História de Um Grande Amor escrita por Acyd-chan


Capítulo 9
Capítulo 9




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Darien não saberia explicar por que permanecera tanto tempo em Kent. A programação de dois dias tinha se estendido quando lorde Harry decidira comprar a proprie dade e oferecer aos amigos uma festa de inauguração da casa. Não houve meios de cometer a indelicadeza de recusar. Admitiu, no entanto, que não gostaria de ter ido embora. O retorno a Londres significaria ter de assumir as responsa bilidades.

Não arquitetava nenhum plano para não se casar com Serena, muito pelo contrário. Uma vez resignado ao des tino de enfrentar um novo matrimônio, o caso não lhe parecia tão aterrador.

Ainda assim, hesitava em voltar. Se não houvesse saído da capital com a mais frívola das desculpas, já poderia ter resolvido o problema. E quanto mais esperava, mais aumen tava a vontade de adiar a decisão. Como haveria de explicar sua ausência?

Assim os dois dias se transformaram em festividades de uma semana e acabaram em comemorações que duraram três semanas, com direito a caçadas, corridas e muitas mu lheres de vida fácil que circulavam livremente pela casa.

Darien evitou a última parte. Embora estivesse se esqui vando de assumir seus deveres, pretendia permanecer fiel a Serena.

Foi então que Seiya resolvera aparecer em Kent. A ale gria de participar da festa informal foi tão expressiva que Darien sentiu-se compelido a ficar e oferecer a mão fraterna de guia para o rapaz. Isso levou mais duas semanas de seu tempo, o que de fato o alegrou, pois eliminava um pouco da culpa que o atormentava. Não poderia abandonar o irmão, com certeza, e se não cuidasse de Seiya, o pobre rapaz provavelmente acabaria com um surto violento de sífilis.

E, finalmente, Darien entendeu que não poderia mais pro telar o inevitável. Assim, voltou para Londres, sentindo-se um idiota. Serena devia estar furiosa e talvez nem o rece besse. E com certo tremor, subiu a escada da casa dos pais e entrou no saguão.

O mordomo materializou-se de imediato.

-# Huntley — Darien saudou-o. — A srta. Tsukino está em casa? E minha irmã?

-# Nenhuma das duas, milorde.

-# Ah. E quando vão voltar?

-# Não sei, milorde.

-# Voltarão esta tarde? Virão para o jantar?

-# Creio que demorarão algumas semanas, milorde.

-# O que está me dizendo? — Impossível imaginar uma coisa daquelas. — Droga! E para onde foram?

Huntley arrepiou-se com o tom grosseiro.

-# Para a Escócia, milorde.

O que estariam fazendo na Escócia? Serena tinha parentes em Edimburgo, mas ele não as ouvira comentar nada a respeito de planos para visitá-los.

Será que ela teria sido prometida para algum cavalheiro escocês, parente de seus avós? Se fosse esse o caso, ela teria lhe contado, com certeza, ou Hotaru, que era incapaz de guar dar um segredo.

-# Mamãe! — gritou no pé da escadaria e virou-se para Huntley. — Presumo que minha mãe também não tenha fugido para a Escócia!

-# Não, milorde, ela está em casa.

-# Mamãe!

Lady Rudland desceu a escada correndo.

-# O que houve, meu filho? Por onde tem andado? Não acredito que foi para Kent sem ao menos nos avisar!

-# Por que Hotaru e Serena foram para a Escócia?

Lady Rudland arqueou as sobrancelhas por causa do incomum interesse do filho pelas meninas.

-# Doença na família. Um parente de Serena ficou doente.

Era evidente que teria de ser relativo aos familiares de Serena, pois os Bevelstoke não tinham parentes escoceses.

-# Por que Hotaru a acompanhou?

-# Bem, como deve saber, elas são inseparáveis.

-# Quando voltarão?

-# Não posso lhe garantir a respeito de Serena, mas já escrevi para sua irmã, exigindo um retorno rápido.

-# Entendi — Darien resmungou.

-# Tenho certeza de que ela ficará encantada com a sua devoção fraterna.

Ele estreitou os olhos. Pensou ter notado uma ponta de sarcasmo nas palavras da mãe.

-# Agora preciso ir, mamãe. Nós nos veremos logo mais.

Dois dias mais tarde, Darien foi informado de que sua irmã havia voltado para Londres. Sem perda de tempo, saiu para encontrá-la. Detestava esperar e, mais do que isso, odiava sentir-se culpado.

O remorso o atormentava. Deixara Serena sem notícias por mais de seis semanas!

Hotaru estava no quarto quando ele chegou. Em vez de mandar chamá-la e aguardar na sala, subiu os degraus de dois em dois e bateu na porta dos aposentos da irmã.

-# Darien! — exclamou e levantou-se da cama. — Meu bom Deus, o que está fazendo aqui?

-# Francamente, eu morava aqui, lembra-se?

-# Sim, claro. — Ela sorriu e tornou a sentar-se. — A que devo o prazer da visita?

Darien abriu e fechou a boca, sem encontrar as palavras certas. Não poderia simplesmente afirmar que seduzira sua melhor amiga, dizer que desejava reparar o erro e ainda perguntar se era conveniente procurar Serena na casa dos avós, que estavam com problemas de saúde.

