História de Um Grande Amor escrita por Acyd-chan


Capítulo 8
Capítulo 8




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Darien perdeu-se nos próprios pensamentos. Ah, como desejava tocar aquele corpo escultural! Em qualquer lu gar e em todos ao mesmo tempo. Somente depois de seco e aquecido lembrou-se de que Serena devia estar congelando no outro cômodo.

Amaldiçoou-se várias vezes e foi até a porta. Ao abri-la, desfiou mais um rosário de imprecações. Serena estava encolhida no chão, tremendo sem parar.

-# Sua tolinha, está tentando se matar?

Ela fitou-o com olhos arregalado e Darien lembrou-se da precariedade do próprio traje.

-# Não se importe comigo — murmurou e levantou-a. Serena saiu de seu deslumbramento e tentou soltar-se.

-# O que está fazendo?

-# Tentando pôr um pouco de juízo na sua cabeça.

-# Estou muito bem — ela mentiu, sem parar de tremer.

-# Percebe-se — provocou-a. — Venha se aquecer.

Ela fitou as chamas convidativas que estalavam no outro quarto.

-# Mas então fique aqui.

-# Está certo.

Darien faria tudo para mantê-la aquecida. E com um em purrão não muito gentil, mandou-a na direção certa.

Aproximando-se do fogo, Serena estendeu as mãos para a frente e soltou um suspiro de satisfação, que o atingiu do outro lado como um soco no estômago.

Ele adiantou-se, hipnotizado pela pele clara da nuca des nuda. Ao virar-se para aquecer as costas, Serena assus tou-se ao vê-lo tão próximo.

-# O senhor disse que ficaria no outro quarto.

-# Eu menti — respondeu, dando de ombros. — Não acre ditei que fosse capaz de se secar corretamente.

-# Não sou criança.

O vestido branco colado no corpo ressaltava o rosa-escuro dos mamilos, mantendo Darien praticamente hipnotizado pelas curvas insinuantes.

-# Bem sei que não é, certamente.

Sentindo o olhar queimar sua pele, Serena cobriu os seios com as mãos.

-# Vire-se, se não quer que eu a veja.

Ela obedeceu, espantada pela audácia com que estava sen do tratada.

As costas dela eram tão encantadoras como a frente. Al guns fios úmidos de cabelos encaracolavam-se na pele alva da nuca. O perfume feminino que tomava conta do quarto era de rosas molhadas, e Darien precisou de toda a força de vontade para não lhe acariciar os braços, os quadris, ou a perna...

Ele gemeu.

-# O que houve? — Serena perguntou, nervosa, sem se voltar.

-# Nada? Está com menos frio?

-# Ah, sim. — Ela estremeceu.

Dando um passo à frente, ele começou a desatar o vestido, o que a fez soltar um grito estrangulado.

-# Impossível aquecer-se com esta coisa gelada envolvendo-a. — Ele começou a puxar o tecido para baixo.

-# Não sei... acho que...

-# Sim?

-# Essa é uma péssima idéia.

-# Provavelmente. — A roupa molhada amontoou-se no chão e o corpo delicado ficou coberto apenas com o camisão, que dava a aparência de uma segunda pele.

-# Oh, Deus!

Mesmo que tentasse se cobrir, não saberia por onde co meçar. Foi então que cruzou os braços na altura dos seios e depois cobriu o monte de Vênus. E ao entender que não es tava de frente para Darien, levou rapidamente as mãos às nádegas.

-# Por favor, retire-se — ordenou num fio de voz.

Ele estava ciente de que devia obedecer, mas foi incapaz de recuar um passo. Não podia tirar os olhos do traseiro arredondado, mal coberto pelas mãos delgadas e ainda trê mulas de frio.

Darien pensou numa imprecação por tê-la despido e agora mal conseguir se controlar.

-# Chegue mais perto do fogo!

-# Mais perto só se for para cair dentro dele! Vá embora! Ele recuou. Gostava ainda mais de Serena quando ela se enfezava.

-# Fora!

Foi até a porta e fechou-a, deixando-a ali imóvel por al guns instantes, até que deixou a manta deslizar até o chão, ajoelhando-se diante do fogo.

Darien sentiu o coração bater muito forte e receou que ela pudesse ouvir.

Ela suspirou e estirou-se, deixando-o ainda mais rígido, um feito que não imaginava possível.

Serena levantou as trancas da nuca e fez movimentos circulares com a cabeça. Dessa fez os gemidos angustiados se fizeram ouvir.

-# Patife! — gritou e esqueceu de cobrir-se.

-# Acha mesmo?

-# Desonesto, sem-vergonha, tratante!

-# Estou me sentindo culpado.

-# Um cavalheiro teria se retirado imediatamente.

-# Mas eu a escutei dizer que me amava. — Darien não entendeu por que usava aquilo em seu favor.

-# E uma barbaridade levantar a questão.

-# Por quê?

Serena fitou-o com espanto.

-# Por que eu te amo? Não sei. O senhor certamente não merece isso.

-# Não mesmo — ele concordou.

-# Isso também não importa, pois já não amo mais. — Ela diria qualquer coisa para preservar um pouco do orgulho ferido. — Admito que teve razão ao afirmar que tudo não passou de uma paixonite de criança.

-

# Não foi, não. E pelo que a conheço, sei que não deixaria de amar alguém tão depressa.

Serena arregalou os olhos. Seria possível que ele nutris se algum sentimento parecido?

-# Darien, o que está querendo dizer com isso?

-# Que eu a desejo. — As palavras mal foram audíveis, como se ele receasse pronunciá-las.

-# Não é verdade. — Ela ia ficando cada vez mais nervosa. — Eu o ouvi negar isso também.

Darien deu um passo adiante, certo de que desceria para o inferno pelo que estava pretendendo, mas antes passaria pelo paraíso.

-# Eu desejo você — repetiu.

