História de Um Grande Amor escrita por Acyd-chan


Capítulo 6
Capítulo 6




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Darien encontrava-se no gabinete de seu pai, no escuro, depois de ter consumido uma vela e três cálices de conhaque. Olhava através da janela e escutava as folhas de uma árvore próxima farfalharem ao vento, batendo na vidraça.

Aquela languidez era o que lhe convinha depois de um dia como aquele.

Primeiro Hotaru o acusara de estar com interesses escusos em sua amiga. Em seguida, fora o encontrão com Serena e...

Deus misericordioso, ele a desejara e...

Sabia exatamente o momento em que o interesse havia brotado. Não fora quando da colisão, nem quando a segurara pelos braços para evitar que caísse. Abraçá-la fora praze­roso, mas também não havia sido então que a verdade lhe ocorrera.

O instante em que entendera estar em perigo sucedeu alguns segundos depois, quando ela erguera o rosto e o fitara.

Aqueles olhos azuis e brilhantes sempre o atraíram. E fora um idiota em não ter percebido antes.

Naquele instante, os ponteiros do relógio pararam por um breve momento, que mais pareceu uma eternidade, e sentiu a mudança. Um turbilhão atingiu-o e até o respirar exigia um grande esforço. De maneira inconsciente, tinha apertado com mais força aquele braço macio, assustando-a. Foi então que admitira que a desejava como jamais poderia ter ima­ginado, apesar de não ser correto nem respeitável. A partir de então, ansiava por tê-la nos braços. Nunca ficara tão desgostoso consigo mesmo. Aquele sentimento avassalador não podia ser amor.

Não seria capaz de amar ninguém, depois da destruição que Rey operara em seu coração. Tratava-se então de um desejo puro e simples por uma mulher que, provavelmente, era uma das poucas puras e dignas da Inglaterra.

Pensativo, serviu-se de mais um drinque. O que não ma­tava um homem na certa o fortalecia, era a melhor desculpa que encontrava para beber mais. Mas aquilo...

Certamente acabaria por liquidá-lo.

Enquanto estava ali sentado, sentindo-se o último dos ho­mens, ponderando sobre a própria fraqueza, ele a viu.

Não podia ser verdade, com certeza era uma visão. Al­guém pretendia testar seu brio de cavalheiro, e obviamente estava destinado a falhar. Tentaria controlar-se com o maior empenho de que fosse capaz, mas no recôndito da alma, onde se recusava a examinar, havia uma certeza: seria impossível recuar.

Serena se movia como um anjo. A camisola branca e larga de algodão ondulava com as passadas lentas, chegando a brilhar na escuridão, o que o deixou ainda mais desespe­rado, fazendo-o agarrar-se nos braços da cadeira como se daquilo dependesse sua vida.

Serena não havia encontrado o que procurava no salão rosa e dirigiu-se ao gabinete de lorde Rudland, onde entrou com grande apreensão. Lembrava-se de ter visto uma gar­rafa de cristal na prateleira ao lado da porta. Poderia pegar o que desejava e sair em segundos. A atitude não chegaria a ser considerada uma invasão de privacidade.

-# Onde estarão os cálices? — murmurou, deixando a vela sobre a mesa. — Ah, estão aqui. — Abriu a garrafa de xerez e serviu-se de uma pequena dose.

-# Espero que não faça disso um hábito — uma voz ar­rastada ecoou na sala.

Assustada, deixou cair o cálice, que se espatifou no chão.

-# Ora, que desperdício.

Ela se virou e o viu sentado numa cadeira de balanço. Apesar da pouca luz, a expressão irônica era inconfundível.

-#Darien?—sussurrou o óbvio, como se pudesse ser outra pessoa.

-# O próprio.

-# Mas o que... Por que está aqui? — Ela adiantou-se e, sem enxergar direito, acabou por pisar em um caco de vidro. — Ai!

-# Mas que grande tolice andar por aí com os pés descalços.

-# Eu não estava planejando quebrar um cálice! — Serena abaixou-se e removeu a lasca afiada da sola do pé.

Isso não importa. Ainda vai apanhar uma gripe pelo hábito de andar pela casa sem agasalho e sem chinelos. — Sem dizer mais nada, ergueu-a nos braços fortes e levou-a para longe dos estilhaços.

Ela refletiu que nunca estivera tão perto do paraíso em seus poucos anos de vida. Podia sentir, através da camisola, o calor daquele corpo viril de encontro ao seu. Aquela proxi­midade fazia sua pele formigar, levantando-se em arrepios.

Aquele perfume másculo era único: uma fragrância amadeirada e quente, mesclada ao cheiro do conhaque. Havia mais alguma coisa que a embriagava, que ainda não conse­guia identificar.

Agarrada ao pescoço largo, abaixou a cabeça para inalar ainda mais daquele aroma característico.

No momento em que se convenceu de que a vida não po­deria ser mais perfeita, Darien largou-a, sem a menor ceri­mônia, no sofá.

-# O que pretendia fazer neste gabinete?

-# E você, o que estava fazendo aqui?

-# Perguntei primeiro — retrucou, sentando-se numa mesinha baixa, em frente a ela.

-# Estamos parecendo duas crianças — confrontou-o, sen­tando-se sobre as pernas, mas acho que devia se explicar. — Eu não conseguia dormir e imaginei que um cálice de xerez resolveria o problema.

