Maddeline não voltaria

– Eu... eu preciso ir, Sophia. – disse secando as lágrimas.

Ela me deu um último abraço e me deixou sair.

– Até que enfim você apareceu – Lorena me assustou saindo da sala de aula. – Aonde é que você estava? – ela dizia apressadamente, como se estivesse ansiosa. Ela olhou pro meu rosto – Você... você está chorando?

– Não... é, está tudo bem. – disse tentando disfarçar. – Eu só estava na sala da diretora.

– Ela brigou com você? – perguntou visivelmente preocupada, com os olhos arregalados.

Ri fraco.

– Não, Lore, tá tudo bem. – esbocei um sorriso pra ela. Apesar de conhecer ela á tão pouco tempo, já sentia um carinho muito grande por ela. 

A abracei e dei um beijo no topo de sua cabeça. Ela ruborizou.

– Você fica muito bonitinha com vergonha – brinquei e ela me deu um tapinha no braço. Passei meu braço por cima dos ombros dela e ficamos andando assim.

*

– Ah, Dani, você é tão lindo pra ficar andando com essa... – olhou para Lorena com nojo – menina – concluiu.

– Escuta aqui sua va-

– Lorena, deixa. Violett, você pode fazer o favor de sumir da nossa frente?

Ela fez um "oh" agudo e estridente de indignação e levou a mão ao peito. Violett é uma menina patricinha, riquinha e metida a superior que é da equipe de tênis do colégio.

Passamos por ela e nos sentamos no refeitório.

Lorena ficou de cabeça baixa.

– O que foi, pequenininha?

Ela esboçou um pequeno sorriso e acabou derrubando uma lágrima, mas logo a secou e levantou a cabeça como se nada tivesse acontecido, com aquele sorriso lindo que só ela tem - mas que não se compara ao de... Maddeline - Lorena é uma menina muito forte.

– Você esconde seus sentimentos tão bem. – disse

Ela abaixou novamente a cabeça e começou a chorar de verdade, com direito a soluços e fungadas.

– Ei, ei... – disse encostando a cabeça dela em meu peito. – Tá tudo bem. Quer conversar?

– Não aqui. Vamos pra arquibancada do campo.

*

Lá fora o vento estava forte. Os cabelos de Lorena balançavam rebeldemente. Estávamos lá a mais ou menos meia hora, e ela não tinha começado a falar, até que levantou a cabeça e me olhou com os olhos entreabertos por causa do vento, mas logo abaixou-a novamente.

– Com cinco anos, meus pais se separaram. Com seis, meu pai faleceu, tive que ir morar com a minha mãe. Ela me batia. Me espancava, na verdade. Parei no hospital em estado grave e por um milagre, não tive sequelas. Fui morar com a minha tia. Eu passei a odiar todos a minha volta. Eu era "a estranha" no colégio. Era assim que me chamavam. – riu fraco – Umas meninas que não aceitavam meu jeito me convidaram pra uma festa. Quando cheguei lá, não tinha ninguém. – fez uma pausa e secou uma lágrima – Só tinha elas. Era uma armadilha. O resultado foi 5% da minha visão do olho direito prejudicada, com 10 anos de idade. Deixei de ir a escola, passei a estudar em casa. Me mantive isolada de todos por muito tempo... até vir pra cá. – olhou no fundo dos meus olhos e respirou fundo – De cara eu já odiei todos daqui. Aí um anjo veio falar comigo – sorriu – Por engano, mas veio. Esse anjo é a primeira pessoa que eu consigo gostar desde os meus seis anos. Você é meu anjo, Daniel.

Eu já não conseguia parar de sorrir. Eu nunca havia me sentido tão especial assim...

Não consegui dizer nada, apenas a encarava e ela me encarava de volta.

A puxei para o meu colo, pus as duas pernas dela para um lado, como se embala um bebê, põe pra dormir. Apoiei sua cabeça no meu braço, ela sorriu de boca fechada.

– Eu quero ver seus dentes – disse sorrindo.

Ela pôs as mãos na frente do rosto, cobrindo-o, e soltou uma risada.

– Ande, quero ver seus dentes!

Ela tirou as mãos e deu um sorrisão, mas logo pôs as mãos de volta no rosto.

Joguei a cabeça pra trás e dei uma gargalhada, depois dei um beijo estalado na testa dela.

– Obrigada – ela disse – por ser quem você é.

– Obrigado por trazer felicidade de volta a minha vida. – respondi