História de Um Grande Amor escrita por Acyd-chan


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/36547/chapter/7

Serena passou a semana seguinte fingindo estudar tra gédias gregas, embora fosse impossível manter a aten ção por tempo suficiente para ler de verdade. Mesmo cap tando apenas frases ou palavras soltas a esmo, escolhera algo que se assemelhasse ao seu humor.

Uma comédia teria lhe provocado lágrimas, e uma histó ria de amor, morte imediata.

Hotaru, conhecida por sua falta de interesse nos outros, tentava por todas as maneiras descobrir as razões do humor sombrio da amiga. Fazia perguntas de toda espécie e tentava fazê-la rir.

Estavam em meio a uma das sessões que visavam le vantar o moral de Serena, quando lady Rudland bateu na porta.

Que bom. — Ela espiou para dentro do quarto. — As duas estão aqui. Hotaru, sente-se direito. Que postura dese legante!

O que houve, mamãe?

Vim avisá-las que fomos convidadas para visitar a casa de campo de lady Chester na próxima semana.

-# Quem é essa senhora? — Serena indagou, deixando no colo o livro de Ésquilo.

-# Uma prima distante — informou Hotaru. — Deve ser em terceiro ou quarto grau, nem me lembro..

-# Segundo — lady Rudland corrigiu. — E eu aceitei o convite pela família. Seria uma grosseria recusá-lo.

-# Darien também vai? — Hotaru perguntou. Serena teve de vontade de beijar a amiga pela pergunta que ela própria não ousaria fazer.

-# Seria bom se fosse. Darien vem abandonando as obri gações familiares há algum tempo — lady Rudland consta tou com uma rispidez não usual. — Se não for, terá de se haver comigo.

-# Céus, mamãe, que pensamento terrível — Hotaru falou sem demonstrar nenhuma emoção.

-# Não sei o que está acontecendo com aquele menino. — Lady Rudland meneou a cabeça. — Comporta-se como se nos evitasse.

Ele está evitando apenas a mim, pensou Serena com um sorriso triste.

Impaciente, Darien batia o pé enquanto esperava a famí lia descer. Refletiu que desejava ser como os outros lordes que ignoravam as mães, ou as tratavam como se fossem pe ças de decoração. Não entendia como concordara com aquela festa desventurada de final de semana a que Serena cer tamente compareceria.

Sentia-se um imbecil. Essa convicção aumentava com o passar dos dias. Era um tolo que não sabia lidar com a pró pria sorte, concluiu, quando a mãe apareceu no saguão.

-# Meu filho, terá de ir com Serena.

Ah, os deuses deviam ter um senso de humor mórbido!

-# Mamãe, acha mesmo que seria conveniente? — per guntou em meio a um fingido acesso de tosse.

-# Meu filho — lady Rudland impacientou-se. — Não está pretendendo seduzir Serena, está?

-# Claro que não. Estou preocupado com a reputação dela, ora. O que dirão as pessoas quando nos virem chegar na mesma carruagem? Todos saberão que passamos várias ho ras sozinhos.

-# Ninguém ignora que a tenho como minha filha, por tanto, sua irmã. Nós poderemos mudar de posição a uns dois quilômetros de Chester Park, onde seu pai e ela trocarão de lugar. Não haverá problemas. Seu pai e eu precisamos con versar com Hotaru em particular.

-# O que foi que ela fez desta vez?

-# Parece que ofendeu Amy Elster, chamando-a de pata choca e idiota.

-# E ela acertou. Amy Elster é mesmo uma...

-# Hotaru disse isso cara a cara! — lady Rudland exclamou.

-# Uma falta de juízo, mas nada que mereça uma repri menda de duas horas.

-# Isso não é tudo.

Darien suspirou; seria difícil dissuadir uma senhora tão determinada em seus propósitos. Cento e vinte minutos a sós com Serena. O que a irmã fizera para merecer essa tortura?

-# Ela chamou sir Robert Kent de mustelídeo crescido demais — lady Rudland continuou.

-# Frente a frente, suponho. A mãe anuiu.

-# E o que é mustelídeo?

-# Não faço idéia, mas imagino que não seja uma lisonja.

-# Acho que o termo refere-se às doninhas — Serena disse ao entrar no hall vestindo um traje de viagem azul-claro. Sorriu para os dois com polidez.

-# Bom dia, querida — lady Rudland cumprimentou-a, animada. — Minha filha, terá de ir com Darien.

Serena engasgou e tossiu várias vezes. Irritada, notou-o satisfeito com o seu embaraço.

-# Lorde Rudland e eu precisamos conversar com Hotaru, que anda dizendo inconveniências em público.

Ouviu-se um gemido na escadaria e os três se viraram para ver Hotaru descer.

-# Ah, mamãe, isso é mesmo necessário? Não pretendi ofender ninguém. Eu nunca teria chamado lady Finchcoombe de megera miserável se soubesse que ela ficaria sabendo.

Lady Rudland empalideceu.

-# Chamou lady Finchcoombe de quê?

-# A senhora não sabia? — indagou num fio de voz.

-# Darien, Serena, sugiro que partam agora. Nós nos encontraremos em poucas horas.

Os dois caminharam em silêncio até a carruagem que os aguardava, e Darien estendeu a mão para ajudá-la a subir. Ao sentir aquela mão pequena, mesmo enluvada, reconheceu o calor que o perturbava, porém ela estava impassível.

