A Domadora - Os Prenúncio dos Quatro Elementos escrita por Maria Beatriz


Capítulo 5
Capítulo 4 - Trégua


Notas iniciais do capítulo

Esclarecendo uma pequena duvida sobre os mundos, que alguém pode acabar tendo ao ler a historia: Não, Trevas e Luz não é bem e mal, nem inferno ou céu. São apenas dois mundos/dimensões diferentes, assim como a Terra. Eu poderia usar outros nomes, na verdade, sei de alguns bem legais, mas queria uma coisa mais simples, entendem?



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A temperatura havia caído, eu errara feio quando pensei que teríamos um pequeno verão no inicio do inverno, mas isso não é problema agora. Sentei-me no chão da clareira que estávamos e escorei-me em uma árvore. Estava tudo bastante silencioso, principalmente, porque Yoru e Yume estavam dormindo agora e, Denzel saíra para pegar lenha que serviriam para reacender a fogueira que havia apagado.

Inspirei e expirei, sentindo o ar gelado entrar e sair de meus pulmões. Estava frio demais... Corri meus olhos, fitando Yoru e Yume, apenas queria me certificar de que estavam bem. Com cuidado para não fazer barulho, fiquei de pé e caminhei silenciosamente ao lado dos sacos de dormir deles. Denzel estava demorando muito, eu precisava saber onde ele estava.

Denzel seguira caminhando na trilha de árvores que havia à minha frente, caminhei na mesma direção que ele fora, não demorou muito e finalmente adentrei na imensidão de árvores. Sei que falei para ele que não me responsabilizaria, caso algo acontecesse, mas de certa forma, estou preocupada. Mesmo que ele não tenha trocado uma só palavra comigo após o inicio de nossa viajem. Ao menos, durante o tempo que caminhamos, conheci melhor os gêmeos. Eles têm doze anos, Yoru fala mais do que o irmão, porem, é educada e o repreendi quando fala algo errado e Yume, é bastante quieto, prefere observar a falar, mas como já disse Yoru o repreende quando fala algo que a própria considera indelicado. Enfim, eles são mais simpáticos do que imaginei.

A noite não estava muito escura, pelo contrario, estava claro até demais. O que era bom, já que assim era possível ver melhor o que havia ao meu redor e iria facilitar quando voltar.

Continuei caminhando silenciosamente, não era possível ouvir nenhum barulho, apenas do vento batendo contra os galhos e folhas das arvores.

Não demorou muito, na verdade, poucos minutos para que eu visse a figura de Denzel. Ele estava sentado sobre um tronco de árvore e, aparentemente, na frente dele havia um desfiladeiro. Denzel estava de costa para mim, e não havia percebido a minha movimentação entre as arvores. Aproximei-me dele, finalmente saindo da imensidão de árvores e, parando a alguns passos de distancia atrás dele.

–Achei que você não iria se responsabilizar por mim... - Ele disse calmo ao perceber a minha presença. Já esperava ele dizer algo assim.

Respirei fundo e não respondi, na verdade, não estava muito a fim de conversar, nem saberia o que dizer. Caminhei em direção ao tronco onde Denzel estava e em seguida, sentei ao lado dele, encarando o desfiladeiro a frende, o outro lado deveria ficar a uns quinze metros de distancia e também era repleto de árvores. Denzel respirou fundo e encarou o desfiladeiro.

–Não irei. - Respondi.

Denzel riu sem humor e continuou a fitar o nada. Senti um vento gelado bater em meu rosto, aqui parecia ser mais frio do que onde estávamos.

–Sabe por que insisti tanto em vir? Mesmo que contra a sua vontade... - Ele disse novamente de maneira ligeiramente calma e não me deixou responder. - Yoru e Yume são como irmãos para mim. Acho que por termos sido criados pela mesma pessoa. - Ele respondeu antes que eu falasse algo a mais.

E por algum motivo, ele estava me deixando curiosa em saber mais sobre ele.

–Você conheceu seus pais? - Perguntou.

Respirei fundo e juntei-me a ele na pratica de fitar o nada, coloquei o capuz de minha capa e pensei uma, duas, três vezes antes de falar:

–Muito pouco... Eles morreram quando eu tinha cinco anos, desde então, fui criada por um grande amigo deles. - Respondi. - E você?

–Talvez, acredito que sim. Mas não me lembro de nada. Mabelle disse que me encontrou na rua quando eu tinha oito anos. Eu não tinha memorias e não sabia onde estava. A única coisa que parecia ser de valor, que estava comigo, era isto - ele indicou o pingente em formato de aliança que estava em seu colar. - Deveria ser algo de meus pais, talvez – ele fez uma pausa. - Você sabe quem foi os seus pais? - Ele olhou para mim e depois, voltou a fitar o nada novamente.

–Eles foram domadores renomados e respeitados. - Não havia mais o que falar.

