Sedução Da Noite escrita por Leelan Schaffer


Capítulo 43
Fazendo as pazes com o Diabo.


Notas iniciais do capítulo

Sooner or later that spark just disappears
Outta nowhere, outta nowhere
Every time one of us ending up in tears
Outta nowhere, outta nowhere

Is it good that we hurt every day?
It this worth all the pain that we feel inside?
Am i too blind to see this is happening to me
Outta nowhere, outta nowhere

— (Outta Nowhere) Danny Mercer



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O inferno deve estar de sacanagem com a minha cara!

Alexya havia seguido seus instintos até o centro da cidade, em uma casa parecida com a de Lucian, exceto que a pintura era de um lilás extremamente delicado. O carro do seu mestre estava estacionado do outro lado da rua e ela se precaveu em estacionar a uns bons dois carros atrás, numa área pouco iluminada. Ela não fazia idéia do porque estava bancando a espiã até alguns momentos atrás, mas assim que ela viu uma Terry entediada olhando para fora por uma janela...

Alexya piscou fortemente por alguns instantes, em seguida pensou em se beliscar. Ela não podia sequer imaginar como juntar um mais um e formar dois. O que Lucian estava fazendo naquela casa. E o que Terri fazia ali vestida confortavelmente em Jeans e camiseta?

Antes que ela pudesse pensar melhor sobre o que estava fazendo, Alexya saltou para fora do carro em direção a casa. Ela podia não fazer uma maldita idéia sobre qualquer coisa, mas ela iria descobrir!

A rua estava deserta, seus passos de predadora mal tocavam o chão fazendo absolutamente nenhum barulho. Alexya parou atrás de uma árvore e tornou a olhar para a casa. Procurava um vislumbre de Lucian.

Seu mestre estava entrando na sala, enquanto dizia alguma coisa. Terry continuava olhando pela janela, absolutamente perdida. Era algo que Sabina fazia muito também, como se não estivesse realmente olhando pra fora. Como se assistisse a uma memória antiga que só ela conhecia.

Lucian continuava a falar, mas Terry era a única na sala. Ela parecia alheia ao som da voz dele, como se realmente não pudesse ouvir nada do que ele dizia. Seu mestre sorriu com carinho como se estivesse acostumado a falar sem que as pessoas lhe dessem atenção, e seguiu até a janela, por trás de Terry que continuava distraída.

Lucian abraçou-a por atrás e beijou a bochecha rosada dela. Terry sorriu, como se tivesse saído do transe por um encanto e respondeu a alguma pergunta de Lucian.

Algo nas entranhas de Alexya se contorceu ao avistar Lucian tão carinhoso com a outra vampira.

Você está com ciúmes, garota. Sua mente a acusou, mas ela mandou a idéia para longe.

Ela era melhor do que isso, certo? Ciúmes era coisa de adolescente. Ela não iria sentir ciúmes de Lucian!

Mas em seguida, Terry deu um abraço em Lucian, e ele afundou o rosto nos cachos loiros da vampira, de uma maneira muito confortável. O monstrinho verde na barriga de Alexya tomou anabolizantes e se tornou o Hulk, tal era a fúria que a dominava.

– Ah, mas eu vou matar aqueles dois engasgados com o próprio sangue! – Alexya murmurou enquanto seguia em direção a porta da frente.

Antes que ela sequer desse mais um passo em direção a casa, um lobo enorme pulou nas costas de Alexya e fez com que ela aterrissasse de uma forma nada confortável, com a cara no chão. Cuspindo grama, ela se virou e mostrou as presas para o lobo cor de caramelo. Ela tinha certeza que, nesse momento, seus olhos eram só uma aureola dourada em torno de uma íris negra como o fundo de um poço. Sua cara de poucos amigos não suavizou, ainda mais quando um lobo prata e outro negro como a noite se juntaram ao seu atacante. Rosnados e presas eram o cartão de boas vindas, mas a ira de Alexya era tanta que ela não se amedrontou.

Ta bem, talvez um pouquinho de medo? Sua mente sugeriu.

O lobo caramelo soltou um ganido, e em um piscar de olhos ele havia se transformado em ninguém menos... Que Josh. Completamente pelado.

Como se a transformação de Josh tivesse sido uma dica para os outros lobos, outros dois ganidos soaram e os lobos se transformaram em dois caras que Alexya nunca havia visto antes. Mas que eram muito gatos, ela precisava acrescentar.

– Então agora você é do tipo que ataca garotas por trás, Josh? – Alexya ironizou.

– Você a conhece, Hayne? – O cara que costumava ser o lobo negro perguntou a Josh, usando seu sobrenome. Ele era um latino muito gostoso, com cabelos negros que roçavam seus ombros musculosos, um rosto de traços bem definidos e algumas tatuagens que fariam qualquer garota babar.