Darien entendeu que o calor, a intensidade e o poder de suas emoções eram maiores do que poderia suportar. E iam além da pura ânsia física. Não havia explicação razoável, era tudo emocional. Mas os sentimentos estavam presentes e não podiam ser negados.

Devagar, ele foi estreitando a distância que os separava. Serena continuava ao lado do fogo, paralisada, com os lá bios entreabertos, a respiração entrecortada.

-# O que pretende fazer? — perguntou, sentindo uma mis tura de receio com expectativa.

-# A esta altura, deveria estar óbvio. — E, inesperada mente, chegou mais perto e levantou-a no colo.

Serena não lutou contra aquela presença máscula, nem contra a embriagadora quentura do corpo forte. Teve a im pressão de que seus ossos amoleciam e que se transformava numa devassa.

-# Ah, Darien! — suspirou.

Ele beijou-lhe o queixo e deitou-a na cama com uma gen tileza que beirava a reverência.

No último momento, antes de ser coberta pelo corpo musculoso, Serena fitou-o e teve certeza de que o amaria para sempre. Seus sonhos constantes e todos os pensamentos que permearam sua mente durante tantos anos estavam fadados a se realizar. Ele ainda não pronunciara as palavras que a fariam exultar, mas isso já não era mais tão importante. Pelo brilho intenso dos olhos azuis, ela supôs a hipótese de uma nesga de afeição ou de amor. O que foi suficiente para tornar aquele momento possível, correto e perfeito.

Ela afundou no colchão sob o peso dele e acariciou os ca belos fartos.

-# São tão macios. É um desperdício.

Darien ergueu a cabeça e fitou-a sem entender.

-# Por que diz isso?

-# Mulheres seriam capazes de matar para ter uma ca beleira tão sedosa e cílios longos como os seus.

-# Quem seria capaz de tal barbárie? — perguntou, rindo.

-# Eu, por exemplo, pelas suas pestanas.

-# Mas elas não combinariam com os seus cabelos escuros. Serena deu-lhe uma pancadinha no ombro.

-# Eu gostaria de senti-las acariciando meu rosto, não coladas nas minhas pálpebras, seu tolo.

-# Está fazendo pouco de mim?

-# Nem pensar.

Então, ele deslizou a mão pela pele sedosa das coxas bem torneadas, deixando uma trilha de doces arrepios.

-# Gostou, não é? — perguntou, segurando um seio com a mão em concha.

Ela deu um suspiro irregular e procurou não se concentrar na ponta do indicador que circulava os contornos do busto coberto com a camisa fina.

-# Cintilante.

-# E mesmo? — surpreendeu-se.

A resposta veio com um gesto de cabeça; estava sem pa lavras, envolvida pelo calor sólido e másculo daquele homem. Pensou que estivesse flutuando no espaço e desejava levá-lo consigo.

Darien mordiscou o lóbulo da orelha e beijou-lhe o ombro, para depois puxar a alça da camisola com a ponta dos dentes.

-# O que está sentindo agora?

-# Calor. — Era a única palavra que poderia descrever aquela louca sensação.

-# Ótimo. Gosto de saber disso. — Darien segurou um seio por dentro do tecido de seda.

Serena arqueou as costas, levantando ainda mais o bus to de maneira inconsciente.

Darien levantou a barra da camisola e acariciou os qua dris arredondados.

-# Serena, quero pedir uma coisa.

-# O que é?

-# Tire essa camisola de uma vez.

-# Não posso...

-# Ela é linda e macia, mas se não a tirar agora, serei obrigado a fazê-la em tiras. — Darien pressionou-se de en contro àquele corpo escultural, lembrando-a da intensidade de seu desejo.

-# Não posso fazê-lo, mas não impedirei que a tire.

-# Não era a resposta que eu esperava, mas assim mesmo a endosso.

Darien ajoelhou-se e puxou a camisola pela cabeça. Ela sentiu o ar frio na pele nua, mas não pensou em cobrir-se. Parecia perfeitamente natural exibir-se e ser tocada. Era excitante notar o olhar escurecido que a avaliava com an siedade.

Serena queria entregar-se por completo, sem medir con seqüências, e perder-se naquele estado de torpor. Seria o êxtase total se ele se rendesse em igual medida. Para in centivá-lo, delineou os músculos do peito com movimentos suaves das mãos, detendo-se nos mamilos. Ficou satisfeita, ao notar que cada movimento provocava pequenas contra ções de prazer.

Em seguida, procurou imitá-lo e tomou a ponta da aréola entre o polegar e o indicador. Sorriu, deliciada, ao perceber o endurecimento. Feliz com a descoberta, passou a dedilhar o outro lado. Darien entendeu que perderia o controle sob os dedos curiosos e imobilizou-lhe a mão. Fitou-a por alguns instantes com um semblante que não escondia as intenções. Foi preciso lutar para não desviar os olhos, pois a intensidade chegava a incomodar. Não queria demonstrar receio ou ver gonha, mas queria provar que fora sincera quando abrira o coração, afirmando o quanto o amava.

-# Toque em mim, Darien.

Ele continuou imóvel, segurando a mão delicada de en contro ao peito, confundindo-a com uma expressão estranha, indecisa e quase receosa.

-# Não quero machucá-la.

-# Não se preocupe, sei que não fará isso — respondeu ela, sem pensar.

-# Eu...

-# Por favor.

O pedido urgente e arrebatado rompeu todas as possíveis reservas. Ele gemeu e beijou-a, movido pelo desejo, antes de comprimir-se contra os seios macios.

As vozes se mesclavam ao clamar um pelo outro. Aquelas mãos fortes percorrendo-a por inteiro avivavam ainda mais a chama interior de Serena, que ansiava por senti-lo então que ela agarrou o kilt improvisado para livrar-se da última barreira entre ambos. Sentiu a fricção da manta que arrancava e então experimentou uma emoção maravilhosa de sentir o tamanho do desejo intumescido de encontro aoseu ventre. Darien silenciou-a com um beijo longo e apaixonado, para em seguida deslizar com a boca pelo pescoço, seguindo em círculos com a ponta da língua pelos seios e rapidamente chegando ávido no ventre para lamber a doce intimidade. Ao segurá-la pelas nádegas, surpreendeu-se com a desenvol tura com a qual ela se abriu para recebê-lo.