-# Faço votos para que a minha presença não seja uma experiência penosa para milorde — declarou Serena com formalidade enquanto se acomodava no assento.

-# Não foi a responsável por isso. — A resposta de Darien tanto poderia ser interpretada como resmungo ou suspiro.

-# Eu sei.

-# Eu também soube há pouco. Mamãe faz questão de ter uma conversa particular com Hoataru.

-# Obrigada por acreditar que não planejei tudo isso. Ele suspirou e olhou pela janela, quando a carruagem se pôs em movimento.

-# Nunca a considerei mentirosa.

-# Era o que eu imaginava. Todavia não pude deixar de notar sua raiva quando me ajudou a subir no veículo.

-# Eu estava irritado com o destino, nada mais.

-# Ah, melhorou muito — ela ironizou com frieza. — Com sua licença, eu trouxe um livro.—Virou-se de lado e começou a ler.

Darien esperou exatos trinta segundos para interrompê-la.

-# O que está lendo?

Serena voltou-se para a frente devagar e ergueu o livro para não precisar responder.

-# Ésquilo. Muito depressivo.

-# Combina com o meu humor.

-# O que houve?

-# Não se faça de desentendido, Darien. Nada mais im próprio, dadas as circunstâncias.

-# O que isso quer dizer, exatamente? — indagou ele, erguendo as sobrancelhas.

-# Depois de tudo o que... aconteceu entre nós, sua atitude de superioridade não se justifica.

-# Meu Deus, que afirmativa extensa!

A resposta de Serena limitou-se ao olhar dardejante e o livro que usou como biombo para esconder o rosto.

Darien achou graça e recostou-se, admirado de como se divertia. As mulheres quietas eram sempre as mais inte ressantes. Serena nunca se impunha para chamar a aten ção, mas era capaz de manter uma conversa com inteligên cia e categoria. Provocá-la era engraçado, e ele não se sentia culpado por isso. Apesar do desagrado que demonstrava, po deria apostar que ela compartilhava de seu gosto por dispu tas verbais.

Aquela viagem poderia ser muito melhor do que previra. Sua única tarefa seria manter um debate animado e não olhar muito para a boca de Serena. Aqueles lábios sensuais o fascinavam.

No entanto, seria melhor desviar os pensamentos e voltar ao clima de conversas similares às mantidas nos dias ante riores àquele desacerto. Sentia falta da sincera amizade com que Serena sempre o brindara. Talvez fosse possível apa ziguar os ânimos.

-# O que está lendo? — tornou a perguntar. Irritada, ela ergueu a cabeça.

-# Ésquilo. Milorde já não me perguntou isso?

-# Eu queria saber qual das obras.

Ele achou engraçado Serena olhar para o livro antes de responder:

-# As Eumênides.

-# Não gosta do autor? — ironizou ao notar a reação des favorável.

-# Aquelas mulheres furiosas? Não. Prefiro histórias de aventuras. Poderia ler uma a cada dia.

-# Pois eu gosto de mulheres assim.

-# Sente empatia por elas? Aliás, por que está cerrando os dentes? Acabará tendo de fazer uma visita ao dentista.

A expressão dela, deixando de responder, o fez rir.

-# Não seja tão sensível.

-# Sinto-me desolada, milorde, por aborrecê-lo. — Fitou-o com o olhar chamejante, e mesmo em espaço exíguo, conse guiu fazer uma mesura.

-# Ah, acho-a uma preciosidade — elogiou, rindo.

Quando ele, finalmente, parou de rir, Serena fitou-o co mo se estivesse diante de um maluco. Darien pensou em imitar garras com as mãos e rosnar como uma fera para confirmar as suspeitas. Mas apenas recostou-se e sorriu.

-# Eu não o entendo, visconde.

Não houve resposta, pois não desejava que a conversa voltasse a ser séria. Ela tornou a erguer o livro, e Darien ocupou-se em marcar quanto tempo demorava para que a página fosse virada.

-# Leitura difícil?

Mais uma vez ela baixou o livro e o encarou com olhar mortífero.

-# Muitas palavras difíceis?

Serena não desviou o olhar nem respondeu.

-# Ainda não a vi virar uma folha desde que começou a ler. Ela resmungou sem abrir a boca e passou para a outra página.

-# E em inglês ou em grego?

-# Como é?

-# Se fosse em grego, a demora na leitura estaria expli cada. Ou melhor, a falta dela.

-# Eu sei ler grego — Serena afirmou, orgulhosa.

-# Ótimo. E um conhecimento digno dos maiores elogios.

-# Obrigada — agradeceu e notou que estava agarrada ao volume com tanta força, que os nós dos dedos estavam embranquecidos.

-# Muito raro para uma mulher, não acha? — Darien continuou a provocação, não se dando por satisfeito. Hotaru não sabe ler grego.

-# Isso é porque ela não tem um pai que não faz outra coisa a não ser mergulhar nos compêndios clássicos — res pondeu Serena sem olhar para cima.

Ela tentou concentrar-se nas palavras no alto da página, mas não teve sucesso. Nada fazia sentido, pois não terminara de ler a página anterior. Aliás, nem mesmo havia começado.

