A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 33
Um convite inesperado


Notas iniciais do capítulo

O feriado de comemoração do império finalmente chegou! O que será que a nossa Elfa vai aprontar agora?



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O feriado de comemoração do império finalmente chegou e eu estava muito mal. Não conseguia evitar ficar triste enquanto escutava todos no instituto contarem seus planos familiares para curtir o feriado enquanto eu ficava sozinha como todos os anos. Tentei não me abalar. Seria uma ótima oportunidade de beber em paz e treinar em qualquer horário. Nessa época do ano sentia uma tristeza profunda.

Eu sempre ficava observando de longe as famílias que vinham buscar meu colegas. Já ouvi muitas vezes que era difícil sentir falta de algo que você nunca teve, mas eu sentia. Sentia uma dor no coração quando via as famílias se abraçando e felizes de se reencontrar. Não deu muito certo olhar pelo lado positivo.

A única coisa que eu enxergava no momento era a Ava radiante fazendo suas malas para sua viagem em família. Eu sei que esse sentimento é errado. Não deveria me incomodar com a felicidade alheia. Mesmo assim não dava para evitar ou fingir que ele não existia. Acredite eu já tentei muito. Tudo que eu queria no momento era escutar a voz de Yuri.

Só que eu não estava nem um pouco animada de me enfiar na floresta para ligar. Não depois daquele encontro desagradavel com o espectro. Sentia um arrepio só de lembrar.  Ainda enviei uma mensagem, quando ninguém estava olhando. Talvez ele pudesse me animar um pouco. Quando vi que ele não responderia tão cedo vi que teria que recorrer ao meu único outro consolo: a bebida.

Eu sabia que tinha que parar com isso, principalmente se eu queria entrar para a guarda. É difícil se livrar de velhos hábitos. Talvez isso mostrasse que meu lugar não era mesmo na guarda. Meu sonho parecia tão distante. A única coisa que me acompanhava era a tristeza e o sentimento de que nada nunca daria certo pra mim. Totalmente apática, era como eu me sentia. Eram tantos sentimentos e coisas acontecendo que a única coisa que eu conseguia fazer era nada. 

Eu achei ótimo poder fingir que nada daquilo tinha acontecido e voltar ao normal com Will. Minha mente já não conseguia lidar com todas essas coisas que estavam acontecendo. Era até engraçado pensar em todas as vezes que eu desejei ter a vida agitada e badalada como as garotas populares.

Definitivamente  não fui feita para esse tipo de vida. Não tinha a elegância e a malandragem necessária. Talvez fosse melhor assim, manter ele distante. Estava cansada de levantar muros que ele derrubava tão fácil. 

— Tem certeza que não quer ir comigo? Minha mãe disse que não teria problemas. Nós vamos para aquele refúgio élfico super chique e você ainda iria conhecer meu irmão. Ele é super gato.

— Primeiro: eca. E segundo: você sabe que comemorações em família não são o meu forte. – Ava tentou disfarçar sua decepção. As coisas nunca voltaram totalmente ao normal entre nós. Agora sempre parecia haver um muro nos dividindo. Era um clima estranho.

— Tudo bem, você que sabe. – Ela deveria controlar o bico que fazia quando era contrariada. Sorri disfarçadamente.

— Acho que seu pai já chegou. - Comentei olhando pela janela.

— Argh, ele odeia esperar. – Ela começou a empacotar as coisas mais rápido. – É melhor eu correr. Tente não morrer de tédio enquanto eu estou fora. – Estendendo seus braços para me ajudar a levantar ela me deu um abraço apertado antes de sair correndo pela porta. Até mesmo seu pai rígido me fazia inveja. 

Quando vi que ela não voltaria mais peguei minha última garrafa de álcool do esconderijo secreto e segui para os fundos do instituto. Eu conhecia um local onde era possível subir até o telhado. Todos os anos eu ficava observando as famílias se reencontrando de lá enquanto me torturava. Muito saudável com certeza.

Suspirei profundamente ao sentar e dei um bom gole na minha bebida. Era melhor eu aproveitar para beber enquanto eu podia. Mesmo que eu não morra, se conseguir entrar para o exército, toda essa farra iria acabar. O pôr do sol estava especialmente bonito deixando o céu todo rosa, quase vermelho. Foi impossível não desejar que Hans estivesse ali. Sua falta deixava um buraco profundo no peito que parecia que nunca se fecharia. E hoje ele parecia ainda maior.

Várias famílias riam e se abraçavam falando alto sobre como estavam empolgados e esperando sua vez para usar o portal. Até o pai de Ava que era super sério estava sorrindo. O pátio estava lotado de gente, parecia quase uma multidão cheia de cores, calor e alegria. Passei um bom tempo observando a movimentação em total silêncio até escutar um barulho próximo à mim.

— Ah, desculpe... Não sabia que esse lugar já tinha gente. – Disse Will coçando a cabeça. Ele estava com um tapete nas mãos. 