-# Ah, entendi. O pensamento lhe ocorreu por haver atin­gido a provecta idade dos vinte anos.

Exatamente. Serena não estava disposta a entrar em nenhum jogo de poder, limitando-se a inclinar a cabeça em concordância.

-# Então, pelo menos, permita que eu a ajude no empreen­dimento. — Ele riu e, levantando-se, foi até a cristaleira. — Mas, por favor, se resolveu beber, faça-o de maneira adequa­da. O conhaque é mais apropriado nas atuais circunstâncias, ainda mais se for o contrabandeado da França.

Tirando dois cálices de uma prateleira, ele serviu duas doses generosas.

-# Quando eu era menino, minha mãe costumava permi­tir, ocasionalmente, que eu bebesse um gole de conhaque. Por exemplo, para esquentar quando eu ficava encharcado de brincar na chuva.

-# Está com frio? — perguntou com uma voz sensual, encarando-a com olhar intenso, perceptível até mesmo à pouca luminosidade.

-# Não, por quê?

-# Percebo que está tremendo.

Serena fitou as próprias mãos traiçoeiras. O tremor não era causado por conta da temperatura. Abraçou-se então, com intenção de disfarçar o embaraço.

Darien aproximou-se e, com a graça felina de um preda­dor, entregou-lhe o cálice e recebeu em resposta um olhar exasperado.

-# Por que está aqui? — Ela não pretendia deixar o as­sunto esquecido.

-# Eu precisava discutir com meu pai alguns assuntos relativos às nossas propriedades rurais. Convidei-o para to­mar um drinque depois do jantar. Mais tarde, ele foi dormir e eu fiquei — contou, voltando a se sentar na mesinha.

-# E permaneceu no escuro esse tempo todo?

-# Gosto de refletir em ambientes com pouca luminosi­dade.

-# Bobagem, ninguém gosta de escuro.

A risada de Darien a fez sentir-se como uma criança ima­tura.

-# Ah, minha querida, obrigado por me alegrar.

-# Quanto foi que já bebeu? — quis saber, estreitando os olhos.

-# Essa é uma pergunta impertinente.

-# Ah! Então passou da conta, não é?

-# Estou parecendo bêbado? — ele inquiriu, inclinando-se para a frente.

Serena recuou, despreparada para a intensidade daque­le olhar.

-# Não. Mas a sua experiência é muito maior do que a minha e imagino que deva saber administrar os efeitos da bebida. Provavelmente não mostrará os sintomas, mesmo se beber dez vezes mais que eu.

-# Essa é a mais pura verdade. — Dessa vez o riso foi amargo. — E se quer o meu conselho, minha querida, deveria aprender a ficar afastada de homens muito experientes.

Com toda a calma, Serena tomou mais um pequeno gole, embora sua vontade fosse beber tudo de uma só vez. Estava diante de um homem que se tinha comportado de maneira abominável durante toda a noite. Mordaz ou sarcástico quando estavam sozinhos, silencioso e sombrio na frente de todos. Amaldiçoou o próprio coração por amá-lo tanto. Seria muito mais fácil gostar de Seiya, que tinha gênio fácil, um sorriso franco e luminoso e que a idolatrava.

Mas não, só pensava em Darien, que era dono de um tem­peramento instável. Em um momento ria e brincava, em outro a tratava como se não se conhecessem.

O amor era para os tolos, e ela sentia-se como a rainha de todos.

-# No que está pensando? — ele perguntou, trazendo-a de volta à realidade.

-# Em seu irmão. — Era uma perversidade, mas verda­deira de certa forma.

-# Ah... — Suspirou, servindo-se de mais conhaque. — Seiya é um bom rapaz.

-# Tem razão. — Ela usou um tom de desafio velado.

-# Alegre.

-# Adorável.

-# Embora muito novo...

-# Eu também sou. Talvez por isso combinaremos bem. A resposta foi acompanhada por um dar de ombros. Como não houve comentário algum em protesto, ela virou o resto da bebida e cutucou-o.

-# Não concorda comigo?

O silêncio ainda predominava.

-# Estamos falando sobre Seiya — ela provocou-o. — É seu irmão. Imagino que queira vê-lo feliz, não? Acredita que eu não serei a noiva ideal e que não o farei feliz, não é verdade?

-# Por que a dúvida agora?

Erguendo a mão, Serena passou a ponta do indicador na beira do cálice, para depois lambê-lo sensualmente e er­guer os olhos provocantes.

Darien serviu-a com mais conhaque e ela prosseguiu:

-# Eu precisava de uma opinião e não sabia a quem per­guntar. Hotaru está ansiosa demais para me ver casada com Seiya e, por ela, subiríamos no altar o mais depressa possível.

A resposta foi aguardada ansiosamente, até que ele deu um suspiro profundo que soou quase como uma rendição.

-# Não sei o que dizer. Não imagino por que não faria meu irmão feliz, se a vejo agradar a todos.

Eu o faria feliz também, Darien?

-# E ele, faria a minha felicidade?

-# Não tenho certeza — respondeu com cautela.

-# Por que não? O que há de errado com Seiya?

-# Nada que o desabone. Apenas não sei se ele a faria feliz.

-# Mas por quê? — Ela reconhecia a própria impertinência, mas sua lógica era irrefutável.

Se o ouvisse justificar por que Seiya não era o homem ideal, talvez entendesse que ele mesmo poderia fazê-la feliz.

