Alexya poderia imaginar diversos desfechos para a cagada que ela havia feito. Sim, por que transformar Melanie em sua escrava de sangue foi certamente a maior cagada da sua vida. Nada de bom poderia vir daquilo. Ela poderia imaginar chegar na casa de Lucian e encontrar uma Melanie furiosa, querendo arrancar a cabeça de Alexya com as próprias mãos.Ela poderia imaginar também, uma Melanie chorosa, odiando Alexya e a si mesma pelo que havia se tornado. Ou até Melanie em fase de negação, tentando vez após vez, provar que vampiros não existiam e que aquilo era só um pesadelo ruim.

Mas ela nunca, jamais, poderia imaginar o que realmente aconteceu.

Alexya chegou antes de Lucian, o que de fato não a surpreendeu. Ela sabia que Lucian ainda permanecia escondido na casa de Terry enquanto ela saía de lá. O que só piora a situação dele com Alexya. Ele teria muitas explicações para dar a respeito de ter mentido para ela. Sobre muitas coisas.

Mas naquele momento, sua maior preocupação era Melanie. Alexya podia sentir ela dentro de sua mente, e sabia que ela estava acordada. O laço de sangue também permitia que ela soubesse que Melanie ainda estava no quarto de Lucian. Ela não entendia direito como sabia daquilo, ela apenas sabia.

Certo, é como arrancar um curativo. Ela lembrou a si mesma. Apenas faça rápido, e vai doer menos.

Com um aceno de cabeça para si mesma, ela subiu as escadas e seguiu o corredor até o quarto de Lucian. A porta estava fechada, mas ela podia ouvir a voz de Melanie.

– Uau. – Ela disse, parecendo impressionada. – É incrível.

Por um momento Alexya pensou em ficar ali do lado de fora, ouvindo a conversa de Melanie com... Alexya expandiu seus sentidos por um momento até descobrir quem era a companhia de Melanie.

Derek.

Alexya ficou confusa. O que o escravo de sangue de Sabina estaria fazendo ali com Melanie?

Alexya abriu a porta e o choque tomou conta dela. Derek estava levando um canivete na direção de Melanie.

Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer qualquer coisa, ou que soasse uma batida de coração, Alexya correu até os dois e torceu o pulso de Derek. Um sonoro “creek” foi ouvido, seguido de um uivo de dor que escapou dos lábios do garoto, enquanto o canivete deslizava dos seus dedos caindo no chão.

Uma Sabina totalmente alerta apareceu na porta do quarto logo em seguida, com as presas a mostra.

– O que está acontecendo?

Melanie se encolheu ao ver Sabina agindo como um perfeito predador, e Derek soltou um “Ouch” enquanto tentava mover seu pulso que, certamente, estava quebrado.

– Não foi nada. Apenas um mal entendido. – Derek disse olhando para Sabina. – Eu não ia feri-la, Alexya. Só estava mostrando a ela os benefícios de ser um escravo de sangue. – Ele resmungou olhando para Alexya como se a estivesse acusando de ser muito burra para perceber.

– É, Lexy. Não tinha necessidade de quebrar o pulso dele. – Melanie resmungou como se Alexya fosse uma mãe superprotetora. – Ele só ia me mostrar isso.

Melanie pegou o canivete e cortou a pele tenra da sua mão esquerda, logo abaixo do dedão. O cheiro de sangue invadiu suas narinas e Alexya sabia que naquele momento poderia estar salivando igual à um cachorro faminto olhando um frango assado na vitrine de uma padaria. Era como se o sangue de Melanie tivesse o cheiro de todas as suas comidas favoritas quando humana, tudo junto. O sangue de Melanie escorreu pelo braço, mas ela pareceu não se importar, por mais que Alexya se sentisse incapaz de desviar os olhos. Em um movimento pouco usual, Melanie limpou o sangue que cobria o corte em sua calça Jeans e mostrou a mão para Alexya.

No local onde Melanie havia se cortado, havia somente uma linha vermelha indicando a pele que havia cicatrizado como se semanas houvessem passado.

– Mas que diabos? – Alexya ficou olhando embasbacada para a mão de Melanie.

Derek lhe lançou um olhar de “entendeu agora?” e Melanie exibia um sorriso largo, como se o natal tivesse chegado mais cedo.