Ele tossiu e hesitou, sentindo-se um tolo.

-# E então, o que deseja? Quer perguntar alguma coisa, não é?

-# O que achou da Escócia? — foi só o que lhe ocorreu indagar.

-# Uma região encantadora. Já esteve lá?

-# Não. Como está Serena? Foi a vez de Hotaru engasgar.

-# Ela está bem e mandou lembranças.

Duvidando da afirmativa, procurou agir com a máxima cautela.

-# Ela está feliz?

-# Hum... sim, está.

-# Não se aborreceu por haver perdido o final da tempo rada?

-# De maneira nenhuma. Sabe muito bem que esse tipo de entretenimento não a agrada muito.

-# E verdade. — Darien virou-se para a janela e, impa ciente, tamborilou com os dedos em uma das pernas. — Ela pretende voltar logo?

-# Imagino que só dentro de alguns meses.

-# A avó está tão doente assim?

-# Está.

-# Devo mandar condolências.

-# Ninguém morreu ainda — ela comentou em voz baixa.

-# O médico disse que a doença pode durar algum tempo, talvez uns seis meses ou um pouco mais, mas ele acredita que a pobrezinha vai se recuperar.

-# Ah, sim. E qual é a doença?

-# Problemas de mulher — Hotaru explicou, petulante. Darien ergueu uma sobrancelha. Problemas femininos em uma mulher idosa eram algo no mínimo intrigante e muito suspeito. — Espero que não seja contagioso. Não gos taria de vê-la doente.

-# Oh, não se preocupe. A doença presente naquela casa não é transmissível. — Hotaru notou que a fisionomia som bria do irmão não se modificava. — Olhe para mim. Fiquei lá por mais de quinze dias e estou muito saudável.

-# Vejo que sim, mas devo confessar que estou preocupado com Serena.

-# Nem pense nisso. — Procurou manter naturalidade. — Ela está ótima.

Darien estreitou os olhos, estranhando o ligeiro rubor da irmã.

-# O que está escondendo de mim?

-# Eu... eu... não sei do que está falando — ela gaguejou. — E por que está me fazendo tantas perguntas a respeito de Serena?

-# Porque somos bons amigos — respondeu em voz baixa —, e aconselho-a a dizer a verdade.

Ela foi para o outro lado da cama quando o irmão se apro ximou.

-# Não sei do que está falando — Hotaru repetiu, assustada.

-# Serena se envolveu com algum homem? É isso? E é essa a razão pela qual resolveram inventar uma história fantástica sobre um parente enfermo?

-# Não inventei nada — protestou.

-# Diga-me a verdade!

Ela cerrou os lábios, teimosa.

-# Vamos! — Ele mostrava-se ameaçador.

-#O quê! — A voz dela estava num tom agudo. — Não gosto da maneira como está me olhando. Vou chamar a mamãe.

-# Mamãe tem metade do meu tamanho. Não será capaz de impedir que eu a esgane, pirralha!

-# Pare com isso! Deve estar ficando maluco! — exclamou Hotaru, arregalando os olhos.

-# Quem é ele?

-# Não sei! Vá embora daqui!

-# Então existe alguém.

-# Sim! Não! Agora não mais!

-# Mas que droga! O que está acontecendo? — Não havia como negar que o ciúme o corroía.

-# Nada!

-# Diga-me o que houve com Serena! — Ele deu a volta na cama e encurralou a irmã.

Um medo intenso e primitivo tomou conta da mente de Darien. Receava perder Serena e não podia nem sequer pensar que ela estivesse sofrendo. Jamais poderia imaginar que o bem-estar daquela menina pudesse preocupá-lo a pon to de apertar seu coração. Era pavoroso...

Inquieta, olhando para os lados, Hotaru pensava numa ma neira de escapar.

-# Serena está bem, eu juro.

Ele segurou-a pelos ombros e seus olhos cintilavam com fúria e pavor.

-#Vou dizer uma coisa — falou com uma calma exagerada que não deixava dúvidas sobre suas intenções. — Quando éramos crianças, nunca encostei um dedo em você, apesar de não terem faltado motivos — ameaçou, inclinando-se. — Mas não hesitarei em começar agora.

O lábio inferior de Hotaru começou a tremer.

-# Se não me disser agora em que tipo de encrenca Serena se meteu, vai se arrepender amargamente.

Uma gama de emoções diferentes cruzou o rosto de Hotaru, a maioria delas relacionadas com o pânico.

-# Darien — ela implorou. — Serena é minha melhor amiga. Não posso trair sua confiança.

-# O que aconteceu com ela? Diga de uma vez! — ele es bravejou e rilhou os dentes.

-# Acontece que...

-# Fale logo!

-# Não posso, eu... — Hotaru franziu a testa e empalideceu. — Oh, Deus Pai!

-# O que houve?

-# Não posso acreditar... — ela sussurrou. — A culpa é sua!

De repente os papéis se inverteram e Darien estranhou a mudança de expressão da irmã, que agora parecia mais furiosa do que nunca.

-# Como teve coragem de... — Hotaru gritou e esmurrou o peito largo com os punhos delicados. — Animal! Bruto! Des classificado! E ainda por cima teve coragem de abandoná-la!