-# Não sei. — Darien passou a mão pelos cabelos até desarrumá-los por completo. — É mesmo necessário termos esta conversa?

-# Sim, é.

-# Se insiste, está bem. — E inclinou-se para a frente, estreitando o olhos como quem se preparava para dar notí­cias desagradáveis. — Para falar com sinceridade, falta-lhe a beleza considerada como padrão nos meios sociais. Além disso, posso garantir que é um tanto sarcástica e que não lhe agrada manter conversas corteses e sem muito funda­mento. Francamente, não posso entender por que deseja um matrimônio típico da nossa sociedade.

-# E? — Ela engoliu em seco.

-# Seu temperamento não agrada à maioria dos homens. Tenho certeza de que a felicidade ficará bem longe do seu alcance, se seu marido tentar moldá-la de acordo com crité­rios pré-estabelecidos.

A tensão aumentava, e Serena continuava a prendê-lo com um olhar intenso.

-# Na sua opinião, haverá alguém que possa gostar de mim como eu sou? — perguntou em voz baixa.

A questão ficou no ar e os dois ficaram hipnotizados até vir finalmente a constatação:

-# Sim. — Ele suspirou e tomou o conhaque restante. Aquela resposta mais parecia ter sido dada à bebida e não a qualquer dúvida pessoal que ela pudesse ter.

Serena olhou para outro lado. O momento de magia, se é que havia mesmo existido e não passara de um produto da sua imaginação, havia se perdido; o silêncio que se seguiu foi constrangedor. E ela sentiu-se compelida a preencher aquele desconfortável vazio com a primeira coisa que lhe veio à mente.

-# Pretende ir ao baile de Worthington na próxima se­mana?

Darien virou-se e arqueou as sobrancelhas diante da ines­perada pergunta.

-# Talvez.

-# Eu gostaria que fosse. Assim poderia repetir a bondade de dançar comigo duas vezes. Caso contrário, ficarei sem parceiros, o que seria uma tristeza. — Já nem se importava com as bobagens que falava. — Eu não necessitaria do seu apoio se Seiya pudesse ir, mas ele deve voltar para Oxford amanhã.

Sentiu que era observada de modo estranho, que não era irônico, nem zombeteiro. Odiou-se por não conseguir inter­pretar a expressão inusitada, que a deixava sem saber como proceder. De qualquer modo, prosseguiu chapinhando a esmo. Naquela altura, o que teria a perder?

-# Por que não pensa melhor no caso? Eu adoraria que fosse.

-# Está bem — ele respondeu depois de fitá-la por algum tempo. — Eu irei.

-# Obrigada. Fico muito agradecida.

-# E eu, satisfeito em poder servi-la. — Mais uma cons­tatação irônica, sem qualquer entusiasmo.

-# Se for mais conveniente, dance comigo apenas uma vez. E se puder fazer isso no início do baile, ficarei satisfeita. Ha­verá a possibilidade de outros cavalheiros quererem imitá-lo.

-# Por que diz isso?

-# E muito simples. — A bebida começava a fazer efeito, deixando-a acalorada e mais ousada. — Você é um homem muito atraente. É parecido com Seiya.

-# Como é?

O tom ríspido de Darien deveria ter servido de advertên­cia para Serena, mas ela não conseguia parar.

-# Bem, os dois têm olhos azuis e cabelos loiros, embora os dele tenham tonalidade mais clara. Também são pare­cidos fisicamente, ainda que...

-# Chega, por favor.

-# Mas...

-# Eu disse chega!

Serena emudeceu diante do tom cáustico, mas logo se recuperou.

-# Não precisava ser tão grosseiro.

-# Você bebeu em excesso.

-# Não seja tolo. Não estou embriagada. Você tomou muito mais conhaque do que eu.

-# Isso não é bem verdade, mas como a senhorita afirmou anteriormente, minha experiência é muito maior que a sua.

-# Lembro-me de ter dito isso e talvez tenha acertado. Não acho que esteja bêbado.

-# Claro que não. Só me sinto um pouco imprudente.

-# Uma definição curiosa.

-# Creio que a imprudência também me atingiu.

-# Não duvido. Caso contrário teria voltado para o quarto assim que me viu aqui.

-# E não o teria comparado a Seiya. — Os olhos azuis cintilaram como aço.

-# Acredito que não.

-# Mas não se importa com isso, não é mesmo?

O longo e pesado silêncio deu a noção exata de que havia se excedido. Como pudera ser tão tola e imaginar que era desejada? Mas por que ele haveria de se incomodar ao ser comparado ao irmão mais novo? Para Darien, ela não pas­sava de uma criança, a menina para quem demonstrava indulgência por piedade. Jamais deveria ter sonhado com um envolvimento amoroso.

-# Perdoe-me. Entendo que passei dos limites. — Ela to­mou o restante do conhaque e deu dois passos em direção à porta.

-# Ai!

-# O que foi? — Turner levantou-se.

-# Esqueci dos cacos de vidro — choramingou.

-# Por Deus, não chore. — Ele alcançou-a e, pela segunda vez naquela noite, tomou-a nos braços.

-# Sou uma desastrada. — As lágrimas, mais pelo amor-próprio ferido, inundavam o rosto contraído pela dor.

-# Não blasfeme. Nunca a ouvi falar com essa linguagem. Se disser mais alguma, terei de lavar sua boca com sabão — provocou-a, carregando-a de volta ao sofá.

O tom gentil afetou-a mais do que palavras duras teriam feito, e os soluços continuaram.