– Um dos benefícios de ser um escravo de sangue. – A voz de Lucian flutuou até ela. Ele estava parado ao lado de Sabina com um sorriso sarcástico nos lábios.

– Mais uma das coisas que você me escondeu. – Alexya atirou para Lucian, momentaneamente esquecendo que eles tinham platéia.

Uma sobrancelha arqueada foi toda a resposta que ela obteve de seu mestre.

Maldito bastardo. Ela pensou.

A gente conversa sobre isso depois, Alexya. A voz de Lucian ecoou em sua mente. Ele estava fazendo uso do vinculo entre eles. Nesse momento, Melanie é sua prioridade. Não as coisas que eu não contei a você.

E não são poucas, né? Por que a cada minuto que passa, a lista cresce mais! Alexya disparou.

Como eu disse antes, agora não é o momento.

Lucian deu as costas para Alexya e seguiu em direção as escadas. Por um momento Alexya ficou aturdida com a cara de pau de Lucian, mas esse momento logo passou.

– Mas nem fodendo! – Alexya resmungou enquanto corria atrás de Lucian. Mas sua nova velocidade e força eram ainda uma coisa muito complicada pra ela, então ao invés de parar próximo a Lucian e puxá-lo, ela basicamente tropeçou em cima dele com força o suficiente para desequilibrá-lo e mandar ela e seu mestre rolando escada abaixo em um emaranhado de pernas e braços.

– Ouch. Isso ainda dói. – Alexya resmungou enquanto tentava sem sucesso sair de baixo de Lucian, quem pressionava todos os lugares certos do corpo dela com seu próprio corpo.

– Agora, essa é uma posição que deveríamos tentar mais vezes. – Lucian respondeu com um sorriso, enquanto prendia os pulsos de Alexya no chão ao lado de sua cabeça.

– Vai sonhando. – Alexya respondeu mal humorada. Era difícil se concentrar em escapar de baixo de Lucian com ele olhando ela daquele jeito. Seus olhos azuis piscina pareciam devorar cada parte dela, como se ela fosse uma torta realmente deliciosa. E a sensação do corpo dele em contato com o dela era a melhor coisa que havia acontecido em algum tempo.

Por um momento Alexya considerou parar de tentar escapar e puxar os lábios dele contra os dela, aproveitando todo aquele clima que pairava ao redor deles, mas o som de passos na escada fez com que ela deixasse aquela idéia pra lá.

– Vocês estão bem? – Melanie descia os degraus de dois em dois. – Vampiros não morrem em acidentes domésticos, né?

– Só se o acidente em questão for cair com uma faca de prata na mão e acidentalmente perfurar o coração. – Lucian levantou-se e estendeu a mão para Alexya, como se nada tivesse acontecido. Ela aceitou a mão e ele a puxou de pé.

– Eu sei que eu tenho muitas explicações para lhe dar, e eu sei também que você deve estar furiosa comigo. – Lucian soltou um suspiro. – Não posso dizer que entendo o que você está sentindo, por que eu realmente não entendo. Mas eu prometo que vou te explicar tudo. Mas não agora.

– Então quando? – Alexya olhou pra ele de forma mal humorada.

– Depois que você conversar com Melanie. E eu preciso me alimentar. – Lucian lançou um olhar ardente para Alexya. – Infelizmente, agora você não é mais minha escrava de sangue. Seria bom continuar de onde paramos ao cair da escada.

Como se tivesse sido chamada, Camilla apareceu na porta da sala. Ela usava um vestido branco, to justo e curto que mesmo uma prostituta sentiria vergonha em usar. Mas não ela. Claro que não.

– Venha Luc. Beba de mim. – Camilla ronronava enquanto estendia a mão para Lucian.

– Nos vemos depois, Alexya. – Lucian seguiu para a sala, ignorando a mão estendida de Camilla.

– Venha Luc, beba de mim. – Alexya imitou fazendo caretas. – Até o sangue de uma leitoa deve ser mais saboroso.

Alexya soltou um suspiro frustrado e virou-se para as escadas.

Melanie ainda estava ali. Encarando Alexya. Com a sobrancelha arqueada.

Oh merda.

Antes que Melanie pudesse falar qualquer coisa, Alexya ergueu um dedo.

– Eu preciso de uma bebida. Ou talvez três. Bem forte. – Ela soava como se sentia. Exausta. E se fosse para encarar Melanie, talvez ela precisasse acabar com o estoque de Lucian.