- COMO ASSIM NÃO VAI PODER CANTAR? – gritei exaltado, pelo telefone.

- Sério, Sasuke... Foi mal... – Billie começou a se desculpar com a voz rouca, grogue e lenta.

- Billie... – eu disse devagar, tentando, em vão, manter a calma – Estão esperando um cantor inglês...

- Você pode fazer isso, Sasuke... Tem o inglês perfeito. – argumentou exasperado.

Meus dedos se apertaram ao redor do aparelho, ele estava esgotando minha paciência.

- Não, Billie, se eu pudesse, já tínhamos te dado um pé na bunda.

- Sasuke... – ele implorou.

- Deixe-me falar com ele. – Shikamaru pediu.

Eu lhe passei o celular.

- Você precisa ter paciência Sasuke, Billie sofreu um acidente... – Kiba argumentou.

- Aquele estúpido, idiota, sem cérebro! Não sabe nem mesmo dirigir uma porcaria de uma moto? Agora ele tá lá todo rasgado e sangrando por dentro com a voz estragada! ARGH! Se ele ao menos pudesse cantar...

- Sasuke tem razão. – Gaara disse em tom de ‘E isso é só’ sem parar de mexer no seu baixo.

- Vocês não têm nem um pingo de compaixão? – Kiba resmungou.

Nós o ignoramos. Eu olhando para Shikamaru e Gaara afinando seu baixo como se nada fosse mais importante que aquilo.

- Você não se cansa de fingir que está tudo bem? – perguntei, irritado.

- O que disse? – ele ergueu os olhos para mim totalmente desinteressado.

- Estamos sem um vocalista, seu idiota! – eu bati na sua cabeça.

- Ei! – ele protestou – Não é culpa minha se o Billie caiu da escada! Bata nele!

Kiba bateu a mão no próprio rosto.

- Ele não caiu da escada, Gaara, ele sofreu um acidente de transito. – explicou.

O ruivo deu de ombros.

- Dá na mesma.

Bufei irritado e me voltei para o baterista que ainda estava ao telefone.

- Hm... – Shikamaru resmungou olhando o teto da garagem de Kiba – Tem certeza?... Não podemos fazer isso... Não sem você... Além do mais, sabe o que Sasuke pensa de dublagem... – ele suspirou – Certo. Daremos um jeito. Melhoras.

- E quando voltar... – eu disse alto – ESTÁ EXPULSO!  - gritei.

- Ah... Desculpe... Já desliguei. – Shikamaru disse inocentemente reprimindo um sorriso.

Bufei cruzando os braços.

- Estamos ferrados. – Kiba disse o que eu estava pensando.

- Billie disse que vocês fizeram uns ensaios para qualquer eventual falta... Ele disse que você cantou bem em inglês... – Shikamaru comentou.

Todos olharam para mim, esperançosos, esperando que eu tomasse a decisão que salvaria nossa carreira.

Suspirei.

- Aquele otário... Ele está dizendo isso só para amenizar seu erro.  – disse sem encarar meus colegas – Não posso fazer isso, meu inglês ainda é horrível...

- De qualquer maneira – ele devolveu meu celular –, acho que não temos escolha, Sasuke, você vai ser obrigado a cantar... Mesmo que seja em japonês.

- Não conhece ninguém que possa substituir o Billie? – tentei mais uma vez.

- Você é tão problemático... – ele revirou os olhos se sentando no sofá.

- Não podemos substituir o Billie por um estranho. - Kiba argumentou.

- Podemos fazer uns testes relâmpagos... Conhecemos muitos músicos...

- Billie faz parte da banda. O que vão pensar se ele, de repente, for substituído? – Shikamaru disse – Além do mais ele é nosso amigo, não se substitui esse tipo de gente.

- Qual é? Não estou falando em trocá-lo nem nada... Só esta noite...

- Sasuke! Você conhece as musicas, você treinou e você vive em Londres por muito mais tempo do que nós.

- Mas metade da minha vida aqui eu só falava japonês!

- Itachi! Aquele maldito! – Gaara arranjou outro a quem culpar.

- Não é culpa do Itachi. – Shikamaru se deitou cruzando as pernas no braço do sofá – A culpa é desse idiota que não quer cantar.

Gaara deu de ombros.

- Que seja então.