-# Deixe-me ver esse pé.

-# Pode deixar que eu mesma cuido disso.

-# Não seja boba. E também não precisa tremer tanto. — Darien foi até o aparador, buscar a vela que ela havia dei­xado. — Bem, agora temos um pouco de luz. Deixe-me exa­minar o corte.

Relutante, ela apoiou o pé nas coxas musculosas.

-# Sou mesmo uma tola — repetiu.

-# Quer parar de dizer uma coisa dessas? Serena Tsukino é a mulher menos idiota que conheço.

-# Obrigada. Ai!

-# Fique quieta e pare de se mexer.

-# Quero ver o que está fazendo.

-# Isso será impossível, a menos que seja uma contorcionista. Portanto terá de confiar em mim.

-# Está terminando?

-# Quase. — E puxou mais uma lasca de vidro, enquanto sentia o corpo frágil retesar-se de dor.

-# Restam mais um ou dois pedacinhos.

-# E se não conseguir tirar todos?

-# Não se preocupe.

-# E se não conseguir?

-# Por Deus, Serena, alguém já lhe disse o quanto é teimosa?

-# Já.

Os dois evitaram sorrir.

-# Se ficar algum caco menor, sairá sozinho em poucos dias. É o que acontece normalmente — sentenciou Darien.

-# Não seria bom se a vida fosse simples como um caco de vidro? — perguntou com certa melancolia.

-# Com situações que pudessem ser resolvidas em pouco tempo?

-# Sim...

Ele fitou-a por alguns instantes e voltou ao trabalho, ti­rando mais um fragmento de vidro.

-# Pronto. Está nova em folha. — Mesmo tendo terminado a tarefa, ela não puxou o pé de onde estava.

-# Sinto muito por ser tão desajeitada.

-# Não diga isso. Foi um acidente.

Seria imaginação ou ele falava com uma dose de ternura? O movimento, ao virar-se, a fez aproximar-se ainda mais.

-# Darien?

-# Não diga nada. — A voz rouca mais parecia um acon­chego inebriante.

-# Mas eu...

-# Por favor!

Serena sentiu a urgência daquelas palavras, porém não foi capaz de compreender o que estava subentendido. Esta­vam muito perto, os calores e perfumes se misturando, po­rém ambos ansiavam por mais.

Com a força do desejo, Darien puxou-a, pressionando o corpo delicado ao peito musculoso. Serena notou que havia um brilho inexplicável naquele olhar, uma luminosidade di­ferente no sorriso e compreendeu que ambos tinham urgên­cia em se beijar, se tocar...

E naquele momento, viu realizar o sonho que a acompa­nhara durante anos. Sentir aquela boca tão bem desenhada, devorando-lhe os lábios sequiosos, era como acordar no pa­raíso. Não poderia imaginar que era desejada com a mesma voracidade, que a consumia há tanto tempo.

Trocaram um beijo quente, permitindo-se explorar as lín­guas afoitas.

Em pouco tempo Darien a empurrou docemente para o sofá, cobrindo o corpo pequeno com seu peso. Não havia mais dúvidas, nem incertezas. Não era preciso explicar a paixão que brotava em meio aos abraços e carícias.

Sentiu-se transtornado e imaginou que talvez estivesse ficando maluco, pois não conseguia afastar-se dela. Queria sentir tudo, experimentar, tocar e apertar. Seu único pen­samento, quando conseguia raciocinar, era que a queria to­mar de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

Sussurrou seu nome e ouviu-a murmurar o dele. Depois, encontrou os botões de madrepérola na parte de trás da gola do vestido e desabotoou todos. Só restava deslizar o tecido suavemente por aquele corpo tão gracioso. Sentia o contorno do busto sob a camisola, mas ansiava por mais. Queria ex­perimentar o calor, o cheiro e o sabor daquela mulher tão adorável.

Beijou-a no pescoço e na curva elegante do ombro. Insinuou a boca mais para baixo e estremeceu de prazer ao chegar à protuberância suave dos seios.

Deus do céu, como a desejava! Puxou-a para cima, apro­ximando as bocas sedentas em um beijo longo. Sem deixar de sugar-lhe os mamilos, levou a mão por baixo da barra da camisola e sentiu a pele sedosa da perna bem torneada.

Quando a mão forte alcançou a coxa, ouviu-se um grito.

-# Shh... — Ele a silenciou com um beijo. — Assim acor­dará os vizinhos e meus...

Meus pais.

A lembrança foi como um balde de água gelada sobre a cabeça.

-# Oh, Deus!

-# O que houve? — perguntou ela ainda ofegante.

-# Oh, Senhor! Serena! — Ele teve a impressão de haver acordado de um sonho e surpreender-se ao encontrá-la ali, tão vulnerável.

-# Serena, eu...

-# Fique quieta — ordenou em voz baixa e ríspida. Saiu do sofá com tamanha pressa que acabou caindo sobre o ta­pete. Levantou-se, blasfemando, e começou a andar de um lado para outro.

-# Darien?

-# Levante-se!

-# Mas...

Quando virou-se para repreendê-la, deparou com a visão estonteante daquelas pernas longas, totalmente desnudas até a linha curva dos quadris.

-# Não! — repreendeu-se, estremecendo com a força da própria negativa. — Obedeça, por favor! — ordenou.

-# Mas eu não...