Denzel se calou, acredito que ele tenha entendido o fim que dei à conversa. Não por me sentir mal em falar de meus pais, na verdade, já aceitei o fardo de não tê-los mais. Contudo, não pretendo contar tudo sobre minha vida. Denzel ainda é um estranho no fim das contas.

–Um domador só pode ter um filho domador?

Encarei-o confusa, não esperava uma pergunta tão repentina quanto aquela. Ainda mais, tão desconexa.

–Não... Por quê?

–Por que você disse que seus pais eram domadores.

Voltei a fitar o desfiladeiro, porem, não pude deixar de rir do comentário que ele fizera. Ora, ele parecia uma criança ao falar aquilo.

–Achei que estava brava comigo. - Ele comentou enquanto voltava a olhar o que havia a sua frente.

–Não fiquei tão brava. Admito que na hora sim, mas não me importei.

–Então, façamos uma trégua.

–Trégua? - Encarei-o, enquanto ele observava sorridente o outro lado do desfiladeiro, com os olhos castanhos brilhantes.

–Sim. Não iremos brigar novamente. Claro, isso somente até eu ter certeza que não irá acontecer nada com eles. Acredite, irei perseguir você enquanto estiver com eles. - Ele referia-se a Yoru e Yume, e de certa forma, eu entendia o porquê daquilo.

Respirei fundo antes de responder e encarei o horizonte além das arvores, o sol já estava nascendo, o que indicava que logo voltaríamos a nossa caminhada até Temesia.

–Fechado. - Ele sorriu em resposta, acho que foi a que ele queria. E então, levantei-me e segui caminhando até as arvores. O dia estava nascendo e eu, precisava acordar Yoru e Yume.

–Espere!

Parei de caminhar e fiquei em silencio. Ele tinha algo a mais para me falar? Um tanto que contra gosto, virei e fiquei de frente para ele. Em seguida, novamente, caminhei na sua direção. Denzel ainda estava sentado no tronco seco de arvores, porem, agora virara e fitava-me. Fiquei de frente para ele, a uns dois passos de distancia.

–Pegue isto. - Ele disse enquanto revirava o bolço da camisa de mangas curtas que usava sobre a de mangas compridas e em seguida, retirou um pedaço de papel dobrado de dentro. - Dizem que dá sorte. - Por fim, ele entregou-me o papel.

Hesitei antes de pegar o papel, mas acabei por não me importar com isso e o peguei, enquanto sentia os raios de sol bater no meu rosto. Desdobrei o pedaço de papel e encarei a figura desenhada. Era o desenho de um lobo, um lobo de pelagem branca e olhos azuis em uma imensidão de neve. Alias, um desenho muito bem feito.

Parece comigo. E após um bom tempo, Arcano se fez presente em minha mente.

Verdade.

–Gostou?

–É muito bonito. Mas, por que me deu?

–Obrigado, foi eu quem fez - ele pareceu gostar do meu elogio, mesmo que tecnicamente, não tenha sido um elogio exatamente. - Fizemos uma trégua, não fizemos?

–Fizemos. - Respondi e virei-me, indo em direção as arvores novamente enquanto guardava o papel no bolço de minha calça cinza. - Precisamos acordar Yoru e Yume, e partir o mais rápido possível.

Ouvi Denzel levantar-se e correr na minha direção e finalmente adentramos na imensidão de arvores. Sei que poderia estar parecendo apressada em chegar a Temesia, mas a verdade, é que ela não estava tão longe. Na verdade, precisávamos apenas atravessar esta floresta, passar por um pequeno vilarejo que havia depois dela e em seguida, o campo aberto que havia ao redor de Temesia. No fim das contas, estávamos perto de nosso destino final.

Em silencio, Denzel e eu fizemos o mesmo caminho que antes, o que não demorou muito e logo estávamos na clareira onde Yoru e Yume dormiam. Entretanto, Yoru já estava acordada. Ela estava sentada na raiz de uma arvore enquanto comia um pedaço de pão que havíamos trazido e Yume, não havia nenhum sinal dele.

–Onde está o seu irmão? - Denzel perguntou antes de mim e, aparentava estar ligeiramente preocupado.

–Ele disse que iria atrás de vocês.

Onde fora parar aquele garoto? Céus, agora terei que procura-lo e não faço a menos ideia onde ele possa estar.

–Yoru, pra que lado ele foi? - E novamente, Denzel se pronunciara antes de mim.

Ela mordeu o ultimo pedaço de pão antes de responder:

–Para lá - Yoru apontou para o lado oposto que havíamos vindo.