Tamborilou com o dedo enluvado no livro que fingia ler. Não lhe ocorreu nenhuma maneira de voltar atrás sem Darien perceber. O que também não importava. De qualquer ma neira, não conseguiria enxergar nenhuma palavra, enquanto ele continuasse a observá-la com os olhos semicerrados. Es tremeceu, apesar do calor que a invadia.

-# Esse é um talento fora do comum.

-# O que foi agora? — mordeu o lábio, encarando-o.

-# Ler sem movimentar os olhos.

Serena contou até três antes de responder:

-# Muitas pessoas não têm de soletrar as palavras para ler.

-# Touché. Eu sabia que ainda lhe restavam algumas se tas para disparar.

Ela enterrou as unhas no assento estofado e recomeçou a contar. Se continuasse naquele ritmo teria de contar até cem para não explodir.

Darien ficou curioso com o leve movimento ritmado com que Serena mexia a cabeça.

-# O que está fazendo?

Dezoito, dezenove...

-#O quê?

-# O que está fazendo? — repetiu.

Vinte.

-# O senhor está se tornando muito aborrecido.

-# Sou persistente. — Darien sorriu. — Achei que gostas se da brincadeira. Agora me diga por que está balançando a cabeça.

-# Se quer mesmo saber, estava contando para ver se con sigo me acalmar.

-# Pois eu gostaria muito de saber o que teria dito se não tivesse começado a contar.

-# Estou perdendo a paciência.

-# Não acredito!

Serena tornou a pegar o livro e procurou ignorar Darien.

-# Pare de torturar o pobre livro. Nós dois sabemos que não o está lendo.

-# Deixe-me em paz! — ela explodiu.

-# Em que número parou?

-# O quê?

-# Qual o número? Não estava contando para não precisar ofender a minha sensibilidade?

-# Não sei. Vinte, trinta. Nem sei. Parei de contar há quatro insultos.

-# E chegou até trinta? Está mentindo. Não creio que te nha perdido a paciência comigo.

-# Pois pode ter certeza.

-# Não sei, não.

-# Ah! — Ela atirou o livro, acertando-o na cabeça.

-# Ai!

-# Por favor, chega!

-# Está bem — ele concordou com petulância, esfregando o lado atingido da cabeça. — Mas eu não teria feito isso se não estivesse sendo solenemente ignorado.

-# Perdoe-me, mas pensei que estivesse satisfazendo a sua vontade.

-# De onde tirou essa idéia?

-# Ora, pois não tem feito outra coisa a não ser me evitar como se eu fosse uma praga, nesses últimos quinze dias! Nem mesmo tem se encontrado com sua mãe só para não me ver.

-# Isso não é verdade.

-# Diga isso à sua mãe.

-# Gostaria muito que voltássemos a ser amigos.

-# Não é possível — retorquiu, meneando a cabeça nega tivamente. Existiriam palavras mais cruéis do que aquelas?

-# Por que não?

-# As duas coisas são irreconciliáveis, — Serena congre gou cada grama de sua energia para evitar que a voz soasse trêmula.—Você não pode me beijar e pretender que sejamos amigos como se nada tivesse acontecido. Não pode me hu milhar como fez em Worthington e depois dizer que tem afei ção por mim.

-# Precisamos esquecer o que aconteceu. Se não for pela nossa amizade, então pelo menos pela minha família.

-# Será que poderá esquecer? De verdade? Pois eu não tenho essa capacidade.

-# Mas é evidente que pode — ele afirmou, casualmente demais.

-# Não tenho a sua sofisticação. Ou talvez me falte a sua superficialidade — concluiu com amargura.

-# Eu não sou superficial, apenas sensato. Deus é teste munha de que um de nós precisa ter juízo.

Ah, como gostaria de ter algo para dizer que o deixasse de joelhos, sem fala e tremendo como uma massa amorfa de matéria putrefeita, gelatinosa e patética!

Em vez disso, continuava parada, com lágrimas que lhe queimavam os olhos. Desviou o olhar, contando as residên cias que passavam diante da janela.

Desejou estar em outro lugar e ser outra pessoa. E isso era o pior. Em toda sua vida, mesmo tendo como melhor amiga uma moça muito mais bonita, rica e bem-relacionada, Serena nunca desejou ser diferente do que era.

Darien havia feito coisas em sua vida das quais não se orgulhava. Bebera demais e vomitara num tapete antigo, que era uma relíquia. Apostara no jogo um dinheiro que não tinha. Uma vez cavalgara em velocidade excessiva e sem cuidado, deixando o cavalo extenuado por uma semana.

Mas nunca havia se sentido tão inferior como ao observar o perfil de Serena, que não tirava os olhos da janela, de terminada e distante.

Nada disse por um bom tempo. Saíram de Londres, pas saram pelas cercanias da cidade, onde as construções rarea vam cada vez mais, até chegar ao campo aberto.

Serena não o olhou nem uma única vez, e ele chegara à conclusão de que não poderia tolerar mais uma hora daquele silêncio sem significado evidente.

-# Não pretendi insultá-la — finalmente falou —, mas tenho capacidade para admitir uma má idéia. Nada poderia ter sido pior do que me divertir à sua custa.

-# Por quê? — ela perguntou sem se voltar.

-# Por acaso não se preocupa com a sua reputação? Ficará arruinada se alguém ficar sabendo do que houve entre nós.

-# Ou então teria de se casar comigo, milorde — ela disse em tom baixo e zombeteiro.