Com um gesto brusco, puxou-a pela mão e a deixou em pé. Não queria se aproximar muito e novamente inebriar-se por aquela aura mágica que a envolvia.

-# Vá embora, pelo amor de Deus. Tenha juízo e volte correndo para o seu quarto.

Serena continuou parada, encarando-o com. os cabelos em desalinho e os lábios entreabertos em uma súplica silen­ciosa para serem sugados.

Embora convicto de que não deveriam continuar com aquela loucura, o desejo ainda pairava no ar.

-# Isso não se repetirá — ele declarou, tenso.

Como ela não respondeu, Darien fitou-a cautelosamente, com receio de que mais um pranto se iniciasse. Contudo, continuaram imóveis, a uma distância segura.

-# Agora é melhor subir... — Dessa vez o pedido veio em um sussurro e não como ordem.

Ela concordou com um movimento abrupto e correu para fora do escritório.

Turner continuou imóvel, inspirando o perfume doce da paixão, deixado no ar.

12 de junho de 1819,

Estou completamente sem palavras.

Darien acordou na manhã seguinte com uma forte dor de cabeça que nada tinha a ver com a bebida. O achaque seria mais fácil de ser curado se tivesse sido causado pelo conhaque.

Miranda.

Não conseguia atinar com nenhum pensamento coerente em relação ao que ocorrera na noite anterior. Só havia uma certeza: nenhum dos dois raciocinara em absoluto.

Não apenas a tinha beijado, mas por pouco não a submeterá às próprias ânsias. E ainda por cima, seria difícil ima­ginar que existisse na Inglaterra uma mulher que merecesse mais sua consideração do que Serena Tsukino.

Ele ainda haveria de pagar por esse pecado. Se fosse um homem honrado de verdade, deveria pedi-la em casamento. Qualquer outra perderia a reputação por muito menos que isso.

No entanto não houvera testemunhas, o inconsciente lhe soprava. Apenas os dois sabiam do ocorrido, è Serena não diria nada a ninguém, não era do tipo de espalhar notícias.

Porém estava convencido de ser um aproveitador. Rey se encarregara de matar qualquer sentimento bom, que por­ventura pudesse ter sobrevivido após um casamento tão desgastante. E como ainda lhe restava um pouco de juízo, dali por diante, evitaria qualquer aproximação maior com Serena.

Um erro era compreensível; dois seria a ruína; e três...

O fundamental dali para a frente seria não ficar mais sozinho com ela. Quanto mais longe, mais distante estaria da tentação de tocá-la, e o tempo os ajudaria a esquecer o encontro ilícito.

Quem sabe ela logo encontrasse alguém disposto a amá-la de verdade. No entanto, imaginá-la nos braços de outro ho­mem causou-lhe um desconforto inesperado. Imaginou que a repulsa devia-se ao fato de estar cansado e por tê-la beijado havia pouco mais de seis horas e...

Poderia existir uma centena de razões diferentes, nenhu­ma delas importante o suficiente para ser examinada. O es­sencial era se afastar, retomar a idéia inicial de não passar muito tempo em Londres e ir para o campo.

Abriu os olhos e gemeu. Começava a desconfiar que per­dera o autocontrole. Serena era uma moça inexperiente, com vinte anos recém-completados; bem diferente de Rey, que era versada na arte da conquista e a usava sempre em benefício próprio.

No entanto, por mais que Serena fosse tentadora, ele tinha de ser homem suficiente para afastá-la de seus pen­samentos. Enquanto operava mudanças em sua vida, talvez fosse melhor olhar com mais atenção para as mulheres da sociedade. Havia muitas viúvas jovens e discretas que o re­ceberiam de boa vontade. Era do que precisava. Estava mui­to tempo sem companhia feminina. Nada melhor que uma mulher para esquecer outra.

-# Darien está de mudança. — Hotaru veio com a novidade.

-# O quê? — Serena assustou-se. Por pura sorte não derrubou o precioso vaso antigo de porcelana, onde arruma­va um buquê de flores.

-# Aliás, ele já foi embora. Seu criado pessoal está arru­mando os pertences que ficaram para trás.

Serena inspirou fundo várias vezes, tentando acalmar-se, e somente falou quando teve certeza de que a voz não tremeria.

-# Sei irmão vai sair de Londres?

-# Creio que não. — A amiga largou-se numa poltrona e bocejou. — Se bem que não pretende ficar por muito tempo em Londres mesmo, por isso alugou um quarto de hotel.

Ela lutou contra a horrível idéia que lhe apertava o cora­ção. Então, ele alugara um espaço para morar com a intenção óbvia de se afastar. Seria humilhante se não fosse tão triste. Ou talvez fossem as duas coisas.

-# Acho que será melhor assim — Hotaru continuou, sem perceber o desgosto da amiga. — Para que continuar por aqui se afirmou que jamais tornaria a casar-se...

-# Você ouviu essa afirmação? — perguntou Serena, sen­tindo um frio na espinha.

Como não havia entendido o óbvio quando o ouvira dizer que não estava procurando uma esposa?

-# Ah, sim. Foi o que declarou no outro dia e com muita firmeza. Pensei que mamãe fosse ter um ataque por causa disso. Na verdade, por pouco não desmaiou.,

-# Verdade?

-# Bem, não. Mas se não fosse uma pessoa tão controlada, era isso o que teria acontecido.

Em geral Serena divertia-se com os exageros da amiga, mas naquela altura gostaria de poder fazê-la calar a boca.