- Acho que Shikamaru tem razão, Sasuke, não temos escolha, você é o nosso cantor hoje. – Kiba deu o veredicto.

- E os caras querem alguém que cante em inglês. Não é um show para otakus. – Shikamaru lembrou – E então, Sasuke? O futuro da Amateratsu está em suas mãos.

- Depois levamos você para relaxar em um bar qualquer à noite por conta do Kiba... – Gaara sugeriu.

Suspirei.

- Certo, vamos lá. Mas eu não me responsabilizo pela reação do público.

- Vamos nos dar bem. – Gaara garantiu confiante.

- Você diz isso porque tem um tipo estranho de psicopatia. – Kiba fez uma careta.

Nós rimos.

- Vamos dar o nosso melhor como sempre. – Shikamaru disse apenas – E esperar para ver.

- Não vamos ensaiar? – Gaara quis saber.

- Mas teremos um show hoje! – Kiba reclamou.

Shikamaru suspirou cansado.

- Por isso mesmo... – Gaara insistiu.

- Ele tem razão. Vamos ensaiar, precisam me ver cantando antes de me aceitarem totalmente. – decidi.

Shikamaru levantou de má vontade.

- Yare... Yare... – se arrastou para a bateria.

Gaara dedilhou seu baixo animado e Kiba começou os acordes da guitarra, treinando-os rapidamente enquanto eu pegava a minha e ligava as caixas de som.

- Certo. – disse eu – Vamos lá!

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Ensaiamos o dia todo, desde o momento em que nos reunimos até que Shikamaru não tivesse mais forças para erguer os braços e bater as baquetas. Nossos dedos estavam feridos por causa do ensaio exaustivo, os nós dos dedos doíam na mudança de acordes, então decidimos guardar um pouco de energia para o show de verdade.

Por fim, decidimos ficar na casa de Kiba, o lugar era uma espécie de quartel general da Amateratsu. Tudo que precisávamos estava lá. Gaara morava ali também, passava a maior parte do tempo na garagem tocando baixo, Shikamaru costumava passar uns dias na casa quando brigava com Temari, sua namorada. Tínhamos roupas e tudo o mais ali, então, apenas tomamos um banho cada um, comemos algumas pizzas e então, na hora de ir, nos separamos. Shikamaru iria para sua casa de moto buscar Temari e nos encontraria no show. Kiba, Gaara e eu íamos no meu camaro preto reluzente. Meu maior tesouro.

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Estacionei o carro cuidadosamente num estacionamento 24hrs e nós nos dirigimos até a Brixton Academy que já estava lotada. Seguimos para os camarins depois de passar pelo aperto das pessoas e fomos recebidos pelo organizador que nos mandou ficar numa daquelas salas e recomendou que não saíssemos até a nossa hora. Gaara se acomodou imediatamente. Tirou seu baixo da mala de proteção, sentou-se no sofá vermelho e passou os dedos cheios de esparadrapos pelas cordas. Kiba o observou com uma careta, mas não disse nada. Gaara tinha talento e amava aquele baixo mais que a própria vida. Tínhamos orgulho de tê-lo na banda.

Eu também me atirei ao sofá e acomodei minha guitarra no colo, acariciando-a como quem acaricia um gato. Kiba suspirou, sentou-se numa das cadeiras em frente aos espelhos e as estantes de maquiagem e se virou, bagunçando os cabelos de forma a deixá-los mais rebeldes.

Estávamos vestindo roupas escuras, cada um ao seu estilo. Gaara com seu kanji entalhado em vermelho na testa, os cabelos ruivos bagunçados quase alcançavam seus olhos azul-piscina contornados fortemente por delineador preto, usava calças pretas com um coturno mal amarrado, um sobretudo vermelho-vinho fechado até quase o pescoço, aberto em baixo na frente e atrás, combinava bem com o baixo cinza-escuro e vermelho. Kiba preferia roupas mais modernas, usava uma jaqueta preta com um zíper mais para a direita, aberto até quase a metade, a calça jeans e os all stars completamente pretos não chamavam muita atenção, costumavam reconhecê-lo pelas manchas vermelhas no rosto e pelos olhos felinos. Shikamaru era de longe o mais normal de todos nós, usava uma bermuda, all star de cano, tradicionais, uma camiseta geralmente branca, comum, e um colete aberto, usava os cabelos castanhos presos no alto da cabeça e uma pulseira de couro amarrada no braço direito.