-# O que não tenho a menor intenção de fazer, sabe muito bem disso. — pensou numa imprecação. — Não pretendo me casar com ninguém — corrigiu-se —, o que também não ignora.

-# O que eu sei... — Serena virou-se, furiosa. Mas, in terrompeu-se e cruzou os braços.

-# O quê?

-# Você não entenderia, nem ao menos escutaria. — E voltou-se de novo para a janela.

O tom desdenhoso o atingiu como uma ponta de lança afiada.

-# Por favor. Petulância não combina com o seu estilo.

-# E como eu deveria agir? Diga-me, o que deveria sentir? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.

-# Gratidão.

-# O quê?

Darien recostou-se com fisionomia insolente.

-# Sabe muito bem que eu poderia tê-la seduzido facil mente, mas não o fiz.

Serena sentiu um nó na garganta e recuou. Quando con seguiu falar, a voz baixa não poderia ser mais letal:

-# Você é um homem odioso, apesar de todos os seus títulos.

-# Estou apenas lhe dizendo a verdade. E sabe por que eu me contive? Por que não arranquei sua camisola e não a possuí ali mesmo, no sofá?

Ela arregalou os olhos e sua respiração tornou-se mais forte. Mas a grosseria não terminou ali. Darien queria fazê-la entender quem ele era na realidade e do que era capaz ou não de fazer.

Era preciso deixar claro que ele até se prejudicara para não desonrá-la, e seu esforço nem ao menos fora reconhecido.

-# Eu lhe direi, srta. Tsukino. Eu me contive por respeito à senhorita. E tem mais uma coisa... — Parou e praguejou.

Serena fitou-o, desafiadora, como se insinuasse que ele nem ao menos tinha noção do que pretendia dizer.

O maior problema era que Darien sabia exatamente o que teria de confessar. Quanto a desejara e que, se não estives sem na casa de seus pais, certamente não teria parado.

No entanto, ela não precisava saber daquilo tudo, muito menos do poder que exercia sobre ele.

-# Pode acreditar — murmurou mais para si mesmo do que para ela. — Eu não quis arruinar o seu futuro.

-# Deixe o meu futuro aos meus cuidados — Serena falou com raiva. — Sei muito bem o que estou fazendo.

-# Com vinte anos acha que sabe tudo. Eu também era assim nessa idade.

Darien procurou ignorar o remorso que lhe remoía as entranhas. Se bem que, na verdade, nem deveria sentir-se cul pado, pois não conspurcara a inocência de Serena.

-# Algum dia ainda haverá de me agradecer por isso.

-# Você está parecendo lady Rudland.

-# E você está se tornando cada vez mais mal-humorada.

-# Pretende atribuir-me também esse adjetivo? Está me tratando como se eu fosse uma criança, quando sabe perfeitamente que sou uma mulher adulta. Pois tenha ciência do que sei tomar minhas decisões — ela continuou a desafiá-lo.

-# De maneira nenhuma. — Darien inclinou-se para a frente com um brilho perigoso no olhar. — Ou não teria permitido que eu abaixasse a sua camisola e beijasse seus seios,

-# Não tente dizer que o delito foi meu. — Ela sentiu-se escarlate de tanta vergonha.

Darien fechou os olhos e passou as mãos nos cabelos, con victo de que acabara de dizer uma grande estupidez.

-# Claro que não foi. Por favor, esqueça o que eu disse.

-# Assim como sugeriu que eu esquecesse que me beijou?

-# Sim. — Jamais a tinha visto com uma fisionomia tão in diferente. — Por Deus, não me olhe desse jeito.

-# Não faça isso, faça aquilo. Esqueça isso, não esqueça aquilo. Decida-se. Não sei o que pretende. E creio que essa dúvida também é sua, milorde.

-# Não fale assim comigo. Sou nove anos mais velho.

Depois de tão contida e amarga, Serena de repente ex plodiu em emoções.

-# Pare de me dizer o que devo fazer! Não lhe ocorreu que talvez eu queria que me beijasse? Ou que me desejasse? Sei muito bem que isso aconteceu. Não sou tão ingênua a ponto de convencer-me de que o orgulhoso lorde Darien nada sentiu.

-# Você não sabe o que está dizendo.

-# Realmente não sei... Tenho certeza! — Seus olhos chamejavam e fechou as mãos em punhos.

Darien teve uma premonição de que tudo dependia da quele momento e que, independentemente do que diriam, nada acabaria bem.

-# Sei exatamente o que digo. Eu te desejo.

Darien sentiu o corpo enrijecer-se e o coração estourar no peito. Teria de impedir a continuação daquele trajeto perigoso.

-# E imaginação sua achar que me deseja. Por nunca ter beijado ninguém...

-# Não me trate com tamanha condescendência. — Fitou-o com um olhar abrasador. — Estou consciente do que eu quero e desejo.

A respiração de Darien ficou ainda mais ofegante. Ele mereceria ser santificado pelo que pretendia dizer.

-# Não é nada disso. Trata-se apenas de uma imprudência ou talvez presunção.

-# Droga! — Serena gritou. — Será que é cego, surdo e mudo? Não se trata de nenhuma enfatuação, seu tolo! Eu te amo! — E abaixando um pouco o tom de voz continuou: — Eu sempre te amei! Desde que o conheci, há nove anos.

-# Oh, Deus!

-# E não tente me dizer que é uma paixonite infantil, porque não é. Podia ser no começo, mas agora não é mais.