-# De qualquer forma, apesar de ele ter dito que não se casaria novamente, acredito que vai reconsiderar a decisão. É preciso dar tempo ao tempo.

Serena esforçou-se para sorrir, embora soubesse que o resultado não seria convincente. Estava chocada com a no­tícia e rezava para não deixar transparecer.

-# Afinal, ele precisa casar de novo — Hotaru continuou tagarelando, indiferente ao sofrimento da amiga. — E com certeza, não encontrará uma esposa enquanto estiver mo­rando aqui. Deus Pai, como ele poderia cortejar uma mulher na companhia dos pais e de duas irmãs mais novas?

-# Duas?

-# Claro. Todos consideram você a segunda irmã. Darien, portanto, não poderia comportar-se como gostaria, estando na nossa presença.

Agora já não sabia mais se deveria rir ou chorar. Por sorte a amiga estava de olhos fechados, caso contrário teria per­cebido sua indecisão.

-# Mesmo que ele não decida casar-se tão cedo, haverá de procurar uma amante. Isso o fará esquecer Rey. E morando aqui, como poderia ter uma amante? — Hotaru abriu os olhos e apoiou-se nos cotovelos. — Portanto acho que foi melhor assim. Concorda comigo?

Serena anuiu com um gesto de cabeça. Se tentasse falar, com certeza não conteria as lágrimas.

19 de junho de 1819,

Darien partiu há uma semana e eu continuo amar­gurada.

Eu poderia perdoá-lo se apenas tivesse se mudado. Mas ele não voltou a me procurar!

Não veio me visitar, nem ao menos mandou uma carta. Embora eu tenha escutado boatos sobre sua pre­sença em eventos sociais, Darien parece me evitar. Não comparece às mesmas festas ou aos mesmos lugares aonde tenho ido. Uma vez pensei tê-lo visto, mas não tive certeza.

-# Que traje pensa vestir esta noite para o baile dos Worthington? — Hotaru indagou ao adoçar o chá.

-# Esta noite? — Serena sentiu um aperto no coração. Darien prometera uma dança naquele baile e certamente não faltaria com a palavra. Precisava dar um jeito de fazê-lo comparecer.

-# Usarei o vestido de seda verde — informou Hotaru. — A menos que pretenda usar o seu da mesma cor que, aliás, lhe fica muito bem.

-# Acha mesmo? — perguntou. De repente pareceu impe­rativo que se apresentasse da melhor maneira possível.

-# Mas decida logo, pois nós duas não podemos usar ves­tidos parecidos.

-# O que me aconselha? — Apesar de seu bom gosto, a amiga era especialista no assunto.

Hotaru inclinou a cabeça de lado, avaliando-a.

-# Acredito que uma cor viva ficaria muito bem com o seu tom de pele e cabelos, mas mamãe acha que ainda somos muito novas para isso. Talvez... — Ela deu um pulo, pegou uma almofada verde-musgo de uma poltrona e a pôs sob o queixo de Serena. — Hum...

-# Está planejando mudar o meu estilo?

-# Segure isto — ordenou, afastando-se alguns passos pa­ra avaliar melhor a idéia que acabara de ter. Isso mesmo, perfeito.

-# Terei de usar uma almofada? — indagou, divertida.

-# Nada disso. Usará o meu vestido de seda verde, que é exatamente dessa mesma cor. Pediremos para Annie estrei­tá-lo hoje mesmo.

-# Mas o que pretende vestir?

-# Ah, qualquer coisa. — Hotaru fez um gesto vago com a mão. — Talvez um rosa. Os homens parecem ficar malucos com essa cor. Já me disseram que fico parecendo um doce.

-# E não se importa de ser comparada a um confeito?

-# Não me incomodo nem um pouco. Isso me deixa em posição vantajosa. Em geral é um benefício ser subestimada. Mas você... precisa de algo mais sutil e sofisticado.

Serena terminou de tomar o chá e levantou-se, alisando a musselina da túnica simples que usava em casa.

-# Vou experimentar o vestido agora. Assim Annie terá tempo de fazer as alterações necessárias.

Além disso, teria de cuidar de uma correspondência especial.

Enquanto apertava a gravata, Darien descobriu que a quantidade de impropérios que tinha em seu vocabulário era muito maior do que imaginava. Já havia usado ao menos uma centena de expressões de baixo calão desde que recebera a famigerada mensagem de Serena durante a tarde. Mais do que tudo, tinha amaldiçoado a si próprio e qualquer resto de honra que lhe sobrara.

Ir ao baile dos Worthington era uma rematada tolice, a maior de todas que poderia cometer. Mas não poderia faltar à promessa que fizera.

E com certeza era o que menos lhe convinha no momento.

Releu a mensagem uma vez mais. Havia prometido dan­çar com ela se houvesse falta de parceiros. Bem, esse não seria o problema. Daria um jeito para que não faltassem pares para dançar, e ela ainda seria coroada como a bela da noite.

Darien supôs que, na obrigação de comparecer ao malfa­dado baile, poderia aproveitar para conhecer as viúvas descomprometidas. Se tivesse sorte, Serena entenderia a quem ele planejava devotar-se, e trataria de procurar outro cavalheiro.

Estremeceu, não queria aborrecê-la. Afinal, nutria por ela uma ternura única, que tampouco saberia explicar se lhe questionassem.