Ansiava por beijá-la e possuí-la, mas entendeu que ela ainda não estava pronta. Por isso ergueu um pouco a mão e com toda a delicadeza e carinho, começou a massageá-la.

-# Darien... — murmurou ela, em uni doce protesto, em bora, pela expressão de desejo, deixasse claro que ansiava para que aquela carícia fosse mais intensa.

Ele sorriu com satisfação ao ouvi-la gritar a plenos pul mões e passou o polegar sobre a pele rosada e tenra. Serena se contorcia, e foi preciso segurá-la pelos quadris com a mão livre para evitar que ela caísse da cama.

-# Agora sim, vamos fazer amor — ele sussurrou junto ao ouvido de Serena.

Foi então que ouviu o leve grito de prazer e sentiu as pernas de Serena se afastarem até que sua masculinidade pressionou a suavidade da abertura tenra.

-# Vou torná-la minha.

-# Ah, sim, por favor...

Darien insinuou-se devagar e com paciência diante da virgindade tensa. Teria de fazer um esforço supremo para se controlar, embora sua maior vontade fosse invadi-la com impulsos desvairados. Mas isso teria de esperar para outra ocasião que não fosse a primeira.

-# Darien?

Ele ficara imóvel por alguns segundos. Apertou os dentes e recuou, deixando apenas a ponta de seu membro dentro daquela cavidade umedecida e receptiva.

-# Não! — gritou agarrando-se nos ombros largos. — Não me deixe.

-# Estou aqui, não se preocupe. Não adiarei mais o mo mento tão esperado.

Ele aumentou a pressão, tentando ser o mais gentil pos sível.

Serena se contorcia, gemia e chamava por Darien. Abra çada a ele, apertava-o espasmodicamente.

-# Por favor, Darien... Por favor...

Incapaz de controlar a excitação por mais tempo, ele arremeteu completamente e arrepiou-se com o prazer de ser envolvido por aquela pele quente e tão acolhedora. Ela se enrijeceu e estremeceu.

-# Sinto muito, doçura. — Darien procurou manter-se imóvel e ignorar as exigências do próprio corpo. — Prometo que me esforçarei para não agir com impetuosidade.

Ele se apoiou nos antebraços para diminuir o peso de seu corpo e reiniciou os movimentos. Firmes e vagarosos, eles provocavam choques de puro deleite com a suave fricção.

Para exercer o domínio sobre si mesmo, cerrou os maxi lares e sentiu o retesar dos músculos.

A própria satisfação não o preocupava, certo de que alcançaria os céus antes de a noite terminar.

No entanto, esta determinado proporcionar a Serena um intenso prazer. Queria que a primeira noite dela fosse ma ravilhosa, por isso tentaria ser o mais carinhoso possível.

-# Como se sente?

Ela abriu os olhos e piscou.

-# Faminta... — declarou, espantando-se com a própria audácia.

-# De verdade?

Darien estremeceu ao leve toque e sentiu que o controle se esvaía.

-#Também está ansioso como eu?

Ele resmungou algo ininteligível e começou a mover-se com maior rapidez. Serena sentiu um grande estímulo no abdômen e depois uma tensão insuportável. No momento em que imaginou que seu corpo se despedaçaria em milhões de partículas, algo indescritível aconteceu. E foi como se ti vesse sido lançada a outra esfera, onde só era permitido sen tir prazeres extremos.

-# Darien! — gritou ela, tomada de um indizível êxtase. Ele também deu um grito com a face contraída. Depois de alguns instantes, a respiração voltou a se normalizar e Darien largou-se sobre Serena.

Os dois permaneceram abraçados por algum tempo, sua dos. Serena adorou sentir o peso daquele corpo tão amado e a lânguida sensação de aprazimento. Acariciou os cabelos de Darien e desejou estar sozinha com ele no mundo. Por quanto tempo poderiam ficar na pequena cabana, antes que sua falta fosse percebida?

-# Como está se sentindo? — ela perguntou com suavi dade.

-# O que lhe parece? — Ele sorriu.

-# Bem, espero.

Darien rolou para o lado, apoiou-se num cotovelo e segu rou o queixo delicado.

-# Muito bem — enfatizou.

-# Agora sou eu que quero saber como está se sentindo — inquiriu ele sorrindo, feliz, sem querer nada melhor.

-# Melhor do que nunca...

De repente, ocorreu-lhe uma preocupação. Seria ele um experiente deflorador de jovens? Lembrava-se de ter ouvido que Rey estava grávida quando se casou. Ah, o melhor seria esquecer aquela mulher. A falecida esposa de Darien não tinha lugar na cama com eles.

Serena imaginou bebês lindos e sorridentes, com olhos azuis e cabelos claros. Não gostaria que se parecessem com ela. Teriam de ser como Darien, até nas covinhas.

Abriu os olhos, ao senti-lo passar os dedos no contorno dos lábios.

-# Com o que estava sonhando? — A voz veio eivada de satisfação.

Serena desviou o olhar, envergonhada com o rumo dos próprios pensamentos.

-# Nada importante — murmurou. — Ainda está cho vendo?

-# Não sei. — Darien levantou-se e foi até a janela.

No mesmo instante em que perguntou, arrependeu-se, pois se a chuva tivesse cessado, teriam de voltar à residência dos Chester.

A desculpa de terem se escondido da chuva soaria falsa se não retornassem assim que o tempo melhorasse.

Darien fechou de novo as cortinas e virou-se. Serena prendeu a respiração diante de tanta beleza e masculinidade. Ela vira desenhos de estátuas nos livros do pai, que até possuía uma miniatura da escultura de Davi, em Florença. Mas nada se comparava ao deus em carne e osso parado à sua frente. Fixou o olhar no chão, com receio de que a simples visão a seduzisse novamente.

