Foi uma viagem longa, mesmo que eu tenha me distraído, lendo um dos romances policiais de Sir Arthur Conan Doyle; Sherlock Holmes, ‘O signo dos quatro’, um mistério muitíssimo envolvente, ainda assim, aquela foi a viagem mais longa que já tinha feito em toda a vida, parecia não ter fim, parecia que levariam dias... Não que eu costumasse viajar muito, mas já tinha visitado a Inglaterra algumas vezes e achava que o voo deveria durar muito menos do que estava durando... Mas, talvez, só tivesse demorado tanto porque estava ansiosa demais.

Quando finalmente desembarcamos, eu adentrei o interior do aeroporto moderno de Londres, procurando por um rosto conhecido por todos os lados sem encontrar nada. As pessoas passavam por mim apressadas, indo pegar sua bagagem na esteira, mas eu não estava preocupada, vasculhava o saguão à procura de uma cabeleira loira muito familiar.

De repente, antes de eu poder ver um rosto, alguém me abraçou com força, envolvendo seus braços em volta de mim, apertando-me calorosamente. Eu o reconheci pelo seu perfume refrescante, um que ele sempre usara e que eu amava, reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar e todas as vezes que o sentia me lembrava dele e buscava por todos os lados aquele rosto, aquele sorriso lindo, aqueles olhos azuis confiantes... O meu Naruto.

- Naruto-kun! – murmurei feliz, sem conter um sorriso ao retribuí-lo.

Ele se afastou para me olhar.

- Você está linda. – constatou sorrindo.

Senti meu rosto arder e desviei os olhos momentaneamente, não conseguiria ficar tempo demais sem aquele rosto, não de novo e, talvez, nunca mais.

- Não seja bobo, Naruto-kun.

Ele revirou os olhos e me abraçou novamente.

- Eu senti sua falta, Hina-chan.

Acomodei minha cabeça em seu ombro, inspirando aquele cheiro que ele tinha, o cheiro único do perfume misturado ao cheiro dele.

- Eu também senti saudades. – confessei.

Nós nos afastamos.

- Onde está sua mãe? – perguntei procurando.

- Estão mais atrás... – ele disse olhando também – Vem, vamos pegar suas malas e dar o fora daqui.

Ele pegou minha mão e nós nos dirigimos até a esteira com as bagagens, recolhemos as minhas e ele me ajudou a carregá-las até um carrinho onde nos as acomodamos uma em cima da outra e ele empurrou para mim até onde os pais estavam.

Kushina-san parecia ansiosa, se esticando para me ver por cima dos ombros dos outros, com as mãos unidas sobre o peito. Abriu um sorriso digno de um Uzumaki quando me encontrou e veio direto ao meu encontro, seguida de perto e protetoramente por seu belíssimo marido de quem Naruto era a cópia perfeita, exceto pelos cabelos que eram ligeiramente mais curtos e menos volumosos.

- Hinata! – ela exclamou ao me abraçar – É tão bom ver você! – disse em seu inglês perfeito.

Ri.

- É ótimo ver você também, Kushina-san... – eu disse num misto de japonês e inglês.

Ela sorriu e balançou a cabeça como se de repente se lembrasse de algo.

- Ah! Às vezes me esqueço de onde vim... – disse dessa vez em japonês.

- Porque é uma distraída. – Minato-san disse ao seu ouvido fazendo-a corar e dar um pulinho de susto. Ele olhou para mim e sorriu gentilmente, daquele seu jeito tranquilo – É bom ver você, para variar, Hinata-san.

Eu apenas sorri assentindo. Ele era o oposto de Naruto, no quesito personalidade, era calmo, sereno e paciente enquanto que a esposa e o filho eram distraídos, ansiosos e escandalosos.

- Vamos para casa, então? – Naruto sugeriu com um sorriso maroto, assistindo a cena toda com o cotovelo apoiado no carrinho e o rosto na mão.

- Claro! – Kushina disse animada – Você vai adorar a casa nova, Hinata! – disse muito certa de si – Eu mesma a planejei. Tem um jardim enorme... Fizemos um quarto de hospedes especial para suas visitas que, aliás, estão ficando muito esporádicas! – ela reclamou enquanto andávamos.