Sacudiu a cabeça. Estava decidido a não fazê-la sofrer, ao menos, não muito. Além disso, fazia tudo isso por ela, a bel­dade do baile, lembrou a si mesmo enquanto entrava na car­ruagem e se preparava para uma noite das mais difíceis.

Hotaru viu Darien no momento em que ele entrou.

-# Veja! — exclamou, cutucando Serena com o cotovelo. — Meu irmão está ali.

-# Está? — perguntou, rezando para não demonstrar a ansiedade.

-# Sim, olhe. Não o vejo há séculos. Por acaso o tem visto em algum lugar?

Serena meneou a cabeça em negativa e esticou o pescoço para ver melhor.

-# Ele está ali, falando com Dunas Abeto — Hotaru infor­mou-a. — Não é difícil imaginar sobre o que estão conver­sando. O sr. Abeto é político.

-# Verdade?

-# E, sim. Eu adoraria dar uma palavra com meu irmão, mas não tenho o menor interesse em discutir política.

Serena não chegou a concordar e Hotaru franziu o cenho de novo.

-# Agora ele está conversando com lorde Westholme! — exclamou, irritada.

-# Querida, os homens têm liberdade de trocar idéias com quem lhes aprouver. — Tentou aplacar a intensidade da ami­ga e escondendo a própria exasperação por ele ainda não ter se aproximado de onde estavam.

-# Sei disso, mas é ultrajante não ter vindo nos cumpri­mentar primeiro. Somos a sua família.

-# Pelo menos... você é.

-# Não seja tola. Você também faz parte da família — retorquiu Hotaru. — Onde já se viu uma coisa dessas? Ele está indo para o lado oposto ao nosso.

-# Não conheço o cavalheiro com quem está conversando agora — Serena comentou.

-# É o duque de Ashbourne. Muito bonito, não acha? Pen­sei que estivesse no exterior em férias com a esposa. Pelo que sei, são muito devotados um ao outro.

Serena achou um sinal positivo que pelo menos um casal da nobreza fosse feliz.

-# Perdão, lady Hotaru, creio que esta é a minha vez de dançar com a senhorita.

Hotaru e Serena olharam para cima e depararam com um rapaz atraente cujo nome não se lembraram.

-# Ah, sim — Hotaru sorriu. — Tolice a minha ter-me es­quecido.

-# Vou buscar uma limonada. — Serena sabia que a amiga não gostava de deixá-la sozinha quando saía para dançar.

Aproximando-se de um criado que servia refrescos, notou que, como de costume, seu cartão fora preenchido apenas até a metade. E onde estava Darien, que prometera dançar se lhe faltassem parceiros? Que homem detestável! De certa forma, seria bom se pudesse encará-lo de maneira menos principesca, assim sofreria bem menos. Serena tomou um gole de limonada e sentiu que a seguravam pelo cotovelo. Virou-se e ficou desapontada. Não era Darien, mas sim um cavalheiro cuja fisionomia não lhe era estranha.

-# Srta. Tsukino?

Ela anuiu com um sinal de cabeça.

-# Poderia conceder-me o prazer desta dança?

-# Sim, claro, mas nós não fomos apresentados.

-# Perdoe-me. Sou lorde Westholme.

Não seria o mesmo que conversava com Darien pouco an­tes? Ela sorriu, apesar de intrigada. Não acreditava muito em coincidências.

Lorde Westholme era um excelente dançarino e os dois rodopiaram com graça pela pista. A música terminou, ele fez uma elegante mesura e levou-a até a lateral do salão.

-# Obrigada pela companhia lorde Westholme — falou Serena com cortesia.

-# Sou eu quem deve agradecer, srta. Tsukino. Espero poder repetir o prazer em breve.

Lorde Westholme deixou-a longe da mesa de refrescos. E naquele momento estava com muita sede, ao contrário de antes, quando só pretendera deixar Serena à vontade.

Serena suspirou e pensou na multidão que teria de en­frentar para chegar ao outro lado do salão. No entanto, não chegou a dar dois passos, quando um cavalheiro de muito boa aparência parou à sua frente. Era o sr. Abeto, o que se dedicava à política.

Em segundos, Serena estava de volta à pista e, dessa vez, irritada.

Não poderia culpar os parceiros. Se Darien havia decidido subornar homens para dançar com ela, pelo menos tivera bom gosto na escolha. Eram bonitos e bem-educados. Mas quando o sr. Abeto conduziu-a para fora da pista, viu o duque de Ashbourne se aproximando e fez uma retirada estratégica.

Por acaso Darien imaginava que ela não tinha orgulho para agradecer aos parceiros que se viam obrigados a tirá-la para dançar? Que situação humilhante! Pior ainda era saber que ele estava empregando aquele expediente para não pre­cisar dançar. Seus olhos se encheram de lágrimas, e, apavo­rada de que a vissem chorando, apressou-se até um corredor deserto.

Encostou-se na parede e respirou fundo. Sentir-se rejei­tada pelo homem amado talvez doesse mais do que uma punhalada ou talvez um tiro, e direto no coração.

Bem diferente de quando ainda a considerava uma meni­na. Pelo menos, na época, ela se consolava refletindo que Darien não sabia o que estava perdendo. Mas agora ele des­cobrira e não se importava.

Embora sua vontade fosse ficar ali a noite inteira, sabia que precisava voltar e enfrentar a festa. Para ganhar um pouco mais de tempo, foi para o jardim e sentou-se num banco de pedra, de onde podia ver a parte de trás da resi­dência.