Ele nada disse. Ficou sentado, sem ação, olhando-a.

-# Eu amo você do fundo do meu coração. E se você tivesse a menor sombra de decência, diria alguma coisa. Eu falei o que estava engasgado há tempos e não posso suportar esse silêncio. Céus, poderia ao menos piscar?

Mas, nem mesmo isso ele conseguiu fazer.

Dois dias depois, Darien ainda se encontrava mergulhado em grande perplexidade.

Serena não se aproximara nem tentara falar com ele, mas vez por outra pegava-se fitando-a com expressão inde cifrável. Ela tinha plena ciência que o havia perturbado. Ele nem ao menos tinha a presença de espírito de desviar o olhar quando se via observado, demorando alguns instantes para piscar e fingir prestar atenção em outra coisa.

Durante o final de semana, eles se evitaram mutuamente. Se Darien cavalgava, Serena entretinha-se na estufa para o cultivo de laranjas; se ela ia passear nos jardins, ele resol via jogar cartas.

Tudo muito civilizado, muito adulto. E muito sofrido, con cluiu Serena.

Procuravam não se encontrar nem mesmo às refeições. Lady Chester orgulhava-se de suas habilidades casamen teiras, mas como era altamente improvável que Darien e Serena estivessem romanticamente envolvidos, ela nem mesmo designou-lhes lugares próximos na mesa.

Enquanto Darien ficava sempre rodeado por uma tropa de donzelas. Serena via-se acompanhada de viúvos grisa lhos, o que a fez supor que lady Chester não estivesse muito empenhada em apresentar-lhe um marido adequado. Hotaru, ao contrário, sentava-se sempre com três cavalheiros ricos e charmosos; um à esquerda, outro à direita è um terceiro em frente. Nesse meio tempo, Serena aprendia um pouco mais sobre remédios para gota com os mais idosos.

Para um dos eventos, a anual caça ao tesouro, lady Chester decidiu que os convidados teriam de fazer a busca em duplas. Como o objetivo, nem sempre oculto, da maioria era casar-se ou pelo menos embarcar em um romance, dependendo do estado civil de cada um, os pares seriam compostos por um homem e uma mulher. Lady Chester escrevera os nomes dos presentes em tiras de papel. Os nomes das damas tinham sido postos num dos saquinhos, os dos homens, em outro.

No momento ela enfiava a mão em uma das pequenas sacolas e Serena sentiu um frio no estômago.

-# Sir Anthony Waldove e... — A anfitriã afundou a mão no outro invólucro. — Lady Rudland.

Serena soltou a respiração. Faria qualquer coisa para ficar com Darien e tudo para evitá-lo.

-# Coitada da minha mãe — Hotaru cochichou no ouvido da amiga. — Sir Anthony Waldove não é dos mais inteligen tes. Mamãe terá de fazer todo o trabalho.

-# Não me diga.

-# Sr. William Fitzhug e... srta. Charlotte Gladish. — Lady Chester prosseguiu com o sorteio.

-# Qual o cavalheiro que mais lhe agradaria para acom panhá-la na brincadeira? — Hotaru perguntou.

Serena deu de ombros. Não se importaria se Darien fos se designado para ela.

-# Lorde Darien e...

O coração de Serena parou de bater.

-# ...lady Hotaru Bevelstoke. Não é mesmo um encanto? Pela primeira vez, desde que fazemos este jogo há cinco anos, contaremos com uma dupla de irmãos como um dos casais.

Serena não tinha certeza se estava desapontada ou aliviada.

Hotaru, por sua vez, não tinha dúvida a respeito de seus próprios sentimentos.

-# Quel desastre — murmurou em francês de iniciante. — Tantos cavalheiros e tive de cair justo com meu irmão. Quando será a próxima vez em que me será permitido pas sear a sós com um rapaz simpático? É um verdadeiro des perdício.

-# Poderia ser pior — Serena afirmou, pragmática. — Nem todos os homens aqui presentes são cavalheiros no sentido estrito da palavra. Pelo menos ele não tentará vio lentá-la.

-# É um pequeno consolo, eu lhe asseguro.

-# Hotaru...

-# Fique quieta, escute. Lady Chester acabou de chamar lorde Westholme.

-# ...e para sua parceira... a srta. Serena Tsukino!

-# Que sorte a sua! — Hotaru cutucou-a.

E ela caprichou na expressão de pouco caso.

-# Não sei para que essa superioridade. Ele é um espetá culo, não acha? Eu faria qualquer coisa para trocarmos de lugar. Boa idéia! Não existem regras que impeçam a troca e nunca ouvi você dizer que Darien lhe desagradasse.

Nem poderia, refletiu Serena com amargura.

-# Então, o que me diz? Faria isso por mim? A menos que também esteja interessada em lorde Westholme.

-# Oh, não. — Ela procurou não parecer desapontada nem eufórica. — De maneira nenhuma.

-# Então vamos trocar de parceiros — Hotaru sugeriu, ex citada.

Serena não sabia se pulava de alegria com a oportuni dade ou se corria para o quarto e se escondia no guarda-rou pa. De qualquer forma, não haveria desculpa para recusar o oferecimento da amiga, nem maneira de explicar o receio de ficar a sós com Darien. Teve vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo.