Só fiz um gesto para que ele ficasse à vontade sem me importar de falar. Sentia minha garganta apertada ao observar aquelas cenas. Acho que minha voz não sairia firme nem se eu tentasse. Dei mais alguns goles na bebida. Estava começando a escurecer e as luzes do pátio foram ligadas, dando uma atmosfera aconchegante. Era muito bonito de se observar.

Com o canto de olho observei Will fazer seus alongamentos, ou pelo menos eu acho que eram alongamentos. Ao mesmo tempo pareciam um pouco movimentos de batalha. Só que ele fazia bem devagar. Ele me pegou olhando e eu o encarei por alguns segundos antes de voltar a observar as famílias.

 – Você não vai viajar com sua família?

— Eu não tenho família. – Falei tossindo para tentar recuperar o controle da minha garganta. – E você?

— Também não tenho família. – Encarei seus olhos por mais alguns instantes. Sempre acabava me perguntando como duas pessoas tão diferentes que se odiavam tanto poderiam ser tão parecidas ao mesmo tempo. Talvez fosse por isso que não gostávamos um do outro. Talvez nós odiamos porque somos iguais e não gostamos nada disso.

— Mas você não é o mago da família imperial? Não vai viajar? – Ele deu de ombros.

— Só tenho que ir num banquete idiota amanhã no palácio real.

— Nossa dá pra ver que você mal consegue conter a sua animação. – Falei para irrita-lo. Em vez disso ele sorriu.

— Aqueles nobres são um saco. – Ele revirou seus olhos. – Não tenho paciência e acabo me metendo em confusão. – Depois de terminar seu exercício ele sentou ao meu lado e tomou a garrafa da minha mão dando um gole longo.

— Pensei que você nunca mais iria beber. Vai acabar tendo alucinações!  – Falei irritada sem pensar, tomando a garrafa de volta. Ele ficou em silêncio por alguns segundos sem se mexer.

— Aquilo foi real? Aquela noite na cantina... – Senti meu rosto esquentar. Nossa porque eu era tão ruim com segredos? Dei um longo gole enquanto pensava no que responder

— Não faço ideia do que você está falando. – Fingir demência até a morte era minha estratégia.

 É claro que ele não acreditou. Dava para ver no seu rosto ruborizado que ele não acreditava em nada daquilo. O lado bom foi que ele não insistiu no assunto, só ficou em silêncio sem conseguir me encarar. Senti vontade de desaparecer, mas continuei fingindo demência.

A vergonha era real, eu tentava ao máximo não lembrar do fato de o meu professor já ter me visto de roupa íntima ou do beijo trocado. Contive uma careta. Ainda bem que já estava escuro o que dificultaria para ele ver meu rosto vermelho. O céu estava limpo e estrelado e a lua cheia parecia pequena no horizonte. Ele tossiu e pude sentir seu olhar me encarando.

— Todos os anos tem um grande festival na cidade de comemoração ao império. - Disse mudando de assunto.

— Deve ser legal, eu nunca visitei a capital. -  O mais longe que eu havia ido era a cidade mais próxima.

— Você… Quer ir comigo? - Encarei surpresa seus olhos amarelos. Ele estava brincando?

Procurei por sinais em seu rosto sem encontrar nada. Ele me encarava intensamente e parecia estar tenso. Passou pela minha cabeça que poderia ser uma armadilha apesar de parecer improvável. Meu coração parecia inquieto no meu peito por algum motivo. Quando ia responder ele me cortou.

— Ah, esquece. Você é chata demais. - Wil levantou de supetão e começou a ir embora, mas corri e segurei sua mão fazendo-o parar. 

— Vou me comportar. - Prometi. Ele desviou o olhar pensativo.

— Esteja pronta em duas horas. Se você atrasar eu vou sem você - Quando ele desapareceu a brisa do vácuo fez minha pele se arrepiar. 

Onde eu estava com a cabeça? Devo estar desesperada para me distrair, ou melhor, não ficar sozinha no instituto. Não poderia ser tão ruim, certo? Certo? Sinceramente eu  não faço ideia do que ele quer de mim.  Ele deve gostar muito de me torturar.

Era melhor eu não testar sua paciência e arriscar ficar sozinha naqueles corredores. Nunca se sabe até onde o espectro pode me seguir e eu não queria arriscar que ele viesse me procurar sem que eu tivesse ninguém para me defender. Mesmo que alguns poucos permanecessem ali, se eu gritasse, vão escutar? O mais rápido que pude enchi a mochila de provisões.

Algumas roupas, um pouco de maquiagem, minhas facas… Sinceramente eu não sei o que levar. O que as pessoas usavam na capital? Eu não fazia a menor ideia. Passei tanto tempo debatendo que quase me atrasei. Peguei o livro de biologia feérica que eu vinha devorando para tentar descobrir mais sobre o espectro e sai correndo até o centro de treinamento.


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Notas finais do capítulo

eitaaaaaaaa, o que estão achando?



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