Ele ficou imóvel diante da demonstração de fúria da irmã e procurou encadear as palavras para descobrir o motivo de tanto ódio.

-# Agora é a minha vez de indagar. Do que está falando?

-# Serena está grávida, entendeu? Grávida!

-# Oh, meu Deus! — Ele soltou-a e largou-se na cama em estado de choque.

-# Posso imaginar quem é o pai — Hotaru falou com asco e uma careta de horror. — Pelo amor de Deus, Darien. Ela sempre o considerou como um irmão!

-# Dificilmente eu afirmaria isso.

-# Um homem não deve jamais se aproveitar da juventude e da inexperiência de uma mulher. E inaceitável!

-# Não pretendo explicar os meus atos — ele respondeu com frieza. — Por que ela mesma não me contou?

-# Esqueceu-se de que você estava em Kent, divertindo-se com os seus amigos? Bebendo com rameiras e...

-# Eu não estava com mulheres. Não estive com nenhuma outra depois de Serena.

-# Perdoe-me, mas acho difícil de acreditar. Não imaginei que meu próprio irmão fosse um ser tão desprezível. Saia do meu quarto.

-# Grávida — ele repetiu, como se fosse para facilitar a aceitação. — Serena vai ter um bebê. Deus meu...

-# Agora é um pouco tarde para rezar — Hotaru afirmou, categórica. — Seu comportamento foi além do repreensível.

-# Eu não sabia que ela...

-# E isso faz alguma diferença? Darien não respondeu, nem poderia fazê-lo. Estava arrasado, consciente dos próprios erros. Apoiou a cabeça entre as mãos, na tentativa de frear os pensamentos que giravam e se chocavam com violência.

Deus do céu, como pudera ser tão egoísta? Adiara o con fronto com Serena por pura indolência. Imaginou que ela o estaria esperando quando ele resolvesse voltar. Afinal, não o havia esperado durante tantos anos? Ela não dissera que...

Darien recriminou-se com violência e blasfemou baixinho. Era um asno! Não havia outra explicação ou desculpa. Pre sumira um fato e por isso tinha se aproveitado e...

Nem em seus sonhos mais extravagantes pudera imagi nar que Serena se encontrava a quinhentos quilômetros ao norte, enfrentando uma gravidez inesperada que não tar daria a culminar num filho ilegítimo. E nem sequer mandara um bilhete...

-# Darien?

Escutou a irmã chamar seu nome, mas não conseguiu res ponder. Imóvel como um tolo, só pensava em Serena: sozi nha e provavelmente apavorada, quando deveria estar ca sada, morando na Nortúmbria com todo o conforto ao lado do marido.

Um filho...

Curioso pensar que atribuíra inconscientemente a Seiya o dever de levar adiante o nome da família. No entanto, viu-se ansioso por tocar o ventre abaulado de Serena e segurar a criança nos braços. Gostaria que fosse uma menina de olhos Azuis. O herdeiro poderia viria mais tarde. Com Serena em seu leito, a concepção não seria uma de suas preocupações.

-# O que pensa fazer a respeito? — Hotaru afastou-o dos devaneios.

Darien ergueu a cabeça, para deparar com a irmã encarando-o com as mãos nos quadris.

-# Qual é a sua opinião? O que acha que farei?

-# Não sei...

Pela primeira vez a voz de Hotaru mostrou indecisão, pois não o desafiava nem procurava vingança. Não estava con vencida de que ele pretendia agir corretamente e casar-se com Serena.

Darien nunca se sentira tão pouco valorizado como ho mem. Deu um suspiro estremecido, levantou-se e tossiu.

-# Poderia me fazer o favor de providenciar o endereço de Serena na Escócia?

-# Com o maior prazer. — Mais animada, ela foi até a mesa e escreveu algumas linhas num pedaço de papel. — Aqui está.

Darien apanhou o bilhete, dobrou-o e o guardou no bolso.

-# Obrigado. Acredito que não a verei por algum tempo.

-# Pelo menos durante sete meses — ela respondeu.

Darien percorreu a Inglaterra rumo a Edimburgo com surpreendente rapidez: quatro dias e meio. Chegou à capital da Escócia cansado e sujo, o que não pareceu incomodá-lo. Cada dia que Serena ficava sozinha era mais um em que poderia... Não imaginava o que ela faria e também não que ria descobrir.

Conferiu o endereço pela última vez antes de subir a es cada. Os avós de Serena moravam em uma casa nova de um bairro elegante de Edimburgo. Darien ouvira dizer que faziam parte da pequena nobreza e que possuíam proprie dades ao norte. Suspirou aliviado por eles terem resolvido passar o verão próximo à fronteira. Não teria sido nada agra dável continuar a viagem rumo às Terras Altas, pois estava exausto.

Bateu na porta com firmeza. Um mordomo atendeu e saudou-o com a arrogância habitual de quem trabalhava na re sidência de um duque.

-# Quero falar com a srta. Tsukino — Darien explicou em tom cortante.

O mordomo olhou com desdém para as roupas desalinha das daquele cavalheiro à sua frente.

-# Ela não está.

-# Verdade? — Darien deixou evidente não acreditar no sujeito.

Não ficaria admirado se Serena tivesse descrito sua aparência para todos e dado ordens para não permitir sua entrada.

