - disse ela sorrindo. 

   - Meu amor, perdoe-me pelo atraso! Sabe, né ...depois da morte dos meus pais. - falei com a voz triste. 

   - Já disse o quanto sinto muito né? - disse ela me ajudando a subir na sacada. 

   - Sim, minha vida. Não quero falar disso, agora quero planejar nosso futuro e sonhar com você, imaginar nosso casamento, nossos filhos, nossa vida juntos e tudo!

   - Tem certeza de que dará certo? A cidade inteira está atrás de você. 

   - Pouco me importa esse povo que não ecita as diferenças. Eu nuca fiz mal as pessoas, muito pelo contrário, já curei muitos dos que hoje estão querendo me por no fogo. 

   - Não vamos pensar nisso, vamos planejar tudo direitinho para amanhã. 

   - Então, nos encontramos na clareira para você me dar a certeza de que dará tudo certo, se sim, você volta para casa, arruma tuas malas e nesse mesmo horário eu vou estar te esperando lá embaixo para pegar você e ai nós vamos para longe daqui.

   - Certo, Silas. - disse ela me puxando para a cama dela.

   - Eu preciso de um beijo seu. 

    Me aproximei devagar dela e dei um beijo delicado, que as poucos se tornou algo mais exigente, mais cheio de amor e o beijo já não era mais suficiente para matar a saudade de três dias separados, mas tinha que me controlar, Ariel apesar de ir contra muitos dos costumes de sua família, um que queria manter era a santidade dela até depois do casamento. E eu também queria que fosse assim. 

    - Nossas almas estão unidas - começou ela.

    - Nossos corpos separados 

    - Nossas mentes conectadas 

    - Por um fio de amor

    - Somos alma gemêas

    - Não importa o que aconteça

    - Nada irá nos separar

    - Nem a morte

   - Porque na próxima vida

   - Iremos nos encontrar novamente. - terminei eu.

  Esse é a promessa que fazemos sempre depois de um beijo, porque com a vida que vivemos, nunca sabemos o que irá acontecer no próximo segundo. Eu sou um bruxo, ela humana, nosso amor é proibido e condenado por essas pessoas que não sabem o que é amor. Eu nunca faria mal para a família de Ariel e muito menos para ele, não fiz nem para aqueles que tentam nos separar. E se eu quisesse eu poderia, pois sou o bruxo mais poderoso que eles irão conhecer na vida.

   - O que foi, Silas? Está distraído hoje. - Disse Ariel um pouco irritada.

   - Perdoe-me, mas tenho que ir agora, arrumar minhas coisas e você precisa arrumar as suas também. Vim aqui só para te dar um boa noite e um beijo para não se esquecer de mim.

   - Impossível eu esquecer você, meu amor. 

   - Digo o mesmo, minha pequena princesa. - falei eu beijando sua mão pequena e macia.

   Ela pega meu rosto entre as mãos e me beija, eu retribuo com todo o meu amor por ela, ou pelo menos parte dele. 

  - Minha querida, eu te amo demais. 

 - Eu também te amo, Silas.

  Eu corri para a sacada e pulei me segurando nas plantas, corri pelo jardim para não ser visto e escalei o muro novamente. Toda aquela adrenalina me fazia pensar melhor, eu pensei em várias formas de fazer com que Ariel seja feliz. Começando a pensar se o plano der errado. Uma vez meu pai havia dito sobre um feitiço de imortalidade. Eu sinceramente não havia acreditado, mas agora pensei nisso. Poderia deixar a poção para Ariel caso os religiosos tentassem me pegar, e eu também beber um pouco, para caso eu morrer, eu voltar. 

   Na manhã seguinte encontrei Ariel e estava tudo certo para fugirmos hoje a noite. Eu estava ansioso para fugir com ela, essa era a minha chance de ser feliz e eu estava sentindo que algo iria atrapalhar e decidi fazer a poção da imortalidade.

[...] 

    Eu estava arrumando minhas coisas, acabei de voltar do meu encontro com Silas, estava tudo certo e eu estava ansiosa. Meu futuro me esperava, a felicidade batia a minha porta euforicamente e eu abriria a porta com o maior prazer. 

   Silas é o meu amor e eu confio nele mais do que em meus pais ou em minha família, nada pode me tirar dele agora. Eu estava com tudo arrumado, resolvi dormir um pouco, poisa sabia que a viagem seria longa.