Naruto estava ficando impaciente enquanto ela falava sem parar sobre os detalhes da casa durante a caminhada até as portas do aeroporto, então, Minato pegou a mão da esposa, interrompendo-a e ela olhou para ele surpresa.

- Venha, amor, quero passar perto daquela livraria... – ele disse serenamente lançando um olhar e um sorriso para o filho.

Ambos se afastaram, Kushina ainda relutante, mas convencida.

Naruto bufou.

- Ela fala muito!

Ri.

- Sim, você teve muito a quem puxar, né?

Ele me fitou por um momento e então olhou para frente.

- Tenho uma surpresa para você. – disse com um sorriso, me olhando pelo canto dos olhos.

- Uma surpresa? Naruto-kun...

- Não me venha com suas manias de achar que não posso ficar te dando presentes fora de ocasião! – ele me cortou – Gosto de fazer você sorrir. – disse corando um pouco e olhando para mim.

- Naruto-kun... – murmurei sorrindo sentindo meu rosto arder.

- Você vai adorar! – ele se gabou.

Revirei os olhos.

- Conte-me! O que é?

- Se disser não vai ser surpresa... – ele resmungou – Não me pressione muito.

- Kushina-san vai me contar se você não falar. – arqueei uma sobrancelha.

- Há! – disse ele – Ela não sabe dessa vez.

Bufei cruzando os braços, fingindo estar brava.

- Você é cruel, Uzumaki-san!

Ele me mostrou a língua e então sorriu.

- Quais são seus planos para hoje?

- Acabei de chegar!

- Não tem nenhum ponto turístico que queira visitar?

- Não... – meditei.

- Ótimo. Porque eu já fiz muitos planos!

- Estou prevendo que você vai me cansar muito essa primeira semana...

- Ah, qual é Hina? Você vai adorar. Prometo.

Nós chegamos até um carro preto e elegante no estacionamento e paramos, Naruto tirou as chaves do bolso e desativou o alarme. Abriu o porta-malas e começou a encaixar minhas malas ali. Quando tentei ajudá-lo ele me impediu, então apenas deixei que fizesse o trabalho duro.

Kushina e Minato chegaram assim que ele terminou, estavam conversando sobre um livro muito interessante, mas Kushina piscou para o filho quando teve oportunidade e achou que eu não estava vendo. Naruto-kun corou e abriu a porta de trás para mim.

Durante o trajeto ficamos conversando sobre como andavam as coisas no Japão, sobre como Hanabi tinha se tornado uma adolescente chata e de como meu pai continuava imutável.

Fiquei boquiaberta quando descemos e eu tive a visão da casa. Era linda. Com suas cores claras, um jardim colorido e bem cuidado e uma enorme e clássica porta frontal. Kushina ficou orgulhosa de si mesma ao receber meus elogios, fez questão de me mostrar o interior inteiro e me guiar até meu quarto, que era amplo, com uma janela enorme com vista para o jardim. Um guarda-roupa branco, e cortinas lilás. Eu amei.

Naruto me ajudou a arrumar minhas coisas o melhor que podíamos e depois nós nos deitamos na cama de casal com lençóis brancos, exaustos, um ao lado do outro.

- Como foi a viagem? – ele perguntou.

- Longa. – reclamei.

Ele riu.

- Estava ansiosa?

- Um pouco. – confessei.

Ele riu novamente e se sentou me convidando a fazer o mesmo. Vasculhou os bolsos e tirou deles dois bilhetes que me mostrou me deixando momentaneamente pasma.

- Não acredito! – disse com um sorriso se abrindo devagar.

- Pois acredite!

- Dois ingressos vip para o show do White Stripes hoje à noite! – pulei da cama pegando os bilhetes preciosos, conferindo sua veracidade – Céus! Como conseguiu, Naruto-kun?

Ele revirou os olhos voltando a se deitar com os braços cruzados atrás da cabeça.

- Sou demais. – Deu de ombros.

Revirei os olhos o abracei pela cintura de mau jeito.

- Arigato... Naruto-kun.

Ele ficou tenso por um momento, mas então amoleceu o corpo e eu senti sua mão no meu cabelo.

- Vamos tentar falar inglês, certo? – recomendou gentilmente.