-# O senhor terá de voltar mais tarde. No entanto, se desejar, poderei entregar uma mensagem...

-# Prefiro esperar. Com licença. — Passou por ele e entrou numa pequena sala que antecedia o salão.

-# Mas o que é isso, senhor?

Darien tirou um cartão de visitas do bolso e entregou-o ao empertigado criado. O mordomo leu o que estava escrito, olhou para Darien e de novo para o cartão. Certamente não esperava encontrar um visconde tão descomposto. Darien deu um sorriso torto. Às vezes um título era bem conveniente.

-# Se quiser esperar, milorde — o tratamento modificou-se de imediato —, pedirei a uma criada para servir um chá.

-# Faça isso, por favor.

O mordomo saiu e Darien examinou o ambiente. Os avós de Serena tinham bom gosto. Enquanto avaliava uma bela paisagem pintada numa tela, imaginou, pela quinquagésima vez desde que saíra de Londres, o que diria para Serena. Já era um bom sinal o mordomo não ter chamado um guarda para expulsá-lo assim que ficara sabendo seu nome.

O chá foi trazido dez minutos mais tarde e Serena não apareceu em seguida. Darien supôs que, afinal, o mordo mo não teria mentido sobre sua ausência. Não importava. Esperaria o tempo que fosse necessário e acabaria por ser atendido.

Serena era uma garota sensível e não ignorava o que o mundo reservava aos filhos ilegítimos frieza e sofrimento. Independente do volume de sua raiva, e não sem motivo, ela não haveria de condenar o filho a uma vida tão difícil.

A criança era sua também e merecia a proteção de seu nome, assim como a mãe. Na verdade, não lhe agradava a idéia de ela ficar sozinha na Escócia, mesmo se os avós hou vessem concordado em cuidar da neta durante a gestação.

Darien ficou sentado por meia hora tomando chá e comen do bolinhos. Fora uma longa viagem desde Londres e ele não se detivera muito para fazer refeições.

-# MacDownes!

Era a voz de Serena. Darien levantou-se com um bolinho mordido nas mãos. Escutou passos no saguão, provavelmen te do mordomo.

-# Poderia ajudar-me com os embrulhos? Sei que deveria tê-los mandado entregar em casa, mas eu estava muito im paciente.

Darien percebeu o ruído dos pacotes que trocavam de mãos, seguido pela voz do mordomo.

-# Srta. Tsukino, tenho o dever de informá-la que há um visitante à sua espera na sala menor.

-# Que estranho. Ah, deve ser um dos MacLean. Sempre nos encontrávamos quando eu vinha para a Escócia e eles devem ter ouvido falar que eu estava na cidade.

-# Não creio que a origem dele seja escocesa.

-# Mas então quem...

Darien quase sorriu ao ouvir a voz chocada e imaginou Serena de queixo caído.

-# Srta. Tsukino, perdoe-me, mas ele foi muito insistente — MacDownes explicou. — Eis o cartão.

Depois de um longo silêncio, veio a resposta:

-# Por favor, diga-lhe que não poderei recebê-lo. Serena terminou a frase com voz trêmula e Darien es cutou-a subir a escada.

Ele foi até o saguão e colidiu com MacDownes que, na certa, saboreava a idéia de expulsá-lo.

-# A srta. Tsukino não deseja vê-lo, milorde — explicou o mordomo com um leve sorriso de sarcasmo.

Darien empurrou-o.

-# Pois ela me receberá.

-# Não creio, milorde. — MacDownes segurou-o pelo ca saco.

-# Olhe aqui, meu camarada — Darien empregou o tom mais gélido possível. — Não hesitarei em atingi-lo.

-# Muito menos eu, milorde.

-# Saia do meu caminho! — Darien fitou o homem mais velho com desdém.

MacDownes cruzou os braços e manteve-se diante dele, sem largar seu casaco. Darien fechou a carranca, tirou o casaco e foi até a escada.

-# Serena! — gritou. — Desça agora! Imediatamente! Temos várias coisas para dis...

MacDownes atingiu-o com um soco no queixo. Espantado, Darien esfregou o ponto ferido.

-# Ficou maluco?

-# De maneira nenhuma, milorde. Tenho muito orgulho de cumprir com as minhas obrigações.

MacDownes assumira uma posição de luta com a facilidade de um profissional. Era bem o estilo de Serena con tratar um pugilista como criado.

-# Escute aqui. — Agora tentava em tom conciliador. — Preciso falar com a srta. Tsukino imediatamente. O assunto é da maior importância. A honra de uma dama está em jogo.

E foi atingido por mais uma pancada.

-# Isto, milorde, foi por insinuar que a srta. Tsukino não é honrada.

Darien estreitou os olhos, ameaçador, mas decidiu que não teria como vencer o mordomo maluco, ainda mais depois de ter recebido dois socos.

-# Diga à srta. Tsukino que vou voltar — ele avisou, mordaz. — E que será melhor ela me receber.

Darien saiu pisando duro e, furioso, desceu a escada da frente.

Inconformado por Serena se recusar a recebê-lo, virou-se e olhou a casa. Ela se encontrava a uma das janelas supe riores, cobrindo a boca com os dedos. Darien franziu o cenho e percebeu que ainda estava segurando o pedaço de bolo.