[...]

  Eles estavam atrás de mim e eu não sabia se o feitiço daria certo! Ariel, meu amor, esteja onde estiver..esteja bem, por favor. A poção estava pronta e o feitiço selava todo aquele sangue que eu havia derramado para a poção. Eu precisava escrever uma carta para Ariel, peguei uma pena e escrevi: 

 Querida Ariel,

  Primeiramente, eu te amo. Perdoe-me se nosso plano não deu certo, perdoe-me se não pude te dar a felicidade que prometi e perdoe-me por não conseguir ser o príncipe dos teus sonhos. Passamos muito tempo juntos não é mesmo? Eu não me arrependo de ter passado esse pequeno momento da minha vida ao teu lado e se eu tivesse a escolha de trocar um ano de vida por um dia ao teu lado, eu trocaria...Porque você é a minha vida, é a minha luz, a minha amada e acima de tudo o anjo que me tirou das sombras. Quem sabe um dia não nos encontremos de novo não é mesmo? Porque para almas gemêas o último adeus é na verdade um portal para nos encontrarmos de novo. Eu te amei ontem, te amo agora enquanto lê essa carta e te amarei amanhã. Não importa quantas vezes ou quando você leia essa carta, eu continuarei te amando. E para termos a chance de nos encontrármos de novo no futuro, eu lhe entrego o meu sangue, se você confia em mim de olhos fechados, beba... se ficar com medo, esqueça isso. Eu estarei contigo em cada momento da tua vida. Eu te amo. 

  Meus olhos estavam cheios de lágrimas enquanto eu corria para a casa de Ariel Beckan, minha eterna amada, eu precisava ser forte e me conter, sabia que os religiosos estavam atrás de mim e que dessa vez não escaparia sem machucar as pessoas que amo, então irei para longe. Chego a varanda do quarto de Ariel e a janela está aberta, entro e olho para ela, seus longos cabelos pretos esparramados pelos lençóis e seu corpo meio coberto me chamava atenção. Ela dormia profundamente. Dexei com cuidado a poção e a carta em sua mesa, fui em sua direção e apenas observei-a por uns 30 segundos, me abaixei ao lado de sua cama e acariciei sua pele branca e sedosa, beijei sua boca e seus cabelos espirando profundamente seu cheiro doce. Nunca mais me esqueceria dela. Sabia que era hora de ir então sussurrei pela última vez "Eu te amo, Ariel" e fui embora. 

[...]

  Eu havia tido um sonho estranho, ou melhor, um pesadelo. Silas havia ido embora... Acordei assustada e levantei rápido da cama, olhei para meu quarto e a janela estava aberta, o cheiro de orvalho entrava junto com o ar frio da noite. Olhei para a mesinha ao lado da minha cama e lá estava um frasco com um líquido vermelho e uma carta. Sentia que era algo ruim antes mesmo de tocar a carta. 

   Li aquelas palavras milhares de vezes e não acreditei no que li, aquelas palavras não entravam na minha cabeça! Ele foi embora! Ele me deixou. Eu perdi meu chão, meu amado e minha vida. Eu confiava nele, e iria beber o que havia no frasco, mas antes precisava ver algo.

   Corri pelas ruas da cidade, uma multidão se aglomerava na praça e tinha alguém amarrado em um poste, ele estava a ponto de ser queimado, era Silas! Eu não aguentei, peguei o frasco e bebi o que tinha dentro, o gosto não era agradável, mas engoli mesmo assim. Criei coragem e corri para o meio da multidão

  - Silas! Estou aqui, meu amor! - gritei desesperadamente. 

   Chamei a atenção de todos e eles pularam em mim, eu sabia porquê... Eu havia me apaixonado por um bruxo, um bruxo poderoso, mas que era capaz de amar. Só eu conhecia o coração dele, só eu sabia o que era beijá-lo. As pessoas me colocaram no poste ao lado do dele, ele olhou para mim com um olhar de reprovação, mas grato por eu ter ido até lá.

   - Você não deveria estar aqui, Ariel. - disse ele tentando ser bravo.

   - Mas eu estou e eu amo você. - falei dando a mão para ele.

   - Eu também amo você, minha querida.

   E assim fomos engolidos pelas chamas, eu não senti dor alguma e espero que ele também não, mas estava feliz por ter morrido ao lado do único que eu pude amar na minha vida inteira.