– Eu costumava conhecer a garota que ela foi. – Josh disse com amargura. – Mas isso foi há muito tempo.

– Se você considera semana passada um passado muito distante, pode até ser. – Alexya deu de ombros. – Você sempre foi ruim em matemática.

O cara latino sufocou uma risada, e Josh pareceu momentaneamente envergonhado.

Ponto pra mim. Pensou Alexya.

– Chega de conversa. A mestre quer saber quem tentou invadir a casa dela. Quer que a gente leve essa daí lá pra dentro. – Algo dizia a Alexya que “essa aí” seria ela, mas não era hora de se queixar sobre o tratamento informal.

O lobo prata tinha se transformado em um cara com o cabelo loiro platinado e olhos verdes. Ele parecia ser o líder do bando, e foi quem a chamou de “essa aí”. Em seguida, ele deu as costas para Alexya e começou a caminhar na direção da porta, como se ela devesse segui-lo. Simples assim.

Josh a ergueu do chão com um puxão – não que ela precisasse de ajuda, mas parecia que ele não estava se importando muito com o que ela queria ou precisava no momento. – E manteve um aperto de ferro em seu braço esquerdo. Lobo Latino a segurou com um muito mais jeito, mas seu aperto era forte assim como o de Josh e passava uma mensagem clara:

Não tente nenhuma gracinha.

A bela casa se parecia muito com a de Lucian, suas divisões suspeitamente idênticas. Alexya entrou – foi arrastada pra dentro? – na sala à direita e deu de cara com uma Terry ligeiramente confusa.

Os olhos de Alexya corriam ao redor em busca de Lucian, mas ele parecia não estar em nenhum lugar visível, por mais que seus sentidos deixarem ela saber que ele estava na casa.

– Ah, era você Alexya. – Terry fez sinal para os lobos, e como se ela tivesse dado uma ordem gritada, eles se afastaram de Alexya e saíram pela porta em direção aos fundos da casa. – Desculpe por tudo isso. – Ela sinalizou os lobos que acabaram de sair da sala. – Medidas de segurança são sempre necessárias, você deve saber.

Alexya olhou desconfiada para a vampira a sua frente. Raiva, ressentimento e medo giravam em um turbilhão dentro do peito dela. Se não fosse por Terry, Alexya ainda seria humana.

Escrava de sangue. Sua mente a corrigiu. Você ainda seria escrava de sangue. Já não era humana há algum tempo.

– Então é aqui que você mora. – Alexya ressaltou séria.

Terry sorriu como se a pergunta de Alexya fosse altamente previsível. Talvez fosse, mas ela não se sentia muito confortável perto da vampira. Certamente não iria convidar Terry para trocar figurinhas ou pra pintar a unha uma da outra.

– Essa é uma das minhas muitas casas. Digamos que quando se vive há muito tempo, acaba-se acumulando alguns bens ao longo dos anos. – Ela olhou para Alexya por alguns momentos. – Vejo que a transformação te fez bem.

– Não graças a você. – Alexya soou mais rancorosa do que ela gostaria.

– Agora eu vejo. – Terry concordou. – Você se recente comigo por não tê-la transformado. Acontece que esse não era um direito meu. Somente pela mão do seu mestre você poderia morrer, e somente pela mão do seu mestre você deveria renascer. Lucian não te contou?

– Não. – Alexya resmungou a contragosto. – Mas pelo visto há muito mais que ele não me contou. Sobre o romance de vocês, talvez?

– Romance? – Terry parecia confusa. – Oh, não existe nenhum romance entre Lucian e eu, te garanto.

– Desculpa se eu pareço um pouco cética em acreditar nisso, ainda mais depois de ver a ceninha carinhosa de vocês pela janela. – Alexya resmungou enquanto cruzava os braços.

Terry gargalhou como uma criança vendo sua comedia favorita. Seus olhos se iluminaram como lâmpadas de natal e seu riso soava como a musica dos anjos. Era tão terrível que ela fizesse tudo soar belo? Sério, cadê a justiça divina nessa hora?

– Alexya. – Ela lutava pra respirar em meio aos risos. – Lucian é meu irmão mais velho.

– Tá, assim como ele é meu pai. Eu sei como funciona essa coisa de sangue vampírico e posso afirmar com todas as letras que isso não impede absolutamente nada. – Alexya virou os olhos.

– Não, realmente não impede nada. – Ela concordou enquanto retomava o controle. – Mas ele não é meu irmão pelo sangue vampírico. Ele é, ou foi, meu irmão mais velho antes da transformação. Na linhagem vampírica ele é meu filho.