Hotaru a encarava na expectativa de ser atendida, situação a que estava acostumada desde criança. E Serena sabia que, independente do que dissesse ou fizesse, acabaria fa zendo a caça ao tesouro acompanhada de Darien.

O problema não era a amiga ser mimada. O ponto nevrál gico seria o interrogatório preciso e persistente que se segui ria a uma recusa de qualquer natureza. E seu maior receio era acabar revelando o segredo de sua paixão.

Teria de suportar a situação com galhardia até voltar para casa e enfiar-se na cama sob os cobertores. Não res tando outra alternativa, Serena suspirou e anuiu. Não havia mal que bem não fizesse, mesmo que as bondades não se evidenciassem.

-# Oh, querida, nem sei como lhe agradecer! — Hotaru apertou-lhe a mão.

-# Espero que ele não se incomode — comentou, não evi tando o sarcasmo.

-# Nem pense nisso. O mais provável será ele agradecer à boa sorte de não ter de passar a tarde inteira comigo. Meu irmão continua pensando que sou uma menina.

-# Não é verdade.

-# E, sim. Ele sempre me diz que eu deveria imitar você.

-# Está falando a sério?

-# Estou. — Olivia voltou a atenção para lady Chester, que continuava com o sorteio dos pares.

Assim que a tarefa foi completada, os homens se levan taram para conversar com as parceiras.

-# Serena e eu trocamos de lugar! — Hotaru justificou-se assim que Darien se aproximou. — Isso não o incomoda, não é?

-# Claro que não.

Serena não duvidou nem por um instante que Darien estivesse mentindo, embora não pudesse recusar a oferta frontalmente.

Lorde Westholme chegou logo em seguida e, mesmo pro curando disfarçar os sentimentos, não conseguiu ocultar a satisfação pela permuta. Ele ficou em silêncio e Hotaru fitou Serena com semblante perplexo.

-# Eis a primeira pista! — lady Chester anunciou. — Ca valheiros, por favor, aproximem-se para pegar os envelopes.

Darien e lorde Westholme foram até o meio da sala e voltaram com o invólucro branco.

-# Vamos abrir o nosso lá fora — Hotaru disse a lorde Westholme, fitando a amiga com malícia. — Não quero que ninguém nos ouça enquanto discutimos a nossa estratégia.

Os demais competidores tiveram a mesma idéia e, depois de alguns minutos, Serena e Darien ficaram sozinhos. Ele deu um suspiro e levou as mãos à cintura.

-#Não fui eu quem sugeriu a mudança — ela defendeu-se. — Hotaru fez questão de mudar os pares.

Darien apenas ergueu uma sobrancelha, descrente.

-# Não fiz nada do que está pensando! Hotaru está interes sada em lorde Westholme e diz que você a considera uma criança.

-# Mas ela é uma menina mesmo.

Serena não estava inclinada a discutir no momento, po rém teve de defender a amiga.

-# Hotaru não podia imaginar a situação constrangedora que provocaria.

-# E por que não se negou a fazer-lhe a vontade?

-# Ah, sim! E com que desculpa? — desafiou-o, aborrecida.

-# O que eu poderia sugerir? Como explicar à sua irmã que nós não deveríamos passar a tarde juntos?

Como não soube o que responder, Darien virou-se e caminhou rumo à porta.

Serena esperou um pouco e ao ver que não era aguar dada, deu um suspiro e apressou-se a alcançá-lo.

-# Será que não poderia andar mais devagar?

Darien se deteve, demonstrando impaciência por ter de esperar.

-# O que deseja? — resmungou.

-# Poderíamos ao menos tentar agir com civilidade? — inquiriu ela com uma calma forçada.

-# Não estou com raiva por sua causa.

-# Pelo menos até agora a demonstração foi inversa.

-# Estou frustrado e por motivos que ninguém poderia imaginar.

Serena corou por saber a segunda intenção, naquelas palavras.

-# Por que não abre o envelope? — Darien sugeriu, en tregando a mensagem, a ela

-# Encontrem sua próxima pista debaixo de uma minia tura do sol — Serena leu. Relanceou um olhar na direção dele, que, ensimesmado, nem mesmo a fitava. — A estufa das laranjas. — Na verdade, nem se importaria se ele deci disse desistir. — Sempre pensei naquelas laranjas como sóis em pequena escala.

Darien concordou com um gesto de cabeça e fez sinal para que ela o precedesse. Sem comentários, os dois saíram da casa rumo à estufa, e Serena teve a nítida impressão de que ele não via a hora aquela caça ao tesouro chegasse ao fim. No entanto, não o obrigaria a fazer nada. Considerava-se inteligente e não seria difícil decifrar as pistas. Dentro de no máximo uma hora, eles estariam de volta aos respectivos quartos.

Como era de se esperar, encontraram vários envelopes sob uma laranjeira. Darien pegou um deles e entregou-o pa ra que fosse aberto.

-# Os romanos podem ajudá-los a encontrar a próxima pista.

Serena devolveu a mensagem para ele, que não mani festou irritação pelo silêncio. Dobrou o pedaço de papel e fitou-a com tediosa expectativa.

-# Está sob um arco — ela declarou de maneira trivial. — Os romanos foram os primeiros a usá-los na arquitetura. Há vários deles no jardim.

Após mais um acerto, apanharam outro envelope dez mi nutos depois.

-# Quantas pistas ainda teremos de procurar? — Darien quis saber.