Não teve dúvida. Atirou a iguaria na direção da janela, acertou o peito de Serena e não pôde evitar a satisfação do fato.

24 de agosto de 1819,

Oh, Deus!

Claro que eu não mandei a carta. Levei um dia in teiro para redigi-la e, quando decidi postá-la, tornou-se desnecessário. Eu não sabia se chorava ou se ria.

Darien está aqui. Ele deve ter arrancado a verdade de Hotaru. De outra forma, ela jamais teria me traído. Pobre Hotaru. Darien, quando está furioso, é capaz de aterrorizar qualquer um.

E, pelo jeito, ele continua enfurecido. Atirou em mim um bolinho mordido! Inacreditável!

Duas horas depois, Darien voltou à casa dos avós de Serena. Dessa vez ela o aguardava, surpreendendo-o ao abrir a porta antes mesmo de ele bater. Estarrecido, ele ficou ali parado, com o braço erguido e o punho fechado, pronto para bater.

-# O que está esperando? — Serena estava irritada. — Entre!

Ele arqueou as sobrancelhas.

-# Esperava por mim?

-# E evidente, não é?

Sabendo que não poderia adiar mais o assunto, precedeu Darien com altivez até a sala de estar.

-# O que deseja? — perguntou, assim que entraram na sala.

-# Uma saudação um pouco mais amena. Com quem aprendeu boas maneiras? Com Átila e os hunos?

Serena cerrou os dentes antes de repetir a pergunta:

-# O que deseja?

-# Pedi-la em casamento, é óbvio.

Esperava por aquela frase desde a primeira vez em que o vira. E nunca se orgulhou tanto de si mesma pela resposta que daria a seguir:

-# Agradeço, mas não posso aceitar.

-# O quê?

-# Não aceito, mas sou grata de qualquer forma — retru cou, atrevida. — Se veio até aqui por isso, peço que se retire.

Darien segurou-a pelo pulso no momento em que a viu se encaminhar para a porta.

-# Não tão depressa.

Ela estava convencida de agir corretamente. Tinha brios, e mais nenhum motivo para precisar se casar. Não deveria aceitar, independentemente de quanto seu coração padeces se. Não poderia desistir de seus objetivos, mesmo porque não era amada pelo pai de seu filho. Se tivesse ao menos um mínimo de consideração, não teria se ausentado por um mês e meio sem dar notícias.

Outrora talvez fosse um cavalheiro. Atualmente não se Comportava como tal.

-# Serena — ele disse com voz macia. Ela inspirou fundo, percebendo a tentativa de sedução para obter seu consentimento.

-# Admiro-o por ter vindo cumprir com a sua obrigação. Porém, recusei e não há por que se sentir culpado. Pode voltar para a Inglaterra com a consciência limpa. Até mais ver.

-# Não estou de acordo. — Ele apertou-lhe o pulso com mais vigor. — Nós dois temos muito para conversar.

-# Engano seu. De qualquer modo, agradeço a sua preocupação. — Com o braço formigando pelo aperto, ela estava ciente de que teria de livrar-se daquela presença tão perturbadora o quanto antes, ou acabaria por ceder ao apelo sensual.

-# Discordo completamente das suas palavras. — Darien fechou a porta com a ponta do pé.

Serena puxou o braço e tentou abri-la, mas ele bloqueou o caminho.

-# Esta é a casa dos meus avós e não pretendo envergonhá-los com um comportamento inadequado.

-# Creio que está mais preocupada que eles acabarem escutando o que tenho para dizer — Darien acusou-a, com expressão implacável.

-# Está bem. Fale o que quiser.

Como se baixasse a guarda por um momento, ele traçou pequenos círculos na palma da mão dela.

-# Estive pensando muito a seu respeito.

-# E mesmo? É muito lisonjeiro da sua parte.

-# Por acaso tem pensado em mim? — ele perguntou, ignorando a mordacidade, aproximou-se.

Oh, Deus, se ele soubesse...

-# Ocasionalmente.

-# Só isso? — Darien acariciou o braço de Serena. — Tem certeza?

-# Quase nunca, na verdade — ela mentiu sem segurança.

-# Será? — ele indagou, fitando-a com incredulidade. — Acho que a comida escocesa não fez bem para seu cérebro. Tem comido haggis, aquela coisa horrível?

Ele se referia a um prato feito com miúdos de carneiro ou bezerro.

Serena teve a impressão de estar inebriada, como se tivesse bebido. Era a presença daquele homem!

-# Não é tão ruim.

A última coisa que queria era ser observada tão intensa mente com aquele olhar, que lembrava safiras cintilantes, ou o céu sob a luz do luar. Receava que a sua determinação caísse por terra. Conhecendo-a bem, Darien percebeu e sor riu, tolerante.

-# Minha querida, talvez sua memória esteja enfraque cendo e precisando de um incentivo.

Ele baixou a cabeça devagar e beijou-a nos lábios com suavidade. Serena sentiu imediatamente centelhas espa lharem-se pelo corpo e fraquejou. Ele a abraçou com força, fazendo-a sentir sua masculinidade enrijecida.

-# Pode sentir o que faz comigo? — sussurrou.

Trêmula, ela anuiu, esquecida de que estavam na casa de seus avós.