O mundo começou a girar e Alexya se sentou na poltrona mais próxima a ela. Poderia estar Terry falando a verdade? Seria ela irmã de Lucian?

– Mas... Vocês nem sequer se parecem. - Alexya tentou uma ultima vez.

Terry concordou com a cabeça.

– Verdade. Lucian tem a beleza da nossa mãe. – Ela sorriu como se lembrasse de um tempo muito distante. – Ela era a mulher mais linda que qualquer um já teve o prazer de conhecer. Já eu, puxei ao nosso pai. Ele não era um cara feio, mas próximo à minha mãe... Qualquer um pareceria, bem, comum.

Alexya teve que concordar com o que Terry dizia. Ela nunca havia visto uma foto da mãe de Lucian, mas se ele se parecia com ela não dava pra duvidar que a mulher certamente era deslumbrante.

– Que... Merda. – Alexya resmungou.

– É uma forma de descrever. – Terry concordou.

– Mas você... Você me matou. – Alexya lembrou. – Quero dizer, você me atacou naquele dia. Drenou meu corpo. Eu sei, eu senti!

Terry sorriu para Alexya e respondeu com olhos amáveis, como se explicasse para uma criança como os bebes eram feitos.

– Eu não cheguei a drenar você, não exatamente. Mais um ou dois goles e você estaria drenada. Mas eu não a matei. Não poderia, mesmo que quisesse. Já disse, somente seu mestre pode te matar ou te trazer de volta.

– Então... Como...? – Alexya não conseguia articular as palavras, mas não achou que fosse preciso. Terry parecia saber exatamente o que ela queria saber.

– Lucian veio até você. Ele sentiu seu medo, e veio até você. – Terry fez uma careta. – Sinceramente, ele estragou meu jantar. Ficou ali, me dando o tipo de sermão que só um irmão mais velho é capaz de dar, enquanto avaliava sua situação. Assim que ele descobriu que você não tinha quase nada de sangue no corpo, ele queria me degolar. É claro que ele não conseguiria, mas acho que ele gostou de me ameaçar um pouco. Ele bebeu o resto do seu sangue, te levando para a terra dos mortos. E em seguida te trouxe de volta. Depois foi embora, enquanto resmungava sobre irmãs mais novas que não pensavam antes de agir...

– Mas se você não podia me matar... O que ia acontecer comigo? Quer dizer, você me drenou!

– Ah, você ia ficar parecendo uma múmia seca por algum tempo. E ia precisar de cuidados. Sentiria muita dor. O corpo de um escravo de sangue não aceita transfusões sanguíneas, então você ia ter que esperar até seu corpo gerar sangue por ele mesmo. As vezes levam anos... – Terry explicava aquilo como se estivesse falando do tempo. Jeesh

– Porque? – Alexya perguntou, e tinha certeza de que Terry sabia exatamente sobre o que ela estava falando.

– Por que ele gosta de você. Será que você ainda não percebeu isso? - Terry olhava ceticamente para ela. – Ele nunca teria coragem de transformar você, a não ser para salvá-la. Então, eu tive que dar uma mãozinha.

– Você... – Alexya somente balançou a cabeça.

Ela queria poder dizer que Terry era louca, que nada daquilo fazia sentido. Que Terry havia destruído a vida dela, ou que ela era insensível e idiota. Mas no fundo, ela sabia que Terry só havia feito aquilo que nem ela nem Lucian haviam tido coragem de decidir. Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, e então não haveria ninguém para culpar, a não ser eles mesmos.

– Eu sei. Agora, pelo que eu soube, você transformou sua primeira escrava de sangue essa noite. – Terry lhe lançou um sorriso orgulhoso. – Se eu fosse você, não deixaria Lucian ser a primeira pessoa a conversar com a sua amiga. Ele tende a ser... Bom, meio insensível.

Alexya concordou com a cabeça, enquanto ia em direção a saída. Havia se esquecido completamente de Melanie, devido as ultimas revelações.

– E, Alexya? – Terry chamou. – Você pode contar comigo, se precisar.

– Não conte com isso. – Alexya respondeu, enquanto batia a porta atrás de si.

Ela se sentia como se tivesse feito as pazes com o diabo, mas agora haviam novos demônios contra os quais lutar.

E dessa vez, a luta seria contra alguém que conhecia todos os seus maiores medos.


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Notas finais do capítulo

Bom, PERDOEEEEM-ME a demora, mas aconteceram algumas - muitas - coisas que me impediram de escrever, e por consequencia de dar as caras por aqui, porq, né...
Mas espero que tenham gostado desse capitulo, tanto quanto eu gostei de voltar a escrever.
XOXO