-# Ainda está chovendo, porém com menor intensidade. Acredito que deveríamos nos aprontar e sair assim que for possível.

-# Tem razão. Por favor, pegue minha roupa.

-# Por que isso agora? Está com vergonha? — Darien er gueu uma sobrancelha.

Talvez fosse uma tolice, depois de um comportamento tão arrojado. Mas ela não estava acostumada a circular nua com muita desenvoltura na presença de outra pessoa. Com a ca beça, apontou o vestido, que estava no chão.

-# Por favor, poderia apanhá-lo?

Darien entregou-o a ela. Apesar de úmido em alguns pon tos, pois não ficara estendido, o vestido não estava horrível ao extremo. Serena vestiu-se depressa e arrumou a cama, esticando os lençóis e estendendo o acolchoado.

Depois de alguns minutos, os dois, bem como a cabana, mostravam-se apresentáveis. A chuva reduzira-se a uma garoa.

-# Nossas roupas não ficarão mais molhadas do que já estão — afirmou, esticando a mão para fora da janela.

Uma vez de acordo, ambos fizeram o trajeto de volta à residência no mais absoluto silêncio.

O que aconteceria? Darien se casaria com ela? Se fosse o cavalheiro que Serena imaginava, deveria fazê-lo, embora ninguém soubesse o que ocorrera.

Quinze minutos depois, estavam diante dos degraus da entrada principal de Chester House. Darien se deteve e fi tou-a, preocupado e sério.

-# Tem certeza de que ficará bem?

Ela piscou várias vezes, estranhando a pergunta.

-

# Acho melhor evitarmos as conversas — ele explicou. Serena anuiu e procurou ignorar o frio no estômago.

Alguma coisa estava errada.

Darien tossiu e esticou o pescoço, como se a gravata esti vesse incomodando. Tornou a tossir mais duas vezes.

-# Por favor, avise-me caso surja uma situação inesperada que demande ação imediata.

Ela concordou com um gesto pausado de cabeça, sem con cluir se era uma ordem ou um pedido. Talvez nem um nem outro, o que também pouco significava.

-# Precisarei de um pouco de tempo para pensar. — Darien inspirou fundo.

-# Sobre o quê? — ela perguntou sem refletir. Por que tudo não podia ser simples? Nada mais havia para discutir.

-# Sobre mim mesmo — ele declarou com voz rouca e impessoal. — Mas não se preocupe, nós nos encontraremos em breve e farei o que for mais acertado.

-# Darien, pretende se casar comigo? — indagou, cansada de esperar e de ser sempre conveniente.

Ele mostrou-se confuso com a pergunta.

-# Sim, é claro.

A voz grave pareceu atravessar um nevoeiro, e Serena não experimentou a alegria que seria esperada no caso.

-# Mas não vejo motivo para nos apressarmos, a não ser que sejamos premidos por uma circunstância imprevista.

Serena anuiu e engoliu em seco. Se ficasse grávida, o casamento seria imediato. Caso contrário, não haveria pres sa depois de haver-se regalado com ela.

-# E melhor entrarmos — Darien sugeriu.

Serena concordou, aliás estava ficando perita em con cordâncias.

Cavalheiro para todas as ocasiões, ele inclinou a cabeça e segurou-a pelo braço, conduzindo-o para dentro da sala como se nada no mundo o preocupasse.

Darien voltou para casa no dia seguinte e fechou-se em seu quarto com um cálice de conhaque e a mente em turbilhão. Inventara a necessidade de tratar de negócios urgentes com seus advogados como desculpa para abandonar a festa de lady Chester que, por decisão unânime, ainda se arras taria por mais alguns dias.

Estava certo de que poderia comportar-se como se nada tivesse acontecido, mas não apostaria o mesmo a respeito de Serena, que era uma moça inexperiente e não acostumada a encenar o que não sentia. E para salvar sua reputação, tudo deveria parecer escrupulosamente normal.

Lamentou não ter podido explicar a ela os motivos de sua partida antecipada. Não acreditava que a ofenderia. Afinal, avisara de que precisava de tempo para pensar e também havia garantido que se casariam.

Não lhe escapava a enormidade dos atos por ele cometi dos. Seduzira uma moça solteira, de quem gostava e respei tava, além de ser adorada por sua família. Para um homem que não pensava em casar-se, ele certamente não vinha pen sando com a cabeça.

Darien sentou-se em uma poltrona e lembrou-se das duas regras que ele e os amigos estabeleceram anos antes ao sair de Oxford, rumo aos prazeres de Londres e da nobreza. Nada de mulheres casadas, a menos que fosse óbvio que o marido não se incomodava. E, sobretudo, nada de virgens.

Jamais seduzir uma donzela!

Tomou mais um gole da bebida. Deus Misericordioso! Se precisava de uma mulher, havia dezenas delas disponíveis e muito mais adequadas. Litha, a adorável condessa, jovem e viúva, seria uma amante perfeita e não teria de casar-se depois de uma noite de amor.

Casamento. Já cometera a loucura uma vez, com um co ração romântico e estrelas nos olhos, e tinha sido massacra do. Era uma ironia. Pelas leis inglesas, o marido possuía autoridade absoluta em um matrimônio, e em sua vida de casado, ele nunca sentira tão pouco controle sobre a própria existência.

Rey reduzira seu coração a pó e o transformara num homem amargo e sem alma. E como se fora um monstro de fato, havia se alegrado com a morte da esposa. Nem mesmo sentira alívio quando, na biblioteca, tinha sido informado pelo mordomo que houvera um acidente e que Rey estava, morta. Alívio era uma palavra menor, uma emoção inocente. Seu primeiro pensamento fora: Graças a Deus.

Certamente deveria ter sentido um pouco de piedade por Rey, apesar de ela haver sido desprezível.