Era a primeira frase que ele pronunciava desde o início da brincadeira, e isso porque, decerto, não via a hora de acabar logo com aquilo. Serena cerrou os dentes por causa do insulto, sacudiu a cabeça e abriu o envelope. Teria de manter-se impassível a qualquer custo. Se o deixasse perce ber o que se passava em sua mente, estaria perdida. Então, com o semblante mais sereno que pôde ostentar, desdobrou atira de papel.

-# Você terá de caçar para a próxima pista.

-# Está falando em caçada de verdade?

-# Se decidiu mesmo participar... — ela insinuou, arqueando as sobrancelhas.

-# Não se faça de engraçadinha.

Apesar de agastada, ela resolveu ignorar a afronta.

-# Existe um pequeno pavilhão de caça ao leste. Andando, chegaremos lá em quinze minutos.

-# Como foi que descobriu a cabana?

-# Tenho caminhado bastante.

-# Para fugir de mim...

Serena não viu motivo para negar a afirmativa, enquan to ele esquadrinhava o horizonte.

-# Acha que lady Chester nos mandaria para tão longe da residência?

-# E o que acabei de descobrir — ela respondeu, com pouco caso.

-# Já que está certa, é melhor começarmos a caminhada. Eles andaram pela floresta durante algum tempo, quando o céu começou a escurecer.

-# Parece que vai chover — comentou Darien, lacônico. Serena ergueu os olhos e percebeu que ele tinha razão.

-# O que pretende fazer?

-# Agora?

-# Não, na próxima semana. Claro que é agora, toleirão. Darien riu e Serena tentou ignorar o efeito que aquele sorriso lhe causava.

-# Ah, a senhorita me ofendeu.

-# Por que, de repente, passou a ser tão cordial? — ela retorquiu, estreitando os olhos.

-# Nem percebi a mudança. Talvez me agrade conceder-lhe algum carinho.

Serena sentiu-se mortificada.

-# Não creio nisso.

-# Mas deveria, para não tornar as coisas tão difíceis.

-# Ah, chega de bobagens! Parece que vai chover mesmo — Serena declarou com arrogância. — Será melhor pros seguirmos e...

Um trovão ribombou.

-# Tem razão. — Ele olhou o céu. — Estamos mais pró ximos da cabana ou da casa?

-# Creio que da cabana.

-# Então vamos depressa. Não tenho o menor desejo de ser apanhado por um raio no meio da mata.

Não chegaram a dar dez passos quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Mais dez e a tempestade des pencou.

Darien segurou-a pela mão e puxou-a pela trilha. Serena tropeçou e refletiu que de nada adiantaria correr, pois já estavam ensopados até os ossos.

Poucos minutos depois chegaram ao pavilhão de caça. Darien empurrou a porta, que não cedeu.

-# Droga!

-# O que vamos fazer?

Ele bateu com o ombro na porta, enquanto Serena sem sucesso, também tentava abrir uma janela. Não desistindo, agora o corpo forte era jogado com força contra a madeira maciça.

Prevendo que aquele era um esforço inútil, Serena deu a volta na casa, tentou outra janela e logrou êxito. Com um pouco de esforço, a folha deslizou para cima. No mesmo ins tante, ouviu a porta ceder. Pensou em entrar pela janela, mas considerou o esforço de Darien e resolveu ser magnâ nima. Ela o deixaria acreditar que era um cavaleiro salvador Com a armadura brilhante.

-# Serena!

Ela deu a volta no pequeno pavilhão.

-# Estou aqui — respondeu, entrando e fechando a porta.

-# O que estava fazendo do lado de fora?

-# Procurando outra entrada. — Ela desejou ter pulado pela janela.

-# Como assim?

-# Eu estava examinando o outro lado — mentiu e olhou para trás. — A porta ficou estragada?

-# Não muito, só a cavilha se quebrou.

-# Não machucou o ombro?

-# Nada grave. — Darien tirou o casaco ensopado e pen durou-o em um gancho na parede. — Tire a sua peliça.

Em resposta, Serena cruzou os braços e sacudiu a cabeça.

-# É um pouco tarde para pudores — ralhou impaciente.

-# A qualquer momento, alguém poderá chegar.

-# Duvido. Todos devem estar quentes e secos no gabinete de lorde Chester, examinando as cabeças de animais que enfeitam a parede.

Miranda engoliu em seco; tinha de dar razão a ele. Es quecera que lorde Chester era um ávido caçador. Olhou ao redor do recinto e não viu nenhum envelope à vista. Ninguém viria à cabana tão cedo, e a chuva não dava mostras de querer parar.

-# Por favor, não me diga que prefere o pudor à saúde.

-# Claro que não. — Serena tirou o agasalho fino de pele e pendurou-a no gancho ao lado. — Sabe acender um fogo?

-# Se tivéssemos madeira seca...

-# Creio que isso nunca falta numa cabana de caça. — Fitou-o com olhar esperançoso. — Os homens não precisam se aquecer durante as caçadas?

-# Depois de caçar — ele corrigiu-a, olhando em volta. — E imagino que a maioria deles, inclusive lorde Chester, pre fira fazer o trajeto até a residência para se aquecer a ter o trabalho de acender o fogo aqui.

-# Vou procurar roupas secas no outro quarto — declarou Serena, após observá-lo movimentar-se pelo recinto.

-# Boa idéia.