-# Ninguém mais consegue isso com tanta rapidez, minha querida. Somente você.

O comentário atingiu-a como uma flecha afiada. Ele não passara mais de um mês em Kent na companhia de lorde Harry Não-sei-do-quê? E Hotaru não garantira que as festas incluíam vinho, uísque e um grande número de mulheres levianas?

-# O que aconteceu?

Com as pernas bambas, Serena sentia na pele aquela respiração quente atingindo-a como uma carícia. A diferença é que estava preparada e não se deixaria seduzir de novo, por isso empurrou-o, antes que mudasse de idéia.

-# Não tente fazer isso comigo.

-# Fazer o quê? — indagou com uma máscara de inocência. Ela teve vontade de atirar uma jarra na cabeça dele em resposta, ou melhor, uma travessa cheia de biscoitos embolorados.

-# Fazer com que eu me curve à sua vontade.

-# E por que não?

-# Ora essa, deveria saber muito bem! — Furiosa e hu milhada, ela não se conformava com aquela falsa ingenui dade.

-# Serena, por favor!

-# Não lhe devo nada. Portanto não me peça favores!

-# Suponho que esteja com raiva de mim.

-# Mas como é inteligente, Darien! — Serena estreitou os olhos.

-# Bem, quero que saiba que estou arrependido. — A sinceridade foi usada em vez do sarcasmo. — Eu não pretendia ficar tanto tempo em Kent. Nem sei por que fiz isso e lamento profundamente. A idéia inicial foi permanecer lá apenas dois dias.

-# Que se transformaram em quase dois meses! Descul pe-me, mas acho difícil acreditar.

-# Não me ausentei por todo esse tempo. Quando voltei a Londres, minha mãe explicou a sua ausência, alegando doen ça na família. E somente com a volta de Hotaru eu soube da verdade.

-# Não me importo por quanto tempo se demorou nem onde esteve! — Serena gritou e cruzou os braços. — O fato é que não deveria ter-me abandonado. Entendo que precisa va de um tempo para pensar, pois sei que não desejava se casar comigo. Mas sete semanas, Darien? Não se pode tratar uma mulher com tanta falta de consideração. É inconcebível e revelou uma grande grosseria, além de ausência total de cavalheirismo.

Darien esforçou-se para não sorrir diante da amenidade das acusações. Seria mais fácil do que imaginara.

-# Tem razão — falou em voz baixa.

-# Além disso... O quê? — Ela piscou com espanto pela admissão de Darien.

-# Sei que está certa.

-# Estou?

-# Isso não lhe agrada?

-# Pare de tentar me confundir.

-# Não foi essa a minha intenção. Caso não tenha notado, estou concordando com as suas acusações. — Darien empe nhou-se num sorriso cativante. — Meu pedido de desculpas foi aceito?

Serena suspirou. Deveria ser proibido um homem pos suir encanto tão poderoso.

-# Está bem, eu o perdôo. Mas o que esteve fazendo em Kent?

-# Bebendo, na maior parte do tempo.

-# Só isso?

-# Também caçamos um pouco.

-# E o que mais?

-# Tive de me empenhar para manter Seiya, que che gou de Oxford, afastado de confusões. Isso me reteve por mais uma quinzena.

-# E?

-# Já sei! Quer saber se havia muitas mulheres lá.

-# Talvez...

-# Havia. Esforçando-se ao máximo, ela procurou engolir o ciúme, saindo da frente de Darien.

-# Acho que está na sua hora de retirar-se. Ele segurou-a pelo braço e forçou-a a encará-lo de novo.

-# Saiba que não encostei um dedo em nenhuma delas. A intensidade daquela voz sensual foi suficiente para dei xá-la com vontade de chorar.

-# Por quê?

-# Eu sabia que iríamos nos casar, e estar com outra me soaria como traição. Eu não a submeteria a tal agravo.

-# Não? — ela murmurou.

-# Eu me incomodo com os seus sentimentos e os prezo sinceramente, além de devotar grande consideração por Você.

Serena foi até a janela. Era um começo de noite claro. O sol ainda estava alto no céu e as pessoas se entregavam alegremente a seus afazeres, como se não tivessem proble mas. Ah, como gostaria de ser uma delas. Tinha vontade de sair à rua, afastar-se dos problemas e nunca mais voltar.

Darien queria desposá-la, evitara as tentações e perma necera fiel. Deveria estar radiante de alegria, mas era im possível afastar a idéia de que tal comportamento era apenas o cumprimento de um dever. Não havia afeição nem amor envolvidos, exceto um desejo evidente.

Uma lágrima deslizou pela face delicada. Aquilo bastaria se não o amasse tanto. Mas a disparidade de sentimentos acabaria por matá-la aos poucos até transformá-la em uma concha triste e vazia.

-# Não posso deixar de lhe agradecer por haver feito uma viagem tão longa para me ver. Também foi muito... — ela procurou a palavra adequada — ...honrado de sua parte afas tar-se das mulheres de Kent. Tenho certeza de que eram muito bonitas.

-# Elas não tinham nem a metade da sua beleza — afir mou, convicto.

Serena engoliu em seco. A cada segundo, tudo ficava mais difícil. Agarrou-se no peitoril da janela, como se pro curasse força para não esvair-se em lágrimas.

