Passaram-se dois meses depois da morte de Maddeline. Tem noção de como eu estou? Tão morto quanto ela. Não choro mais, não rio mais, não grito mais, não me alegro mais, não amo mais... não vivo mais. Emoções? O que é isso?

No refeitório vi uma menina de cabelos pretos e repicados. Ela estava de cabeça baixa, lendo um livro. Tinha a pele bem clara.

Meu coração parou.

Andei até a menina.

– Com licença... – comecei.

A menina levantou a cabeça:

– Sim? – ela disse.

Não era ela. Olhe o quão tolo eu sou... Daniel, Maddeline está morta. MORTA! Ela não vai voltar.

– Me desculpe... por um momento pensei que era outra pessoa. Desculpe por ter interrompido sua leitura.

– Hã... não, tudo bem! Qual o seu nome? – Ela parecia disposta a conversar. Sorri.

– Daniel... e o seu?

– Meu nome é Lorena. Prazer. – esticou a mao pra mim. A apertei.

– Prazer, Lorena.

– Daniel, você poderia me ajudar a achar minha classe? Eu não conheço nada e...

flashback on

– Maddeline, você poderia me ajudar a achar a minha classe? Eu não conheço nada e...

– Tá - me interrompeu. Ela bufou, se levantando e pegando a mochila. - Me segue - disse indo na frente, deixando seus cabelos balançarem com o vento forte.

Na metade do caminho ela esticou o braço, apontando com o dedo indicador uma espécie de campo, bem mais bonito que o resto do colégio. Tinha duas piscinas, algumas saunas, dois campos de futebol e um campo de tênis.

– Lá é onde os desocupados ficam depois do intervalo.

– E quanto tempo ele dura?

– Duas horas.

– Uau! Nos meus antigos colégios era apenas meia hora.

Ela me encarou por uns segundos me deixando sem graça e finalmente disse:

– Esse colégio é... diferente - falou deixando um ar de mistério.

flashback off

Ah, Maddeline... se você tivesse me dito "assombrado" ao invés de "diferente"... eu poderia ter te salvado... teria dado tempo...

– Daniel? Daniel? – Lorena balançava a mão na frente do meu rosto – Você está me ouvindo?

– Desculpe, Lorena... eu me distraí.

– Tudo bem – ela sorriu – e então? Pode me mostrar onde fica minha classe?

– É claro... siga-me.

*

Após a Srª Balire entregar os horários a Lorena e chamar Roland para pedir a ele para levá-la até sua classe, ela pediu para conversar comigo.

– Como está, Daniel? – disse demonstrando preocupação

– Com calor. – falei tentando fazer com que ela mudasse de assunto.

– Me refiro a Maddeline. – sua voz falhou

Abaixei a cabeça.

– A senhora não imagina o quão morto estou por dentro, Sophia.

– Imagino, Daniel. Multiplique essa dor e saberá a minha. – disse se lamentando.

– Como pode, senhora Sophia? Ela era tudo pra mim! Para a senhora ela era apenas mais uma aluna...

– Não – me interrompeu – não diga isso. Sei que deveria ter te contado a muito tempo, Daniel – engoliu em seco – Ventrue.

– Contado o quê?

– Daniel, Maddeline era minha filha.

– O QUÊ?

– Por que acha que, no dia em que você chegou em meu escritório, fiquei tão animada? – chorou – Você era minha ultima esperança de quebrar a maldição dela. Digo, de vocês.

– Por quê? – sussurrei, deixando acontecer pela primeira vez depois da morte de Madd: uma lágrima escapar. Depois uma, e depois outra, e depois mais e mais lágrimas. – POR QUÊ? ME DIZ POR QUÊ! – gritei. – O QUE CUSTAVA VOCÊ TER ME CONTADO ANTES? PREFERIU DEIXAR MADDELINE MORRER?

Eu estava descontrolado. Nada naquele momento seria capaz de me fazer parar.

– Eu não podia... – sussurrou.

Ela ficou tão aparentemente calma naquele momento... me transmitindo tanta paz que aquilo me afetou... andei até ela, a levantei pela mão ainda chorando e a abracei.

E ficamos assim. Ela começou a chorar muito, com direito a soluços... como uma criança. E eu? Chorei dez vezes pior. A apertei com força na esperança de fazer diminuir a minha e dor dela.

Mas do que isso adiantaria? Maddeline voltaria, por acaso?

Não. Maddeline não voltaria.