Será que aquelas crianças tinham ideia do perigo que corriam?! Acho que posso dizer que uma das tarefas de um domador, é caçar feras, ou quando elas estão pondo em risco a vida das pessoas. Feras são espécies de monstros, se não me engano, foram criados através da alquimia, isso aconteceu há muito tempo. O que fez com que, a prática da alquimia, fosse proibida no mundo da Terra e da Luz, somente as Trevas não proibiu, já que a pratica dela lá, é praticamente normal. Se não me engano, feras não deveriam andar livremente, eram experiências mal feitas pelos alquimistas, todavia, eles as deixaram escapar e passaram a se espalhar entre os mundos. Claro, encontrar uma fera hoje em dia é raro, o que faz com que alguns domadores aceitem fazer outros tipos de trabalho, alguns vivem indo e vindo dos outros mundos, principalmente o mundo da Luz. Contudo, conheço apenas a Terra, nunca viajei além dela, não sei ao menos como irei fazer isso.

–Denzel, fique aqui - ele iria negar o que eu dissera porem, voltei a falar antes que ele dissesse algo: - Eu irei atrás de Yume e, você fica com a Yoru.

Ele assentiu sem dizer uma palavra e, nem ao menos contradizer.

–Mas antes disso... - Fiz com que uma luz azulada brilhasse em minhas mãos e em seguida, uma espada de gelo formou-se nela. Era mais fraca do que a outra que eu usara contra Luke, mas seria útil, caso Denzel precisasse. - Pegue. - Gesticulei com os braços para que ele a pegasse, porém, ele não pegou.

–Não irei pegar.

–Você pode precisar... - Soltei um muxoxo antes de continuar. - Eu insisto.

Denzel pareceu ponderar antes de me responder.

–Está bem. - Ele fez menção de pegar a espada de minhas mãos, mas eu estava esquecendo alguma coisa...

–Antes disso... Coloque luvas. - Era isso! - Se você segurar essa espada por muito tempo, as seus dedos podem congelar.

Ele pareceu assustar-se com o que eu falara. Mas era verdade, mesmo que esta fosse mais fraca. Denzel caminhou até a mochila onde carregava as suas coisas e de dentro pegou duas luvas pretas de couro, rapidamente as colocou e veio até mim.

Sorri satisfeita para ele e finalmente o entreguei a espada.

–Por que está me dando isso? - Ele disse finalmente, enquanto pegava a espada e a segurava com facilidade.

–Primeiro: não estou te dando. É emprestado. E segundo: em lugares onde existem poucas pessoas, é mais fácil encontrar uma fera, mesmo que elas sejam raras. O que significa que dar de cara com um deles, sem nada para se defender, não é uma coisa muito boa.

Ele encarou-me confuso.

–Isso ainda existe?

–Acredite ou não, existe.

Ele não respondeu e eu, nem ao menos esperei por uma resposta. Apenas segui caminhando no caminho que Yoru indicara, deixando os dois para trás. Novamente eu estava adentrando naquela floresta, caminhando entre as arvores, ao menos, desta vez havia sol, já havia amanhecido e de certa forma, aquilo me tranquilizava.

Com cuidado para fazer menos barulho possível, caminhei entre as arvores. Yume não deveria ter ido muito longe, todavia, eu também não poderia sair gritando o seu nome. Céus, onde esta criança se meteu? Sei que devo intender que eles não fazem a menor ideia do que estavam fazendo, provavelmente nunca saíram daquele vilarejo e não sabem dos riscos que correm. Mas de certa forma, espero que da próxima vez tenham mais cautela... Preciso falar seriamente com os dois.

Senti minhas botas afundarem da terra, fazendo com que ficassem sujas de lama. Bufei e rapidamente desatolei meus pés, puxando-os da terra enquanto soltava-se de alguns algumas raízes finas de árvores. Fiquei muito tempo pensando e acabei por não olhar para o chão. Fitei meus pés e rapidamente os sacudi, em tentativas inúteis de retirar a terra. Bufei novamente e xinguei mentalmente, fitando desta vez, o que estava a minha frente.

Era mais uma clareira, provavelmente eu já deveria ter andado por alguns minutos entre as arvores e nem percebi. Ao centro dela, havia uma enorme arvore, arriscaria dizer que era uma das maiores que eu vira aqui. E, em frente a ela, estava parado um garoto de costas para mim, fitando ela como se estivesse hipnotizado. Finalmente eu encontrara Yume.

Aproximei-me dele sorrateiramente, queria poder fazer menos barulho possível. Suspirei antes de falar com ele, espero que ele não faça um escanda-lo...

–Yume... - Chamei calmamente enquanto ele virava e fitava-me com os olhos verdes.

–Viu o que eu fiz? - Ele perguntou sorridente e encarou-me, então ele quem fizera aquela árvore nascer?

–É muito bonita, mas temos que ir.

Yume fechou o sorriso e encarou-me com medo?!

–Sora... - Ele parecia estar tentando avisar-me algo, porem, calou-se.

Senti uma bufada quente e pesada no meu pescoço, fazendo com que meu corpo tremesse. Droga! Eu havia demorado demais.



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Notas finais do capítulo

O que acharam da ideia das feras? Eu iria usar outro tipo de criaturas misticas, mas resolvi criar as minhas próprias u.u fica mais original XD



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