Quanto a mim? Bem, eu parecia muito com um fantasma ou um zumbi. Tinha a pele muito clara e os cabelos muito escuros, mais cumpridos que o dos meus colegas, caindo nos meus olhos, desarrumados, contrastando com a minha pele. Costumava usar camisetas de bandas ou simples, mas hoje, eu usava uma preta com estampas de palavras e brasões em prata, a gola em ‘v’, para não me apertar o pescoço, estava vestindo também, uma das minhas habituais calças jeans escuras com um sinto de taxas pendendo, meu par de all star verde-musgo quase preto e muito gastos nos pés, alguns elásticos pretos no pulso direito, o anel com o símbolo da família Uchiha no dedo médio direito e um anel de prata maleável cobrindo meu indicador esquerdo para me ajudar com as pestanas na hora de tocar. Muitos dos meus dedos, assim como os de Gaara tinham esparadrapos enrolados neles, protegendo as feridas antigas.

- Temos outro showzinho amanhã, não é? – Kiba perguntou.

- Num bar de Rock... Só nós a noite toda. – lembrei deliciado.

- Também prefiro os shows solos. – Kiba sorriu compartilhando do meu prazer.

A porta se abriu e Shikamaru entrou, acompanhado de uma loira de olhos verde-escuro usando uma saia escura e meia-calça arrastão, com seus saltos altos e uma blusa roxa, Temari.

- Pessoal... – ele nos cumprimentou.

- E ai? – Temari sorriu – Estão animados? – ela perguntou ansiosa – Nem acreditei quando o Shika me disse que vocês iam tocar no show do White Stripes!

Gaara bufou irritado.

- Ah! É bom ver você também, maninho! – Temari disse sarcástica.

Eles eram irmãos, eu sempre me esquecia desse detalhe.

Gaara a ignorou como de praxe.

- Vou dar uma volta. – disse ele saindo.

Kiba suspirou.

- O que deu nele?

- É só um idiota mesquinho! – Temari disse visivelmente ressentida com alguma coisa.

Shikamaru se deixou cair no sofá.

- Alguém viu minhas baquetas?

Temari revirou os olhos e fuçou sua bolsa.

- Aqui. – ela disse entregando a ele.

- Obrigado. – agradeceu, brincando de bater no sofá.

Ficamos entre nós, conversando sobre nada e tudo até que um dos caras da produção bateu na nossa porta.

- Hei caras! Estão prontos? É sua vez. – Ele disse com a cabeça dentro do quarto.

Me levantei esticando os braços.

- Certo.

Ele assentiu e saiu.

- Vamos lá, então! – Kiba se animou pegando a guitarra vermelha.

- Yare... Yare... – Shikamaru reclamou se levantando com um sorriso.

- Cadê o Gaara? – perguntei notando que ele não estava.

- Ele saiu quando eu entrei, lembram? – Temari disse.

- E não voltou... – Shikamaru disse o obvio.

Suspirei.

- Vamos nos dividir para procurar e nos encontramos perto do palco em cinco minutos. – decidi.

- Certo. – os outros concordaram.

Kiba foi procurá-lo nos banheiros, Shikamaru só andou pelos camarins sem procurar realmente, Temari gritou por ele por aonde ia perguntando a todos os que encontrava e eu fiz o mesmo.

Nos encontramos sem ele no local combinado.

- Pessoal! Sua vez! – o produtor disse.

- Hãn... Estamos procurando o baixista... – expliquei.

- O que? Ele sumiu?

- Gaara faz isso às vezes. - Temari reclamou.

Então, como se por milagre, Gaara apareceu ao lado de ninguém menos que Meg White, ambos conversavam como se fossem amigos íntimos, rindo de algo que eu jamais imaginaria o que era.

- Gaara! – Temari gritou repreendendo-o.

- Acho que é a sua vez. – Meg disse a ele.

Gaara sorriu para ela e fez o símbolo clássico com o mindinho e o indicador que entre nós significava um simples ‘É isso aí’. Ele veio para nós, animado.

- Vamos lá?

Ergui o mindinho e o indicador também.

- Vamos detonar!

- Quanta confiança! – Kiba riu – É isso aí!

- vamos fazer o que fazemos melhor e arrasar naquele palco! – Shikamaru disse.

- Isso aí! – Dissemos em uníssono.