Darien avaliou-a de costas ao se afastar. O tecido enso pado colara-se no corpo e, através dele, era possível discernir o tom. róseo de sua pele. O frio cedeu imediatamente, e sen tiu-se invadido por um calor familiar. Praguejou em voz baixa e machucou o dedo do pé ao levantar a tampa de um baú à procura de lenha.

O que fizera para merecer tudo aquilo? Seria difícil ima ginar tortura semelhante, mesmo para alguém com a ima ginação tão fértil como a sua.

-# Achei madeira seca!

Ouvindo a voz dela, Darien foi até o aposento contíguo.

-# Ali. — Serena apontou uma pilha de achas perto da lareira. — Creio que lorde Chester prefere acender o fogo aqui.

Darien olhou para a cama de casal arrumada com acolchoados e travesseiros fofos. Atirou um pedaço de lenha na grelha e teve uma vaga idéia dos motivos que levavam lorde Chester a ter predileção por aquele aposento. Sem a menor Sombra de dúvida, não diziam respeito à corpulenta lady Chester...

-# Não acha que deveríamos acender a lareira do outro quarto? — Claro que os dois pensaram a mesma coisa ao depararem com aquela cama larga e convidativa. — Esta parece ter sido mais usada e, portanto, é mais segura. E perigoso utilizar uma chaminé suja, que pode até estar obstruída.

Darien desconfiou de que, apesar da anuência, o cons trangimento de Serena era evidente. Disfarçando para não embaraçá-la ainda mais, ocupou-se com a lenha, quando a Viu procurando por roupas secas.

-# São de cashmere? — perguntou, ao vê-la estendendo umas mantas velhas que acabara de encontrar.

Ela surpreendeu-se ao deduzir que fora observada e ganhou um sorriso condescendente.

Na certa, Serena estava sem jeito, mas seria tão difícil para uma mulher entender que sua simples presença já era constrangedora? Principalmente se pouco tempo antes essa mesma mulher havia declarado todo seu amor. Mas Darien não queria tamanha responsabilidade. Já fora casado e so frerá muito. A última coisa no mundo que desejava era a custódia de mais alguém, muito menos de Serena.

-# Use o acolchoado da cama — ele sugeriu.

Recebeu como resposta uma negativa com um gesto enér gico de cabeça, apesar de saber como aquilo seria confortável.

-# Não quero amassá-lo. Será melhor que ninguém fique sabendo que estivemos aqui.

-# Entendi — concordou, ríspido. — Nesse caso, eu teria de pedi-la em casamento, não é?

Ela pareceu tão chocada que Darien murmurou um pedi do de desculpas. Admitiu que estava se transformando em algo que não lhe agradava. Não queria magoá-la. Gostaria apenas...

Droga, nem mesmo sabia o que desejava. Não enxergava um futuro mais longínquo que os próximos dez minutos e da necessidade de manter as mãos ocupadas.

Foi então que ocupou-se em acender a lareira e deu um suspiro de satisfação quando as chamas alaranjadas começaram a crepitar.

-# Agora é fácil — murmurou e jogou um graveto menor na lareira. — Ah, isso mesmo! Agora...

-# Darien?

-# Só é preciso manter o fogo aceso.

Levantou-se e virou-se para encontrá-la ainda com a man ta puída sobre os ombros.

-# Seria melhor secar-se, não acha?

-# Não tenho escolha, não é mesmo?

-# Isso é por sua conta. Quanto a mim, não pretendo con tinuar molhado — afirmou, levando as mãos aos botões da camisa.

-# Acho melhor eu ir para o outro quarto — ela sussurrou sem se mexer.

Darien deu de ombros e tirou a camisa.

-# Já estou indo...

-# Então vá.

-# Eu...

-# O que foi?

-# Nada sério... — Dessa vez saiu apressada do quarto. Darien sacudiu a cabeça. Por acaso alguém entendia as mulheres? Serena havia dito que o amava, depois que gos taria de seduzi-lo. Em seguida, o evitara durante dois dias. E então pareceu aterrorizada.

Cobriu-se com uma das mantas e postou-se diante do fogo para secar o corpo. Não se sentiu à vontade e fitou a porta. Pela maneira como ela se mostrava envergonhada, dificil mente entraria sem bater.

Tirou a calça, e o calor das chamas aqueceu-o de imediato. Olhou a porta de viés e, por garantia, amarrou a manta na cintura, como se fosse um kilt.

Pensou na expressão do rosto dela antes de sair do quarto. A timidez vinha mesclada com fascinação? Ou desejo?

O que ela pretendia dizer antes de interromper-se?

Se ele se aproximasse, tomasse seu rosto entre as mãos e sussurrasse Diga-me, o que teria ouvido em resposta?

3 de julho de 1819

Quase repeti o óbvio, e acho que Darien entendeu o que eu pretendia dizer.

OoOoOoOoOoooooOoOoOoOOoOoOOoOooOoOooooOoOoOooOOoOoo

Taí Beka como prometi postei hoje de manhã, e se alguém tiver lendo posto outro hoje a atarde...

Report Possible AbuseAdd Story to FavoritesAdd Story to Story AlertAdd Author to FavoritesAdd Author to Author AlertAdd Story to Community > > 1. Chapter 12. Chapter 23. Chapter 34. Chapter 45. Chapter 56. Chapter 67. Chapter 78. Chapter 8

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "História de Um Grande Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.