A verdade era que não desejava mais se unir a outra mu lher, era uma decisão tomada. Tivera uma esposa e não de sejava outra. Pelo menos não tão cedo.

Mas apesar das melhores tentativas de Rey em des truí-lo, ainda lhe restara alguma decência, pois ali estava ele, planejando casar-se com Serena.

Ali estava uma mulher de caráter que jamais o trairia, mas que era extremamente teimosa. Darien lembrou-se da cena na livraria, onde ela agredira o proprietário com a bolsa. E quando Serena se tornasse sua esposa, seria responsa bilidade dele mantê-la afastada de confusões.

Soltou algumas de suas costumeiras imprecações e ser viu-se de mais um drinque.

Não desejava nem em sonho aquele tipo de encargo. Seria demasiado para ele. Seria muito desejar um pouco de sossego depois de tantas atribulações na vida? Queria passar algum tempo pensando apenas em si mesmo, sem ter de proteger seu coração contra eventuais sofrimentos.

Era provável que se tratasse de puro egoísmo. Mas depois de Rey, nada mais justo do que esquecer o mundo dos romances.

Por outro lado, um enlace traria alguns benefícios. Arre piou-se só ao pensar em Serena na cama, acariciando-o, gemendo de prazer. E o futuro... Bem, o futuro...

Na verdade, se pudesse passar o resto da vida na cama com ela, já se daria por satisfeito.

Tomou o último gole e refletiu que havia encontrado uma mulher mais interessante e engraçada do que as nobres en fadonhas que conhecia. Se era preciso ter uma esposa, po deria muito bem ser Serena. Ela de longe era superior às moças fúteis a que estava acostumado.

Ocorreu-lhe estar refletindo sob uma perspectiva nem um pouco romântica. Precisava de mais tempo para pensar. O mais sensato seria dormir e acordar com a mente mais des cansada. Suspirou e deixou o cálice vazio sobre a mesa. Pen sou melhor e pegou-o de novo. Precisava de mais uma dose.

Na manhã seguinte, Darien teve de enfrentar uma forte dor de cabeça, o que o deixou sem a menor disposição de raciocinar sobre o problema que o afligia.

Era evidente que continuava pretendendo casar-se com Serena. Um cavalheiro não comprometia uma dama bem-nascida sem sofrer as conseqüências. Porém, odiava a sen sação de ser pressionado. Não importava se ele fora o cau sador da situação constrangedora. Era imprescindível dispor os fatos de maneira a satisfazê-lo.

Por isso, quando desceu para o café-da-manhã, a carta de seu amigo lorde Harry Winthrop transformou-se numa pers pectiva bem-vinda. Harry pensava comprar uma proprieda de em Kent e pedia sua presença para aconselhá-lo.

Darien se arrumou e saiu em uma hora. Seria uma ausência de poucos dias, cuidaria do assunto de Serena quan do regressasse.

Serena não lamentou muito o fato de Darien ter deixado Chester House antecipadamente. Se pudesse, teria feito o mesmo. Além disso, poderia refletir melhor na ausência dele. Embora não houvesse muito para discutir: ela se comportara de maneira contrária a todos os princípios condizentes com sua criação e cairia em desgraça se não se casasse. Era, po rém, um alívio experimentar um certo controle das emoções.

Alguns dias mais tarde, os Bevelstoke voltaram para Londres e Serena supôs que encontraria Darien em se guida. Não estava interessada em preparar uma armadilha para levá-lo ao altar, porém conhecia as conseqüências es peradas de um encontro amoroso entre um cavalheiro e uma donzela.

No entanto, Darien garantira que se casaria com ela.

Pareceu-lhe também que a satisfação tinha sido mútua, o que a levava a crer que a promessa seria cumprida.

Com estudada indiferença, perguntou a lady Rudland so bre o paradeiro do filho. A bondosa dama respondeu não ter a menor idéia, exceto que ele se ausentara da cidade.

Depois de dar uma desculpa qualquer, subiu correndo a escada e escondeu-se no quarto para chorar mansamente.

Mas logo seu otimismo veio à tona, quando convenceu-se de que ele talvez tivesse sido chamado com urgência para resolver um assunto importante na Nortúmbria. Como a re gião era distante de Londres, ele provavelmente demoraria umasemana para voltar.

A semana passou e a frustração de Serena chegou às raias do desespero. Não podia insistir em perguntas para nãodespertar suspeita. Os Bevelstoke não podiam imaginar o que acontecera, mesmo porque era tida como amiga de Hotaru e não de Darien. E muito menos poderia fazer inda gações no hotel em que ele se hospedava. Seria um escândalo e sua reputação ficaria definitivamente arruinada. Até aque le momento, sua desgraça não era de conhecimento público.

Mais uma semana se passou sem notícias e ela decidiu que não poderia permanecer em Londres por mais tempo. Inventou que o pai estava doente e disse aos Bevelstoke que teria de retornar a Cumberland sem demora. Ficaram todos muito preocupados, e Serena sentiu remorso quando lady Rudland insistiu para que viajasse no coche da família com dois criados a cavalo e uma criada.

Não havia alternativa. Seria muito doloroso permanecer em Londres por mais tempo.

Alguns dias mais tarde, chegou em casa. O pai ficou per plexo. Mesmo sem entender muita coisa a respeito de con vívio pessoal, ainda mais de moças, tinha a convicção de que elas amavam as temporadas londrinas.

Mas, no fundo, para ele, tanto fazia, pois Serena não o perturbava. Na maioria das vezes nem mesmo sabia onde a encontrar. Por isso, abraçou-a carinhosamente ao chegar e voltou a seus preciosos manuscritos.

Ela chegou a convencer-se de que estava feliz em voltar para casa. Sentira falta dos campos verdes e do ar fresco dos lagos, da paz da aldeia e da rotina de levantar e deitar cedo. Sem compromissos e nada para fazer, dormia até o meio-dia e escrevia no diário até a madrugada.