Portas largas de vidro permitiam a visão do salão de baile, e ela distraiu-se por alguns minutos observando o rodopio dos casais. A dor no coração ainda não tinha aplacado, e precisou tirar as luvas para secar uma lágrima furtiva que correu-lhe o rosto.

-# Meu reino por um lenço — murmurou sozinha.

Imaginou que poderia fingir um mal-estar súbito, a pre­texto de ir para casa.

Experimentou tossir. Talvez estivesse mesmo doente. Na verdade, não havia o menor sentido em ficar até o fim do baile. Não conseguiria atingir nenhum dos objetivos princi­pais que a levaram ali, ou seja, sentir-se atraente, mostrar-se sociável e simpática. Sem mencionar o desejo de ser condu­zida por Darien pelo salão.

Sentindo-se patética e solitária, reparou em um cavalhei­ro que atravessava as portas francesas rumo ao jardim. Quando reconheceu Darien, achou que fosse desmaiar. Mas infelizmente não conseguiu o feito, o que a possibilitou de vê-lo de braço dado com uma mulher.

Era só o que faltava para completar uma noite de humi­lhações! Susteve a respiração e deslizou para a ponta do banco, onde a sombra era mais densa e protetora.

Lembrou-se de ter visto a mulher que o acompanhava, era lady Alguma-Coisa, uma viúva riquíssima, embora não parecesse muito mais velha.

Serena desculpou-se perante si mesma e apurou os ou­vidos para escutar a conversa, mas o vento carregava as frases para longe. Assim, não ouviu nada além de palavras soltas.

-# Não estou bem certa de... — a voz da dama chegou até Serena.

E quando Darien se inclinou para beijá-la, Serena sentiu o coração se partir em pedaços.

Logo em seguida, viu que a viúva murmurou algo inaudível e voltou para o salão. Turner continuou no jardim, com as mãos nos quadris, olhando para os arredores com uma expres­são enigmática.

Vá embora!, Serena teve vontade de gritar! Teria de ficar ali até ele decidir entrar no salão. E tudo o que mais almejava era voltar para casa, deitar-se sob os cobertores e nunca mais sair. Como nada daquilo seria possível, tratou de encolher-se ainda mais nas sombras.

Infelizmente o esconderijo não era tão bom, pois ao virar-se ele a viu.

Droga!

Até aquele momento, a noite havia transcorrido sem in­cidentes. Darien conseguira evitar Serena, ser apresenta­do à adorável viúva Bidwell, de apenas vinte e cinco anos, e tomar champanhe de boa qualidade.

No entanto os deuses não estavam dispostos a conceder muitos favores.

Ela estava sentada naquele banco e, provavelmente, o vira beijando a viúva.

Maldição!

-# Por favor, Serena. Diga que não é você que está aqui...

-# Não, sou outra pessoa — devolveu de queixo erguido, embora sua voz traísse a emoção.

Darien sentiu uma pontada no peito. Por que as coisas precisavam se complicar tanto?

-# Por que está aqui fora?

-# Eu queria tomar um pouco de ar fresco — ela respon­deu, dando de ombros.

Aproximou-se mais um pouco e também ficou na sombra.

-# Por acaso estava me espionando?

-# Você deve ter-se em alta conta.

-# Estava ou não? — insistiu.

-# Claro que não! — Serena ergueu ainda mais o queixo, com raiva. — Não pratico esse tipo de atividade. Aconselho-o a inspecionar os jardins com mais cuidado da próxima vez em que planejar algum encontro furtivo.

-# Pois acho difícil acreditar que a sua presença aqui fora nada tenha a ver comigo — provocou Darien, cruzando os braços sobre o peito.

-# Não diga! Se eu o tivesse seguido, como poderia chegar a este banco sem ser vista?

Darien ignorou a pergunta por saber que ela estava certa. Respirou fundo para recobrar a calma e seguir interrogando-a:

-# O que significa isso?

-# Como ousa perguntar-me tal coisa? É você quem está me evitando há uma semana e vem me tratando como se eu fosse um lixo! E ainda menospreza o meu orgulho ao subor­nar seus amigos para dançarem comigo! Você é grosseiro, egoísta e não tem capacidade para...

Darien colocou o dedo indicador sobre a boca de Serena.

-# Por favor, fale mais baixo. O que aconteceu na semana passada foi um erro. E foi uma tolice de sua parte lembrar-me da promessa e forçar-me a comparecer a este baile.

-# Mas você veio — ela sussurrou.

-# Vim porque estou em busca de uma amante, e não de uma esposa.

Serena recuou e encarou-o por um longo tempo.

-# Esse homem que vejo à minha frente não é o mesmo que conheci — Serena falou com voz quase inaudível.

Até aí, nada de extraordinário. Ele também não gostava da maneira como vinha se portando.

Serena aprumou-se para falar, mas sua voz saiu trêmula:

-# Com sua licença, tenho de voltar ao baile. Graças ao senhor, tenho um bom número de parceiros e não pretendo ofender nenhum deles.

Darien observou-a afastar-se e atravessar as portas francesas.

OoOoOoOOoOOoOOooOooOOOooOOooOoOOOOOOOoOoOOoOOo

Calma gente que eu prometo que o Darien vai ter seu castigo, já ouviram aquela frase “ a gente só dá valor quando perde?” pois é ele vai ter que perde a Serena pra dar valor no amor dela..


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