-# Não posso aceitar o seu pedido de casamento. Fez-se um silêncio mortal. Ela não se virou e, mesmo sem ver aquele rosto de traços fortes, sentiu a raiva com que era encarada.

Por favor, saia desta casa e nunca mais volte, pediu men talmente. Por tudo o que for mais sagrado, nem pense em me tocar!

No entanto suas preces não foram atendidas e Darien segurou-a pelos ombros com violência, virando-a de frente para ele em um supetão.

-# O que foi que disse?

-# Que não posso aceitar o seu pedido de casamento — ela repetiu, trêmula, sentindo a pele queimar com o toque daquelas mãos grandes e quentes.

-# Olhe para mim! Não diga absurdos. Terá de se casar comigo, sim!

Ela negou com um gesto de cabeça.

-# Sua tolinha. Será que esqueceu disto? — Ele puxou-a e a beijou sem muita delicadeza.

-# Não.

-# E quando disse que me amava? Serena teve vontade de sumir.

-# Também não.

-# Então, certamente, os dois fatos contam para alguma coisa, não acha?

-# E por acaso eu o ouvi dizer alguma vez que me amava? Ou será que ainda não se deteve para uma reflexão sincera? — ela contra-atacou. — Responda!

Ele sentiu-se engasgado. Era impossível verbalizar o que Serena desejava ouvir.

-# Entendi — ela disse num fio de voz.

Na verdade, Turner não tinha certeza se a amava ou não, Contudo admitia que não queria fazê-la sofrer. Então, por que não pronunciar as três palavras que a fariam feliz?

-# Serena... eu...

-# Não abra a boca para dizer o que não sente!

Ele virou-se e foi até um aparador onde vira uma garrafa de conhaque e outra de uísque. Sem pedir permissão, serviu-se do uísque e tomou um grande gole, que desceu quei mando, e não se sentiu melhor por isso.

-# Serena — recomeçou, procurando parecer coerente.

-# Não sou um homem perfeito.

-# Mas tinha a obrigação de ser! — ela vociferou. — Quan do eu era menina, achava-o maravilhoso e sem defeitos. Simplesmente por Darien Endimion ser quem era. E as suas atenções e atitudes faziam com que eu me sentisse menos desajeitada. Então houve uma mudança radical em sua mente e pensei que pudesse fazê-lo voltar a ser o mesmo de antes. Tentei, mas não consegui.

-# Não é por sua causa...

-# Não procure desculpas! Não sou a mulher escolhida por livre e espontânea vontade, e por isso eu o odeio! Escutou bem? Eu o odeio!

Abalada, deu-lhe as costas e abraçou-se, tentando contro lar o tremor do corpo.

-# Sei que não está dizendo a verdade — ele procurou acalmá-la.

-# Não. Mas odeio Rey. Se ela não tivesse morrido, eu mesma a mataria...

Darien entortou o canto da boca num arremedo de sorriso.

-# ...torturando-a lentamente.

-# Mas que temperamento maligno — afirmou, como se a elogiasse.

Serena procurou sorrir, porém os lábios não obedeceram. O silêncio se prolongou até ele falar de novo.

-# Tentarei fazê-la feliz, embora não possa corresponder ao seu ideal.

-# Eu sei. Achei que poderia ser diferente, mas eu estava errada.

-# Assim mesmo entendo que faremos um bom casamento. Bem melhor que a maioria.

Na certa isso significava que eles trocariam algumas pa lavras pelo menos uma vez ao dia. Seria uma vida boa, porém totalmente vazia. Um casamento não se mantinha com uma paixão platônica e unilateral. Por isso continuou meneando a cabeça negativamente.

-# Mas que droga! Nós nos casaremos de qualquer ma neira! — vociferou, irritado diante de tamanha impassibilidade. — Por Deus do céu, um filho meu está crescendo no seu ventre!

Então era esse o motivo por que Darien viajara para tão longe e com aquele propósito em mente! Agora sim, as coisas estavam bem claras.

Por mais que Serena apreciasse o senso de honra, em bora atrasado, não havia como contornar o fato de que tinha perdido o bebê. Tivera uma hemorragia, e logo depois o ape tite havia voltado, e os enjôos, cessado.

Sua mãe, certa vez, contara que tinha sido exatamente assim com ela, duas vezes antes e duas depois do nascimento de Serena. Talvez lady Tsukino não devesse ter relatado essas coisas a uma filha tão nova, mas ela o fizera por estar morrendo e desejar passar para Serena o maior número de informações possível. Dissera para não lamentar se o mesmo acontecesse com ela e que bebês que não vingavam poderiam ter má-formação. Serena passou a língua nos lábios e engoliu em seco:

-# Não estou grávida.

-#Não acredito no que está me dizendo — Darien retrucou depois de hesitar. — Como assim? — Hotaru me contou tudo.

-# Eu estava grávida quando sua irmã veio comigo paracá.

-# Como saber que não está apenas querendo se ver livre demim?

-# Porque não sou tonta. Acha que eu me recusaria a casar se estivesse esperando um bebê?

Darien pensou um pouco e cruzou os braços.

-# De qualquer forma, eu a comprometi e terá de casar-se comigo.

-# Não!