Dois dias após sua chegada, recebeu uma carta de Hotaru. Sorriu ao abri-la, refletindo sobre a conhecida impaciência da amiga. Passou os olhos pela missiva e não encontrou men ção a Darien. Sem saber se a sensação era de alívio ou de sapontamento, pôs-se a ler o conteúdo com mais vagar.

Hotaru escrevia que Londres sem a sua companhia era um tédio. Indagava várias vezes quando pretendia voltar para a capital, se sir Kenji melhorara, ou se ao menos havia começado a se recuperar.

A leitura deixou-a com um peso na consciência. O pai, em perfeitas condições de saúde, trabalhava nas traduções em seu gabinete no térreo.

Ela suspirou, esqueceu os pruridos de retidão moral, do brou a carta e guardou-a na gaveta. Concluiu que nem sem pre uma mentira era pecado. Não havia como continuar em Londres, sentada e esperando pela volta de Darien.

Admitiu que em casa ela fazia o mesmo. Pensava em Darien o tempo inteiro. Uma noite, teve a paciência de con tar quantas vezes citara, aquele dia, o nome dele no diário. Trinta e sete, para seu supremo desgosto.

Conclusão: a viagem de volta para casa não tinha melho rado seu estado de espírito.

Depois de dez dias, Hotaru chegou para uma visita surpresa.

-# Hotaru, o que está fazendo aqui? — Serena perguntou ao irromper na sala onde a amiga estava esperando. — Acon teceu alguma coisa? Quem está doente?

-# Nada disso — Hotaru respondeu, animada. — Eu vim buscá-la. Nós sentimos desesperadamente a sua falta em Londres.

O coração de Serena disparou.

-# Nós, quem?

-# Eu, é claro! — Hotaru abraçou-a e as duas se sentaram no sofá. — Sem a sua presença, não sou ninguém.

-# Não posso acreditar que sua mãe tenha permitido você deixar a cidade em meio à temporada.

-# Ela praticamente me jogou porta afora. Reconheço que tenho me comportado de maneira insuportável, desde a sua partida.

Serena teve de rir.

-# Na certa não foi esse desastre todo.

-# Não estou brincando. Mamãe sempre elogiou a sua boa influência, mas eu só me dei conta disso quando fiquei sozi nha. — Hotaru deu um sorriso envergonhado. — Não consigo pôr um freio na língua.

-# Isso acontece independentemente da minha presença. Quer tomar chá?

Hotaru aceitou.

-# Não entendo por que sempre estou metida em encren cas, pois o que eu digo nem de longe se compara aos seus comentários. A sua língua é a mais ferina de Londres.

-# Não é verdade — respondeu Serena, puxando a corda da sineta para chamar uma criada.

-# E, sim, e sabe disso muito bem. Considero uma injustiça que você nunca crie problemas com os seus comentários.

-# Talvez seja por não os divulgar em alto e bom som — Serena respondeu, evitando sorrir.

-# Tem razão. Assim mesmo, não deixa de ser aborrecido comprovar que o seu senso de humor não perdoa nada e que o fato permanece impune.

-# Ora, vamos lá, não sou tão perigosa assim.

-# Claro que é. Darien sempre diz isso também. Não sou a única a fazer comentários maliciosos.

Serena engoliu em seco à menção do nome de Darien.

-# Ele já voltou a Londres? — perguntou casualmente.

-# Não. Faz séculos que não o vejo. Darien está em Kent com amigos.

Por que tão longe?, pensou, desanimada.

-# Ele está viajando há tempos, não é mesmo?

-# E verdade, e dessa vez foi na companhia de lorde Harry Wínthrop, um cavalheiro um tanto libertino, se é que me entende.

Serena entendeu, e como...

-# Tenho certeza de que eles estão se divertindo bastante com vinho e mulheres de vida fácil — comentou Hotaru.

O nó na garganta voltou em tamanho maior. Imaginá-lo com outra mulher era doloroso, ainda mais agora que sabia exatamente o que significava isso. Imaginara todos os tipos de motivos para a sua ausência, e seus dias eram preenchi dos com racionalizações e desculpas. Infelizmente, aquele vinha sendo seu único passatempo.

Porém não tinha pensado que Darien poderia estar com outra mulher. Ele conhecia muito bem a dor da traição. Seria possível que fizesse a mesma coisa com ela?

A verdade, porém, era uma só e arruinou seu coração. Darien não a amava. Estranho pensar que a dor de um sen timento era física, intensa, chegando a cortar a respiração. Felizmente Hotaru se entretinha em examinar um vaso gre go, ou perceberia a agonia em sua expressão.

Serena fez um comentário absurdo qualquer, levantou-se e foi até a janela, de onde fingiu apreciar o horizonte.

-# Ah, ele deve estar aproveitando bastante — comentou vagamente.

-# Darien? — Hotaru falou às suas costas. — Na certa, ou não estaria se demorando tanto. Mamãe está desesperada, ou melhor, estaria se eu não causasse tantos problemas. Posso ficar aqui por uns tempos? Haverbreaks émuito grande e solitário sem ninguém para me fazer companhia.

-# Nem precisava perguntar, querida. — Serena perma neceu na janela por mais algum tempo até notar que a vontade de chorar havia sido dominada. Nos últimos dias, an dava muito emotiva. — Para mim será ótimo. Eu também me sinto sozinha. Sabe como é, papai passa o tempo todo no escritório.

-# E ele melhorou?

-# Papai?

A criada fez uma interrupção providencial e Serena pe diu chá antes de continuar.

-# Está bem melhor, obrigada.

-# Vou falar com ele para desejar melhoras. Mamãe tam bém pediu para mandar lembranças.

-# Não faça isso. Meu pai não gosta de ser lembrado da sua doença. É muito orgulhoso.

-# Que estranho. — Hotaru nunca fora de medir palavras.

-# Bem, foi uma enfermidade masculina — improvisou. Sempre ouvira falar em achaques femininos. Por que os ho mens não podiam ter problemas exclusivos também?

Todavia a curiosidade da amiga era incansável.

-# E mesmo? — Ela inclinou-se para a frente. — O que é uma enfermidade masculina?

-# Não posso falar sobre isso. — Serena mentalizou um pedido de desculpas para seu pai. — Isso o deixaria muito envergonhado.

-# Mas...

-# Sua mãe ficaria aborrecida comigo. Essa não é uma conversa para ouvidos inocentes.

-# Então nem serviria para os seus.

Serena refletiu amargamente que nada mais nela tinha pureza.

-# Não se fala mais no assunto — disse, determinada. — Deixarei isso para a sua imaginação fértil.

Hotaru resmungou, mas aceitou a argumentação.

-# Quando pretende voltar para casa?

-# Eu estou em casa.

-# Sim, esta é a sua residência oficial, mas eu juro que a família Bevelstoke sente muito a sua falta. Portanto, quando vai voltar para Londres?

Serena mordeu o lábio inferior. Um membro dos Bevelstoke não sentia sua ausência ou não ficaria tanto tempo em Kent. E mesmo considerando esse desalento, admitiu que a única maneira de lutar por sua felicidade seria o retorno a Londres. Continuar em Cumberland, chorando sobre as páginas de um diário e olhando pela janela, a fazia sentir-se como uma inver tebrada.

-# Pelo menos quero manter minha estrutura — murmu rou para si mesma.

-# O que foi que disse?

-# Eu disse que voltarei para Londres. Papai já pode ficar um pouco sem mim.

-# Excelente! Quando partiremos?

-# Dentro de uns dois ou três dias. — O bom senso lhe pedia para adiar um pouco o inevitável. — Tenho de arrumar minhas coisas. Assim, você também terá oportunidade de descansar um pouco.

-# Estou mesmo cansada. Talvez pudéssemos esperar uma semana, se isso lhe for conveniente. Não me importo de fazer uma pausa na confusão londrina.

-# Para mim está ótimo — assegurou Serena. Darien poderia esperar. Em uma semana ele não se ca saria com ninguém e ela poderia usar aquele período para azeitar sua coragem.

-# Para mim também. Vamos andar a cavalo esta tarde? Estou morrendo de vontade de galopar.

-# Perfeito. — Serena serviu o chá que acabava de che gar. — Poderemos nos divertir bastante.

Uma semana mais tarde, Serena estava convencida de que não poderia voltar para Londres. Jamais. Sua menstruação, sempre tão regular, ainda não se apresentara. Ha via afastado a preocupação nos primeiros dias de atraso, culpando os transtornos emocionais. Com a animação pela chegada de Hotaru, acabara esquecendo o assunto. Naquela altura, o atraso tinha suplantado a margem de erro e ela começara a vomitar pela manhã. Apesar da vida simples e resguardada, fora criada no campo e conhecia o significado do atraso menstrual.

O que restava a fazer, então? Sem dúvida, falar com Darien. Por mais que não desejasse usar uma vida inocente para forçar um casamento fadado a não acontecer, como poderia negar o direito hereditário a seu filho? No entanto, a idéia de viajar para Londres só lhe causava agonia. Estava cansada de ir atrás de Darien, de esperá-lo e de rezar para que ele chegasse a amá-la algum dia.

Por que ele não podia procurá-la pelo menos uma vez? Era um cavalheiro, que, apesar de não amá-la, certamente não se furtaria às suas obrigações.

Serena deu um sorriso triste; acabara de perceber que se transformara num dever. Depois de sonhar durante tan tos anos, finalmente se tornaria esposa de Darien, mas continua ria sendo uma obrigação moral. Alisou o ventre, imaginando que aquele deveria ser um momento de alegria. Todavia, sua única vontade era chorar. Uma batida soou na porta, e as sustada, não respondeu.

-# Serena! — Hotaru chamou. — Abra a porta! Sei que está chorando.

Serena inspirou fundo, certa de que teria de manter o segredo. A amiga era muito leal e não trairia sua confiança, mas ainda assim, era irmã do causador de todo seu sofri mento. Não imaginava qual seria a reação dela. Não duvi dava que Hotaru o faria voltar com uma pistola nas costas.

Olhou no espelho e enxugou as lágrimas. Culparia o sol de verão pelos olhos vermelhos. Respirou fundo, tentou man ter no rosto seu sorriso mais radiante e abriu a porta.

Não enganou a amiga nem por um segundo.

-# Valha-me Deus! — Hotaru entrou e abraçou-a. — O que está acontecendo?

-# Nada, por quê? Apenas os meus olhos, que sempre se irritam nesta época do ano.

-# Essa sua palidez não é normal. — A amiga recuou e avaliou-a por alguns instantes.

-# Devo ter comido alguma coisa que não me fez bem... — divagou, sentindo o estômago embrulhado, e agitou a mão no ar num gesto sugestivo. — Preciso me sentar um pouco.

-# Não creio que possa ter sido o jantar. — Hotaru ajudou-a a ir para a cama. — Não a vi tocar na refeição ontem. Além disso, eu comi muito mais e não estou indisposta.

-# Pode ser uma gripe — concluiu. — E melhor você voltar para Londres sem mim. Seria péssimo se eu a contaminasse.

-# Bobagem. Não a deixarei sozinha nesse estado.

-# Meu pai está aqui e ficará comigo.

-# Gosto muito de sir Kenji, mas não acredito que ele saiba cuidar de um doente. Na maior parte do tempo, nem se lembra que a filha está presente.

Serena fechou os olhos e largou-se nos travesseiros. Hotaru tinha razão. Ela adorava o pai, mas ele não tinha idéia de como interagir com outro ser humano, mesmo que fosse sua filha.

Hotaru sentou-se na beira da cama e Serena fingiu não saber que a amiga a encarava, aguardando.