-# Ah, vai, sim! — Ele a fitou com certa rudeza, fazendo-a recuar. — Mesmo sendo contra a sua vontade.

-# Não vejo como poderá me forçar a isso.

-# E eu não sei como poderá me impedir.

-# Chamarei MacDownes.

-# Não acho que terá coragem de fazê-lo.

-# Pois eu juro que o farei. — Serena abriu a boca e fitou-o de esguelha.

-# Pode chamar. — Ele deu de ombros. — Desta vez ele não me pegará desprevenido.

-# Mac...

Inesperadamente, ele tapou-lhe a boca.

-# Tolinha. Além do fato desagradável de um mordomo velho e lutador interromper a minha privacidade, ainda será preciso considerar uma evidência. Chamá-lo aqui apenas apressará o nosso casamento. Não gostaria de ser surpreen dida numa posição constrangedora, não é?

Serena resmungou qualquer coisa inaudível e o socou no abdômen até ele a soltar. Porém não apelou para MacDownes. Detestava admitir, mas Turner estava certo.

-# Por que não me deixou gritar? — ela o provocou. — Não deseja me desposar?

-# Sim, mas achei que preferisse resolver o caso com um pouco de dignidade.

Serena cruzou os braços, sem resposta imediata.

-# Agora quero que escute com atenção — Darien falou em voz baixa e ergueu-lhe o queixo para que se fitassem nos olhos. — Vou falar apenas uma vez. Por causa da sua fuga precipitada e conveniente para a Escócia, não precisaremos de licença especial. Considere-se com sorte por eu não a ar rastar para uma igreja neste instante. Vista-se e arrume-se com flores, minha querida, pois logo mais terá um novo nome. Serena fuzilou-o com o olhar, incapaz de encontrar pa lavras para expressar tanto ódio.

-# E nem pense em fugir novamente. Fique sabendo que aluguei uma casa vizinha e contratei um serviço de vigilância em tempo integral para a residência de seus avós. Não con seguirá chegar até o final da rua sem o meu conhecimento.

-# Acho que ficou maluco! Darien deu uma risada.

-# Pense como quiser. Posso trazer dez pessoas aqui, explicar que a deflorei, que pedi para se casar comigo e que fui recusado. Eles pensarão que estou louco? Certamente não, querida. Agora pare de ser teimosa e veja a situação sob outro ângulo. Nós daremos muito prazer um ao outro e teremos outros filhos. Prometo jamais levantar a mão para você, nem proibi-la de fazer nada, exceto os absurdos. E finalmente acabará sendo irmã de Hotaru. O que mais poderia desejar, minha querida?

Amor, seria pedir muito? Mas ela foi incapaz de pronunciar a palavra.

-#Pense bem, Serena, sua situação poderia ser bem pior.

Ela continuou em silêncio.

-# Muitas mulheres adorariam estar em seu lugar.

Ela refletiu na possibilidade de apagar a presunção daquele rosto de linhas mais marcantes pela determinação.

-# Prometo também que serei muito atencioso no que se refere às suas necessidades. — Ele se insinuou para a frente, assumindo um ar malicioso.

Serena apertou as mãos nas costas para evitar que tremessem de frustração e raiva.

-# Ainda vai me agradecer algum dia.

Ela deu um grito e começou a esmurrá-lo com as duas mãos em punhos.

-# O que houve agora? — perguntou, tentando se esquivar dos socos.

-# Nunca mais diga que ainda vou lhe agradecer! Enten deu? Jamais!

-# Pare com isso! Ficou louca?

Darien ergueu as mãos para proteger o rosto. A própria postura covarde não lhe agradou, mas achou melhor deixá-la extravasar a raiva. Nada poderia fazer a não ser defender-se.

-# E nunca mais use tons benevolentes comigo! — esmur rou-lhe o peito.

-# Acalme-se, querida. Prometo que não farei isso.

-# Está fazendo agora!

-# De maneira nenhuma.

-# Está, sim.

-# Não, não estou.

Aquilo estava ficando tedioso.

-# Serena, estamos agindo como crianças.

Ela empertigou-se e fitou-o com certa selvageria, desti nada a amedrontá-lo.

-# Não me importo.

-# Bem, talvez se resolvesse agir como uma pessoa adulta, eu mudaria de tom.

-# Quer saber de uma coisa? — Estreitando os olhos, res mungou com voz rouca: — Algumas vezes tenho a impressão de estar falando com um idiota.

E, inesperadamente, atingiu-o com o punho fechado. Darien gritou uma imprecação e, sem acreditar no que acontecia, levou a mão ao olho machucado.

-# Quem lhe ensinou a dar socos?

-# MacDownes — respondeu sorrindo.

24 de agosto de 1819, quase dia 25,

MacDownes informou aos meus avós sobre a visita que recebi hoje, e eles logo desconfiaram de quem se tratava. Não pude mentir para eles. Jamais o faria. Disse a verdade, que Darien viera para se casar comigo. Eles reagiram com grande alegria e muito alívio até eu contar sobre a minha recusa. Vovô desandou em mais uma ladainha, dessa vez contra mim e minha falta de juízo. Ou, pelo menos, foi o que me pareceu.

Assim eu me vi com os três alinhados contra mim. Receio estar enfrentando uma batalha perdida.


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