-# Por favor, diga o que está errado — pediu com ternura. — Alguma coisa com seu pai?

Serena sacudiu a cabeça e a amiga mudou de posição. O movimento do colchão lembrou o balançar de um barco e dessa vez, não foi possível controlar a ânsia. Pulou da cama, e alcançou o bacio no momento exato.

-#Misericórdia! — Hotaru afastou-se por respeito e ins tinto de autocomise-ração. — Há quanto tempo está assim?

Serena não respondeu, mas o estômago pesou de novo.

-# Posso fazer alguma coisa?

Ela sacudiu a cabeça e agradeceu por estar com os cabelos presos. A amiga esperou mais alguns minutos antes de mo lhar um pano na bacia.

-# Pegue...

-# Obrigada — Serena sussurrou e limpou o rosto.

-# Não creio que seja gripe. Tenho certeza de que o peixe de ontem à noite estava ótimo e não imagino o que...

Não foi preciso ver o rosto de Hotaru para interpretar o grito sufocado. Estava evidente, talvez a amiga não acredi tasse, mas desconfiava.

-# Será que isso não é...

Serena anuiu com apenas um sinal de cabeça.

-# Oh, Deus! — Olivia exclamou e ficou sem palavras pela primeira vez na vida. Serena enxugou a boca e, com o estô mago um pouco mais estável, afastou-se do recipiente sujo e sentou-se.

-# Como foi? — Hotaru a fitava como se estivesse diante de uma aparição.

-# Da maneira usual, ora..

-# Sinto muito, muito mesmo.

-# Eu não quis aborrecê-la. É que... pode imaginar, isso me pegou... de surpresa.

-# A mim também — Serena admitiu.

-# Mas não deveria, pois se... aquilo aconteceu... se... — Ouvia continuava com dificuldade para se expressar.

-# Ainda assim, fiquei perplexa.

As duas permaneceram em silêncio por alguns minutos.

-# Eu preciso saber... tenho de perguntar...

-# Não o faça. Por favor, não me pergunte quem foi.

-# Por acaso foi Seiya?

-# Não. — Serena foi forçada a negar e depois murmu rou: — Graças a Deus.

-# Então quem?

-# Não posso revelar nada. Trata-se de uma pessoa... to talmente inadequada. Não sei o que houve comigo nem o que eu imaginava no momento. Por favor, não pergunte mais nada. Não quero mais falar sobre isso.

-# Está bem. — Hotaru compreendeu que seria uma insen satez continuar a pressioná-la. — Prometo que não farei mais indagações sobre a identidade da pessoa. Mas, e agora? O que nós vamos fazer?

Serena sentiu-se melhor por ouvir aquela a frase com o pronome no plural.

-# Tem mesmo certeza de que está grávida? — O olhar de Hotaru brilhou, esperançoso. — Talvez seja apenas uma demora. Na maioria dos meses, eu estou atrasada.

-# Sou extremamente regulada. Pareço... sempre parecia um relógio.

-# Terá de procurar um lugar para onde ir. — Hotaru aper tou as mãos. — O escândalo será enorme se...

Serena anuiu. Planejara escrever para Darien, mas não podia contar isso a ninguém.

-# A melhor decisão seria sair do país, talvez até ir para o continente. Como está o seu francês?

-# Melancólico.

-# Eu sei. Idiomas nunca foram o seu forte.

-# Nem o seu — retrucou a outra sem demora.

-# Por que não vai para a Escócia?

-# Para a casa dos meus avós?

-# Sim. Não acredito que eles não a receberão só porque está... grávida. Sempre a ouvi dizer que são muito bondosos.

Escócia.

Aquela seria a solução perfeita. Poderia mandar uma car ta para Darien e ele a encontraria lá. Poderiam casar-se sem os proclamas e tudo se resolveria, embora não da maneira como gostaria.

-# Eu a acompanharei. Ficarei lá o quanto puder.

-# E o que dirá para lady Rudland?

-# Ah, inventarei que alguém ficou doente. Isso já deu certo antes, não foi? — Ouvia ergueu as sobrancelhas e fitou a amiga com olhar cúmplice. Com certeza ela descobrira a farsa a respeito da doença de sir Kenji. — Mas o que dirá para seu pai?

-# Oh, nada. Ele não presta muita atenção ao que eu faço.

-# Bem, às vezes isso é vantajoso. Bem, partiremos hoje mesmo.

-# Por que tão depressa?

-# De qualquer forma, tudo está empacotado e não vejo motivos para perdermos tempo.

Serena passou a mão no ventre ainda plano.

-# Tem razão. Não podemos esperar muito.

13 de agosto de 1819,

Hotaru e eu chegamos hoje a Edimhurgo. Vovó e vovô ficaram surpresos com a visita inesperada; e mais ainda depois de eu ter-lhes contado o verdadeiro motivo da minha saída de casa. Permaneceram muito sérios e em silêncio durante algum tempo, mas nem por um instan te fizeram-me pensar que estivessem desapontados ou envergonhados comigo. Eu sempre os amarei por isso.

Hotaru mandou uma carta aos pais dizendo que iria comigo para a Escócia. Todas as manhãs ela me per gunta se a menstruação apareceu. Como eu previa, na da aconteceu que pudesse mudar a situação. Não paro de examinar meu corpo e o abdômen. Nem mesmo sei o que espero encontrar de diferente. Certamente o ventre não aumenta da noite para o dia, muito menos tão no início.

Preciso contar a Darien. É imprescindível que eu o faça, mas não consigo esquivar-me da presença de Hotaru e não posso escrever na frente dela. Por mais que eu goste de Hotaru, terei de mandá-la embora. Certamente ela não poderá estar aqui quando Darien chegar. E ele virá a Edimburgo assim que receber a carta. Presumindo-se, é claro, que poderei enviá-la.

Oh, céus, aí vem ela de novo.

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Bom queridas continuo digitando a todo vapor....
e como prometido aqui esta mais um capitulo.....


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